No dia 7 de fevereiro, horas após um devastador terremoto atingir a Turquia e a Síria, Israel comunicou ao governo turco sua intenção de enviar auxílio. Menos de 24 horas depois, as primeiras equipes israelenses da operação “Ramos de Oliveira” já estavam a postoS. A operação na Turquia é a 31a expedição de ajuda humanitária empreendida pelas unidades de Busca e Resgate das Forças de Defesa de Israel.
O terremoto que atingiu a Turquia e a Síria foi o mais mortal ocorrido na Turquia desde 1939 e o sexto desastre natural mais letal neste século. Infelizmente, porém, por mais devastador que tenha sido, é uma das tantas tragédias que assolam nosso mundo e que custam a vida de milhares. Segundo dados das Nações Unidas, em 2021 cerca de 235 milhões de pessoas necessitavam de alguma ajuda humanitária, o que, em outros termos, representa 1 em cada 33 habitantes do planeta – um recorde histórico e com tendência a aumentar, infelizmente. As ações das inúmeras organizações não governamentais e instituições de governos pelo mundo, inclusive israelenses, abrangem um leque de operações em desastres naturais e em regiões de conflito, além de combate à fome, desigualdade e pobreza, acesso à educação, entre tantas.
O Estado de Israel é um país com longa tradição em ajuda humanitária desde as primeiras décadas de sua fundação. Faz parte da religião e cultura de nosso povo ajudar e socorrer o próximo. Apenas dez anos após sua independência, Israel adotou uma agenda oficial de ajuda humanitária, fornecendo auxílio vital para mais de 140 países, entre estes muitos com os quais não mantinha relações diplomáticas.
Organizações israelenses de ajuda humanitária e equipes de resgate têm-se feito presentes em quaisquer regiões onde se fazem necessárias, sejam em países amigos ou não tão amigos. Israel tem prestado socorro para aliviar a fome, doenças e pobreza, bem como em desastres naturais, como é o caso do terremoto que devastou o sul da Turquia e o norte da Síria, onde há dezenas de milhares de mortos e de feridos e milhões de desabrigados, além de prejuízos materiais ainda incalculáveis.
Missões das FDI
As Forças de Defesa de Israel desempenham um papel fundamental na agenda internacional do país, enviando missões sempre que solicitadas. Equipes de busca e resgate e seus hospitais de campanha são prontamente despachados, levando remédios, alimentos, know-how e tecnologia para enfrentar circunstâncias muito arriscadas. Para isso contam com uma equipe especialmente treinada para enfrentar ameaças atômicas, biológicas e químicas. Denominada The Search and Rescue Brigade (a 60ª Brigada de Busca e Resgate) é a única do país que está sob a coordenação do Comando da Defesa Interna. A unidade de Busca e Resgate foi criada com seu poder atual em 1984, reunindo todas as unidades especializadas envolvidas em Busca e Resgate, à época. Até que, em 2013, formou-se a atual Brigada de Busca e Resgate.
Seus membros, homens e mulheres, altamente treinados, são identificados pela boina laranja e botas pretas. Seus soldados passam por treinamentos em combate, busca e resgate em desastres, bem como manejo e desmonte de armamento ABC (atômicos, biológicos e químicos). São responsáveis por salvar a vida dos habitantes do Estado de Israel em emergências. Seja uma crise causada pelo desabamento de um prédio seja prestar ajuda para combater a pandemia da Covid-19, os soldados do Comando da Defesa Interna são os primeiros a responder.
A Brigada de Busca e Resgate é regularmente enviada a várias partes do mundo para ajudar em desastres naturais, como terremotos, incêndios florestais, enchentes e desabamentos e participou de missões humanitárias no mundo todo, prestando ajuda no Haiti, Guiné Equatorial, México, e também no desabamento de um condomínio em Surfside, Flórida, em 2021. Não podemos nos esquecer, também, de sua importante atuação no desastre ambiental ocorrido em Minas Gerais, com o rompimento da barragem em Brumadinho, em 2019, como veremos mais adiante.
