Procurem, em seu livro de orações, a página do kidush, recitado sobre uma taça de vinho nas noites de sexta-feira, o Shabat. O primeiro parágrafo desta bênção – que se inicia com as palavras Yom Hashishi — é retirado do primeiro livro da Torá (Gênese 1:31-2:3), e fala do Sétimo Dia da Criação.

Apontem sobre a última letra da palavra “Hashishi”. Trata-se da letra hebraica yud. E agora, ignorando os espaços entre as palavras dessa prece, contem seis letras. A sétima letra é um shin. Contem outra seis letras e verão que a sétima letra é um resh. Sete outras letras e encontrarão um aleph. Contem novamente. A sétima letra é um lamed.

O que encontramos? As letras yud, shin, resh, aleph e lamed – que compõem a palavra “Israel”—são encontradas em intervalos de sete letras no primeiro parágrafo da bênção do kidush das sextas-feiras à noite. Sabemos quão significativo é o número sete para o judaísmo. O Shabat é o sétimo dia da semana, e guardá-lo é uma mitzvá ordenada ao povo de Israel em homenagem ao Sétimo Dia da Criação. Será que desvendamos um código – a palavra “Israel” codificada em intervalos de sete letras – precisamente na passagem da Torá referente ao Sétimo Dia da Criação? Ou seria apenas coincidência?

Padrões semelhantes de palavras foram encontrados há mais de meio século por um rabino de origem tcheca, Michael Weismandel. Mas somente com o advento dos modernos computadores foi possível estatisticamente verificar se tais padrões de palavras são involuntários e simples coincidência, ou se foram deliberadamente criptografados na Torá. Após a morte do Rabi Weismandel, seus discípulos e os rabinos Shmuel Yavin e Avram Oren continuaram o seu trabalho de pesquisa de palavras e padrões codificados na Torá. Mas o grande avanço ocorreu no início da década de 80, quando um rabino de Jerusalém mostrou ao Dr. Eliyahu Rips, renomado professor de Matemática na Universidade Hebraica de Jerusalém, o trabalho do rabino Weismandel. Com a ajuda de avançadas ferramentas de estatística e computadores modernos, o Dr. Rips iniciou sua pesquisa buscando na Torá padrões de palavras e, a seguir, verificando matematicamente se estes haviam sido propositalmente codificados dentro da mesma. Mais tarde, o Dr. Rips teve a colaboração, neste estudo, do Dr. Moshe Katz, do Instituto Technion, de Haifa, e do físico Doron Witztum, de Jerusalém.

Segue-se um exemplo do que foi desvendado pelo Dr. Rips:

No segundo capítulo do Livro da Gênese, encontramos o seguinte: “Do solo fez o Senhor D’us brotar toda sorte de árvores agradáveis à vista e boas para alimento; e também a árvore da vida no meio do jardim e a árvore do conhecimento do bem e do mal” (Gênese 2:9).

Os nomes das árvores não são mencionados explicitamente nesse capítulo da Torá. O Dr. Eliyahu Rips sugeriu que talvez estivessem codificados no mesmo em intervalos regulares de letras. A seguir, tomou os nomes de 25 árvores mencionadas na Torá (segundo referência no trabalho “A fauna e a flora na Torá”, de Yehuda Feliks), programando o seu computador para decifrar se os mesmos haviam sido codificados. E o que encontrou o computador? Os nomes das 25 árvores haviam realmente sido codificados nesse capítulo da Torá!

Em artigo intitulado “Códigos na Torá: leitura em intervalos iguais”, Daniel Michelson, professor de Matemática na Universidade da Califórnia e na Universidade Hebraica, estimou a probabilidade de ser mera coincidência o fenômeno. Seus resultados indicam que a probabilidade dessas 25 árvores terem sido acidentalmente codificadas nesse capítulo da Torá é de 1 em 100 mil. Isto significa que se tomarmos 100 mil textos hebraicos de tal comprimento, deveríamos esperar encontrar os nomes das 25 árvores codificados em apenas um dos mesmos. Seria meramente sorte o fato de que este fenômeno das árvores foi precisamente encontrado na passagem da Torá que narra a criação das árvores por D’us?

Outro exemplo interessante pode ser visto no 38º capítulo do livro da Gênese. O texto relata a história de Yehuda e Tamar, que deu à luz a Peretz e Zerach. Sabemos, através do Livro de Ruth, que Boaz descendia de Peretz e que esposara Ruth. Este casal teve um filho a quem deram o nome de Oved e este, por sua vez, teve um filho, Yishai, o pai do Rei David. Os matemáticos examinaram se as informações sobre a linhagem do rei David estão codificadas nesse capítulo da Torá que fala de seus ancestrais.

