Atriz, produtora e ativista, internacionalmente reconhecida, Gal Gadot é neta de um sobrevivente do Holocausto. Ao contrário de muitos atores judeus de Hollywood, que se mantêm em silêncio ou demonstram apenas um apoio tímido a Israel e ao Povo Judeu, ela sempre se posiciona com firmeza e orgulho por sua identidade judaica.
No dia 8 de outubro de 2023, um dia após os terroristas do Hamas terem invadido Israel, matado, estuprado e sequestrado pessoas, Gal escreveu em seu Instagram: “Eu estou com Israel. Você também deveria estar. O mundo não pode ficar em cima do muro diante de atos de terror tão horríveis!”.
Gal Gadot, a atriz israelense mais reconhecida internacionalmente, foi homenageada pela Liga Antidifamação (ADL) com o Prêmio Internacional de Liderança, em reconhecimento por seus esforços no combate ao antissemitismo. Em março de 2025, durante a conferência anual “Never is Now” (“O nunca é agora”, em tradução livre) realizada pela ADL em Nova York, ela recebeu a homenagem diante de um público de quatro mil pessoas. “Sou israelense. E sou judia”, afirmou Gadot. “Vou repetir: meu nome é Gal e sou judia. Não é impressionante que, hoje, apenas dizer isso – só expressar um fato tão simples sobre quem eu sou – soe como uma declaração controversa? Mas, infelizmente, essa é a realidade em que vivemos.”
Tendo sido alvo frequente de antissemitismo, a ponto de ter que andar de guarda-costas, a atriz israelense que interpretou a Mulher-Maravilha se tornou um símbolo de força e beleza – dentro e fora das telas – além de uma grande defensora de seu povo, o Povo Judeu.
Crescendo em Israel
Gal Gadot nasceu em 30 de abril de 1985, em Rosh HaAyin, Israel, a cerca de 20 km a leste de Tel Aviv. Em suas próprias palavras: “Sou neta de um sobrevivente do Holocausto que veio para Israel e aqui reconstruiu sua vida do zero, depois que toda a sua família foi exterminada em Auschwitz. E, do outro lado da família, sou a oitava geração de israelenses. Sou nativa de Israel”.
Ela cresceu em uma família a qual descreve como “muito normal”. Seu pai era engenheiro e sua mãe, professora.
Desde pequena, Gal sempre foi bastante atlética: praticava vários esportes e fazia aulas de dança. Uma de suas primeiras ambições profissionais foi ser coreógrafa. Apesar de sempre ter gostado de se apresentar, nunca sonhou em ser atriz.
Depois de concluir o Ensino Médio em 2004, aos 18 anos, Gal Gadot ainda tinha algum tempo livre antes de se alistar no Exército. Sua mãe sugeriu que ela participasse do concurso de Miss Israel. Gal achou que seria uma experiência divertida e, para sua surpresa, venceu a competição – conquistando a coroa e um Citroën C3. A vitória marcou o início de sua carreira como modelo. Como Miss Israel, representou o país no concurso Miss Universo 2004. Em entrevistas, Gal conta que não queria vencer o Miss Universo e, por isso, sabotou sua própria participação: chegava atrasada aos ensaios e não usava os vestidos corretos para os eventos.
Em seguida, ela ingressou nas Forças de Defesa de Israel (FDI) para cumprir os dois anos de serviço militar obrigatório para mulheres. No Exército, tornou-se instrutora de combate. A atriz afirma que essa experiência lhe ensinou lições valiosas que contribuíram para sua trajetória profissional. Ela destaca a importância da disciplina, do trabalho árduo e da colaboração em equipe. Segundo Gal, lá aprendeu que “não se trata de você; você não é a prioridade” e que “existe um objetivo maior”. Ela traça um paralelo com sua carreira no cinema: “Quando se grava um filme, o grande objetivo é fazer um ótimo filme”.
Carreira
Depois de deixar as FDI, Gal iniciou os estudos em Direito e Relações Internacionais no Centro Interdisciplinar de Herzliya, uma universidade particular em Israel. Durante a faculdade, foi convidada por um diretor deelencoa fazer uma audição para o papel de “Bond girl” – personagem feminino principal nos filmes de James Bond – em Quantum of Solace (2008). Depois de seu primeiro teste, Gal foi convidada várias vezes e, embora não tenha sido a escolhida, a experiência despertou seu interesse pela atuação – algo que lhe pareceu muito mais interessante do que o curso de Direito.
Gal passou então a fazer aulas de teatro e, alguns meses depois, foi escalada para a série israelense Bubot (Bonecas), um drama sobre o mundo das modelos. Em 2009, conquistou o papel de Gisele na franquia Velozes e Furiosos e voltou a interpretar a personagem nas continuações: Velozes e Furiosos 5: Operação Rio (2011), Velozes e Furiosos 6 (2013) e Velozes e Furiosos 7 (2015).
