O Povo Judeu é também conhecido como os Filhos de Israel (Bnei Israel) ou como o Povo de Israel (Am Israel), e o Estado Judeu é chamado de Estado de Israel (Medinat Israel). O nome "Israel" foi concedido pelos Céus ao nosso terceiro Patriarca Jacob - filho de Isaac e neto de Avraham -, significando uma mudança profunda tanto em sua própria vida quanto na de seus descendentes. Como registrado na Torá, - "E D’us lhe disse: 'Teu nome é Jacob, mas não serás mais chamado Jacob, e sim Israel será teu nome. E chamou seu nome Israel.'" (Gênesis 35:10).
A Cabalá ensina que o nome hebraico revela a essência da pessoa, além de exercer influência sobre o caráter, habilidades e missão de vida dela.
Nosso primeiro Patriarca, Avram, teve o nome alterado por D’us para Avraham de maneira a refletir a missão a que estava destinado: “E não se chamará mais o teu nome Avram, mas Avraham será teu nome, porque pai de uma multidão de nações te fiz.” (Gênesis 17:5). O mesmo ocorreu com nossa primeira Matriarca, Sarai, renomeada por D’us para Sarah, o que lhe permitiu conceber. O Altíssimo disse a Avraham: “A Sarai, tua mulher, não mais chamarás seu nome Sarai, porque Sarah é seu nome. E a abençoarei, e também darei um filho dela para ti; e a abençoarei e virá a ser nações; reis de povos dela sairão.” (Gênesis 17:15-16). Conforme a promessa Divina, a Matriarca concebeu e deu à luz um filho cujo nome, Yitzhak (Isaac), foi escolhido por D’us: “É certo que Sarah, tua mulher, dará à luz um filho, e chamarás seu nome Yitzhak, e estabelecerei Minha aliança com ele – uma aliança eterna – e com sua descendência depois dele.” (Gênesis 17:19). Esse versículo destaca que a aliança singular e eterna de D’us seria continuada por Isaac e não por Ishmael, o primeiro filho que teve Avraham, com a princesa egípcia Hagar.
Isaac, nosso segundo Patriarca, casou-se com uma mulher chamada Rivkah(Rebeca), filha de Betuel, o Arameu, e irmã de Lavan. O casal não gerou descendentes por 20 anos até que D’us atendeu suas preces, e nossa segunda Matriarca engravidou. Foi uma gestação incomumente agitada. Preocupada com o tipo de criança que daria à luz, a futura mãe consultou um profeta, que lhe revelou: “Duas nações há no teu ventre e dois reinos de tuas entranhas se dividirão; uma nação, mais que outra nação, se fortalecerá, e a maior servirá à menor.” (Gênesis 25:23).
Rebeca teve gêmeos: “E saiu o primeiro, ruivo, todo ele como se vestido de pelo, e chamaram seu nome Esav (Esaú). E depois saiu seu irmão, e sua mão agarrava o calcanhar (akev, em hebraico) de Esaú; e chamou seu nome Yaacov (Jacob).” (Gênesis 25:25-26).
Apesar de gêmeos, os meninos não podiam ser mais diferentes um do outro. A Torá relata: “E Esaú tornou-se um perito caçador, homem do campo, e Jacob um homem íntegro, que habitava em tendas.” (Gênesis 25:27).
O mais velho vivia na estepe e era guerreiro, um homem acostumado à violência. O mais novo era sua antítese: pacífico e espiritualizado, dedicava-se ao estudo da sabedoria Divina, que mais tarde seria codificada na Torá e transmitida a seus descendentes, o Povo de Israel.
Um dia, Jacob preparava uma sopa de lentilhas, alimento tradicionalmente oferecido aos enlutados segundo nossos Sábios, quando Esaú regressou do campo exausto. O irmão mais novo cozinhava esse prato para o pai porque Avraham acabara de falecer, naquele mesmo dia, após o que Isaac assumiu o papel de portador da singular aliança espiritual estabelecida por D’us. Surgia então a questão: quem daria, mais tarde, continuidade a esse legado, Esaú ou Jacob? Segundo as tradições da época, o direito de sucessão caberia ao primogênito.
