Jerry Seinfeld é um dos comediantes mais renomados de todos os tempos, conhecido e aplaudido por milhões de fãs por seu programa de televisão, que leva seu nome. No ar, pela primeira vez em 1989, É Um dos maiores sucessos da história da televisão, QUE levou a cultura judaica para a tela de uma forma jamais vista até então.

Poucas pessoas poderiam ter previsto o impacto que o programa teria na cultura popular americana, tornando-se a comédia mais vista nos Estados Unidos e considerada, por muitos, a melhor comédia já feita para a televisão

Além de ser mundialmente famoso como comediante de stand-up e criador do seriado que leva o seu nome, Jerry é também um talentoso escritor e produtor.

Muito discreto em relação à sua vida pessoal, pouco se sabe sobre ele. Nas entrevistas que concede, fala sobre seu trabalho, mas raramente sobre sua vida. É conhecido por ser introvertido e afirma sentir-se pouco à vontade diante de outras pessoas.

Como ele mesmo diz, prefere estar no palco do que conversar em grupos pequenos. Sente-se à vontade apenas quando socializa com colegas comediantes. “Pessoas comuns não querem falar sobre o que eu gosto. Com comediantes, é uma espécie de competição para ver quem diz algo mais engraçado”.

Jerry Seinfeld é conhecido por ser perfeccionista e meticulosamente organizado. Trabalha duro em seus projetos, é muito focado e atribui essa habilidade ao fato de ter praticado ioga e meditação transcendental quando jovem. Segundo ele, “toda boa arte depende de concentração, por ser um trabalho grande em um pequeno espaço”.

Ele é um judeu praticante, muito envolvido em diferentes causas judaicas, ajudando a arrecadar recursos para várias organizações, entre as quais o Maguen David Adom (o equivalente à Cruz Vermelha, em Israel) e o United Jewish Appeal (a Campanha Judaica Unificada).

Sua vida

Jerry Seinfeld nasceu Jerome Allen Seinfeld no Brooklyn, Nova York, em 29 de abril de 1954. Mudou-se com a família para Long Island, também no Estado de Nova York, ainda criança. Seu pai, Kalman, era de origem húngara; e sua mãe, Betty, síria. Seus avós maternos, Salha e Selim Hosni, eram judeus imigrantes de Alepo. Sua mãe trabalhava como costureira enquanto seu pai era redator de cartazes, muito mal pago, com um ótimo senso de humor. Isso despertou o interesse de seu filho pela comédia. Além de Jerry, o casal teve uma filha, Carolyn. Tanto seu pai quanto sua mãe cresceram órfãos e, segundo Jerry, casaram-se mais tarde do que era comum, à época, e não eram muito convencionais. Quando ele lhes falou que pretendia se tornar comediante, eles lhe responderam: “Ah, ok, faça o que você quiser”.

Aos oito anos, Jerry já era fascinado pelos comediantes que se apresentavam na televisão, assistindo a seus programas dia e noite. Aos 15 anos, foi para Israel, onde trabalhou como voluntário no Kibutz Sa’ar. Sobre essa experiência, diz: “Foi um programa de oito semanas, organizado pela sinagoga que frequentávamos. Lembro-me que meus pais pagaram US$ 866... Claro que no kibutz eu tinha que trabalhar, mas não o fiz”. Deram-lhe a incumbência de cortar folhas mortas das bananeiras, mas, segundo ele próprio, o trabalho era exaustivo e ele raramente o fazia.

Jerry conta que Israel lhe deu o empurrão que faltava para ser comediante. “De fato, essa ideia começou a se formar no meu íntimo quando tinha 15 anos e estava em Israel, trabalhando – ou fingindo que trabalhava – num kibutz”. Contou que seus companheiros, adolescentes nova-iorquinos como ele, viviam fazendo piadas. “Um deles disse, certa vez, que a melhor coisa a se fazer na vida era ser comediante. Aquilo me fez pensar no que eu precisaria fazer para que isso se tornasse realidade, comigo...”

Formou-se em Comunicações e Teatro pelo Queens College de Nova York e, uma vez formado, foi atrás de seu sonho.

Sua Família

Jerry conheceu Jessica Sklar em agosto de 1998 e se casaram em dezembro do ano seguinte, em uma cerimônia judaica simples, com uns 30 convidados. Os recém-casados escolheram Long Island para viver. Tiveram três filhos – uma menina chamada Sascha, e dois meninos, Julian Kal e Shepherd Kellen. Jerry e Jessica preferem manter a privacidade de sua vida familiar, porém em algumas ocasiões Jerry fala sobre seu relacionamento e o que ambos fazem para que dê certo.