E o que foi que encontraram? Os nomes Boaz, Ruth, Oved, Yishai e David soletrados de trás para frente em um intervalo de 49 letras. E além do mais, encontraram tais nomes em ordem cronológica. O professor Michelson analisou se seriam meras coincidências. Seus resultados estatísticos foram: as chances de todos os cinco nomes – Boaz, Ruth, Oved, Yishai e David – aparecerem por acaso nesse capítulo da Torá são de 1 em 6.500. As probabilidades dos nomes aparecerem em ordem cronológica por simples coincidência são de 1 em 200 mil!

Surge, naturalmente, uma pergunta interessante. Por que a ancestralidade do rei David teria sido codificada em intervalos de 49 letras? Sabemos que Shavuot – o dia em que D’us deu ao povo de Israel os Dez Mandamentos – ocorreu 49 dias após o Êxodo. Shavuot foi a data de nascimento e morte do rei David. E também é a festividade em que estudamos o Livro de Ruth.

Outros códigos foram encontrados na Torá, e as experiências estatísticas indicam que a possibilidade de os mesmos serem puramente coincidência é infinitamente reduzida. Os pesquisadores concluíram que tais códigos foram deliberadamente inseridos na Torá. Relatam também que a maioria dos códigos é tão incrivelmente complexo que os computadores modernos levam horas para descriptografar um único padrão de palavra. Ainda assim, muitos fazem uma pergunta que parece legítima: será possível que os antigos hebreus escreveram a Torá plantando tais códigos na mesma? A resposta: será que esses “antigos hebreus” poderiam também ter previsto o futuro?

Os famosos experimentos dos rabinos

Em 1986 o Dr. Eliyahu Rips, Doron Witztum e Yoav Rosenberg realizaram uma extensa experiência: desvendar se os nomes de 64 Guedolim, grandes rabinos, estavam codificados em intervalos de letras iguais no primeiro livro da Torá. Descobriram o seguinte: os nomes dos 64 grandes rabinos estavam de fato codificados no Livro Gênese, e as datas de nascimento e morte dos mesmos estavam codificadas bem próximas a cada um de seus respectivos nomes. A probabilidade de que tais códigos sejam feliz coincidência é de 1 em 62.500. Este resultado estatístico é altamente significativo e indica que todas estas informações haviam sido deliberadamente codificadas na Torá milhares de anos antes de tais rabinos terem nascido. A experiência dos Guedolim e seus resultados foram levados ao mundialmente renomado Instituto de Estatísticas Matemáticas, em Hayward, na Califórnia. De modo a avaliar sua validade, foram rigorosamente revistos e analisados durante seis anos. Tal estudo foi posteriormente publicado em uma conceituada revista de matemática, “Statistical Science”, em agosto de 1994.

Os resultados da experiência dos Rabinos Famosos, no entanto, não estão isentos de críticas. Muitas pessoas argumentam que o fenômeno dos códigos é peculiar à língua hebraica. Para contra-argumentar, Eliyahu Rips, Doron Witztum e Yoav Rosenberg tentaram duplicar a experiência dos Famosos Rabinos em outros textos hebraicos. Não encontraram tais códigos em nenhuma outra publicação em hebraico. Nos últimos três anos vários outros matemáticos tentaram encontrar a “falha fatal” nesta experiência. Nenhum teve sucesso.

Para corroborar a veracidade dos códigos dos Rabinos Famosos, o Dr. Harold Gans, matemático-criptólogo sênior da Agência de Segurança Nacional dos Estados Unidos, realizou experimento similar. O Dr. Gans tem praticamente três décadas de experiência em desvendar códigos para o governo dos Estados Unidos, que mantém os métodos e especialistas mais avançados no mundo em descriptografia de documentos codificados. A princípio, o Dr. Gans estava muito cético quanto à existência de códigos legítimos da Torá. No entanto, quando realizou a experiência dos Rabinos Famosos, além de validar seus resultados, fez uma descoberta adicional: além dos nomes, datas de nascimento e morte dos rabinos, também as cidades em que nasceram e morreram cada um dos rabinos haviam sido codificadas no primeiro livro da Torá.