Atuação na Turquia
Nos primeiros dias após o terremoto na Turquia, 17 aviões de carga da Força Aérea israelense transportaram para a Turquia centenas de toneladas de equipamentos e um time de 500 pessoas para atuar em vilas e cidades turcas, incluindo especialistas em busca e resgate de pessoas presas sob escombros, médicos militares, enfermeiras e paramédicos do Ministério da Saúde, bem como de outras organizações não governamentais israelenses.
Além da Brigada de Busca e Resgate, seguiu para a Turquia uma equipe da organização United Hatzalah de Israel, composta por médicos, especialistas em salvamentos e resgates e traumas psicológicos. Importante destacar que todas as unidades israelenses envolvidas nas operações na Turquia atuaram em cooperação com as instituições locais.
Numa corrida contra o tempo, a equipe israelense trabalhou sem cessar desde sua chegada. Apesar de sua tristemente vasta experiência, seus integrantes ficaram chocados com a tragédia com que se depararam. Diariamente as equipes israelenses enfrentaram o frio congelante, o cansaço, seguidos abalos secundários que complicavam os esforços de resgate e o constante risco de desabamentos na frenética procura por sobreviventes e restos mortais soterrados sob os escombros. Os obstáculos enfrentados pelas equipes de socorro foram imensos e inesperados, mas não se poupou esforços para salvar vidas.
Mas, no meio da tragédia, a emocionante satisfação quando o enorme empenho dava resultados. As equipes israelenses conseguiram resgatar 19 pessoas com vida em meio aos escombros. Segundo relatório das FDI, trata-se de um número sem precedents de resgates nas missões anteriores das FDI. Segundo o Coronel Golan Vach, líder da Brigada de Busca e Resgate, os casos de sucesso foram resultado da rapidez com que as equipes israelenses conseguiram chegar ao local.
Um dos muitos momentos emocionantes da ação dos israelenses ocorreu na sexta-feira, 10 de fevereiro. Um menino de nove anos, Ridban, que estava preso sob os escombros com sua família, durante 120 horas, foi resgatado com vida. A operação de resgate durou mais de 24 horas e, durante todo o tempo, a criança foi acompanhada por um pediatra israelense. Ele foi o terceiro membro da mesma família retirado vivo das ruínas – seu pai e sua irmã de 14 anos sobreviveram, mas infelizmente sua mãe não resistiu após ter sido retirada ainda com vida.
Os esforços não se limitaram às buscas e resgates. Equipes israelenses montaram um hospital de campanha, com equipamentos e 140 profissionais, em um hospital abandonado. Foram montadas duas alas para cirurgias, oito leitos de terapia intensiva e 100 de internação para atender 200 pacientes, diariamente. Foram oferecidos, também, serviços de ginecologia, pediatria e odontologia. Atuando em cooperação com o Ministério da Saúde local, as equipes israelenses contaram com a ajuda da população e das equipes de resgate locais e de outros países. “Temos intérpretes que nos ajudam e até comissários de bordo de companhias aéreas que quiseram vir ajudar”, disse Avi Banov, diretor do hospital das FDI.
No dia 22 de fevereiro, as equipes do Comando da Defesa Interna de Israel voltaram para casa. O primeiro-ministro Bibi Netanyahu, ao dar as boas-vindas às equipes, disse: “Todo o Povo de Israel está orgulhoso de vocês!”.
Até o dia 22 de fevereiro, passava de 47 mil o número de vítimas fatais, considerando-se Síria e Turquia, conjuntamente. Os tremores, em muito menor intensidade, também foram sentidos em Israel, no primeiro dia do terremoto e também no seguinte, felizmente em escala muito menor, sem causar danos. O ocorrido nos dois países vizinhos serviu de alerta para as autoridades israelenses responsáveis pela prevenção de desastres e trouxe à tona a necessidade de reavaliar as condições de parte das construções do país, adequando-as à realidade de ameaças sísmicas de grande proporção, na região.
