Em 24 e 25 de agosto do ano de 79 E.C., o vulcão Vesúvio entrou em erupção, arrasando Pompeia, onde a elite romana mantinha luxuosas mansões. A erupção ocorreu, praticamente no mesmo dia, nove anos após os legionários romanos terem incendiado o Templo Sagrado de Jerusalém. Uma trágica coincidência ou a tempestade de fogo que se abateu sobre os romanos foi um dos castigos por terem destruído o Templo?

De acordo com relatos da época, naqueles dois dias de agosto do ano de 79 o Vesúvio entrou em erupção, após quase 900 anos de inatividade, lançando na atmosfera toneladas de lava, rochas vulcânicas e gás sulfúrico, altamente tóxico, a uma proporção de 1,5 milhão de toneladas por segundo. A tempestade de fogo atingiu as imediações de Pompeia, Herculano e Estábia, sendo que as duas primeiras foram completamente destruídas. Estima-se que 16 mil pessoas morreram, 2 mil das quais dentro de Pompeia. A energia térmica liberada durante a erupção, considerada uma das mais catastróficas de todos os tempos, foi milhares de vezes maior do que a decorrente da bomba atômica jogada sobre Hiroshima.

Um judeu desconhecido foi o autor do mais antigo depoimento que chegou até nós sobre a tempestade de fogo provocada pelo Vesúvio. Escrito apenas um ano depois de sua ocorrência, no mais tardar em agosto de 80, o depoimento está no IV livro dos Libri Sibillini. Para o autor, assim como para muitos outros judeus, não havia dúvida de que a catástrofe tinha sido um dos merecidos castigos que se abateram sobre os romanos por terem destruído o Templo de Jerusalém “e a maldade feita aos piedosos homens que viviam nos arredores do Templo Sagrado de Shlomo, HaMelech”.

É verdade que D’us revela Seus desígnios apenas para profetas, e não temos como saber com certeza que a destruição de Pompeia ocorreu devido à destruição do Templo. Não obstante, a coincidência é tremenda e o judaísmo não acredita em coincidências. E, pensemos no seguinte – coincidência ou não, a cidade de Pompeia foi nomeada em homenagem a um general que profanou o Templo de Jerusalém. Lá foi também a capital das diversões e prazeres, independentemente do seu grau de moralidade, da elite romana. Quando foi soterrada em cinzas, muitos pensaram que os romanos já o esperavam, e viram a erupção como um castigo Divino.

Pompeia e Herculano

No dia da erupção, Pompeia (em latim, Pompeii), uma cidade na região da Campânia, vivia seu auge em meio à sociedade romana. A cidade, produtora de vinho e azeite, situava-se a 22 km a sudoeste da baía de Nápoles, próxima ao vulcão Vesúvio, de 1.300 metros de altura.  A cidade foi fundada pelo povo osco, de origem pelágica da Campânia, talvez ainda antes da fundação de Roma, ficando nos séculos seguintes sob domínio grego, etrusco e samnita antes de ser conquistada pelo general romano Lúcio Cornelio Sulla, em 89 a.E.C.

 Situava-se às margens do mar e isto, aliado ao fato de estar próxima à foz do Rio Sarno, favorecia o comércio. Ao se tornar uma colônia romana, sob o nome de Colonia Cornelia Veneria Pompeianorum, transformou-se numa via importante para o transporte de bens e produtos que chegavam do mar e precisavam ser levados a Roma ou ao sul da Itália.

A comercialização de água, vinho e da agricultura também se tornou fator importante para a cidade. Naquele agosto do ano 79 havia em Pompeia cerca de 20 mil pessoas. Além da elite romana que lá possuía luxuosas mansões, viviam na cidade mercadores, artesãos e agricultores, que exploravam o rico solo da região. Achados arqueológicos revelam que também havia judeus vivendo em Pompeia.

A segunda cidade totalmente destruída pela erupção, Herculano, situada a 8 km a sudoeste da baía de Nápoles, havia sido construída entre dois rios que desciam do Vesúvio. A cidade era o principal destino de veraneio dos ricos patrícios romanos. Também nessa cidade acredita-se que viviam judeus.

