Beirando os 90 anos de atividades, a Unibes é considerada a maior entidade de serviço social da comunidade judaica paulista, atendendo todos os anos a um público estimado em mais de seis mil pessoas.

Apesar de oficialmente fundada somente em 1976, pode-se dizer que a União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes) surgiu a partir de 1915, com a criação da Sociedade Beneficente das Damas Israelitas e da Sociedade Beneficente Amigos dos Pobres Ezra, as primeiras entidades assistenciais judaicas em São Paulo, que davam apoio aos imigrantes judeus que saíam da Europa para se estabelecer no Brasil.

Além dessas duas instituições, o que se conhece hoje como Unibes é também resultado da união de outras organizações, como a Sociedade Pró-Imigrante, a Policlínica Linath Hatzedek, o Lar da Criança das Damas Israelitas, a Gota de Leite da B’nai B’rith e a Organização Feminina Israelita de Assistência Social (Ofidas). A Unibes é, de certa forma, a continuidade de cada uma destas entidades, cada qual com sua missão específica, como conta o livro "Unibes 85 anos. Uma história do trabalho social da comunidade judaica em São Paulo" , compilado por Roney Cytrynowicz.

Atuação ampla

Com o decorrer do tempo, a Unibes se integrou cada vez mais à realidade local e ampliou suas atividades sociais para além da comunidade judaica, promovendo atendimento global a crianças e adultos. No entanto, os 60 mil judeus paulistas nunca deixaram de ser o grande foco da Unibes. "Nossa preocupação principal, hoje, é cuidar dos nossos judeus empobrecidos, os 'novos pobres'. É neles que o nosso serviço social concentra a maior parte de suas forças" , garante Dora Lucia Brenner, a atuante e batalhadora presidente da instituição.

A Unibes atua em diversos segmentos. Na Área da Infância e Adolescência, cerca de 1,1 mil crianças, entre 2 e 17 anos, recebem alimentação, recreação e complementação escolar através dos programas Creche Betty Lafer, Espaço Gente Jovem e Cursos de Profissionalização. Em outro braço de ação, o Departamento de Serviço Social assiste a aproximadamente 1,6 mil famílias carentes da comunidade através de orientação psicos-social, encaminhamentos e auxílio técnico, financeiro e de promoção social.

Os projetos da Unibes também contemplam idosos, pessoas com deficiência mental e física, alijados do mercado de trabalho, bem como serviços tais quais o Bazar Beneficente, a Farmácia Privativa, Assistência à Saúde, Assistência à Família, Convênio Médico, Casas de Repouso, Terapia Familiar, Programa Libe, Programa Shalom, Programa Or, Programa Avodá, Pensionato Abrigado e muito mais.

"Neste período difícil da vida comunitária, com o empobrecimento visível da classe média, a atuação da Unibes tem-se mostrado crucial para o resgate dos nossos correligionários, dando-lhes o apoio indispensável para sua recuperação e manutenção de uma vida judaica digna" , afirma Jayme Blay, presidente da Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp). "E o voluntariado, nesta espinhosa missão, ocupa lugar de destaque. Dedicação e eficiência compõem o binômio que permite à Unibes desempenhar sua tarefa de modo exemplar. E tudo dentro do mais nobre espírito judaico, que é o de dar a mão a quem necessita!" , completa.

Segundo o site www.filantropia.com.br, a Unibes é a terceira entidade do Brasil em "Assistência Familiar" , a 35ª do estado de São Paulo e a 63ª entre as 400 maiores do Brasil. Não é à toa que a entidade acumula vários prêmios, entre os quais, o Prêmio Bem Eficiente – Kanitz & Associados, o Prêmio Comunidade Solidária, o Projeto Oficinas de Convivência Esportiva - Unicef, o Fundação Vitae, o Prêmio Direitos Humanos do Ministério da Justiça e outros.

