Steven Spielberg, o maior e mais famoso diretor de cinema de todos os tempos, é uma das personalidades judias mais influentes desta geração. Ao imortalizar o Holocausto por meio do filme “A Lista de Schindler”, ele presenteou o Povo Judeu e a humanidade com um legado inestimável.

De menino judeu vítima de bullying, ele se tornou o mais bem-sucedido produtor de filmes não só de nosso tempo. Spielberg é responsável por muitos dos maiores momentos já eternizados pelo cinema. Seus filmes nos deslumbraram, nos divertiram, nos encheram de esperança, de alegria e, por vezes, até de medo. Ele nos fez rir e nos fez chorar, mas, acima de tudo, ele nos fez sonhar.

Além de diretor, Spielberg também é renomado por escrever roteiros e produzir filmes. Seus amigos o descrevem como incrivelmente otimista, e ele projeta esse otimismo nas telas dos cinemas. De seus filmes transbordam histórias baseadas nos valores da inocência, do amor e da coragem humana, fazendo levantar o ânimo dos espectadores e prevalecer a esperança.

Muito provavelmente podemos dizer que ele é o suprassumo do contador de histórias de nosso tempo, sabendo capturar nossa imaginação com maestria. É bem provável que todas as pessoas, no mundo todo, que já pisaram num cinema, tenham assistido ao menos um dos filmes de Steven Spielberg. Algumas das imagens icônicas de seus filmes deixaram uma marca indelével em nossa mente, como o grande tubarão branco no filme Tubarão, ou o E.T. com seu dedo brilhante, ou os carros voadores em De Volta para o Futuro 2, e os dinossauros correndo em torno do Jurassic Park. De fato, uma imagem inesquecível é a da garotinha de casaco vermelho em A Lista de Schindler, seu casaquinho sendo o único objeto de cor além das velas brancas de Shabat, nesse filme grandioso.

Seus filmes são inúmeros e de temas muito variados. Ele dirigiu e produziu dezenas de produções muito populares e igualmente aclamadas pela crítica, muitas das quais se tornaram tremendos sucessos de bilheteria.

A família Spielberg

Steven Allan Spielberg nasceu em 18 de dezembro de 1946, em Cincinnati, Ohio, filho de Leah e Arnold Spielberg, ambos filhos de imigrantes judeus russos.

Seu pai foi operador de rádio em um avião bombardeiro B-25 durante a 2ª Guerra Mundial. Após a guerra, Arnold Spielberg empregou-se como engenheiro elétrico, mudando-se pelas cidades do país sempre que surgiam novas oportunidades de trabalho. Durante sua juventude, Steven Spielberg morou em Ohio, New Jersey, Arizona e, posteriormente no Norte da Califórnia.

Ele era o mais velho de quatro filhos. Ele e suas três irmãs menores cresceram em um lar confortável de classe média americana. Spielberg nos apresenta sua família e narra sua infância e adolescência em seu novo longa-metragem, Os Fabelmans. Ele não usa seus nomes verdadeiros: o protagonista se chama Sammy Fabelman, através de quem ele nos conta sua própria história, de acordo com suas lembranças. E, desta forma, nos faz acompanhar sua caminhada, desde o namoro enternecido com a telona dos cinemas até chegar a diretor. Os Fabelmans pode vira ganharalguns Oscars, já que foi indicado para sete categorias da premiação máxima do cinema americano, entre as quais Melhor Direção e Melhor Filme.

No filme, Spielberg pinta um lindo quadro de seus pais, apesar de suas falhas. Seu pai era um engenheiro brilhante, como dissemos acima, que ajudou a revolucionar os computadores, e sua mãe era uma pianista concertista, presa na vidinha dos subúrbios das grandes cidades, que priorizava seus quatro filhos ao invés de seguir suas inclinações artísticas. O filme mostra uma mulher adorável, de espírito livre, às vezes um tanto excêntrica, que certa vez chegou a comprar um macaco para a animar. Spielberg também conta a história do casamento dos pais, que foi-se desfazendo aos poucos.

