Relatos de reféns sequestrados pelo Hamas, em 7 de outubro de 2023, revelam o horror do cativeiro e o temor pela vida dos que ainda permanecem presos na lúgubre teia subterrânea que se espalha pela Faixa de Gaza.

No amanhecer do dia 7 de outubro de 2023, as sirenes de alerta tocavam incessantemente nos kibutzim próximos à Faixa de Gaza, chegando até Ashkelon, mais ao norte da região. Milhares de mísseis lançados pelo grupo Hamas a partir do território vizinho eram o prenúncio daquele que seria o dia mais sombrio do Estado de Israel desde sua criação, em 1948, e da história do Povo Judeu desde o Holocausto.

Simultaneamente ao disparo de foguetes, milhares de terroristas fortemente armados invadiram o sul do país por terra, ar e mar, matando, em algumas horas, mais de 1.200 pessoas, ferindo milhares e sequestrando 251 reféns. Deixaram um rastro de sangue e destruição pelos 22 kibutzim e cidades atacadas.

O que deveria ter sido mais uma tranquila manhã de Shabat,  quando também se comemorava Simchat Torá, transformou-se em um pesadelo que, enquanto preparamos esta edição, ainda não acabou. Parece que o calendário parou naquele fatídico 7 de outubro, e o relógio, às 6h30 daquele dia, para os israelenses e para os judeus da Diáspora que, de certa maneira, sentem-se presos nos infindáveis túneis da Faixa de Gaza com os reféns ainda lá mantidos – atualmente 50, entre vivos e mortos.

Vítimas de tortura, doenças e humilhações, os reféns relatam terem sofrido agressões sexuais, chicotadas e queimaduras com ferro quente. Foram estuprados, espancados, deixados em isolamento, amarrados e acorrentados, entre uma extensa lista de agressões físicas e psicológicas. Muitos sobreviveram com falta de luz, falta de higiene, feridos e sem – ou com poucos – cuidados médicos e com quantidades mínimas de ar, comida e água.

São tantos os fantasmas que ainda rondam a mente e o coração daqueles que voltaram enquanto 50 reféns ainda permanecem no inferno – voltaram para contar e denunciar os horrores do cativeiro. Voltaram para que o mundo não esqueça dos que ainda estão lá.

Sobrevivendo ao inferno

Naama Levy

Entre as centenas de imagens divulgadas no mundo inteiro no próprio 7 de outubro, enquanto os terroristas do Hamas ainda matavam, estupravam e sequestravam no sul de Israel, uma delas revelou de forma clara a extensão do que estava acontecendo: uma jovem, com as calças ensanguentadas, as mãos amarradas, sendo forçada a entrar em um jipe. As manchas de sangue não deixam dúvidas do que Naama Levy, 19 anos, passara nas mãos dos terroristas antes de ser levada à Faixa de Gaza. Seus tornozelos foram cortados e ela tinha dificuldade para andar, visivelmente ferida. A filmagem, feita pelos terroristas e transmitida ao vivo, transformou Naama em um símbolo da violência do Hamas.

A brutalidade contra a jovem foi retratada pela artista israelense Merav Shinn Ben-Alon em um quadro que fez parte de uma exposição organizada pela Rede Mulheres Diplomatas do Ministério das Relações Exteriores de Israel, logo após o ataque, denominada “Speak Up” (“Manifestem-se”, em tradução livre). A obra de Merav chama-se “Traga-a para casa”.

Naama foi sequestrada da base de vigilância onde servia, em Nahal Oz, fronteiriça à Gaza. Naquele mesmo dia, 15 mulheres da unidade foram mortas e sete foram sequestradas. Chamadas de Tatzpitaniyot (em hebraico, as “vigias”), têm a responsabilidade de observar a fronteira de Gaza, à procura de qualquer movimento suspeito do outro lado. As sobreviventes e os parentes de algumas daquelas moças que foram mortas contam que, há meses, elas vinham transmitindo seus alertas de que o Hamas vinha se preparando para um ataque.

No sábado 25 de janeiro de 2025, depois de 477 dias no cativeiro, Naama e mais três soldadas foram libertadas: Liri Albag, 19, Karina Ariev, 20, e Daniella Gilboa, 20. Duzentos terroristas detidos em Israel foram soltos em troca da libertação delas. Em sua primeira mensagem, após ser libertada, disse: “Depois de 477 dias, eu finalmente estou em casa. Estou segura e protegida, cercada pela família e amigos e me sentindo melhor a cada dia”.