Jessica se dedica à família e à instituição que fundou, Baby Buggy, que desde 2003 já arrecadou mais de dois milhões de produtos de roupas e acessórios para bebês, destinando-os a famílias carentes na região de Nova York.

A carreira

Logo após terminar os estudos, Jerry trabalhou por um breve período como garçom numa lanchonete, como vendedor de guarda-chuvas e bijuterias ao redor da Bloomingdale’s e em televendas - vendia lâmpadas por telefone. “Era difícil encontrar pessoas sentadas em casa no escuro dizendo ‘não posso continuar assim por muito tempo’ ”, diz brincando.

Ser comediante foi o único trabalho que já teve. Desenvolveu um estilo chamado de comédia de observação. Baseia-se em fazer comentários sobre os pequenos “mistérios” da vida – é a comédia do “por acaso você já notou que...?”. Jerry é uma referência mundial no stand-up, espetáculo que envolve um comediante, geralmente em pé, num palco, sem acessórios, cenários ou qualquer outro recurso.

Sobre sua vocação, Jerry diz: “Mesmo se eu ganhasse o suficiente apenas para comprar um filão de pão e não morrer de fome, ser um comediante seria a maior aventura da minha vida. Esta foi minha decisão. Disse ‘não me importo com o que me acontecer; vou fazer isso’ ... Eu não sabia na época, mas estava, como os jogadores de pôquer gostam de dizer, ‘apostando todas as minhas fichas’ ”, diz Jerry

Seu primeiro show de stand-up foi em 1975, aos 21 anos, e não se esquece de como estava apavorado. Olhou para a plateia, congelou e acabou sendo vaiado, saindo do palco. Obstinado, voltou na noite seguinte e completou sua apresentação debaixo de risos e aplausos.

Desde o início de sua carreira, seu objetivo era ter seu próprio programa de televisão. Decidiu que para atingir essa meta ele primeiro tinha que aparecer no The Tonight Show com Johnny Carson, um programa de televisão que lançou muitos artistas, principalmente comediantes. “Se você está no The Tonight Show e Johnny Carson gosta de você, você está no show business; se ele não gosta, você está fora”, diz.

Foi atrás de seu objetivo, agendando o maior número de apresentações possíveis e aprimorou sua forma de fazer comédia. Em 1976, participou no especial da HBO Rodney Dangerfield, desse famoso comediante, e isso impulsionou sua carreira. Em 1979, teve um papel pequeno na série de televisão Benson.

Em maio de 1981, aos 27 anos, finalmente fez sua estreia no The Tonight Show com Johnny Carson. Johnny o adorou, elevando-o à nata dos comediantes. Daí em diante passou a ser constantemente convidado em programas similares, incluindo o Late Night Show com David Letterman.

Em 1989, em parceria com Larry David, criou a série de televisão Seinfeld para a NBC. A comédia teve nove temporadas e, em seu episódio final, em 1998, foi o programa de maior audiência no país.

Ao término de Seinfeld, Jerry voltou a se dedicar totalmente ao stand-up, realizando turnês. Sua rotina foi documentada em filmes como Comediante (2002), Jerry antes de Seinfeld (2017) e Jerry Seinfeld: 23 horas para Matar (2020).

É, também, autor de best-sellers, famoso principalmente por seu livro Seinlanguage (1993), com observações humorísticas, que ocupou o primeiro lugar da lista de best-sellers do The New York Times. Escreveu alguns livros, incluindo o livro infantil Halloween (2022) e uma coletânea do conteúdo humorístico que criou ao longo de sua carreira, Será Que Isso Presta? (2020).

Em 2007, Jerry foi coautor e produtor da animação Bee Movie – A História de uma Abelha, dando voz ao papel principal. Posteriormente criou o reality show The Marriage Ref (2010) e a série de entrevistas Comediantes em Carros Tomando Café (2012). Nesse programa, ele passeia com comediantes convidados em um carro diferente a cada episódio, levando-os para um café e um bate-papo. Esse programa teve convidados de peso, a começar por Barack Obama, ex-presidente dos EUA; e atores de primeira, como Alec Baldwin, Steve Martin, Jim Carrey e Eddie Murphy, além dos apresentadores de talk-shows, Jon Stewart e David Letterman, entre outros. A série já foi indicada a cinco prêmios Emmy.

Jerry afirma que um dos pontos altos de sua carreira foi a conversa de duas horas que teve com o então presidente Bill Clinton, na cozinha da Casa Branca.

Costuma dizer que quer que sua carreira termine onde começou: nos pequenos clubes de comédia de Nova York.