Desde o início, a mãe apoiou o interesse do filho na produção de filmes. Seu pai também apoiava, mas considerava essa empolgação um hobby, esperando que o filho acabasse perdendo o interesse e se concentrasse numa carreira mais estável. Spielberg detestava o colégio; não era popular e suas notas eram ruins. Ele é disléxico, algo que, à época, ainda não tinha sido diagnosticado. A mãe era tão tolerante acerca da falta de interesse do menino em ir ao colégio que costumava deixá-lo faltar às aulas, fingindo estar doente, enquanto ele ficava editando seus filmes. “Steve sempre foi um garoto ‘elétrico’”, diria seu pai anos depois. “Era nervoso, ‘ligadão’, curioso, sempre interessado em ver as coisas um pouco além”.

Em 1966, quando tinha 19 anos, seus pais se divorciaram. A mãe faleceria em 2017 e o pai em 2020.

Segundo Spielberg, sua mãe sempre lhe perguntava quando ele iria contar sua história. “Há um pouco dessa história em todos os seus filmes. Mas você sempre se sentiu mais seguro recorrendo a metáforas”, disse-lhe certa vez. Com Os Fabelmans, ele deixou as metáforas para trás. É a história de Spielberg, que ele decidiu contar, ele próprio, antes que algum outro conseguisse fazê-lo.

Sua família pessoal

Casado duas vezes, ele tem sete filhos. Com a atriz Amy Irving, sua primeira esposa, ele tem um filho. Quando se casou com a também atriz Kate Capshaw, ele adotou seus dois filhos. Depois o casal teve outros três, e ainda adotaram uma outra criança.

“Quando meus filhos nasceram, escolhi que queria educá-los como judeus e lhes dar uma educação judaica”, afirmou. Kate, sua segunda mulher, se converteu ao Judaísmo após estudar mais de um ano com um rabino ortodoxo, antes do casamento. A família Spielberg é tradicional; guarda todos as datas sagradas do Judaísmo e acende as velas de Shabat. Muito ligados com a vida judaica, os Spielberg doaram mais de 100 milhões de dólares a várias instituições judaicas.

A família é sua prioridade, na vida. Spielberg não mede esforços para dispor de tempo para os filhos e estar em casa à hora do jantar.

Antissemitismo na vida estudantil

Garoto judeu em bairros predominantemente cristãos, ele foi alvo constante de bullying por causa de sua religião, tendo passado por alguns episódios isolados no Ensino Fundamental. Mas, como relatou ao The New York Times, no Ensino Médio, no Norte da Califórnia, teve várias experiências desagradáveis. “Eles meu esmurravam e me chutavam; duas vezes me arrebentaram o nariz. Era horrível”. E conta que sua câmera, da qual não se separava, acabou por protegê-lo. Quando começou a fazer filmes, os rapazes mais atléticos e populares, muitos dos quais sempre o perseguiam muito, mudaram de atitude e faziam de tudo para estar nesses filmes.

Esses incidentes acabaram por torná-lo consciente do que representava ser judeu abertamente, ainda que sua identidade judaica sempre tenha sido motivo de orgulho para ele. “A verdade é que não éramos totalmente aceitos”, sua mãe disse ao The New York Times. “Ficávamos sempre na periferia”.

Já adulto, as coisas mudaram radicalmente. “Ser judeu nos Estados Unidos não é a mesma coisa que ser judeu em Hollywood. Ser judeu em Hollywood é como querer estar no círculo mais ‘in’ e ser imediatamente aceito, como ocorreu comigo – onde fui recebido por muitos de diferentes origens, mas também por muitos que também eram judeus”.

Spielberg se tornou um grande defensor do Judaísmo e usou muitos temas e assuntos judaicos em alguns de seus filmes. O mais significativo deles foi um filme sobre o Holocausto, A Lista de Schindler. Em 2005, ele abordou outro tema primordial para os judeus, com Munique, filme sobre agentes do Mossad cuja missão era caçar e executar os terroristas palestinos responsáveis pelo assassinato de 11 atletas israelenses durante as Olimpíadas de Munique, em 1972. E agora, com Os Fabelmans, Spielberg exibe sua vivência judaico-americana.