Segundo o Midrash, aquele que viria a tornar-se nosso Patriarca estava predestinado a emergir primeiro do ventre de nossa segunda Matriarca, Rebeca, antes do irmão gêmeo. No entanto, o outro se adiantou e, à força, pôs-se à frente: “E depois saiu seu irmão, e sua mão agarrava o calcanhar de Esaú; e chamou seu nome Yaacov (Jacob).” (Gênesis 25:26). Este nome deriva da palavra hebraica akev, que significa calcanhar, pois o menino, ao nascer, segurava essa parte do pé do irmão. Assim, nosso Patriarca iniciou a vida “pisoteado”. Em outras palavras, enfrentou, já no útero materno, a opressão, manifestada pela natureza predatória, egoísta e violenta de Esaú.
No dia do falecimento de Avraham Avinu, Jacob viu o momento certo para reivindicar o que era seu por direito, a primogenitura, que o consagraria como o herdeiro espiritual tanto do avô quanto do pai, Isaac. Portanto, ao ser abordado por Esaú, que desejava um pouco do ensopado de lentilhas, aproveitou a oportunidade de alcançar seu intento e propôs: “Vende, tão claro como o dia, tua primogenitura para mim.” (Gênesis 25:31). Indiferente ao valor espiritual de sua posição, o outro respondeu: “Eis que caminho para a morte; de que me servirá a primogenitura?” (Gênesis 25:32).
Um homem do campo, um caçador, um guerreiro acostumado a enfrentar grandes perigos diariamente, a viver o momento, Esaú não enxergava vantagem alguma em seu direito. Por considerá-lo sem benefício, abriu mão dele sem hesitação e, conforme a Torá, “Jurou-lhe, e vendeu sua primogenitura a Jacob.” (Gênesis 25:33). É fundamental esclarecer um mal-entendido comum, o de que Jacob ludibriou o irmão ao adquirir algo tão valioso em troca de uma simples tigela de ensopado de lentilhas. Contudo, de acordo com o Rabi Ovadia Sforno em seu comentário clássico sobre a Torá, a troca envolveu uma quantia significativa. O ensopado de lentilhas funcionou como o que o Talmud chama de kinyan sudar (literalmente, uma aquisição feita com um lenço), a entrega de um item simbólico para confirmar a conclusão de uma venda. Jacob alimenta o irmão como forma de concluir a aquisição da primogenitura. Ao servir a refeição, demonstrou a seriedade e a legitimidade da transação. Esaú “comeu e bebeu, levantou-se e se foi; e Esaú desprezou a primogenitura” (Gênesis 25:34), com o que demonstrou total descaso pelo direito vendido, que considerava insignificante, desprovido de valor, e cuja importância só reconheceria anos mais tarde.
A Torá relata que, com o avançar da idade, Isaac perdeu a visão e, ao antever o fim da vida, decidiu abençoar o primogênito e nomeá-lo seu sucessor. Solicitou então a Esaú que caçasse e lhe preparasse um prato saboroso: “Traz-me e comerei, para que te bendiga minha alma antes que eu morra.” (Gênesis 27:4).
Embora já tivesse adquirido a primogenitura, Jacob nada dissera aos pais a esse respeito. Diante do receio de um possível confronto, estava preparado para recuar e deixar que Esaú recebesse a bênção do pai. Foi a mãe, Rebeca, que, já informada por um profeta durante a gravidez de que o filho mais novo seria o mais proeminente, quem tomou a iniciativa. Convocou Jacob e instruiu-o: “E agora, meu filho, escuta minha voz naquilo que te ordeno. Vai, rogo, ao rebanho, e toma para mim, de lá, duas boas crias de cabras, e farei delas manjares para teu pai, como ele gosta. E trarás a teu pai e comerá, para que te abençoe antes de sua morte.” (Gênesis 27:8-10). Jacob expressa sua preocupação com o plano: “Mas Esaú, meu irmão, é homem peludo e eu sou homem liso. Porventura me apalpará meu pai e serei aos seus olhos como burlador, e trarei sobre mim maldição e não bênção.” (Gênesis 27:11-12). Diante da hesitação, Rebeca assegurou: “Sobre mim a tua maldição, meu filho”. (Gênesis 27:13).