Bazar da Unibes

Uma das principais fontes de recursos para a instituição, o Bazar Beneficente Bernardo Goldfarb, mais conhecido como "o Bazar da Unibes", existe há 20 anos e é um dos mais tradicionais de São Paulo. Nos moldes de um flea market ("mercado de pulgas"), oferece desde roupas, utensílios para casa, móveis e eletrodomésticos usados, livros, pianos, quadros e objetos de arte de diversos países. Aceita doações de qualquer desses artigos, material de escritório, seja o que for. Os organizadores do Bazar retiram as doações no local e data marcados, facilitando bastante a vida tão atribulada de todos nós.

Armazém Solidário

Resultado de uma parceria entre a Unibes e o Projeto Felicidade do Beit Chabad Central, o Armazém Solidário proporciona uma inovadora concepção no ato de doar, comprar e ajudar a quem realmente precisa. "Nos dias de hoje, é preciso ser criativo para continuar ajudando o próximo de uma maneira digna", ressalta a presidente Dora. O Armazém Solidário é uma verdadeira loja de mercadorias e produtos novos e está estruturado em um galpão moderno de 1.000 m2. Toda a renda tem como destinatários a Unibes e o Projeto Felicidade, que a revertem em projetos sociais para beneficiar milhares de crianças brasileiras carentes.

O Projeto Felicidade é uma iniciativa pioneira que oferece, semanalmente, cinco dias de férias inesquecíveis para crianças carentes portadoras de câncer. Toda a infra-estrutura e passeios são gratuitos. Há distribuição de brinquedos, roupas e, sobretudo, muito carinho. Mais do que dar alegria às crianças, o Projeto visa o resgate de sua auto-estima e motivação para continuarem a luta contra a doença.

O público interessado pode doar ou comprar os produtos. "Nosso objetivo principal é contribuir para que as crianças se sintam valorizadas e continuem motivadas no combate à doença", sintetiza o rabino Shabsi Alpern, diretor do Beit Chabad Central. "Nos preocupamos em desenvolver várias atividades, entre as quais os cursos profissionalizantes, para que as crianças não continuem excluídas da sociedade", completa a presidente da Unibes.

Farmácia

Uma das três instituições filantrópicas que deram origem à Unibes foi a Policlínica Linath Hatzedek. Na década de 40, a Policlínica era um ambulatório que atendia a várias especialidades médicas, realizava análises de laboratório, radiografias e fornecia medicamentos. O médicos voluntários que ali atuavam traziam amostras grátis de seus consultórios para distribuir à população carente. Assim surgiu a farmácia da entidade. Cerca de 850 famílias cadastradas no Serviço Social utilizam-se da Farmácia Privativa, que também atende pessoas não-matriculadas, em determinados casos. Atende cerca de 150 pessoas por dia.

Pobreza evitável

De acordo com o economista e sociólogo judeu argentino Bernardo Kliksberg, diretor da "Iniciativa Interamericana de Capital Social, Ética e Desenvolvimento" do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o voluntariado gera em diversos países desenvolvidos mais de 5% do PIB em bens e serviços sociais. No Brasil, esse valor mal chega à metade. "A América Latina tem um enorme potencial neste campo, que poderia aliviar muito seus graves problemas sociais, neste continente onde, apesar de enormes riquezas potenciais, 60% das crianças estão abaixo da taxa de pobreza, há mais de 20% de desemprego juvenil, 18% dos partos são feitos sem assistência médica e a taxa de escolaridade é de apenas 5,2 anos", afirma Kliksberg.

Em seu livro A justiça social uma visão judaica, Kliksberg afirma que para o judaísmo, a pobreza não é inevitável
e que a religião judaica preocupa-se com a injustiça desde a sua origem. "Estamos cumprindo simplesmente o que devemos fazer. É o que prega o judaísmo, é o que prega a Torá", conclui Dora.

Marcus Moraes
Jornalista responsável pelas notícias do Morasha.com e correspondente da Jewish Telegraphic Agency (JTA) e Kosher Today para Brasil e Portugal