Durante os primeiros 50 dias, esteve sozinha a maior parte do tempo, e o restante dos meses ficou com quatro amigas também sequestradas, na base Nahal Oz, junto com outras mulheres reféns.  A comida diária se resumia a um ou dois pães árabes por dia. Às vezes, cozinhavam para os terroristas, mas eles não as deixavam comer daquela comida. Limpavam privadas e faziam faxina, tendo passado meses sem tomar banho. Perderam muito peso, mas nas últimas semanas antes de serem soltas foram alimentadas com muita comida para poderem engordar e causar uma melhor impressão e que não denotasse o que realmente haviam sofrido.

Eram mantidas em túneis escuros e com pouco ar e, em respeito à sua privacidade, não nos foi revelado se foram torturadas ou abusadas sexualmente. Algumas das moças aprenderam árabe fluente e, corajosas, se comunicavam com os terroristas.

“Mas, o fato de estarmos juntas nos fortalecia e nos dava esperança. Apoiamo-nos umas às outras até o dia da nossa libertação. Sabíamos que muitas pessoas estavam lutando por nós do lado de fora”, completou Naama.

Yaffa Adar

Outra imagem que viralizou nas redes sociais e nas televisões do mundo inteiro, no dia do ataque, foi de uma senhora idosa sendo levada em um carrinho de golfe por terroristas. Yaffa Adar, de 85 anos, sobrevivente do Holocausto, foi levada do Kibutz Nir Oz. Estas imagens revelam a monstruosidade do Hamas, que não fez distinção de idade ou sexo entre as vítimas do ataque, chegando a levar com eles uma senhora que mal conseguia andar.

Enquanto os terroristas a levavam, ela parecia sorrir. Durante os 49  dias de cativeiro, a família de Yaffa temia por sua vida. Com saúde frágil, eles imploraram para a Cruz Vermelha lhe entregar medicação de primeiros socorros, bem como os medicamentos que ela tomava para o coração, rins e várias hérnias nos discos vertebrais. Contudo, esses remédios nunca lhe foram entregues.

Ao ser solta, lhe perguntaram por que sorria enquanto estava sendo sequestrada, e ela respondeu: “Não queria dar a eles o prazer de me verem com medo”.

Em entrevista ao programa Uvda do Canal 12, ela compartilhou que cantava músicas de Andrea Bocelli para manter a esperança: “Todas as manhãs, eu cantava Bocelli para mim mesma e dizia: ‘D’us, talvez isso traga um bom dia. Talvez hoje traga minha libertação’ ”.

Andrea Bocelli escreveu-lhe uma carta expressando o quanto ficara emocionado ao saber disso. E a convidou para um de seus espetáculos ou concerto privado. “Graças à senhora, agora cantarei com novo entusiasmo… Espero ter a oportunidade de a conhecer, um dia, e cantar, somente para você, o que você quiser ouvir, buscando apagar, tanto quanto possível, a dolorosa lembrança dos dias terríveis que passou – um horror que eu sequer posso imaginar.”

Em maio de 2025, as Forças de Defesa de Israel anunciaram a eliminação de Mohammed Rasmi Marzouk Baraka, membro da inteligência do Hamas envolvido em seu sequestro.

Violência sexual

Além de todas as condições sub-humanas de seu cativeiro, as reféns enfrentavam mais uma ameaça aterrorizante: a violência sexual. Outras reféns da matança de
7 de outubro relataram terem sido violentadas sexualmente pelos terroristas, e terem testemunhado atos de extrema violência sexual contra outros cativos – mulheres e homens, alguns deles meros adolescentes. Muitos reféns pediram privacidade – já que ainda não estão prontos para contar suas vivências.

Contudo, os grupos internacionais de mulheres não acharam por bem condenar a violência sexual perpetrada pelo Hamas…

Amit Soussana

Amit Soussana, advogada israelense de 40 anos, foi sequestrada de sua casa no Kibutz Kfar Aza. Durante 55 dias, enfrentou violência física, sexual e psicológica, tornando-se
 a primeira refém a relatar publicamente os horrores que viveu em cativeiro.

Na manhã do ataque, Amit se escondeu em um armário de sua casa ao ouvir tiros. Pouco depois, cerca de dez terroristas fortemente armados invadiram sua residência, espancaram-na e a arrastaram para Gaza. Sua casa foi incendiada durante a invasão.