Para solucionar o problema de Esaú, ao contrário do irmão, ser peludo, Rebeca tomou peles de cabritos, colocou-as sobre as mãos de Jacob, preparou uma iguaria deliciosa e enviou este a Isaac. Nosso Patriarca apresentou-se ao pai como se fosse o irmão. Cego, o ancião reconheceu a voz do filho mais novo, mas, ao tocar as mãos deste, sentiu-as peludas e disse: “A voz é a voz de Jacob, mas as mãos são as mãos de Esaú.” (Gênesis 27:22). Após alimentar-se, abençoou Jacob e, com isso, concedeu-lhe riquezas tanto espirituais quanto materiais: “E que D’us te dê do orvalho dos céus, do melhor da terra e abundância de trigo e mosto. Sirvam-te povos e curvem-se ante ti nações! Seja senhor de teus irmãos, e te reverenciem os filhos de tua mãe! Os que te amaldiçoarem sejam malditos e os que te abençoarem sejam benditos.” (Gênesis 27:28-29).
Após Jacob receber a bênção e sair da presença do pai, Esaú chegou, apresentou a refeição que havia preparado para Isaac e disse: “Levanta-te, meu pai, e come da caça de teu filho, para que tua alma me abençoe.” (Gênesis 27:31). Quando Isaac, que não mais enxergava, perguntou: “Quem és tu?” (Gênesis 27:32), ouviu a resposta: “Sou teu filho, teu primogênito, Esaú” (ibid). O ancião foi acometido por um grande tremor e disse: “Quem é e onde está aquele que caçou uma caça e trouxe para mim, e comi de tudo antes que viesses, e o abençoei? Também será bendito!” (Gênesis 27:33). Ao dar-se conta do ocorrido, Isaac revelou: “Teu irmão veio com esperteza e tomou tua bênção.” (Gênesis 27:35). Esaú exclamou: “Não se chama ele com razão Jacob, visto que por duas vezes me enganou? A minha primogenitura tomou, e eis que agora tomou minha bênção!” (Gênesis 27:36). Apesar de ter vendido seu direito de livre vontade, sentiu-se injustiçado, “levantou sua voz e chorou” (Gênesis 27:38). Implorou então ao pai uma bênção, que, embora concedida, não foi tão extraordinária quanto à que recebera Jacob. Isaac concedeu ao filho mais velho riquezas materiais, mas alertou-o: “Por tua espada viverás e a teu irmão servirás.” (Gênesis 27:40).
A partir de então, o guerreiro tornou-se inimigo mortal do irmão, a quem jurou vingança: “E Esaú guardou rancor de Jacob pela bênção com que o abençoou seu pai, e Esaú disse em seu coração: Chegarão os dias de luto de meu pai, e matarei meu irmão Jacob.” (Gênesis 27:41). Informada do plano sinistro, Rebeca adverte o filho mais novo: “Eis que Esaú, teu irmão, se consola pensando em matar-te. E agora, meu filho, ouve minha voz: levanta-te e foge à casa de Lavan, meu irmão, a Haran. E ficarás com ele alguns dias, até que passe o furor de teu irmão.” (Gênesis 27:42-44). Após saber do aviso da esposa ou talvez chegar a essa decisão por conta própria, Isaac chama Jacob, abençoa-o novamente e instrui: “Levanta-te, vai a Padán-Aram, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma para ti, de lá, uma mulher das filhas de Lavan, irmão de tua mãe. E D’us cheio de bênçãos, te abençoe, te faça frutificar e te multiplique, e sejas uma multidão de povos. E te dê a bênção de Avraham, a ti e à tua descendência, contigo, para herdar a terra de tuas peregrinações, que D’us deu a Avraham.” (Gênesis 28:2). Com isso, reafirmou que Jacob era quem carregaria o legado do pai e do avô. Em obediência às orientações recebidas, nosso Patriarca deixou o lar para escapar do irmão violento e rancoroso.
Os psicólogos geralmente destacam duas estratégias principais diante dos desafios: fugir ou lutar. Ou seja, pode-se confrontar e superar o problema ou, desde o início, recuar e evitar o confronto. Jacob poderia ter insistido com os pais para permanecer em casa e, se fosse necessário, enfrentar Esaú. No entanto, opta pela fuga. Em vez de encarar o irmão diretamente, recorreu à estratégia simbolizada por seu akev, seu calcanhar: optou pela fuga em vez da luta.