FDI no Brasil
Em 25 de janeiro de 2019, rompeu uma barragem em Brumadinho (Minas Gerais) provocando um desastre industrial e humanitário que custou a vida de 270 pessoas.
Dois dias após essa tragédia, um avião com 136 militares israelenses pousou no Aeroporto Internacional de Confins, em Belo Horizonte. O objetivo: auxiliar nas buscas das vítimas do rompimento da barragem. No avião, cerca de 16 toneladas de equipamentos, entre os quais sonares usados em submarinos para localizar pessoas em grandes profundidades e equipamento para avaliar a situação das outras barragens do complexo da Vale em Brumadinho. A equipe era formada por médicos, socorristas e especialistas em resgate. Após quase uma semana de intenso trabalho, os israelenses partiram, mas não antes de serem homenageados pelo Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.
Organizações de ajuda humanitária
Além de se mobilizar rapidamente para ajudar em desastres naturais, Israel tem um papel de destaque em ações para combater doenças, fome e pobreza. E possui atualmente milhares de organizações dedicadas à ajuda nessas áreas que atuam dentro e fora do país.
A organização Save a Child’s Heart, por exemplo, desde 1995 promove gratuitamente a realização de cirurgias cardíacas em crianças, ao redor do mundo, inclusive na Autoridade Palestina, Iraque, Jordânia e outros países árabes.
Uma das ONGs com um espectro maior de ações é a IsraAid. Fundada em 2001, é considerada a maior do país no campo de ajuda humanitária. De terremotos a furacões, epidemias e deslocamento forçado de populações em situação de risco, está sempre pronta a responder o chamado.
A IsraAid já esteve presente em 60 países. Recentemente, enviou equipes à Ucrânia, com alimentos, suprimentos e equipamentos médicos, além de auxiliar, também, na retirada de moradores da região.
A Dream Doctors, fundada em 2002, também atua internacionalmente. Os “palhaços médicos” são formados em Psicologia, Serviço Social ou Enfermagem e têm experiência profissional em teatro. Para ser voluntário na Dream Doctors é preciso passar por um programa intensivo de cinco meses, com aulas especiais para adaptar a arte do circo a uma atuação artística terapêutica no universo médico.
Esses voluntários trabalham com médicos e outros profissionais da área da saúde, ajudando crianças, idosos, vítimas de abuso sexual, vítimas de traumas e transtorno de estresse pós-traumático, bem como portadores de doenças crônicas, entre outros.
Os membros dessa ONG acompanham as missões de ajuda humanitária israelenses pelo mundo afora. Uma das missões mais recentes foi realizada em centros de absorção na Moldávia, auxiliando milhares de crianças e adultos forçados a deixarem seus lares, na Ucrânia, em função do confronto com a Rússia, a lidar com os traumas da guerra.
Quando se fala em ajuda humanitária abre-se cada vez mais o leque de opções, ampliando o conceito do que seria tal auxílio. Fundada em 2003, a El HaLev, por exemplo, trabalha para construir comunidades mais seguras através de programas de prevenção à violência física, psicológica e sexual. Dedica-se ao treinamento de mulheres, crianças, idosos e pessoas com necessidades especiais, tanto no país quanto na Europa, América do Norte e Central. El HaLev ensina defesa pessoal – seja física ou mental. Ensina as pessoas a se defenderem de agressões físicas e a desenvolverem habilidades mentais para lidar com situações de violência e ameaças.
A organização mantém programas de segurança pessoal e artes marciais em escolas, programas de educação especial, albergues, centros de prevenção da violência, abrigos e muito mais. Em 2019, recebeu o status de ONG Consultiva1 pelo Comitê Econômico e Social da ONU (ECOSOC). Também em 2019, o fundador da El HaLev recebeu um prêmio em reconhecimento por sua luta para acabar com a violência contra as mulheres, em Israel.
