Um dos Sábios mais influentes e reverenciados na História Judaica, o Rabi Yehuda Loew, mais conhecido como o Maharal de Praga, foi um Talmudista, cabalista e filósofo que causou um impacto profundo e de grande alcance em todas as correntes do estudo e filosofia judaicos. É um dos pensadores judeus mais citados e consequentes, de todos os tempos, que se tornou lendário por ter criado o Golem – um humanoide que protegeu os judeus dos frequentes ataques antissemitas da época.

Rabi Yehuda Loew nasceu em Poznan, parte da Polônia atual, em torno do ano de 1520. O ano exato de seu nascimento continua desconhecido, com estimativas que vão de 1512 a 1526. Ele é mais conhecido como o Maharal um acrônimo de “Moreinu HaRav Loew”, ou “Nosso Mestre, o Rabino Loew”. O sobrenome Loew se origina da palavra “Löwe”, em alemão, que significa “leão” e funciona como kinui, um substituto para o nome hebraico Yehuda, em virtude de sua associação com o leão, na Torá. Quando nosso Patriarca Yaacov abençoou seus filhos – que se tornariam os ancestrais das 12 Tribos de Israel – ele se referiu a seu quarto filho, Yehuda, como Gur Aryeh ou “Jovem Leão”. Assim sendo, muito adequadamente, o Rabi Yehuda Loew intitulou seu renomado comentário sobre o clássico de Rashi acerca dos Cinco Livros da Torá, Gur Aryeh al HaTorá – “O Jovem Leão (comentando) acerca da Torá”.

A combinação entre o nome do Maharal, Yehuda, e seu sobrenome, Loew, é ainda mais acentuada pelo seu epitáfio, em seu túmulo, em Praga, que vem adornado com um brasão heráldico que exibe um leão com duas caudas entrelaçadas. Esse emblema encapsula o sobrenome do Maharal e rende um tributo à Boêmia – hoje em dia, parte da República Checa – simbolicamente representada pelo leão de caudas entrelaçadas em seu brasão de armas.  Esse leão de dupla cauda continua a ser um poderoso símbolo da Boêmia e, posteriormente, da identidade checa, tendo um lugar de destaque no brasão nacional e sendo, com frequência, invocado como um emblema de herança e orgulho nacionais.

A família Loew remonta sua ancestralidade aos Exilarcas da Babilônia – os líderes da comunidade judaica na região. A linhagem desses líderes remontava à Dinastia Davídica – a linhagem real que teve início com o Rei David, fato que reforçava sua legitimidade e autoridade na comunidade judaica durante e até após o Exílio Babilônico. A linhagem do Maharal aumentava seu prestígio e autoridade, especialmente pelo fato de o Mashiach necessariamente ser um descendente do Rei David.

O Rabi Yehuda Loew descendia de uma família proeminente. Seu tio, o Rabi Jakob ben Chaim, fora indicado pelo imperador Fernando I como o Reichsrabbiner (o “Rabino do Império”) do Sacro Império Romano-Germânico, em 1559. O pai do Maharal, Rabi Betzalel Loew, era um comerciante bem-sucedido, o que possibilitava ao filho ter independência financeira.

Rabi Yosef Yitzhak Schneerson, conhecido como o Rebe Anterior da dinastia chassídica Chabad-Lubavitch, escreveu em seu livro Memórias do Lubavitcher Rebe que o Maharal iniciara seus estudos de Torá em ieshivot da Polônia, aos 12 anos de idade. Esse grande Mestre se dedicou ao estudo da Torá por 20 anos antes de se casar. Entre seus mestres destacava-se o Rabi Yaakov Pollak, eminente estudioso da Torá renomado por criar o método polonês de estudar o Talmud, conhecido como pilpul. Além disso, enquanto estava na ieshivá, o Maharal tivera a oportunidade de estudar junto com o Rabi Solomon Luria, o Maharshal, um dos maiores poskim (legisladores na Lei Judaica) de todos os tempos e renomado comentarista talmúdico. O Maharalteve o privilégio de ser aluno do Rabi Moshe Isserles, conhecido como o Rema. As significativas contribuições do Rema ao Shulchan Aruch – o Código da Lei Judaica, de autoria do Rabi Yosef Caro – o levaram a ser o árbitro final sobre questões da Lei Judaica para os judeus ashkenazim.