Amit foi mantida acorrentada pelo tornozelo em um quarto infantil decorado com imagens do personagem Bob Esponja. Seu sequestrador, identificado como “Muhammad”, frequentemente entrava no seu quarto, abusando sexualmente dela e perguntando sobre sua menstruação. Ela fingia estar menstruada por mais tempo para evitar ser abusada com maior frequência.

Em 24 de outubro, Muhammad a levou ao banheiro, sob a mira de uma arma, agrediu-a e a forçou a cometer atos sexuais. Após o estupro, ele implorou para que ela não contasse a ninguém em Israel.

A seguir, relata o que se passou quando foi movida para outro apartamento. Quatro guardas a amarraram, suspenderam suas mãos e a acertavam com suas armas. Enquanto a espancavam e a chutavam, os guardas gargalhavam. Chamaram outros reféns – inclusive Agam Berger – para presenciar o espancamento. Segundo o relato de Amit, Liri Albag, que estava entre as soldadas capturadas da base de vigilância de Nahal Oz, salvou sua vida no cativeiro convencendo os terroristas de que ela não era oficial das FDI.

Sua libertação aconteceu em 30 de novembro de 2023, como parte de um acordo de troca de reféns por terroristas palestinos dos presídios israelenses. Ao retornar, relatou os abusos às autoridades e profissionais de saúde, cujos registros corroboram seu testemunho.

Em março de 2024, Amit concedeu uma entrevista ao The New York Times, detalhando os abusos sofridos. Em abril de 2025, foi homenageada com o prêmio “Mulheres de Coragem Internacional” pelo Departamento de Estado dos EUA, reconhecendo sua bravura em compartilhar sua história e defender os direitos das mulheres vítimas de violência sexual em conflitos.

Mia Schem

Mia Schem, franco-israelense de 21 anos, foi sequestrada enquanto participava do festival de música Nova, próximo ao Kibutz Re’im. Durante o ataque, ela foi atingida
no braço e levada para Gaza, onde permaneceu em cativeiro por 54 dias.

Mia conta que foi mantida em uma casa com a família de seu sequestrador e que a sua esposa não gostava dela e, por vezes, a deixava sem comida. Uma criança da casa vinha com um saco de doces, abria e fechava o saco na cara dela só para provocá-la. Mia também foi forçada a assistir a vídeos de sua mãe implorando por sua libertação, enquanto lhe diziam que ela nunca mais voltaria para casa.

Contou ter sido tocada de forma inapropriada por seu sequestrador, e que só não a violou pois a esposa e os filhos estavam no quarto ao lado. Ela viveu sob constante medo de ser estuprada ou morta. Em entrevista, afirmou: “Passei pelo inferno. Todos lá são terroristas.
Não há civis inocentes em Gaza”.

Foi libertada no mesmo dia que Amit, como parte do mesmo acordo. Desde então, tornou-se uma voz ativa na defesa dos reféns que ainda permanecem em Gaza. Participou de eventos internacionais, incluindo uma conferência em Nova York, onde declarou: “Meu corpo está aqui, mas meu coração ainda está em Gaza. Minha alma ainda está em Gaza”.

Ilana Gritzewsky

Ilana Gritzewsky, Chef confeiteirade 31 anos de idade, nasceu no México e fez aliá aos 16 anos de idade. Foi sequestrada do Kibutz Nir Oz. Como contou ao The New York Times, ela foi apalpada pelos terroristas do Hamas durante seu sequestro, desmaiando em seguida, e quando acordou estava em Gaza, com a blusa levantada e a calça comprida arriada, com sete terroristas a rodeando. Tinha o queixo e a pelve quebrados e a perna queimada. A moça contou que um de seus captores a abraçou e, na mira de um revólver, lhe disse que ela não seria libertada, mesmo se Israel e o Hamas chegassem a um acordo sobre os reféns, pois “queria casar-se com ela e ser pai de seus filhos”.

Ilana perdeu 11 kg durante os 55 dias que permaneceu no cativeiro. Os problemas de saúde resultantes de seu sequestro e cativeiro ainda persistem. Ela perdeu a audição no ouvido esquerdo e ficou pré-diabética. Antes de ser libertada foi alvo de tortura psicológica. Em quatro vezes distintas disseram-lhe que estaria sendo libertada e acabou somente transferida para outro cativeiro. Finalmente, no acordo de cessar-fogo de novembro de 2023, ela finalmente foi solta. Seu companheiro, Matan Zangauker, continua preso.