Durante esse período, Gal fez pequenas participações em filmes de Hollywood. Também voltou a Israel para atuar nas séries Asfur (Pássaro) e Kathmandu. Em entrevista ao The New York Times, ela contou: “Cheguei a um ponto, pouco antes de Mulher-Maravilha, em que tive vários ‘quases’ – ótimas audições, excelentes testes de câmera – mas sempre acabava em segundo lugar – a ponto de estar quase desistindo e voltando para a faculdade de Direito”.
Mas seu marido, Yaron Varsano, encorajou-a a seguir em frente. Em 2016, Gal interpretou, pela primeira vez, a personagem Mulher-Maravilha em Batman vs Superman: A Origem da Justiça. Ela alcançou de fato o estrelato com o lançamento de Mulher-Maravilha, em 2017. Foi o primeiro filme de super-heróis, em doze anos, a trazer uma protagonista feminina. Gal brilhou nas telas e o longa foi um enorme sucesso, arrecadando mais de US$ 820 milhões no mundo todo.
Quando Gal recebeu sua estrela na Calçada da Fama, em Hollywood, a diretora de Mulher-Maravilha, Patty Jenkins, falou sobre o trabalho de Gal no filme: “Muitas vezes, ela estava ao ar livre, enfrentando o vento e as tempestades do inverno inglês... ou usando saltos plataforma e correndo na lama que lhe cobria os joelhos, ou na areia de uma praia escaldante, debaixo d’água ou ainda suspensa no ar – de lado ou, às vezes, até de cabeça para baixo”, contou Jenkins. “Quando as pessoas pensam em atores, só imaginam o glamour. Mas Gal teve o trabalho menos glamuroso que consigo imaginar – e, ainda assim, nunca deixou de entregar atuações poderosas, sendo sempre a pessoa mais feliz, gentil, amorosa e heroica no set ”, completou a diretora.
Ao falar sobre interpretar a Mulher-Maravilha, Gal destaca a importância da super-heroína como exemplo. “Nunca, nem nos meus sonhos mais loucos, imaginei que um dia interpretaria um personagem que influenciasse tantas mulheres”, disse a atriz israelense.
Ela reprisou o papel alguns meses depois, no filme Liga da Justiça (2017), e novamente em Mulher-Maravilha 1984 (2020). Mais recentemente, Gal Gadot atuou em Alerta Vermelho (2021), Morte no Nilo (2022), Agente Stone (2023) e Branca de Neve (2025), entre outros.
Em 2018, foi eleita pela revista Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo.
Família
A Mulher-Maravilha israelense conheceu seu marido, Yaron Varsano, em 2006, em uma festa que ela descreve como uma espécie de retiro de ioga, realizada no deserto de Israel. Varsano era um empresário bem-sucedido do setor imobiliário e proprietário do Varsano Hotel, em Tel Aviv. Ele é dez anos mais velho que Gal.
Os dois se apaixonaram à primeira vista. “Em nosso segundo encontro, ele me disse que suas intenções eram sérias e que não esperaria mais de dois anos para me pedir em casamento. E foi exatamente o que aconteceu: dois anos depois, ele fez o pedido. Nos casamos em 2008”, recorda Gal.
Em 2017, Varsano fez uma reviravolta em sua carreira. Vendeu toda a sua carteira de imóveis, incluindo o hotel, e se mudou com a família para Los Angeles. Em 2019, fundou, junto com Gal, a produtora Pilot Wave. A empresa produz diversos filmes estrelados pela própria Gal, como Agente Stone e Cleópatra.
O casal tem quatro filhas – Alma (2011), Maya (2017), Daniella (2021) e Ori (2024).
Ainda em 2017, Gal atraiu a atenção do público ao filmar Liga da Justiça e as regravações de Mulher-Maravilha enquanto estava grávida de sua segunda filha, Maya – chegando a usar um fundo verde ao redor da barriga para disfarçar a gestação.
Em 2024, com o nascimento de sua quarta filha, Ori, Gal escreveu no Instagram, ao lado de uma linda foto tirada no hospital: “Minha doce menina, seja bem-vinda. A gravidez não foi fácil, mas conseguimos”.
Um mês depois, ela revelou que, aos oito meses de gestação, sofreu fortes dores de cabeça, inicialmente atribuídas pelos médicos a hormônios ou enxaquecas. Só após realizar uma ressonância magnética foi que os médicos detectaram três grandes coágulos em seu cérebro. Gal precisou passar por uma cesariana de emergência e uma trombectomia – cirurgia para remover coágulos do cérebro. Se tivesse feito o parto natural, não teria sobrevivido. “De repente, entendi o que é sentir medo de morrer”, revelou em entrevista ao apresentador Jimmy Fallon.
