Desde o dia 7 de outubro, vários artistas israelenses expressam, por meio de suas obras, as emoções que sentiram diante dos horrores perpetrados pelo Hamas: incredulidade, medo, dor, choque e revolta entre outras. Tanto profissionais de renome quanto amadores utilizam o talento como ferramenta para não só, em primeiro lugar, documentar as atrocidades a fim […]

Desde o dia 7 de outubro, vários artistas israelenses expressam, por meio de suas obras, as emoções que sentiram diante dos horrores perpetrados pelo Hamas: incredulidade, medo, dor, choque e revolta entre outras. Tanto profissionais de renome quanto amadores utilizam o talento como ferramenta para não só, em primeiro lugar, documentar as atrocidades a fim de que o mundo constate o ocorrido e nele acredite, mas também lidar com seus traumas como indivíduos ou como sociedade.

Algumas dessas manifestações artísticas foram exibidas na exposição “Unindo vozes contra a violência de gênero”, no Conjunto Nacional, em São Paulo, de 30 de janeiro a 21 de fevereiro de 2024. Realizada pela primeira vez em Israel, a mostra contou com a curadoria do Women Diplomats Network, do Ministério das Relações Exteriores desse país. Foi trazida a São Paulo por iniciativa do Grupo de Empoderamento e Liderança Feminina da Federação Israelita do Estado de São Paulo (ELF-Fisesp), com apoio cultural do Consulado Geral de Israel em São Paulo e do Grupo Sky. Foram expostos trabalhos de 14 artistas que, em 22 ilustrações e uma animação, revelam, de forma contundente, o uso da violência contra a mulher como arma de guerra.

A exposição inclui quadros de Geffen Rafaeli, Hagit Frenkel, Keren Shpilsher, Marian Boo, Merav Shinn, Ben Alon, Noa Kelner, Omer Zimmerman, Or Yogev, Oren Fischer, Orit Magia Schwalb, Reut Asimani, Sigal Rak Viente, Tamar Kharitonov e Zoya Cherkassky, todos artistas israelenses que fizeram de sua obra uma ferramenta para contar essa história de terror e violência.

Alguns criadores buscaram inspiração em obras de artistas famosos. Por exemplo, em “Au-dessus de la ville rouge”, Keren Shpilsher faz uma releitura de “Au-dessus de la ville”, de Marc Chagall, com a inclusão de elementos como manchas vermelhas, em referência ao sangue das vítimas do terror, e uma fita de isolamento de cena de crimes na qual se lê “Proibido passar” em hebraico. Em “A última dança”, Marian Boo transforma a famosa “La Danse”, de Henri Matisse, em algo chocante. As mulheres retratadas no quadro não estão extasiadas com a alegria de espírito livre enquanto giram de mãos dadas, mas encharcadas de sangue enquanto dançam em uma poça. Há também uma menina, vista pela artista em um vídeo do Hamas, que usa uma calça colorida “muito manchada de sangue”, uma jovem que estava no Festival Supernova e cujo corpo só foi identificado duas semanas após o ataque, além de uma grávida que teve o bebê arrancado do ventre. “Essas imagens me assombram desde o 7 de outubro”, disse Boo.

A única animação da mostra é da cineasta Shaylee Atary. Seu marido, o também realizador de cinema Yahav Winner, foi uma das vítimas do ataque terrorista do Hamas. O casal morava com a filha recém-nascida, Shaya, no Kibutz Kfar Aza quando o local foi invadido. Começava o pesadelo. Winner morreu ao tentar proteger a família. Depois de 26 horas escondida, Atary conseguiu fugir com a criança. Ela soube da morte do marido por um noticiário de televisão.

“Guernica”, de Pablo Picasso, serviu de inspiração para a ucraniana-israelense Zoya Cherkassky. Seu trabalho retrata uma família escondida, em silêncio, sob uma lâmpada. Afirma a autora que, quando soube do massacre de 7 de outubro, a primeira imagem que lhe veio à mente foi a obra do gênio espanhol, uma denúncia dos horrores do bombardeio da cidade basca pelos nazistas durante a Guerra Civil Espanhola. “Nunca imaginei que usaria a arte como terapia porque sou uma artista profissional. Foi uma surpresa para mim mesma que essa tenha sido a minha reação imediata aos trágicos acontecimentos, mas, de alguma maneira, desenhar é a forma de me manter sã nessas situações. E como eu só pensava nisso, foi isso que desenhei.”.