Rabi Yehuda Loew se casou, aos 32 anos, com Perl, ela também uma brilhante estudiosa da Torá. O casal teve seis filhas e um filho. Como consta no livro Memórias do Lubavitcher Rebe:  “Perl sentia-se livre para se dedicar aos estudos. Diariamente, ela tinha aulas com seu marido e juntos não estudavam apenas o Talmud e a Halachá (a Lei Judaica), mas também Ética e Metafísica. Ela costumava dizer que, desde seus oito anos de idade, não se passara um dia sem que ela estudasse Torá por cinco horas, no mínimo. Após seu casamento com o Maharal, era ela quem lia as inúmeras perguntas haláchicas para ele e, depois, anotava suas respostas. E organizava e editava todos os trabalhos literários do marido. Conta-se que ela encontrou pequenos erros em oito frases, no mínimo, quando ele citava um de nossos Sábios ou algum comentário do Rashi...”.

O Rabi Yehuda Loew recebeu uma educação rabínica tradicional, profundamente arraigada no estudo do Talmud, como era hábito, à época. Além disso, mergulhou com grande interesse nos mistérios da Cabalá, com especial atenção ao Zohar, a obra fundamental do misticismo judaico. Explorou, também, os textos clássicos da Filosofia Judaica, incluindo os escritos por Maimônides e pelo filósofo espanhol do século 14, o Rabi Hassdai Crescas. Além de seus estudos de Torá, o Rabi Yehuda Loew expandiu seus conhecimentos estudando Física, Matemática e Astronomia.

Ainda jovem, o Rabi ganhou renome como um excepcional estudioso do Talmud. Em 1553, antes de completar 30 anos, foi convidado para a posição de Rabino de Nikolsburg, na Morávia – região histórica na parte oriental da República Checa. Durante duas décadas, mais ou menos, ocupou essa posição, após o que, ele se mudou para Praga – centro do Judaísmo centro-europeu na época. Nessa cidade, ganhou seu mais notável reconhecimento como líder espiritual da comunidade judaica.

O Maharal fundou e dirigiu uma renomada Academia Talmúdica em Praga, conhecida como Klaus. Durante o tempo em que ocupou esse cargo, o Klaus se tornou um importante centro de estudos de Torá. Dada a proeminência da erudição e capacidade de liderança do Maharal, essa Academia atraiu muitos alunos e eruditos de grande talento, o que contribuiu de forma significativa para a vida judaica espiritual e intelectual na época.

Além de ser um dos mestres mais influentes em Torá, de todos os tempos, o Rabi Yehuda Loew era cientista e matemático. Como não há registros de que tenha tido uma educação formal secular, fica evidente que ele era autodidata. Interessante mencionar que ele mantinha vínculos de amizade com os renomados astrônomos Tycho Brahe e Johannes Kepler. A reputação do Maharal ultrapassava a esfera judaica, atraindo a atenção do imperador Rodolfo II, da Casa de Habsburgo. Tendo servido como imperador do Sacro Império Romano-Germânico de 1576 a 1612 e possuindo vários outros títulos notáveis, como rei da Hungria e Croácia, rei da Boêmia e arquiduque da Áustria – o imperador Rodolfo II encontrou-se com o Maharal em 23 de fevereiro de 1592. Nas conversas que mantiveram, o assunto em que se aprofundaram foi a Cabalá – tema que fascinava o Imperador.

Em 1584, o Maharal foi preterido na escolha para a posição de Rabino-Chefe de Praga, cargo esse que foi entregue a seu cunhado, o Rabi Isaac Hayoth. No entanto, pouco depois, o Maharal aceitou um convite de Posen, sua cidade natal, para lá servir como Rabino.  Retornou por pouco tempo para Praga, em 1588, onde sucedeu o Rabi Hayoth que se aposentava. Posteriormente, nesse mesmo ano, voltou a Posen para assumir o cargo de Rabino-Chefe da Polônia, período em que escreveu vários de seus trabalhos mais notáveis. Anos mais tarde, voltou a Praga, onde faleceu em 1609.