Em novembro de 2024, Alma, filha mais velha da atriz, comemorou seu Bat-mitsvá. Gal compartilhou uma foto em sua conta no Instagram. Muitos dos seus 108 milhões de seguidores parabenizaram Alma e a família. Sacha Baron Cohen – o ator que interpretou Borat – brincou nos comentários: “Espera aí, você é judia? Então, Mazal Tov!”.
Apoiando o seu povo
Antes de 7 de outubro – considerado o dia mais trágico da História Judaica desde o Holocausto – a atriz israelense raramente se envolvia em questões políticas ou assuntos da atualidade, pois, como ela mesma diz com ironia: “Quem se importa com o que uma celebridade tem a dizer sobre política?”. Uma exceção ocorreu em 2014, durante um dos vários embates entre Israel e o Hamas, quando publicou uma foto acendendo as velas de Shabat com sua filha Alma. Na legenda, escreveu uma mensagem de apoio às FDI:
“Envio meu amor e minhas orações aos meus compatriotas israelenses – especialmente a todos os garotos e garotas que arriscam suas vidas para proteger meu país dos atos horríveis cometidos pelo Hamas, que se esconde covardemente atrás de mulheres e crianças... Vamos vencer!!! Shabat Shalom!” #nósestamoscertos #libertegazadohamas #pareoterrorismo #coexistência #amoFDI”.
Seu post viralizou, recebendo 200 mil curtidas e 15 mil comentários – alguns em apoio, outros com críticas agressivas à sua posição. Mas o tsunami de ódio no dia 7 de outubro de 2023, somado à reação global que se seguiu, fez com que ela rompesse o silêncio.
Naquele dia, cerca de três mil terroristas do grupo Hamas, fortemente armados, romperam a cerca que separava a Faixa de Gaza e invadiram o sul de Israel. Poucos quilômetros adiante, chegaram ao Festival de Música Supernova, do qual participavam milhares de jovens, e massacraram 364 pessoas. Também atacaram 22 kibutzim e pequenas cidades, nos quais incendiaram casas, destruíram propriedades, cometeram estupros e assassinaram famílias inteiras sem distinção de idade ou gênero.
Foi o atentado terrorista mais mortal da história do Estado Judeu. Os agressores mataram mais de 1.200 pessoas, feriram milhares e sequestraram 251 reféns, entre os quais um bebê de nove meses, crianças entre três e 12 anos, bem como idosos acima de 80 e sobreviventes do Holocausto. Até o fechamento da Revista, após algumas esparsas solturas e inúmeros mortos, 50 reféns continuam prisioneiros do Hamas. Desde então, Gal declarou ser necessário se posicionar sobre questões como o silêncio global diante da violência sexual sofrida por mulheres naquele dia, o grau de barbaridade praticado pelo Hamas e o sequestro de pessoas. Ela tem feito apelos constantes pela libertação dos reféns.
Cerca de um mês após o maior ataque terrorista a Israel, Gal Gadot, seu marido Yaron Varsano e o diretor israelense vencedor do Oscar, Guy Nattiv, organizaram uma exibição de 47 minutos com imagens fortes reunidas pelas Forças de Defesa de Israel, que mostram algumas das atrocidades cometidas pelo Hamas naquele dia. A sessão foi destinada a figuras influentes de Hollywood. Mais uma vez, Gal foi duramente criticada por sua iniciativa.
Quando se completaram 100 dias do cativeiro dos reféns em Gaza, Gal postou um vídeo com uma mensagem às famílias dos sequestrados. “Cem dias sem eles – é impossível imaginar... A questão dos reféns está presente em todos os lares, inclusive no meu”, disse Gal, com a mão sobre o coração. “Precisamos continuar agindo, e não vamos parar até que todos estejam em casa”. Em seu discurso deste ano na ADL, ela afirmou: “Este é um momento em que muitos de nós, na comunidade judaica, tivemos que encontrar nossa voz e enfrentar o ódio contra nós, mesmo quando isso gera um tremendo desconforto. Essa tem sido a realidade para todos – em todas as profissões, inclusive na minha”.
“Mas, em 7 de outubro, quando pessoas foram tiradas de suas casas, de suas camas – homens, mulheres, crianças, idosos, sobreviventes do Holocausto – e passaram pelos horrores daquele dia, eu não consegui ficar em silêncio. Fiquei chocada com tanto ódio, com o quanto muitas pessoas pensam que sabem quando na verdade não fazem ideia, e também com o fato de que, muitas vezes, a mídia não é justa. Por isso, eu precisei me posicionar”.