Que conclusão, então, tiraram Eliyahu Rips, Doron Witztum, Yoav Rosenberg e Harold Gans da experiência com os Rabinos Famosos? Apenas uma: que as informações haviam sido deliberadamente colocadas na Torá. E, no entanto, a Torá existe em sua presente forma há milhares de anos. Como o seu autor poderia ter tido conhecimento sobre a existência futura, bem como detalhes da vida de homens que só iriam nascer séculos mais tarde? A única conclusão lógica é a de que o autor não poderia ter sido um ser humano comum – e não poderia ter estado limitado pelo tempo ou o espaço. Pelo contrário, a Torá é de autoria Divina.

Lista dos nomes de rabinos encontrados na experiência dos Rabinos Famosos

Rabi Avraham Av-Beit-Din de Narbone
Rabi Avraham Yizhaki
Rabi Avraham Ha-Malakh
Rabi Avraham Saba
Rabi Aaron de Karlin
Rabi Eliezer Ashkenazi
Rabi David Oppenheim
Rabi David Ha-Nagid
Rabi David Nieto
Rabi Haim Abulafia
Rabi Haim Benbenest
Rabi Haim Capusi
Rabi Haim Shabetai
Rabi Yair Haim Bacharach
Rabi Yehudah Hasid
Rabi Yehudah Ayash
Rabi Yehosef Ha-Nagid
Rabi Yehoshua de Cracow
O Maharit
Rabi Yosef Teomim
Rabi Yakov Beirav
Rabi Israel Yaakov Hagiz
O Maharil
O Yaabez
Rabi Yizhak Ha-Levi Horowitz
Rabi Menahem Mendel Krochmal
Rabi Moshe Zacuto
Rabi Moshe Margalith
Rabi Azariah Figo
Rabi Immanuel Hai Ricchi
Rabi Shalom Sharabi
Rabi Shelomo of Chelm
O Ra’avad de Posquières
Rabi Avraham, filho de Rambam
Rabi Avraham Ibn-Ezra
Rabi Eliyahu Bahur
Rabi Eliyahu de Vilna
Rabi Gershon Ashkenazi
Rabi David Gans
O Taz
Rabi Haim Ibn-Attar
Rabi Yehudah, filho de Rosh
Rabi Yehudah Ha-Hasid
Maharal de Praga
Rabi Yehonathan Eybeschuetz
Rabi Heshil de Cracóvia
O Sema
O Bach
Rabi Yom-Tov Lipman Heller
Rabbenu Yonah
Rabbenu Tam
O Rif
O Besht
O Maharam de Rotenberg
O Levush
O Rema
Rabi Yosef Caro
Rabi Yehezkel Landa
O Pnei Yehoshua
O Maharshal
O Maharsha

Os exageros nos códigos da Torá

Ao se decifrar quaisquer códigos, o maior desafio é avaliar-se se os padrões de palavras codificados ocorrem acidental ou delibera-damente. Obviamente, pode-se encontrar interessantes padrões de palavras em praticamente qualquer texto examinado – em um romance, no jornal diário ou mesmo neste artigo. Felizmente, o campo de estatística permite aos matemáticos asseverar – com razoável certeza – se os padrões de palavras ocorrem por coincidência ou se foram deliberadamente codificados dentro de um determinado texto.

Mas, à medida que se tornou mais conhecida a experiência dos Rabinos Famosos, inúmeras pessoas publicaram livros que ameaçam inteiramente a credibilidade da pesquisa sobre os códigos da Torá. Tais livros não empregam metodologia científica alguma, nem fazem distinção entre códigos estatisticamente significativos e códigos que aparecem acidentalmente.


O exemplo mais notável é o livro “O Código da Bíblia”, de autoria de Michael Drosnin. Apesar de ser bestseller em nove países, as informações e alegações apresentadas no livro são altamente falaciosas. A obra apresenta códigos que não têm significado estatístico e ainda vai mais longe, alegando que os mesmos podem ser utilizados para se prever o futuro.

Eliyahu Rips, Doron Witztum e Harold Gans denunciaram a veracidade das informações apresentadas no livro de Michael Drosnin. Afirmaram que seu trabalho tem falhas de lógica e que não utiliza nenhum dos métodos estatísticos necessários para validar a colocação intencional dos códigos. Os pesquisadores também demonstraram, através do uso da matemática e da lógica, ser impossível usar os códigos da Torá para se prever o futuro. Dão o seguinte exemplo básico para ilustrá-lo:

No “Código da Bíblia”, Michael Drosnin afirma ter decifrado um código na Torá que previu o assassinato do ex-Primeiro Ministro Yitzah Rabin, z”l. Alega ter encontrado “Yitzhak Rabin” codificado em estreita proximidade a “o assassinado irá assassinar”.

