O serviço de emergência surgido nos estados unidos há algumas décadas foi implantado em São Paulo em 2011.formado por voluntários treinados para desempenhar a função de socorristas, a Hatzalá pretende, num futuro próximo, expandir suas atividades. 

Cinco, 10, 15, 20. Vinte minutos já se passaram desde que o primeiro telefonema foi dado para um serviço de emergência público pedindo socorro. Outro telefonema e mais cinco, 10, 15, 20 minutos e nada. Enquanto o tempo passa, a pessoa continua estendida no chão, imóvel, com batimentos cardíacos cada vez mais fracos. Quando finalmente a ambulância chega, não há mais nada a fazer. Os legistas que examinaram o corpo posteriormente foram unânimes em afirmar que, se o socorro tivesse chegado alguns minutos antes ou se houvesse, no local alguém treinado em primeiros socorros, o final da história seria diferente. Muitas vezes, a diferença entre a vida e a morte não passa de alguns segundos. Triste, difícil e real.

Motivado por situações como essa, no final da década de 1960, o rabino norte-americano Herschel Weber criou, em Williamsburg, Brooklyn (Nova York), um serviço de remoção para reduzir o tempo de resposta dos serviços médicos de emergência no seio da comunidade judaica. Denominado Hatzalá, que, em hebraico, significa “salvamento”, tinha, também, como objetivo inicial ajudar os judeus ortodoxos que se comunicavam principalmente em iídiche. O diferencial deste serviço, que se transformou em uma Organização Não-Governalmental (ONG), em relação aos demais existentes é ser totalmente formado por voluntários que não são necessariamente médicos ou da área de saúde, mas especialmente treinados para desempenhar esta função.

A ideia rapidamente se espalhou por outras regiões dos Estados Unidos e, com o passar do tempo, ultrapassou as fronteiras norte-americanas. Hatzalá é, atualmente, o maior serviço voluntário de ambulâncias do mundo. Em Nova York, a organização possui milhares de voluntários que atendem mais de 250 mil chamados, por ano, utilizando carros particulares e uma frota de mais de 70 ambulâncias. A Hatzalá, que chegou ao Brasil em 2011, está presente em Israel, Austrália, África do Sul, Cidade do México, Panamá, Bélgica, Suíça, em algumas cidades do Canadá, na Rússia, na Inglaterra e em mais de cinco estados nos EUA.

O projeto foi implantado no País, mais precisamente em São Paulo, em circunstâncias muito semelhantes àquelas que levaram o rabino norte-americano a criá-lo. Depois que duas pessoas da comunidade sentiram-se mal e falecerem por causa do atraso das ambulâncias, tanto de serviços públicos quanto privados, um grupo de membros da comunidade resolveu apoiar a criação da Hatzalá. Por se tratar de um atendimento gratuito, o projeto é mantido por generosas doações da comunidade judaica.

Obedecendo às determinações da legislação brasileira referentes ao atendimento na área de saúde, atualmente a organização atende os bairros do Bom Retiro, Santa Cecilia, Higienópolis, Perdizes, Jardins e Pacaembu.

O protocolo de atendimento é rápido e simples: após receber uma ligação no número de emergência, um atendente treinado faz a filtragem e, em menos de um minuto, transmite esse chamado aos socorristas mais próximos do endereço. Após a transmissão, o atendente volta a ligar para quem fez o chamado para obter mais detalhes sobre o ocorrido, estado físico do paciente, acontecimentos anteriores ou referências para o endereço, entre outros. Os socorristas voluntários recebem o chamado em seus celulares (munidos de um aplicativo que, através de GPS, identifica quem está mais próximo) e se deslocam em seus carros, motos ou bicicleta para o local do chamado, com a maior agilidade. Uma das ambulâncias também é direcionada ao endereço.

É necessário ressaltar que a rapidez no atendimento é primordial. No caso de um paciente em parada cardíaca, após 5 minutos ele já pode apresentar lesões cerebrais graves. Outro dado importante é que quando a pessoa sofre um AVC, deve ser imediatamente levada a um hospital. Também nesse quadro, cada minuto conta. Se for um hospital de ponta, esse intervalo pode ser, no máximo, de 4 horas; caso seja outro hospital menos equipado, no máximo de 3,5 horas. É importante também saber que o AVC nem sempre é identificado logo no início, daí a dificuldade em calcular esse tempo. De qualquer maneira, deve-se transportar o paciente imediatamente.