Exemplos de fé e resiliência

Agam Berger

Agam Berger, então com 20 anos, junto com outras soldadas da unidade de vigilância na base de Nahal Oz, foi sequestrada por terroristas do Hamas. Começava ali um cativeiro de 482 dias. Logo após sua libertação, em 30 de janeiro de 2025, ainda no helicóptero das Forças de Defesa de Israel, recebeu dos soldados um quadro branco para que deixasse uma mensagem ao país. Ela escreveu: “Escolhi o caminho da fé – e pelo caminho da fé eu voltei”.

Essa frase resumia a espiritualidade que a acompanhou durante todo o tempo em Gaza. Agam manteve as leis judaicas mesmo sob ameaça: recusou-se a acender fogo no Shabat – ainda que obrigada a cozinhar para seus sequestradores – e jejuou em Tishá B’Av. Ela também fez esforço para manter a cashrut, recusando carnes mesmo com a escassez de comida que enfrentava.

Contou que ainda que o Hamas tentasse “forçá-la a se converter ao Islamismo – por vezes forçando-a a usar um hijab na cabeça – eles não conseguiram roubar sua alma”.

Violinista desde os oito anos, Agam cresceu em Holon, numa família judia tradicional. Ela tem uma irmã gêmea e um irmão mais novo. Era voluntária com crianças com dificuldades de aprendizagem. Fez curso preparatório militar e desejava ser instrutora de recrutas. No entanto, foi designada como observadora militar – função que aceitou como missão, mesmo contrariada.

Dias antes do ataque, sua posição foi alterada da base de Kerem Shalom para Nahal Oz. Ela perguntou à mãe: “Mãe, isso é para o melhor?” A resposta foi: “Onde você estiver, é onde está o seu destino”. Agam chegou na base um dia antes de ser sequestrada. Na manhã do ataque, ela ainda conseguiu ligar para casa. Disse: “Estão atirando, há terroristas, todos estão chorando, (...) Mas eu não tenho medo”.

“Naqueles momentos angustiantes em que eu estava sendo sequestrada, estava livre para escolher o que dizer. Por isso, recitei, sem parar, o mesmo versículo que, às vésperas da morte, os judeus dizem, há milênios: Shemá Israel... ”.

Nos primeiros dias do cativeiro, Agam esteve com outra refém, Agam Goldstein-Almog, de 17 anos. Goldstein contou que Agam Berger era uma inspiração no cativeiro. Assim que Goldstein foi libertada, em 26 de novembro de 2023, a caminho para o helicóptero das Forças de Defesa de Israel, pediu para dar um telefonema. Ela ligou para o pai de Agam Berger – era aniversário dele. “Sua filha pediu que eu ligasse para lhe desejar feliz aniversário”, disse, emocionando toda a família. Agam também esteve com Amit Soussana e foi forçada a assisti-la ser torturada e espancada.

Agam e quatro das soldadas-vigias com as quais ela foi capturada e que foram mantidas juntas durante quase todo o período de seu cativeiro – Liri Albag, Naama Levy, Daniella Gilboa e Karina Ariev – estiveram o tempo todo vigiadas por homens armados que as ameaçavam, enquanto “brincavam” com suas armas e granadas. A única foto que se tem de Agam no cativeiro mostra-a ferida sentada em um colchão, usando uma camisa vermelha.

Durante a festividade de Pessach em 2024, Agam e Liri Albag improvisaram uma celebração. Sem luz natural, comeram pão de milho, o “pão da aflição”, e fizeram enfeites com retalhos de papel. Liri encontrou uns pedaços de papel de um caderno e fez uma Hagadá improvisada com desenhos de Pessach. Na noite da festividade ela entregou o presente-surpresa a Agam. Enquanto isso, em Tel Aviv, havia uma mesa posta em homenagem a elas na Praça dos Reféns...

Agam foi solta em 30 de janeiro deste ano de 2025, como parte do acordo de cessar-fogo. Cinco dias antes, quatro de suas companheiras-vigias com as quais estivera presa no cativeiro – Liri Albag, Naama Levy, Daniella Gilboa e Karina Ariev – também foram libertadas. Foi muito difícil para as jovens mulheres deixar sua amiga Agam Berger para trás. Uma das moças chegou a se oferecer para ficar presa com ela, o que os terroristas se recusaram a atender. Após sua libertação, Agam reencontrou a família e também foi recebida pelas suas quatro amigas. Prepararam cartazes e esperaram por ela no hospital.