Ele constantemente aborda a questão do antissemitismo e da razão para estar aumentando, em várias partes do mundo. Acredita que o antissemitismo está de volta pelo fato de ser estimulado a voltar, cada vez com mais intensidade, nos últimos anos.

Em 2019, ele produziu um documentário de seis partes, Why We Hate (Por que Odiamos?). A série explora a condição humana do ódio e como podemos vencê-la.

A formação de um Diretor de Cinema

Aos oito anos, Steven começou a brincar com a câmera 8mm de seu pai e não demorou muito para estar fazendo os filminhos das cenas e encontros familiares. Começou a escrever os scripts, cheios de efeitos especiais, atribuindo a cada um dos familiares um papel. Os amigos também participavam. No colégio, como já dissemos, ele não era nem bom aluno nem popular entre os colegas, mas, aos 15 anos, já criava produções completas, recrutando toda a sua classe para participar de um drama do tempo da guerra, de 40 minutos, intitulado Escape to Nowhere (1961). O filme, baseado na 2a Guerra Mundial, inspirava-se nas histórias que seu pai lhe contava sobre a guerra. Com esse trabalho, o rapaz levou o 1º prêmio em um concurso estadual do Arizona para filmes para amadores.

Sua imaginação era povoada por todo tipo de histórias. Em 1963, com 16 anos, escreveu e dirigiu o filme Firelight, de 135 minutos, sobre alienígenas que invadem uma pequena cidade de interior. O pai de Spielberg alugou um teatro local por uma noite e, à porta do mesmo, sua mãe e irmãs vendiam pipoca e refrigerantes. Essa noite, perante um público de 500 pessoas, foi a primeira de suas muitas histórias de sucesso de bilheteria.

Spielberg mudou-se para Los Angeles pela primeira vez em 1966. Ainda que tivesse um currículo fantástico, suas notas muito baixas impediram que ele fosse aceito na faculdade de cinema. Sendo assim, ele foi para a California State University, onde estudou inglês.

Em 1968, ele dirigiu Amblin1. Filmado sem diálogos, pois ele não tinha dinheiro para o fazer de outra forma, esse divertido filme de 22 minutos trata de dois garotos que pegam carona pelo deserto. Com ele Spielberg ganhou um prêmio no Festival de Atlanta e o filme deu nome à produtora que ele fundou em 1981 e que iria realizar clássicos como E.T., O Extraterrestre (1982). Esse filme também fez com que fosse contratado pela Universal Studios, como diretor de TV, e o levou a largar a faculdade e começar a trabalhar seriamente. Em 2002, Steven voltou aos bancos da Universidade Cal State Long Beach para terminar o curso e receber seu diploma. Com isso quis mostrar aos filhos a importância de uma educação universitária.

“Tubarão” e outros sucessos

Tudo mudaria em 1975, com o filme Tubarão. Spielberg estava com 26 anos, e seu filme foi um sucesso tal que foi o primeiro a ultrapassar 100 milhões de dólares de bilheteria. Além disso, foi indicado a quatro Oscars, incluindo o de Melhor Filme, e levou três Prêmios da Academia – perdendo para o de Melhor Filme. Tubarão tratava de um chefe de polícia de um balneário que trava uma batalha contra um tubarão branco assassino. A ele se juntam um biólogo marinho e um caçador de tubarões.

A realização de Tubarão testou Spielberg de todas as maneiras. O programa de filmagem aumentou de 55 para 155 dias, e o orçamento dobrou. Esse atraso foi provocado por problemas no funcionamento do tubarão mecânico. Fabricado para funcionar em água doce, quando colocado no mar, em água salgada, não funcionava corretamente. No final, mal puderam usar o tubarão, o que fez com que alterassem as cenas, deixando-as por conta da imaginação humana, o que muito provavelmente fez o filme ser um sucesso ainda maior.