O Maharal está enterrado no Velho Cemitério de Praga, na República Checa, que é um dos mais antigos cemitérios judaicos na Europa e constitui um importante local histórico no Bairro Judeu de Praga. O túmulo do Maharal é muito visitado, seja por peregrinos judeus seja por outros turistas, em virtude de sua renomada estatura na História Judaica e as histórias extraordinárias a ele associadas, como a do Golem de Praga.

A Essência de D’us e a Divindade da Torá, segundo o Maharal de Praga

Como muitos outros filósofos e teólogos judeus, o Maharal de Praga discutia a essência de D’us dentro dos limites do pensamento tradicional judaico, que mantém que D’us é inefável e infinito. Ele ensinou que a verdadeira essência de D’us está além da compreensão humana. Assim como um ser finito não consegue, verdadeiramente, entender o conceito de infinitude, nós, humanos, não podemos compreender plenamente a essência Divina.

O princípio fundamental do Judaísmo é a existência e absoluta unicidade de D’us. Para o Maharal, essa unicidade não significava, apenas, uma falta de pluralidade, mas sim, uma simplicidade absoluta, no sentido de que D’us não é composto por partes ou atributos. Quaisquer atributos usados para se referir a D’us na Torá apenas visam facilitar a compreensão humana e não denotam qualquer divisão ou multiplicidade no próprio Ser Divino. O Maharal via D’us como a razão suprema para tudo, no sentido de que tudo deriva d’Ele. Assim, pois, D’us é a “Razão Primordial” ou o “Motor Principal”. Contudo, o Maharal enfatizava que o envolvimento de D’us com o mundo não muda nem afeta Sua Essência. O Todo Poderoso permanece transcendente mesmo sendo imanente e envolvido nas questões humanas.

O Maharal ensinou que o estudo da Torá oferece uma percepção sobre D’us – não no sentido de compreender Sua essência, que é inconcebível –, mas de entender Seu propósito para o mundo, o Povo de Israel e a humanidade. Para o Maharal, a Torá é muito mais do que um conjunto de mandamentos Divinos – é um reflexo da Sabedoria e da Vontade de D’us.

Contribuições do Maharal ao estudo da Torá

O Maharal de Praga deu uma profundidade filosófica e cabalística singular ao estudo do Talmud e do Midrash. O Talmud é a fonte primária da lei religiosa e da teologia judaica. Já o Midrash é uma porção não jurídica da Torá, constituída por narrativas, conceitos teológicos e ensinamentos morais, geralmente mediante histórias, parábolas e alegorias.

Ele via a Agadá – as narrativasdo Talmud e do Midrash – não apenas como histórias e lições morais, mas como profundos ensinamentos místicos e filosóficos. Ele mergulhou nessas narrativas e parábolas, delas extraindo camadas de significado e revelações que conectaram o pensamento judaico com ideias filosóficas e princípios cabalísticos mais abrangentes. Além disso, o Maharal enfatizava a unidade e harmonia inerentesà Torá, que influenciaram sua compreensão sobre várias discussões talmúdicas. Em suas obras, conseguiu demonstrar a profundidade intrínseca e a interconexão existente na Torá.

Os escritos do Maharal, particularmente seu comentário acerca do Pirkei Avot – um dos tratados da Mishná que consiste em ensinamentos éticos, máximas e aforismos de alguns de nossos maiores Sábios – refletem a santidade que ele, Rabi Yehuda Loew, personificava.

O Maharal também influenciou a educação judaica. Enfatizava a necessidade de se entender a interpretação pura e literal das passagens da Torá. Insistia em que as crianças primeiro dominassem o Tanach – os 24 livros que compõem a Torá Escrita – e a Mishná – compilação fundamental da Torá Oral – antes de estudarem a Guemará – a análise rabínica, discussão e comentários sobre a Mishná – em conjunto com a própria Mishná, que constituem o Talmud.