Jacob e Lavan
Conforme instruído pelos pais, Jacob foi para a casa do tio Lavan, irmão de Rebeca, em Haran, no sudeste da atual Turquia. Oriundo de uma família abastada, Jacob chegou ao destino desprovido de recursos financeiros porque, segundo o Midrash, fora assaltado no caminho por Elifaz, primogênito de Esaú, que enviou o filho para assassinar nosso Patriarca. Em vez de defender-se do sobrinho e lutar contra ele, Jacob propôs ser poupado em troca de todos os seus bens, o queilustra, mais uma vez, uma disposição de fazer quase qualquer coisa, até se submeter à pobreza, para evitar o confronto.
O ato de desapego teve consequências significativas e duradouras para Jacob, que, ao chegar a Haran sem recursos financeiros, se viu sem muitas opções além de trabalhar para o ganancioso e desonesto Lavan. Jacob desejava casar-se com Raquel, a bela filha do tio, ao qual, então, se propôs servir por sete anos em troca da mão da prima. Jacob cumpriu o prometido, mas, na noite das núpcias, foi enganado por Lavan, que apresentou como noiva a filha mais velha, Lea. Jacob só descobriu ao amanhecer que havia passado a noite com a irmã da amada. Indignado, confrontou o tio sobre a traição e questionou: “Que me fizeste? De certo, por Raquel servi contigo! E por que me enganaste?” (Gênesis 29:25). Sem remorso, Lavan respondeu descaradamente: “Não se faz assim em nosso lugar, dar a menor antes da maior. Completa esta semana e daremos para ti também ela, pelos serviços que servirás comigo ainda por outros sete anos.” (Gênesis 29:26-27).
Como Jacob reagiu à flagrante desonestidade de Lavan? No exílio, sem recursos e longe do lar, optou pelo apaziguamento, pela conformidade e, apesar de nunca ter desejado casar-se com Lea, aceitou os novos termos propostos.
Assim, nosso Patriarca ficou 20 anos em Haran, onde foi enganado e explorado repetidas vezes pelo tio. Quando passou a trabalhar por conta própria para prover melhor ao sustento das esposas e filhos, D’us abençoou-o em todos os seus empreendimentos, o que lhe permitiu acumular grande riqueza. Essa prosperidade despertou inveja e ressentimento tanto em Lavan quanto em seus filhos. Aquele, embora tivesse anteriormente reconhecido que “o Eterno me abençoou por tua causa” (Gênesis 30:27) e admitido que sua fortuna se devia à presença do sobrinho, começou a agir como se este enriquecesse à sua custa. Jacob percebeu a mudança de atitude do tio, que deixara de vê-lo como uma vítima inofensiva e passara a considerá-lo um adversário: “E Jacob viu o rosto, e eis que não estava para ele como ontem e anteontem.” (Gênesis 31:2). Contudo, em vez de confrontar Lavan sobre sua hostilidade, preferiu ir embora. Instruído por D’us a retornar à terra dos pais, partiu sigilosamente, às pressas, com a família e os bens. Assim como fora para Haran para escapar de Esaú, agora voltava ao país natal para esquivar-se de Lavan. Ou seja, mais uma vez recorreu à fuga e não confiou na própria força, mas em seu akev, seu calcanhar, para enfrentar o problema.
Ao ser informado do ocorrido, Lavan pôs-se no encalço do genro com intenções hostis, disposto a assassiná-lo. Ao alcançá-lo, confrontou-o: “Por que te escondeste para fugir e me roubaste, e não me fizeste saber?” (Gênesis 31:27). Também o advertiu: “Tenho poder em minhas mãos para fazer-vos mal.” (Gênesis 31:29). Revelou ainda que só se abstinha disso porque D’us lhe aparecera em sonho e o proibira de tocar em nosso Patriarca. O grande enganador, que havia ludibriado o sobrinho inúmeras vezes, fez então um discurso que atingiu o ápice da hipocrisia: acusou este de defraudá-lo, roubá-lo e levar tanto as filhas quanto os netos dele, Lavan, como se fossem prisioneiros. Jacob replicou que fora ele o lesado durante sua estada em Haran e expressou indignação, mas evitou o confronto direto. Acusado de desonestidade por alguém que era a própria encarnação desse vício, reagiu de forma defensiva. Assim como optara por não enfrentar o irmão, Esaú, e preferira a fuga, protestou contra as acusações, mas se submeteu ao menosprezo. Mais uma vez, deixou-se subjugar. Derivado da palavra hebraica para “calcanhar”, o nome Yaacov sugere uma tendência não só a fugir dos problemas, mas também a deixar-se pisotear por outros, como Lavan.