Depois de Spielberg nos ter feito ficar morrendo de medo de entrar no mar, Hollywood lhe entregou um cheque em branco. Ele podia fazer o filme que quisesse. Após Tubarão, os sucessos continuaram, um atrás do outro, e se tornaram tão frequentes que não tentaremos, aqui, mencionar todos os seus magníficos trabalhos. Ele não se limita a nenhum estilo ou gênero específico. Dirigiu e produziu comédias, filmes de ação, ficção científica, aventura, drama e animação. Fez filmes sobre praticamente todos os assuntos: tubarões, dinossauros, extraterrestres, androides, piratas, espiões, fantasmas, soldados e heróis tanto históricos quanto imaginários. Explorou assuntos essenciais como justiça, escravidão, direitos das mulheres, corrupção, vingança, guerra e eventos históricos, em filmes como A Cor Púrpura, O Resgate do Soldado Ryan, Munique, Lincoln e The Post-A Guerra Secreta.

Ao longo de décadas de produção cinematográfica, ele se tornou famoso por seus efeitos especiais e produções de grande porte. Comprometido em ter o resultado que pretendia ter no filme de Indiana Jones, Os Caçadores da Arca Perdida (1981), ele deu tudo de si para filmar a cena no Poço das Almas. Três meses antes foram encomendadas três mil cobras, mas quando o pessoal da produção dispôs as cobras, perceberam que com três mil eles não chegariam nem perto do efeito que as cenas pediam. Encomendaram, então mais sete mil cobras – trazidas da França, Alemanha e Índia – para chegar ao total de dez mil cobras! Em 1993, dirigiu Jurassic Park, produção grandiosa sobre dinossauros, que, por um certo tempo, foi o filme de maior arrecadação de todos os tempos.

O Oscar de Melhor Diretor parecia se esquivar dele já há quase duas décadas. Um exemplo chocante disso: em 1986, o altamente bem-sucedido A cor púrpura (1985), com Whoopi Goldberg e Oprah Winfrey, foi indicado para dez Oscars – mas não o de Melhor Diretor! O filme não ganhou uma sequer das estatuetas. Somente em 1994, com A Lista de Schindler, Spielberg conseguiria seu primeiro Oscar de Melhor Diretor.

Em 1994, Spielberg e os papas da multimídia Jeffrey Katzenberg e David Geffen fundaram um novo estúdio chamado DreamWorks. E este estúdio produziu também filmes de animação e foi responsável por muitos sucessos de bilheteria, como a série Shrek e O Príncipe do Egito. Em 2006, eles venderam a DreamWorks para a Viacom por 1,6 bilhões de dólares.

Steven Spielberg também é famoso por ser um produtor de alto nível. Seus filmes estão no centro da cultura pop. Liderou vários projetos, entre os quais, Os Goonies (1985), De Volta para o Futuro (1985), Os Flintstones: O Filme (1994), onde ele aparece com o nome de “Steven Spielrock”, MIB: Homens de Preto (1997) e Amistad (1997).

Ele é o primeiro a receber indicações para a estatueta do Oscar de Melhor Diretor durante seis décadas consecutivas. Spielberg e seus filmes já levaram vários Oscars, Emmys e Globos de Ouro. Em 2004, ele recebeu a Legião de Honra da França, em reconhecimento por seu trabalho. Em 2015, foi condecorado com a Medalha Presidencial da Liberdade, a maior honraria dos Estados Unidos concedida a um civil.

“A Lista de Schindler”

Spielberg comprou os direitos do livro A Lista de Schindler, de Thomas Keneally, em 1983. Leopold Page (nascido Poldek Pfefferberg) havia convencido Thomas Keneally a escrever a história de Oskar Schindler. Leopold era o número 173 da “Lista de Schindler”. Após a 2a Guerra, ele prometera a Schindler que iria tornar conhecido o seu nome por seu heroísmo, e deu início a uma campanha incansável para homenagear o empresário alemão, seu salvador.