Ele priorizava o estudo dos textos-base sagrados no Judaísmo enquanto era, também, profundo místico e cabalista. Conseguia articular profundos conceitos da Cabalá em uma linguagem mais convencional, tornando esses ensinamentos acessíveis até a estudiosos não versados no misticismo judaico.

Sua abordagem multifacetada e penetrante ao estudo da Torá teve grande influência em dois importantes movimentos religiosos no século 18. Como comentou o Rabi Avraham Yitzhak Kook, primeiro Rabino-Chefe do Estado de Israel, a influência do Maharal deu origem ao Movimento Chassídico e ao movimento que se contrapôs a este, os Mitnagdim (os oponentes do Chassidismo), que se originou com predominância nos círculos judaicos da Lituânia. Figuras importantes nesses dois grupos, como o Gaon de Vilna, líder dos Mitnagdim, e o Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador da dinastia chassídica Chabad-Lubavitch, inspiravam-se nos ensinamentos do Maharal. Notadamente, o Rabi Shneur Zalman, descendente direto do Maharal, baseou muitos de seus trabalhos cabalísticos, especialmente o Likutei Amarim (conhecido como a obra Tanya), nos ensinamentos do Maharal.

Uma das obras mais estudadas e influentes do Maharal de Praga é Gur Aryeh – um comentário acerca do clássico comentário de Rashi sobre o Chumash – os Cinco Livros da Torá. Gur Aryeh é singular entre as centenas de obras que elucidam o comentário de Rashi sobre o Chumash. Nessa obra, que mergulha profundamente nas interpretações de Rashi, o Maharal consegue mesclar ensinamentos cabalísticos, filosóficos e éticos em suas argumentações, conectando, com grande habilidade, explicações textuais objetivas com interpretações mais esotéricas. 

O Golem de Praga

Além de ser um dos Sábios mais influentes na História Judaica, o Maharal de Praga foi um mestre da Cabalá prática. Ele é famoso pelo Golem, que ele criou do barro e trouxe à vida utilizando o conhecimento disponível apenas para aqueles que sabem como empregar os poderes do misticismo judaico.

O Golem de Praga era um humanoide – uma criatura sem alma com a aparência de um ser humano. Criado pelo Maharal que usava rituais cabalísticos e Nomes de D’us para dar-lhe vida, tinha por propósito proteger a comunidade judaica das ameaças e violência antissemitas fomentadas por falsas acusações de libelo de sangue. Ao criar o Golem, o Maharal conseguiu evitar inúmeras tragédias potenciais que tinham por alvo os judeus. Mesmo assim, ele acabou desativando o humanoide e o deixou no sótão da Sinagoga Altneuschul (Velha-Nova Sinagoga).

A história do Golem tem sido recontada e reimaginada de inúmeras formas, ao longo dos séculos, através da literatura e peças, filmes e programas de televisão. Pode-se dizer que tenha sido precursora de modernas narrativas, tais como o Frankenstein, de Mary Shelley, que lida com as consequências de tentar criar vida.  Como a história do Golem deu origem a tantos relatos ficcionais, muitos acreditam que não tenha passado de uma lenda judaica.

É importante enfatizar que ainda que a história do Golem seja responsável pela mística que envolve o Maharal de Praga, sua principal contribuição ao Judaísmo, e que prevalece, é a sabedoria e conhecimentos sobre a Torá que nos legou. Mais de quatro séculos desde seu falecimento, o Maharal continua sendo um dos mais citados e mais influentes Sábios em nossa história. As pessoas se fascinam com histórias sobrenaturais, como a do Golem, por razões óbvias. Mas o Judaísmo valoriza o conhecimento da Torá – que, como ensinava o Maharal, constitui a Vontade e a Sabedoria de D’us – infinitamente mais do que a capacidade de realizar feitos sobrenaturais. Na verdade, o Maharal apenas conseguiu criar o Golem por ser profundo conhecedor da Torá e especialmente da Cabalá prática.