Seinfeld, o programa de TV

Em 1988, o canal NBC pediu que Jerry criasse um programa para a televisão. Junto com o comediante Larry David, criou Seinfeld, que estreou em 5 de julho de 1989. Chamada de “o programa sobre nada”, a série não tem um enredo definido e se concentra principalmente em situações cotidianas e embaraçosas que envolvem Jerry Seinfeld e seu grupo de amigos, comicamente esquisitos: Elaine Benes (Julia Louis-Dreyfus), George Costanza (Jason Alexander) e Cosmo Kramer (Michael Richards), enquanto Jerry interpreta uma caricatura de si mesmo.

Inicialmente, a NBC não apostava em seu sucesso, querendo apenas mantê-lo ocupado, pois temiam que outra emissora o contratasse como concorrente do The Tonight Show. O episódio piloto de Seinfeld não foi bem recebido pelo público do grupo de discussão contratado. O relatório dizia que as pessoas tinham odiado a série, achando o elenco fraco e que nenhum deles estava disposto a assistir novamente o programa. No final, a NBC encomendou mais quatro episódios - o menor número de programas já pedidos para a primeira temporada de um seriado. Anos depois, Jerry ainda mantinha esse relatório - que quase enterrou a sua série - pendurado na parede de sua casa em Los Angeles.

Em sua quarta temporada, a série já era a mais popular e de maior sucesso da televisão americana. Seinfeld atingiu níveis até então sem precedentes de popularidade, entre telespectadores de todas as idades. O programa, que teve nove temporadas, ainda mantinha o maior índice de audiência dos Estados Unidos quando o último episódio foi exibido em 1998, com 76 milhões de pessoas assistindo ao final da série. Os críticos também se apaixonaram por Seinfeld e o programa recebeu, entre diversos prêmios, 68 indicações para o prêmio Emmy, das quais venceu em 10, e 15 indicações para o Globo de Ouro, sendo contemplado com três das mesmas.

Enquanto esteve no ar, Seinfeld registrou os maiores salários entre os elencos de comédias. Jerry recebeu US$ 1 milhão por cada episódio e os demais artistas, US$ 600 mil - salários geralmente pagos para atores que possuíam seus próprios programas. Seinfeld tornou-se a primeira série de televisão a ganhar mais de US$ 1 milhão por minuto em publicidade - valor, até então, recebido apenas pelo Super Bowl - o final da liga de futebol americano.

Jerry Seinfeld decidiu que a série terminaria em 1998 – após a nona temporada –, pois queria encerrar em alta. Há rumores de que os produtores ofereceram US$ 5 milhões por episódio para a realização de uma décima temporada, o que totalizaria US$ 110 milhões por apenas mais uma temporada. Ainda assim, Jerry permaneceu firme em sua decisão de que era hora de encerrar o programa.

Desde então, a sériefaturou cerca de US$ 3 bilhões pelos direitos de reprise, nos Estados Unidos e no mercado internacional. Em 2019, a Netflix pagou US$ 500 milhões pelos direitos globais de exibição do programa por cinco anos.

Seinfeld e a cultura judaica

Os artistas judeus das décadas de 1970 e 1980 haviam sido relegados a papéis secundários. A década de 1990, no entanto, assistiu a uma mudança de paradigma em relação a personagens judeus em programas de televisão. Em Seinfeld e outras séries da década de 1990, o Judaísmo se tornou parte da cultura pop americana. Alguns dos personagens principais nas comédias da televisão, como The Nanny (1993-1999), Friends (1994-2004) e Will e Grace (1998-2008), eram judeus. A popularidade desses programas veio a confirmar que o “Judaísmo” tinha finalmente se tornado parte integral do universo pop do país.

Seinfeld foi escrito e produzido pelos judeus Larry David e Jerry Seinfeld, que viviam em Nova York, na época. A cidade de Nova York é o lar de aproximadamente 1,5 milhão de judeus e mais da metade dos escritores da série são judeus, como Tom Leopold, Carol Leifer e Dave Mandel. Em 1989, Brandon Tartikoff, presidente da NBC, judeu de Nova York, inicialmente rejeitou o programa piloto de Seinfeld alegando ser “muito nova-iorquino, muito judeu” para chegar a ter sucesso. “Quem quer assistir judeus neuróticos, andando por Nova York?”, dizia.

No entanto, a série se tornou a comédia mais popular da década de 1990 e mostrou que os personagens e suas idiossincrasias neuróticas e excêntricas não eram “judaicos demais” para a América.