A implantação de projetos de engenharia ambiental economicamente sustentáveis é o objetivo da organização Engenheiros Sem Fronteiras-Israel. Visando melhorar a qualidade de vida da população mais vulnerável, está presente em seis países. Fundada em 2008, faz parte da organização internacional que leva esse nome e atua com o mesmo objetivo: transformar vidas através da engenharia, buscando soluções sustentáveis através de tecnologias inovadoras, programas de treinamento e educacionais, enquanto atua na capacitação de lideranças locais.
Em Israel, a Engenheiros sem Fronteiras mantém parcerias com o governo, indústrias, fundos familiares e as principais universidades do país, envolvendo os alunos no desenvolvimento e implantação de projetos nas áreas de energia, saneamento básico, água, gestão de resíduos, entre outros.
Há décadas, o continente africano é uma das regiões consideradas prioritárias pelas ONGs israelenses e, também pelo governo. A África é justamente o campo de atuação da HaLev Africa (Coração da África), que oferece bolsas de estudo, distribui alimentos, roupas e brinquedos para órfãos e crianças abandonadas e vulneráveis de 4 a 14 anos, nas aldeias remotas na Tanzânia.
“Educação é o investimento mais sábio a ser feito, hoje, para um futuro mais brilhante, amanhã”, costuma dizer Ayelet Israeli, fundadora da HaLev Africa. De acordo com esta filosofia, a HaLev Africa oferece bolsas de estudo da pré-escola ao ensino médio para crianças e adolescentes, que incluem seguro médico, mensalidades, três refeições por dia, itens de uso pessoal, roupas e sapatos, uniformes, livros e material didático, além de mesada para os finais de semana. O projeto educacional da ONG inclui, ainda, atividades de lazer ao ar livre, estimulando criatividade, habilidades motoras, autoconfiança, entre outras ferramentas de desenvolvimento pessoal. Importante destacar que a ONG atua sempre junto às lideranças comunitárias tanto na organização de eventos especiais, quanto na distribuição dos recursos financeiros.
Outra ONG que atua na África desde 2008 é a Innovation Africa (IA), responsável pela implantação de sistemas hídricos, de saneamento, agrícolas e de energia solar em regiões carentes, utilizando as mais avançadas tecnologias israelenses.
Foi pioneira na distribuição de água potável e energia elétrica em escolas, centrosmédicos,orfanatos,entre outros,para mais de três milhões de pessoas, em diversas aldeias, em dez países africanos.
Em 2020, lançou a Caixa de Energia (Energy Box), um equipamento inovador para fornecimento de energia a escolas e centros médicos que não possuem acesso à rede tradicional. Esta nova tecnologia solar oferece uma solução de energia mais sustentável, eficiente, além de permitir o monitoramento remoto de cada projeto. Em 2013, a IA recebeu o Prêmio de Inovação das Nações Unidas pelo desenvolvimento do produto.Uma versão menor pode ser usada em residências.
As ações emergenciais para o alívio das consequências de desastres como inundações, furacões, terremotos e atentados terroristas são o primeiro passo do trabalho humanitário das organizações israelenses.O desafio maior é encontrar formas de ajudaras vítimas destes fenômenos na reconstruçãode sua vida, seu cotidiano e seu equilíbrio emocional. A coordenação do trabalho com agências e comunidades locais tem-se mostrado fundamental na busca de soluções que estejam de acordo com a realidade local e que permitam a sua recuperação, reduzam os riscos de futuros desastres e criem melhores condições de vida para as populações. Um dos lemas da IsraAid–Pensando o Presente, Planejando o Futuro – confirma esta visão.
E como bem colocou Tsour Shrique, CEO da Dream Doctors, “Isso é Israel. É parte de nossa alma estar onde somos necessários”.
1 Status consultivo da ONU confere às ONGs acesso a diversos órgãos e instalações da organização e a conferências internacionais, e permite organizar eventos paralelos, entre outros privilégios.