A descoberta, em janeiro último, de uma mikvê em meio às escavações de uma antiga sinagoga em Recife, datada do século XVII, é mais uma prova da forte presença judaica na cidade, à época. Com o objetivo de eternizar um dos capítulos mais fascinantes

As escavações estão sendo coordenadas pelo professor Marcos Albuquerque, do Departamento de Ciências Sociais e do Mestrado em Antropologia, na Universidade de Pernambuco. A descoberta dos vestígios da Sinagoga Kahal Zur Israel (A Pedra de Israel) vem sendo considerada pelos pesquisadores pernambucanos um dos tesouros arqueológicos da região. Localizada no subsolo das casas de números 197 e 203 da atual Rua do Bom Jesus - antigamente chamada Rua dos Judeus -, foi a primeira sinagoga das Américas, tendo sido construída em 1637, durante o período no qual os judeus tinham liberdade religiosa e o Recife era governado pelo holandês João Maurício de Nassau. A maioria chegou ao Brasil juntamente com a Missão Holandesa, entre 1630 e 1654.

Quando Portugal reconquistou a região, após a Batalha de Guararapes, muitos judeus fugiram com medo da Inquisição. Vinte e três deles escaparam no navio Valk, que saiu do porto de Recife em julho de 1654, e foram fundar Nova Amsterdã, atual Nova York. A odisséia judaica ganhará uma versão no cinema, sob a direção da cineasta pernam-bucana Katia Mesel.

O poço encontrado na Kahal Zur Israel tem capacidade para 648 litros de água natural. A piscina tem 1,50 metro de profundidade e devia receber água até 1,30m. Durante as escavações, os arqueólogos encontraram oito níveis diferentes na casa onde funcionou a sinagoga e a mikvê corres-ponde ao nível original da construção. Até o momento, foram retirados 1,2 mil quilos de reboco e 900 toneladas de terra. Foram encontrados fragmentos de cachimbos holandeses e de peças em faiança. Os arqueólogos encontraram também vestígios do muro que os holandeses mandaram construir em volta da cidade, logo após a ocupação.

A restauração do prédio leva a assinatura do arquiteto José Luiz da Motta Menezes. O andar térreo será ocupado pelo Centro de Documentação Judaica e a réplica da sinagoga vai ser reconstruída no segundo andar. O local das escavações está aberto à visitação públca, de segunda a sexta-feira, no horário comercial.