Antes de mergulharmos na autenticidade histórica do Golem de Praga, é essencial entendermos o que é um Golem. O Talmud nos dá um vislumbre, explicando que o primeiro ser humano, Adão, foi criado, inicialmente, como um Golem, palavra que pode ser traduzida como “uma forma”.  Segundo o Talmud, a formação de Adão se deu em quatro estágios. Primeiro, a coleta de sua poeira; posteriormente, a modelagem de sua poeira na forma de um Golem – uma figura indefinida; depois, a formação de seus membros; e, por fim, a fase de lhe incutir uma alma (Talmud Bavli, Sanhedrin 38b). Sendo assim, o Golem é essencialmente uma entidade com uma forma humana, mas que não dispõe de uma alma humana. Nossos Sábios nos ensinam que a capacidade de falar após a concretização de um pensamento, e não apenas com o intuito de comunicar, é o que diferencia o ser humano das demais criaturas. Essa característica é arraigada na alma humana. E, como o Golem não possui uma alma humana, ele não tem o poder da fala.

O Maharal de Praga não foi o primeiro Sábio judeu a criar um Golem. O Talmud nos ensina que Rava – um dos Sábios mencionados com mais frequência no Talmud – criou um homem desprovido de alma – um Golem – por meio das forças da santidade. Rava enviou o Golem a outro Sábio, o Rabi Zeira. Quando este falou com o humanoide e não recebeu resposta alguma, ele deduziu sua origem e declarou: “Foste criado pelos Sábios; retorna então à tua poeira” (Talmud Bavli, Sanhedrin 65b). É importante constatar que esse relato faz parte do Talmud – a obra enciclopédica que serve de base à Lei e Teologia judaicas – e não de algum obscuro trabalho cabalístico, fato que nos indica que a ideia de um Golem é um conceito bem estabelecido no Judaísmo.

O Rabi Menachem Mendel Schneerson, o Lubavitcher Rebe, confirmou a veracidade da história do Golem de Praga, baseando-se num relato de seu sogro, o Rabi Yosef Yitzhak Schneerson, conhecido como o Rebe Anterior. Durante uma visita à Altneuschul, emPraga – a mais antiga sinagoga da Europa ainda em funcionamento – o Rabi Yosef Yitzhak viu os despojos do Golem no sótão. Uma de suas filhas, a Rebetzin Chana Gurary, recontou a conversa que teve com o pai sobre esse fato: “Pedi, então, a meu pai que me contasse o que vira. Ele, pausando por um momento, me disse: ‘Quando cheguei ao sótão, o lugar estava cheio de poeira e Sheimos (Nomes de D’us). No centro desse cômodo, vi a forma de um homem embrulhado e coberto. O corpo jazia, de lado, uma visão que muito me impressionou. Prestei atenção a alguns dos Sheimos que havia, lá, e saí, assustado com o que vi’ ”.

O Rogatchover Gaon, Rabi Joseph Rosen (1858-1936) – um dos mais importantes comentaristas do Talmud do século 20, conhecido por sua mente singular, de enorme brilho e agudez – esclareceu em um de seus principais trabalhos, Tzafnas Paneach, a sua opinião sobre a existência do Golem de Praga. Esse Gaon  escreveu que a ideia de que ele não aceitava a existência do Golem era incorreta: “Quem me ouvia não entendeu o que lhe dizia. Eu simplesmente falei da pergunta que ele fizera acerca da possibilidade ou não do Golem fazer parte de um Minyan1e coisas do tipo, dizendo que o Golem não era uma pessoa, pela Lei Judaica. Isto posto, certamente não estou negando a realidade histórica do Golem, mas apenas mostrando que ele não era, absolutamente, uma ‘pessoa’ para os propósitos de fazer parte de um Minyan…”.

O Legado do Maharal de Praga

Rabi Yehuda Loew, o Maharal de Praga, deixou este mundo em 18 do mês judaico de Elul do ano de 5369 (1609). Digno de nota, sete gerações mais tarde, nessa mesma data, no ano de 5505 (1745), nasceu um de seus descendentes diretos – o Rabi Shneur Zalman de Liadi, fundador do movimento chassídicoChabad-Lubavitch. Essa data, 18 de Elul, marca, também, o nascimento do Rabi Israel ben Eliezer, o Baal Shem Tov, fundador do Movimento Chassídico,em 5458 (1698). Na página de abertura de seu trabalho cabalístico, Likutei Amarim (o Tanya), o Rabi Shneur Zalman de Liadi, primeiro Rebe da dinastia Chabad-Lubavitch, informa que seu trabalho se baseou em “livros e autores”. Ele aludia aos trabalhos de seu ancestral, o Maharal de Praga, e à obra Shnei Luchot Habrit, de autoria do Rabi Yeshaya Halevi Horowitz, o Shelá HaKadosh. À medida que o alcance do movimento chassídico Chabad-Lubavitch se expandiu globalmente e o Tanya se estabeleceu como uma pedra fundamental do estudo da Cabalá, os ensinamentos do Maharal de Praga, por extensão, impactaram inúmeros judeus.