Por esses e outros motivos, a alma da Hatzalá é ter voluntários espalhados pelos bairros, no meio de seus afazeres diários. Mas quando a central dispara um chamado, interrompem o que estiverem fazendo para se deslocar para a cena.

Após o primeiro atendimento, caso necessário, a ambulância leva o paciente para o hospital de preferência. Os voluntários da Hatzalá, diferentemente de outros serviços de emergência, permanecem no hospital, quando necessario, principalmente nos casos mais graves. Essa atitude tem o intuito de ajudar pacientes e familiares a lidar com os vários aspectos de uma situação tão delicada.

“Não trabalhamos exclusivamente com isso, temos outras profissões, mas paramos o que estivermos fazendo para salvar uma vida”, diz um dos socorristas. Por isso, o trabalho é basicamente de primeiro atendimento e remoção e é realizado apenas por voluntários da comunidade judaica treinados em cursos intensivos de primeiros socorros oferecidos pela entidade. Esses cursos são um básico de 20 horas para quem quiser saber mais sobre primeiros socorros e, para os que vão atuar como socorristas, um outro curso de 70 horas. Todos os socorristas fazem reciclagens quinzenais para rever e praticar conceitos. (Informações sobre cursos, doações e outros, no site www.hatzala.com.br.)

A Hatzalá atende chamadas 24 horas ao dia nos 365 dias do ano. Por se tratar de situação de vida ou morte, os voluntários têm uma autorização rabínica para portarem celulares nos dias sagrados. Os celulares ficam em modo stand-by, somente para serem usados caso sejam acionados para uma emergência. Em São Paulo, a Hatzalá conta atualmente com 55 voluntários, 12 profissionais da saúde e duas ambulâncias e faz uma média de 1,5 atendimentos por dia, com um tempo de resposta médio inferior a outros serviços similares. “O diferencial é que temos voluntários espalhados pelos bairros. Assim, quando há uma emergência, o voluntário é quase sempre o primeiro a chegar.”

Cerca de mil atendimentos foram feitos desde a implantação da ONG em São Paulo, dos quais mais de um terço durante a madrugada. Para expandir para outros bairros, a Hatzalá precisa de voluntários nesses bairros, que estejam prontos para atender quando forem chamados.

A conscientização da comunidade da importância do atendimento rápido de emergência é fundamental para que a Hatzalá possa cumprir com seus objetivos de tentar salvar vidas. Fazem o possível, o que está em seu alcance, para amenizar ou evitar o sofrimento do paciente e de seus entes queridos. É importante também o discernimento de quem chama para saber se o motivo pelo qual está chamando é uma situação de emergência. “As vezes, estamos atendendo um caso simples, que não é emergência, e há outro chamado simultâneo. Isso consome voluntários e recursos importantes para uma situação de risco”.

Depoimento confirma eficiência

“Na madrugada de Yom Kipur comecei a passar mal, com uma dor aguda do lado do pulmão. Eu não sabia a quem recorrer, então minha esposa resolveu chamar a Hatzalá. Eu nem sabia que eles atendiam em Yom Kipur.

Não deu tempo de trocar de roupa e os voluntários da Hatzalá já estavam em casa, medindo meus sinais vitais. Além da rapidez impressionante para chegar e a habilidade no primeiro atendimento, chamaram minha atenção as palavras de apoio que foram muito importantes para me manter calmo, até ser medicado a tempo de não deixar nenhuma sequela. A Hatzalá é uma grande conquista de nossa comunidade.

O primeiro socorrista chegou de moto em menos cinco minutos. Antes de terminarem de medir as funções vitais, minha casa foi invadida por outros voluntários, todos de um profissionalismo incrível. Eles me carregaram com jeito, enquanto falavam palavras de conforto e apoio. Na hora, essas palavras ajudaram muito.

Cheguei num tempo recorde ao Einstein-Sumaré, onde fui diagnosticado com embolia pulmonar. Fui medicado e encaminhado, de ambulância, desta vez, ao hospital onde fiquei internado. Acredito que a rapidez e a eficiência de quem me atendeu foram fundamentais para minha recuperação sem maiores complicações”.