Música em meio à escuridão

Sagui Dekel-Chen

Sagui Dekel-Chen, cidadão americano-israelense de 36 anos, foi sequestrado de sua casa no Kibutz Nir Oz. Naquele dia, ele estava trabalhando na conversão de um ônibus em sala de aula móvel. Ao ouvir os primeiros tiros, alertou sua esposa, Avital, grávida de sete meses, para que se escondesse com as duas filhas pequenas (de três e sete anos) em um quarto seguro. Enquanto tentava proteger sua família, Sagui levou um tiro em seu ombro esquerdo. Gravemente ferido, foi capturado e levado para Gaza às 11h30 daquela manhã.

Sua mãe, Neomit, também foi capturada e levada junto com seus vizinhos num tuk-tuk elétrico que se dirigia a Gaza, quando um helicóptero das FDI atirou nos terroristas e no motorista. Ferida, Neomit retornou ao kibutz e acabou sendo resgatada e salva.

Durante quase 500 dias, Sagui foi mantido em túneis subterrâneos em Gaza, sem acesso à luz do sol, em condições insalubres, em locais infestados de piolhos e percevejos e sob constante ameaça de morte. Ele foi submetido a torturas físicas e psicológicas, incluindo espancamentos durante os interrogatórios que deixaram feias marcas. Além disso, sem nenhuma notícia do mundo fora dos túneis, enfrentou a constante incerteza sobre o destino de sua família, sem saber se sua esposa e filhas haviam sobrevivido ao ataque, pois tinha visto seu kibutz ser consumido pelas chamas, com corpos espalhados por toda parte.

Em 15 de fevereiro de 2025, como parte de um acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas, Sagui foi libertado junto com outros dois reféns. Havia aprendido árabe durante seu cativeiro. Estava faminto já que quase não havia recebido comida e só tinha bebido água salgada, não apropriada para ser ingerida. Sagui calculou ter ficado refém por 43 milhões de segundos. E sentira cada um desses segundos...

Ao retornar a Israel, foi informado de que sua esposa e filhas estavam vivas e bem. Passaram nove horas escondidas naquele fatídico dia. Ele também conheceu sua filha mais nova, Shahar Mazal, nascida dois meses após seu sequestro. O nome da filha, que significa “amanhecer da sorte”, simboliza a esperança e a renovação após um período de escuridão. O cativeiro deixou marcas físicas e psicológicas, mas não destruiu a sensibilidade e a esperança de Dekel-Chen. Semanas após a sua libertação, ele gravou um vídeo da música “Keren Shemesh” (Raio de Sol), em um apelo pela libertação dos demais reféns. “Não percam a esperança. Envio carinho e amor todos os dias”, diz ele. “Aos meus amigos que, no cativeiro, não veem a luz do sol, digo-lhes que sejam fortes.” Esta é a sua mensagem.

Edan Alexander, o refém americano

Desde o fim do cessar-fogo entre o Hamas e Israel, em 1 de março de 2025, nenhum refém mais foi solto, até o dia 12 de maio, quando, após uma negociação que envolveu participação direta dos Estados Unidos, Edan Alexander, 21 anos, americano-israelense, foi libertado. Vivendo em Israel desde 2022, alistou-se nas FDI em 2023, sendo sequestrado em 7 de outubro quando a base onde servia foi atacada.

Durante os 584 dias em que esteve em cativeiro, Edan enfrentou condições extremamente adversas – mantido nos túneis em uma jaula, ficou acorrentado pelas mãos e pés por meses. Após a vitória de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos o tratamento dado a Edan melhorou. Foi transferido repetidamente de lugar, passando por apartamentos, mesquitas e tendas para moradores de Gaza deslocados.

Edan passou fome durante todo o cativeiro, sofreu abusos e tortura. Em vídeos divulgados pelo Hamas, Edan clamava por ajuda. Ele foi libertado pelo grupo terrorista em Khan Yunis, sendo entregue ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Os reféns que voltaram relatam que semanas antes de serem soltos o Hamas começou a alimentá-los, usando técnicas especiais para fazê-los parecerem mais saudáveis. Faz parte da máquina de propaganda do grupo terrorista. Mesmo assim, as condições físicas de muitos dos reféns se assemelham às imagens dos judeus nos campos de concentração.

Com 50 reféns ainda em Gaza – muitos deles imagina-se que estejam mortos – os testemunhos dos que foram libertados do cativeiro são um lembrete doloroso da razão pela qual precisamos continuar lutando para trazê-los de volta para casa, todos eles.