Nesse mesmo discurso, ela também condenou o antissemitismo e o sentimento anti-Israel, que se tornaram cada vez mais comuns nos Estados Unidos e mundo afora.
“Nunca imaginei que, nas ruas dos Estados Unidos e em várias cidades ao redor do mundo, veríamos pessoas não condenando o Hamas, mas celebrando, justificando e aplaudindo o massacre de judeus”, disse. “...Hoje nenhum de nós pode ignorar a explosão de ódio contra judeus ao redor do mundo”.
A atriz continuou: “Meu nome é Gal, sou judia, e já tivemos mais do que suficiente ódio aos judeus. No dia 7 de outubro, mulheres judias foram aterrorizadas sexualmente, estupradas, assassinadas e sequestradas pelo Hamas. Todas nós estávamos esperando ouvir palavras de apoio das nossas irmãs ao redor do mundo e, muitas vezes, o que ouvimos foi o silêncio. Não podemos mais esperar; não dá para prender a respiração e apenas esperar ou implorar pelo apoio de pessoas, grupos ou comunidades que não querem estar ao nosso lado. Temos que nos defender sozinhos”. Ela também fez um apelo enfático pelo retorno dos reféns que ainda estão em Gaza, afirmando: “Precisamos trazê-los de volta para casa”.
A ADL declarou que concedeu o prêmio a Gal por usar sua visibilidade para amplificar as vozes dos sobreviventes do 7 de outubro, defender a libertação dos reféns e cobrar das instituições globais uma resposta à violência contra mulheres israelenses.
Branca de Neve
Gal Gadot interpreta a Rainha Má na nova versão da Disney de Branca de Neve (2025). O filme tem sido marcado por diversas polêmicas. Quando o trailer foi lançado, no início do ano, fãs nas redes sociais comentaram que a beleza de Gal ofuscava a de Rachel Zegler, que interpreta a protagonista. No entanto, os desentendimentos entre as duas atrizes vão muito além disso.
Zegler teria evitado divulgar fotos ao lado de Gal em suas redes sociais por ela ser israelense. Em agosto de 2024, publicou uma mensagem pró-Palestina junto com a promoção do filme, escrevendo: “... e nunca se esqueça: Palestina livre”. A postagem, que teve 8,8 milhões de visualizações, gerou ameaças de morte contra Gal, levando a Disney a reforçar sua segurança.
A megaprodução, que custou US$ 270 milhões, além de outros 100 em marketing, fracassou nas bilheterias.
Calçada da Fama, em Hollywood
Em 18 de março de 2025, Gal Gadot se tornou a primeira atriz israelense a receber uma estrela na Calçada da Fama, em Hollywood. Porém não foi o primeiro israelense a receber uma estrela – esse título pertence ao produtor Haim Saban, um dos nomes mais bem-sucedidos de Hollywood, homenageado em 2017.
A cerimônia contou com a presença de colegas de trabalho, amigos e também de seu marido e quatro filhas. Durante o evento, Gal declarou seu amor e gratidão à família, mencionou diversas vezes suas raízes israelenses e chegou a dizer algumas palavras em hebraico. Próximo ao local da cerimônia, manifestantes pró-Palestina gritavam palavras de ordem contra Israel e foram confrontados por um grupo pró-Israel. A polícia precisou intervir depois que um manifestante pró-Palestina arrancou uma bandeira israelense das mãos de apoiadores. Semanas depois, sua estrela na Calçada da Fama foi vandalizada com frases como “assassina de bebês” e com o sobrenome judaico de seu pai, “Greenstein”. Em resposta, o israelense Yaniv Cohen, morador de Los Angeles, limpou pessoalmente a estrela.
A estrela de Gal é a de número 2.804 a ser dedicada na Calçada da Fama, que é administrada pela Câmara de Comércio de Hollywood.
Em diversas ocasiões, a Mulher-Maravilha israelense enfrentou agressões e até ameaças de morte por se posicionar a favor de seu povo e seu país. Perdeu um milhão de seguidores apenas por demonstrar apoio a Eden Golan – representante de Israel na Eurovision 2024 – antes do Festival. E seus filmes já foram banidos no Líbano, Tunísia, Catar e Kuwait pelo simples fato de ela ser israelense. Recentemente em Londres, durante as filmagens de seu novo filme, The Runner, cinco manifestantes pró-Palestina foram presos ao tentarem invadir o set e interromper a produção.
Ainda assim, o amor de Gal Gadot por seu povo é maior que o ódio demonstrado contra ela. Ela está ao nosso lado na luta contra o antissemitismo pedindo a todos que se unam, não se calem e se apoiem sempre uns aos outros.