Foram necessários dez anos para que Spielberg se sentisse pronto para enfrentar o desafio emocional e espiritual que fazer um filme sobre o Holocausto exigia dele. Àquela altura de sua vida, com 46 anos, Spielberg tinha cinco filhos e queria criá-los com uma sólida identidade judaica. Portanto, com A Lista de Schindler, conseguiu criar algo que, em suas próprias palavras, “confirmaria meu Judaísmo perante minha família e perante mim”.

A Lista de Schindler foi filmado em preto e branco e conta a história verdadeira de um grupo de judeus poloneses que escaparam dos campos de extermínio nazistas com a ajuda de Oskar Schindler, durante a 2a Guerra Mundial. Schindler, industrial alemão, salva a vida de 1.200 judeus colocando-os como operários em suas fábricas.

Em dezembro de 1993, na estreia de A Lista de Schindler, ao se acenderem as luzes a plateia permaneceu em silêncio profundo, angustiada e pensativa. Era a mesma reação que tantos outros espectadores teriam ao longo dos anos que se seguiram. A Lista de Schindler tem um impacto profundo na percepção e conscientização da humanidade acerca do Holocausto. À época do seu lançamento, apesar do Holocausto ter ocorrido há menos de meio século, o assunto era desconhecido por grande parte da humanidade. A Lista de Schindler foi o que conscientizou e emocionou centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo. O filme de Spielberg tem sido um instrumento indispensável para mostrar o intenso sofrimento dos judeus durante a Shoá. E tocou as gerações do pós-guerra de uma maneira como nenhum outro meio havia conseguido.

A Lista de Schindler mudou completamente a minha vida”, afirmou Spielberg. E também mudou e tocou a vida dos judeus mundo afora. A Lista de Schindler é frequentemente incluído entre os maiores filmes já feitos. Além de proporcionar a Spielberg seu primeiro Prêmio da Academia como Melhor Diretor, o filme arrebatou outros seis Oscars, inclusive o de Melhor Filme.

Uma voz para os sobreviventes

Após o lançamento de A Lista de Schindler, milhares de sobreviventes começaram a procurar Spielberg com seus relatos pessoais. E ele, naturalmente, quis dar voz a cada uma de suas histórias. O filme havia arrecadado 321 milhões de dólares, no mundo todo, e em 1994, Spielberg criou a Fundação Shoah, a qual destinou os lucros do filme. Essa fundação permite que sobreviventes do Holocausto narrem suas histórias, registrando em vídeo os relatos desses sobreviventes e de outras testemunhas do Holocausto.

A maioria das pessoas que contaram sua história à Fundação são judeus, mas foram entrevistados, também, sobreviventes homossexuais, ciganos, Testemunhas de Jeová, libertadores dos campos, testemunhas da libertação, prisioneiros políticos, integrantes das equipes de resgate e pessoal médico, e outros.

Preocupada em evitar o genocídio, a Fundação Shoah também trabalha para preservar a memória de outras atrocidades do séc. 20 – no Camboja, Armênia, Bósnia-Herzegovina, Ruanda, Guatemala e Síria. A maioria dos testemunhos contém uma completa história pessoal da vida antes, durante e após a experiência dos entrevistados com o genocídio.

A Fundação transferiu-se para sua sede permanente, na Universidade do Sul da Califórnia, em janeiro de 2006 e hoje leva o nome de USC Shoah Foundation. Hoje o Arquivo Visual de História contém mais de 55 mil testemunhos em vídeo, em 43 idiomas, conduzidos em mais de 65 países. Trata-se do maior arquivo do gênero, no mundo.

Spielberg também criou um arquivo de filmes na Universidade Hebraica de Jerusalém chamado Projeto de Testemunhos do Holocausto, com milhares de horas de entrevistas, em vídeo, com sobreviventes.

Ao longo dos anos, ele vem falando aberta e frequentemente sobre sua intenção de seguir promovendo a educação sobre o Holocausto e apoiando Israel. “Como judeu, estou ciente da importância da existência de Israel para a sobrevivência de todos nós. E, como tenho orgulho de ser judeu, estou preocupado com o crescimento do antissemitismo e do antissionismo no mundo. Apenas cinco estados americanos têm o ensino do Holocausto no currículo obrigatório de suas escolas. Continuarei a defender e batalhar para que os programas de educação sobre o Holocausto sejam compulsórios em todos os 50 estados americanos, bem como para que os programas de educação para a tolerância sejam um requisito para os alunos da graduação no Ensino Médio”.

