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No sexto dia da Criação, no primeiro dia do mês de Tishrei, o homem foi criado e, neste mesmo dia, julgado. A essência do seu julgamento foi uma única e solitária pergunta "Aiêca?" Onde você esteve ? A cada ano, em Rosh Hashaná; D’us recria a Sua obra. Portanto, a cada ano, devemos reconquistar o direito de existir. Esta abordagem diferencia-se, até certo ponto, do conceito negativo vigente entre muitos, segundo o qual Rosh Hashaná, também chamado de Dia do Julgamento, é o momento em que D’us diz aos homens que, se não tomarem as atitudes corretas, serão punidos.

O que significa, no entanto, "tomar as atitudes corretas" ? Para entender esta idéia, é preciso tentar compreender, inicialmente, por que D’us criou o mundo antes do homem? Segundo o Ramchal, "O Caminho de D’us", a resposta é simples e clara: "D’us criou o mundo para dá-lo aos seres humanos. Ele deseja dar-nos tudo o que há de bom no mundo. Mas para isso, quer que sejamos independentes e independência implica escolha. Por isso, D’us criou o homem, concedendo-lhe o livre-arbítrio. E o exercício deste livre-arbítrio é algo que só pode ser feito por nós".

Dentro desta perspectiva, Rosh Hashaná pode ser considerado também o aniversário do livre-arbítrio, do momento em que D’us deu vida ao homem e o direito de decidir o seu caminho. É também sobre este princípio de escolha a afirmação talmúdica que diz: "Quão precioso é o homem por ter sido criado à imagem de D’us". Isto significa que, diferentemente das outras criaturas vivas, o ser humano recebeu o livre-arbítrio, um presente divino único, que dá ao homem a capacidade de mudar o mundo. Se usado de maneira correta, pode construir um mundo bonito e aperfeiçoá-lo cada vez mais. Se dele fizer uso incorreto, poderá destruí-lo.

Ou seja, cabe aos indivíduos apenas aprender a usar esse poder. Diz o Talmud (Pirquei Avot 3:18): "Um dos maiores sinais do quanto somos importantes para D’us é que Ele nos disse que fomos criados a Sua imagem". Ou seja, presente maior do que o livre-arbítrio propriamente dito é o fato de D’us ter-nos dito que o possuímos.

É preciso, no entanto, entender a essência do que significa o livre-arbítrio. O direito de escolha não se aplica, por exemplo, às situações do cotidiano, como a decisão entre um sorvete de chocolate ou de baunilha. Isto é apenas uma questão de preferência, a qual os animais também possuem. O livre-arbítrio, por sua vez, envolve decisões que só podem ser tomadas pelo homem e que se refletem na maneira como conduz a sua vida, tendo como base a imagem Divina.

Várias etapas

O livre arbítrio inclui o princípio de que o homem tem consciência de que pode fazer opções, não deixando simplesmente que aconteçam; ou seja, o homem assume o controle das próprias decisões, sabendo que moldarão a sua vida. Por isso, é preciso sempre conhecer as razões para a tomada de decisão, os seus objetivos e, principalmente, ser responsável por suas decisões.

Para tomar as decisões adequadas às suas características individuais, é preciso que a pessoa se conheça. Não deve assumir como verdadeiros idéias e pensamentos predeterminados pela sociedade, a não ser que concorde integralmente com os mesmos. D’us espera que cada um seja responsável por suas decisões e que as tome sempre por si mesmo e não em função da sociedade.

O livre-arbítrio pressupõe, também, a capacidade do indivíduo de reavaliar decisões, não se prendendo a atitudes tomadas no passado – caso não sejam mais válidas – simplesmente porque o foram algum dia. O direito de recomeçar é parte intrínseca do direito de opção, desde que seja resultado de reflexões profundas e coerentes. Por exemplo, se alguém, um dia, duvidou da existência de D’us, não significa que não possa rever sua posição diante de evidências mais fortes e claras do que as já encontradas no passado.

Livre-arbítrio implica também estar-se consciente das diferenças entre os desejos do corpo e as aspirações da alma. Algumas vezes, o indivíduo sabe, objetivamente, o que é bom para si, mas seus desejos físicos distorcem sua visão. O Talmud afirma que se trava, dentro de cada um, uma batalha feroz entre o que a alma quer e o que o corpo deseja. Mas o que significa esta batalha?

Imagine a seguinte situação do cotidiano. Um indivíduo resolve começar a praticar esportes e conversa consigo mesmo, enquanto corre: "Isto vai me matar". "Pare de reclamar e vá em frente". "Como posso fazer isso? Meu coração vai parar". "Relaxe, nada vai acontecer". O que este diálogo traduz? Apenas uma batalha interna entre desejos opostos. A alma quer correr, porque é bom para a saúde. O corpo, por sua vez, prefere dormir. A alma quer perder algum peso, e o corpo diz que não consegue. A alma diz, "vamos ver", e o corpo retruca: "Relaxe, não seria grande a perda se morrêssemos um pouco antes".

Esse exemplo reflete a essência da batalha que cada um trava dentro de si. A alma quer viver integralmente, ser produtiva, fazer o que está correto, através de cada fibra do ser humano. O corpo deseja apenas descansar e encontrar o conforto do comodismo, sem fazer nenhum esforço. É preciso, portanto, definir de maneira clara e inequívoca qual dos dois prevalece no íntimo do indivíduo: as aspirações da alma ou os desejos do corpo. Se optar por ouvir a sua alma, o indivíduo estará, com certeza, escolhendo a vida de maneira integral.

O judaísmo costuma dizer que a alma é o verdadeiro ser humano. Se for capaz de se identificar com os desejos da alma, então estará satisfazendo as suas reais necessidades. Sua meta será, então, treinar o corpo e fazer com que traduza a realidade da alma. O controle sobre o próprio corpo se dá através da identificação com a alma e tem como resultado final a conquista da paz interior e, conseqüentemente, uma aproximação maior com D’us.