Mesmo que todos os quatro personagens principais pareçam caricaturas exageradas de judeus nova-iorquinos, apenas Jerry é explicitamente judeu, no programa. No entanto, vários dos personagens foram baseados em judeus da vida real. George Costanza, por exemplo, foi inspirado no cocriador da série, Larry David, e o personagem Cosmo Kramer, no ex-vizinho de Larry David, Kenny Kramer. Seinfeld levou às telinhas alguns dos traços e expressões judaicos mais famosos, bem como suas práticas culturais e religiosas. O programa está repleto de temas ligados à comunidade judaica, como uma busca desesperada por uma babka de chocolate (pão doce recheado que tem origem nas comunidades judaicas do leste da Europa), a forte ansiedade diante de um brit milá, uma namorada que mantém a cashrut, eventos para judeus solteiros e até nazistas. Os temas incluem um bar-mitzvá, confidências a um rabino, namorar e encontrar uma garota judia e um dentista que se converte ao Judaísmo apenas para poder contar piadas judaicas, entre tantos outros assuntos.

Nem todos os episódios versam sobre esses temas, mas o programa é permeado por indícios sutis da herança de Jerry Seinfeld e Larry David. Há muitas piadas que denotam o temperamento judaico, principalmente em cada episódio em que os pais fictícios de Jerry (Morty e Helen Seinfeld) aparecem.

Seinfeld introduziu, no dia-a-dia do público americano, a cultura do povo judeu, tornando-se uma série tão popular que praticamente todo mundo a assistia. Muitos de seus bordões e elementos do enredo tornaram-se parte da cultura popular, incluindo expressões dos judeus da Europa Oriental, em iídiche. Em muitos círculos, supunha-se que qualquer pessoa, independentemente de idade, religião ou cidade natal, entenderia as referências do programa.

Seinfeld e Israel

Jerry foi várias vezes a Israel e diz sentir-se muito próximo do país. Em 2017, em entrevista ao jornal israelense The Times of Israel, falou sobre fazer stand-up em Israel. “Não há nada como esse grupo em particular de judeus… quando eles se juntam são muito diferentes da maioria dos demais grupos que frequento. Obviamente, tenho uma conexão mais forte com eles. E tenho esta conexão com Israel. É muito íntimo. É poderoso. Amo isso. Amo que eles pensem que eu sou o filho deles”. Sobre os israelenses, disse: “Judeus em Israel não são como judeus em Nova York, eles não são tão reclamões”.

Jerry conversou com o apresentador do Daily Show, Trevor Noah, sobre sua apresentação em Israel. “O público foi incrível”, disse. “Os israelenses são tudo ou nada... o que você pergunta a eles tem como resposta ‘não é problema, não é problema’... ou então eles dizem ‘é impossível, é impossível’. Não há meio-termo”.

Suas excentricidades

Jerry é conhecido por suas excentricidades. Possui uma coleção de mais de 500 pares de tênis, todos eles brancos. Possui mais de 50 carros, entre eles uma das maiores coleções de Porsche do mundo. Até alugou um hangar no aeroporto de Santa Mônica para guardar alguns veículos. Conta que quando jovem tinha dois interesses: Bill Cosby e carros.

Ele adora cereal e é fã do Super-Homem, como demonstra em alguns episódios de Seinfeld. O apartamento de Jerry em Manhattan é um duplex, a uma quadra do endereço “129 W. 81st”, onde vivia seu personagem em Seinfeld.

Fez campanhas publicitárias para o American Express e foi o primeiro a receber seu cartão Black, além de participar de comerciais da Apple e da Microsoft.

Humor Judaico

Em um episódio recente do programa Norm Macdonald Live, Jerry contou o que chama de “a maior piada judaica”, mas deixou seus anfitriões e o público confusos. Disse que somente os judeus entenderiam a seguinte piada:

“Dois empresários gentios se encontram na rua. Um deles pergunta ‘Como vão os negócios?’

O outro responde ‘Ótimo’. E esta é a piada”, diz Jerry.

Para quem continuou sem entender, ele explicou que a piada residia no fato de que um empresário judeu jamais diria “ótimo”; em vez disso, ele certamente teria várias queixas a fazer...

Segundo Jerry, “todo o humor americano é essencialmente judaico. Por exemplo, a palavra para a qual os esquimós têm mais sinônimos é ‘neve’. Em iídiche, há mais palavras para o termo ‘idiota’ do que para qualquer outra palavra. Então aí está a sua veia cômica”.

Para ele, o humor é uma das características do Povo Judeu e “a maior tradição judaica é rir. O ponto central da sobrevivência judaica sempre foi encontrar o lado humorístico da vida e de nós mesmos”.

De acordo com uma pesquisa realizada recentemente nos Estados Unidos, de uma lista dos 35 programas de televisão mais famosos, os dois mais assistidos e amados são Friends (43%) e Seinfeld (40%). Seinfeld é uma obra genial e, sem dúvida, um dos seriados mais engraçados de todos os tempos. Esse brilhante programa de televisão criado por dois judeus de Nova York, Jerry Seinfeld e Larry David, marcou a televisão de forma indelével e, ao mesmo tempo, constitui um dos maiores veículos de divulgação e celebração da cultura e do humor judaicos.