Além dos programas de educação acerca do Holocausto, a Fundação também se dedica a educar e pesquisar formas de combater o antissemitismo.

A Família Spielberg e o Holocausto

O Holocausto foi muito pessoal para a família Spielberg. Mais de uma dezena de seus parentes mais idosos pereceram durante a guerra – eles perderam primos, tias e tios. Por esse motivo, os Spielberg sempre falavam das atrocidades cometidas durante o Holocausto. “De uma maneira estranha, minha vida sempre me levava às imagens acerca do Holocausto”, Spielberg contou ao The New York Times. “O Holocausto foi parte de minha vida, simplesmente pelo que meus pais falavam à mesa do jantar.”

Spielberg se lembra de que quando era pequeno, sua avó ensinava inglês para sobreviventes do Holocausto em Cincinnati. Como contou à revista People: “Nossa casa vivia cheia de sobreviventes com números tatuados em seu antebraço. Lembro-me bem de um homem que me ensinava a contar através desses números. Enrolava a camisa e dizia: ‘Isso é um quatro, este é um sete e este é um dois’”, recorda-se. “Foi o primeiro contato que tive com os números. Esse moço sempre dizia: ‘Tenho um truque de mágica’. E apontava para um seis. Aí ele dobrava o cotovelo e dizia: ‘Pronto, agora virou um nove’”.

Steven também se recorda das histórias que a mãe lhe contava sobre o Holocausto quando ele ainda era pequenino. “Quando eu era muito pequeno, minha mãe me contou sobre sua amiga na Alemanha, uma pianista que tinha tocado uma sinfonia que não era permitida. Os alemães subiram ao palco e lhe quebraram todos os dedos, um a um, em ambas as mãos. Cresci ouvindo essas histórias de nazistas que quebravam dedos dos judeus”.

Terminando...

Uma das pessoas mais influentes de sua geração, Spielberg e seus trabalhos são uma parte sólida e permanente de nossa cultura. Ele marcou a infância e a vida adulta de milhões de pessoas e se superou como cineasta e chefe de família. E nos fez, a todos, sonhar com o impossível. Como judeu, sua contribuição a nosso povo tem sido de um valor inestimável. Antes de A Lista de Schindler, o Holocausto parecia doloroso demais e muito pouco comercial para que qualquer estúdio de Hollywood o enfrentasse. Somente Steven Spielberg, o cineasta mais bem-sucedido dentre todos, poderia levar a Universal Studios a gastar 23 milhões de dólares para contar a história do genocídio dos judeus europeus; a nossa história. E somente ele conseguiria levar milhões de pessoas a assisti-lo.

A conscientização sobre a barbárie nazista e a preservação dos testemunhos dos sobreviventes tornaram-se ainda mais relevantes com os últimos sobreviventes chegando a uma idade avançada. Ele assegurou-se de que o mundo nunca se esquecesse do Holocausto. A voz dos sobreviventes e suas trágicas lembranças persistirão para sempre graças a Steven Spielberg.

Amblin’ é o primeiro curta-metragem completo em 35 mm dirigido por Spielberg. Foi lançado em 18 de dezembro de 1968, embora nãoem cinemas comerciais, no dia em que Spielberg completou 22 anos. Éde certa forma o curta-metragem que deu inícioàsua carreira de sucesso.

Bibliografia

The Fabelmans’ Review: Steven Spielberg Phones Home, artigo de Manohla Dargis publicado no The New York Times em 10 de novembro de 2022

The Making of Steven Spielberg, artigo de Ellen Wexler publicado no site https://www.smithsonianmag.com em 22 de novembro de 2022

Review/Film: Schindler’s List; Imagining the Holocaust to Remember It, artigo de Janet Maslin publicado pelo The New York Times em 15 de dezembro de 1993