Quatrocentos anos após seu falecimento, o Maharal de Praga continua sendo uma figura maior que a vida, assim como o é sua estátua diante da Prefeitura de Praga. Suas obras enfocam as dimensões mais profundas dos conceitos judaicos, revelando sua profundidade espiritual e filosófica. Seus escritos se tornaram textos básicos para quem estuda o pensamento judaico. Sua singular abordagem ao estudo e interpretação da Torá influenciaram incontáveis estudiosos e pensadores em todas as gerações que se seguiram.

Muitos reverenciam e falam com grande admiração sobre o Maharal de Praga graças às suas habilidades sobrenaturais. Durante um dos mais difíceis períodos na História Judaica, ele foi o líder espiritual e porta-voz dos judeus. Fez tudo a seu poder – inclusive a utilização de seus conhecimentos da Cabalá prática – para protegê-los. Muito compreensivelmente, grande parte de sua fama advém da história do Golem e, mesmo aqueles que questionam a autenticidade histórica do Golem, sentem-se fascinados pelo homem a quem tal história é atribuída. Mas o legado do Maharal em muito supera o misticismo que o rodeia.

Poucos Sábios lançaram uma sombra tão grande e influente quanto o Maharal de Praga. De igual maneira para eruditos e principiantes, Rabi Yehuda Loewé um guia iluminado em sua jornada pela Torá. Sua mistura única de profunda intelectualidade e misticismo desenharam um caminho para futuros pensadores e místicos judeus. Suas contribuições se tornaram pedras fundamentais para subsequentes movimentos judaicos, em especial para o Movimento Chassídico. De fato, várias dinastias chassídicas integraram suas obras aos seus ensinamentos como testemunho de sua vasta e profunda influência.

O Zohar, a obra fundamental da Cabalá escrita por Rabi Shimon Bar Yochai, ensina que a influência de um Tzadik persiste além de sua vida física. Ao longo de maisde 400 anos desde seu falecimento, a influência do Maharal de Praga não diminuiu. Na verdade, apenas aumentou. Aqueles que estudam o clássico comentário de Rashi sobre a Torá recorrem ao Gur Aryeh do Maharal para obter percepções mais profundas. Os estudiosos do Talmud e do Midrash costumam se apoiar nas explicações do Maharal para entender o significado de passagens esotéricas. Qualquer pessoa que se aprofunde no Tanya, do RabiShneur Zalman de Liadi, particularmente os inúmeros frequentadores das sinagogas Chabad-Lubavitch em todo o mundo, está, em essência, imergindo nos ensinamentos cabalísticos do Maharal.

Assim sendo, Rabi Yehuda Loew, o Maharal de Praga, continua sendo um mestre para todos nós. Suas obras defendem, com ardor, o Povo de Israel e seu vínculo eterno com a Terra de Israel. Ao longo de sua vida, ele usou a Cabalá prática para proteger nosso povo daqueles que nos queriam mal. Que seu legado permanente e seus méritos abençoem e protejam os Filhos de Israel, em sua terra, a Terra de Israel, e em toda a parte.

Bibliografia

10 Facts About the Maharal Every Jew Should Know, artigo de Yehuda Shurpin publicado no site https://www.chabad.org

Rabbi Judah Loew - “The Maharal of Prague”, artigo de Nissan Mindel no publicado no site https://www.chabad.org/

The Maharal: Savior of the Jews, artigo do Rabbi Dr. Benji Levy publicado no site https://www.aish.com

Por: Tev Djmal