A luta com o anjo e um novo nome: Israel
Um dos episódios mais enigmáticos e místicos da Torá é o confronto entre nosso Patriarca, prestes a retornar à terra prometida por D’us a ele e a seus descendentes após mais de duas décadas, com um anjo.
Há diversas interpretações não só sobre a identidade, mas também sobre o propósito desse ser celestial, que, segundo a Torá, atacou Jacob enquanto este estava sozinho. Durante a noite inteira, um se esforçou ao máximo para superar o outro. O filho de Isaac e Rebeca saiu vitorioso, mas, ferido na região do nervo ciático, ficou temporariamente manco. Ao amanhecer, o anjo pediu licença para ir-se. Nosso Patriarca respondeu que só o atenderia em troca de uma bênção, que lhe foi concedida na forma de um novo nome: “Não, Jacob não mais será teu nome, e sim Israel, pois lutaste com um anjo e com homens e prevaleceste.” (Gênesis 32:29).
Essa mudança, posteriormente confirmada por D’us, indica que o embate resultou em uma profunda transformação da essência e da missão de Jacob, pois, como mencionado no início deste artigo, o nome hebraico revela justamente esses aspectos do indivíduo.
A luta representou um verdadeiro divisor de águas na vida de nosso Patriarca. Até então, para sobreviver, Yaacov Avinu, nosso pai Jacob, sempre evitara o confronto direto com os inimigos, dependera de seu akev e optara pelo apaziguamento em vez do conflito, pela fuga em vez do combate. No entanto, ao enfrentar um anjo, encontrou-se em uma situação inédita: a urgência de lutar e vencer ou morrer. Contra um ser não limitado pela fisicalidade, a fuga, o recurso ao calcanhar, não era mais uma opção viável.
É significativo que, apesar da vitória no embate e da bênção recebida, o Patriarca sofreu uma lesão física temporária. O anjo feriu-o de propósito para transmitir-lhe uma mensagem intrinsecamente ligada ao novo nome que lhe conferiu: “só consegui ensinar a importância da firmeza e da luta a você, que passou a vida em fuga, ao retirar-lhe, por algum tempo, a possibilidade de recorrer ao seu calcanhar”. Assim, o ferimento infligido também representou uma bênção: um homem que sempre confiara em seu akev,na fuga, agora se via obrigado a confrontar os desafios. Jacob precisava evoluir para Israel.
Há, porém, uma peculiaridade nesse episódio. Após ele, nosso terceiro Patriarca passou a utilizar ambos os nomes, tanto que o original é muito mencionado na Torá e na liturgia judaica, ao contrário do de outras grandes figuras do Judaísmo que passaram por mudança semelhante. Por exemplo, Yehoshua (Josué) bin Nun chamava-se originalmente Hoshea, nome que não mais aparece após ser alterado por Moshé Rabenu. No entanto, o caso de Jacob destaca-se porque não foi uma renomeação, como ocorrera com Avraham, Sarah e Yehoshua, mas sim, a atribuição de um nome adicional. Em outras palavras, Jacob não foi substituído por Israel, mas passou a ter dois nomes igualmente significativos.
São três os Patriarcas do Povo Judeu: Avraham, Isaac e Jacob/Israel. No entanto, somos identificados não como Filhos de Avraham nem como Filhos de Yitzhak, mas sim como os Filhos de Israel (Bnei Israel). Isso ocorre porque, enquanto os dois primeiros também deram origem a outras nações, todos os doze filhos de Jacob formaram o nosso povo. A dualidade de nomes do terceiro Patriarca tem um significado profundo para todos os judeus e seus descendentes, em todas as gerações. Conforme ensinado por Nachmanides, Maaseh Avot Siman L’Banim, “os atos dos pais (os Patriarcas) são um sinal para os filhos”. Isso indica que tudo o que aconteceu com nossos antepassados, sobretudo Jacob, cujo nome carregamos, influencia a vida dos descendentes dele: nós, os Filhos de Israel.
Bibliografia
Blech, Rabbi Benjamin, Understanding Judaism: The basics of deed and creed, Jason Aronson, Inc
Steinsaltz, Rabbi Adin (Even-Israel), The Steinsaltz Humash, Koren Publishers