Imaginemos que tivéssemos encontrado esse código antes do assassinato do Primeiro Ministro. Poderíamos interpretá-lo de várias formas. Estaria este código dizendo que Rabin seria assassinado ou que ele iria assassinar alguém? Ou talvez seria acusado de ser um assassino? Ou ainda que talvez alguém iria tentar assassiná-lo, mas sem consegui-lo? A metodologia usada por Drosnin para prever o assassinato de Rabin revelou também um código que indicava que o ex-Primeiro Ministro inglês Winston Churchill seria assassinado. Todos sabemos que tal “previsão” não se concretizou.

O exagero dos códigos da Torá não se limita a escritores judeus. Em suas campanhas para converter os judeus, vários grupos missionários cristãos têm alegado que há códigos na Bíblia judaica que provam que Jesus é o Messias. Vários matemáticos examinaram o trabalho desses missionários, tendo concluído que os mesmos não apresentam nem uma única afirmação ou cálculo que seja estatisticamente válido ou verdadeiro. Experimentos matemáticos demonstram que tais “códigos de Jesus” são acidentais e poderiam ser encontrados em qualquer texto hebraico – no jornal diário ou mesmo na tradução ao hebraico de um romance. Convém também mencionar que os métodos estatísticos inválidos utilizados pelos missionários cristãos apresentam outros candidatos para a figura do Messias: Buda, Maomé, Krishna, Lênin e mesmo David Koresh – o auto-declarado Salvador, responsável pelo suicídio em massa de mais de 100 homens, mulheres e crianças em Waco, no Texas.

É preciso atenção para se perceber que muitos dos “códigos” popularmente apresentados em palestras e livros são, na melhor das hipóteses, questionáveis, e na pior, sensacionalistas e enganosos. O perigo na disseminação de códigos falsos é que estes comprometem a seriedade dos códigos legítimos encontrados na Torá. Existe ainda a possibilidade muito infeliz de que uma vez que as pessoas tomem conhecimento de que tais livros contêm em sua maioria alegações falsas, passem a desacreditar de vez no fenômeno dos verdadeiros códigos da Torá.

O significado dos códigos da Torá

Cientistas e matemáticos especializados continuam a pesquisar em busca de códigos legítimos na Torá. O Dr. Doron Witztum encontrou códigos na Torá sobre a festividade de Chanucá, sobre o ex-presidente Sadat, sobre a Guerra do Golfo e sobre os diabetes. Sua metodologia, nesses experimentos, foi aceita pela publicação “Statistical Science”. No entanto, essas novas descobertas não foram publicadas porque os matemáticos que examinam os resultados encontraram problemas ao tentar calcular seu significado estatístico. Até que a legitimidade de tais códigos seja confirmada, os resultados desses experimentos não poderão ser divulgados.

Mais cedo ou mais tarde, muitos falsos códigos serão desmascarados. Mas isto não deverá fazer com que se negue a existência de códigos legítimos na Torá. Os códigos apresentados neste artigo e os resultados do experimento dos Rabinos Famosos são estatisticamente válidos. Não podem ser atribuídos razoavelmente a meras coincidências e, portanto, não podem ser encontrados em nenhum outro texto hebraico. E ademais, não são utilizados de maneira enganosa ou subjetiva com propósitos questionáveis. Apresentam fatos objetivos, nomes ou fatos e eventos históricos.

Surge uma questão final: qual o propósito dos códigos da Torá? Estes somente contêm informações sobre o passado já conhecidas por nós. Não revelam segredos nem servem para se prever o futuro. Qual, então, seu significado?

Vivemos em uma geração de grande ceticismo. Muitos dizem que só acreditariam em D’us e na Torá se pudessem testemunhar algum sinal. As descobertas dos códigos legítimos servem como evidência de um ponto muito significativo: a Torá não poderia ter tido origem humana. Pois mesmo se os antigos hebreus fossem mestres criptógrafos, não poderiam ter conhecimento sobre a existência futura e os detalhes da vida de homens que só nasceriam milhares de anos após ter sido escrita a Torá. E além do mais, os códigos da Torá mostraram depender da existência precisa da localização de cada letra do alfabeto hebraico. Um código legítimo não pode ser encontrado se as letras da Torá estiverem faltando ou colocadas em lugar errado. Mudando-se as palavras da Torá, mesmo se o conteúdo permanecer inalterado, os códigos desaparecerão. Isto confirma a origem Divina e a localização de cada uma das letras da Torá. E, portanto, o único significado verdadeiro desses códigos é que a ciência e a matemática estão a indicar que a Torá – e até mesmo a colocação de cada uma de suas letras – são as palavras de D’us.

por Rabino Avraham Steinmetz e Tev Djmal