Judeus em Pompeia

São raras e discrepantes as informações sobre quando os judeus se estabeleceram em solo italiano e os vestígios dos que viviam no Sul da Itália ainda estão envoltos na escuridão, especialmente no período antes da queda de Jerusalém no ano de 70 E.C.. Ainda mais escassas são as informações sobre os que habitavam em Pompeia. Mas sabemos que mesmo antes da destruição do Templo de Jerusalém, por Tito, numerosos judeus já viviam em Roma, perto de Nápoles e em várias outras localidades da parte sul da Península.

A emigração judaica em direção ao Ocidente teve início com a conquista do Oriente Médio por Alexandre, o Grande. Mas, num primeiro momento, poucos foram os judeus que se estabeleceram na Itália; na época, Roma era ainda uma república oligárquica. Durante o último século da República, o número de judeus que vivia na Itália aumentou consideravelmente, especialmente após o general Pompeu conquistar a Judeia em 61 a.E.C., e trazer em seu triunfal retorno a Roma centenas de prisioneiros.

Com a conquista, por Roma, do mundo Mediterrâneo e o estabelecimento do Império Romano, em 27 a.E.C., a cidade se tornara centro de todos os fluxos migratórios. A Roma imperial passou a oferecer aos estrangeiros múltiplas vantagens e garantias de liberdade religiosa. Assim, numerosos judeus se estabeleceram na Campânia, em outros locais do Sul da Itália e foram chegando até Roma.

Os judeus não demoraram em se organizar e, por mais distantes que estivessem de Eretz Israel, eles nunca esqueceram sua amada terra e a necessidade de ajudar os irmãos em desgraça. Quando, após a conquista de Jerusalém, em 70, as legiões romanas vitoriosas trouxeram de volta os prisioneiros, seus correligionários procuravam resgatá-los. Muitos acabaram sendo libertados por seus donos, pois os judeus escravos acabavam sendo de pouca utilidade por causa de sua intransigência feroz em observar o Shabat e as leis dietéticas. Assim, os prisioneiros libertados e seus descendentes assumiram a condição de libertos1.

Com o aumento das relações com os países d’além-mar, os comerciantes estrangeiros aumentavam sua permanência em Pompeia.  No rastro das famílias ricas e aristocratas romanas, aumentava também o número de escravos de diversas origens. Libertos de seus donos, conseguiam, de modo  geral, ter sucesso graças à sua inteligência e habilidades, fundindo-se na vida social, política e econômica da cidade, além de se tornarem parte integral e funcional de seu dia-a-dia.

Há evidências epigráficas suficientes, principalmente grafites, para mostrar que os judeus viveram em Pompeia e, também, em cidades vizinhas como Herculano e Estábia. Inscrições e grafites e alguns traços encontrados aqui e ali permitem que, ao se escrever e reconstruir a história de Pompeia, dedique-se uma página aos seus habitantes de origem judaica. Historiadores e arqueólogos acreditam que a maioria dos judeus chegou a Pompeia depois da vitória de Roma e a queda de Jerusalém, no ano de 70 E.C.. Tal hipótese é corroborada pelo fato de a maioria das descobertas arqueológicas revelar seu status como libertos, escravos ou servos. Não temos, até hoje, no entanto, informações precisas sobre o número dos que lá viviam ou sobre o desenvolvimento de uma comunidade.

Em Pompeia, além de um papel ativo na vida comercial, os judeus participavam na vida municipal da cidade. Arqueólogos têm encontrado vários nomes judeus em grafites, jarros de vinho e cartazes eleitorais: Ionas, Abner, Maria (Miriam). Youdaikou, por exemplo, cujo nome foi encontrado em jarros de vinho com inscrições em grego, foi um judeu mercador de vinho. Ele teria uma situação econômica confortável, que lhe permitia possuir escravos. Outra descoberta epigráfica foi a figura de Fabius Eupor, rico comerciante de vinho, político e financista, cuja casa estava localizada na Via Consalare. Eupor era uma espécie de “archisinagogus”, um “príncipe da sinagoga” da comunidade de Pompeia. Em sua capacidade de líder comunitário, seu nome aparecia em cartazes eleitorais, conclamando seus correligionários a votarem em determinado candidato.

Uma das casas escavadas na cidade foi chamada de “Casa degli ebrei”  (N. 6, Reg. VIII, Ins. 6 Casa dos Judeus) e tinha pinturas de parede.

Uma das primeiras pinturas que descreve uma cena bíblica – o julgamento do Rei Salomão – veio de Pompeia. No afresco, os personagens são pigmeus, umas caricaturas, daí os arqueólogos terem concluído que seu proprietário não era judeu e nutria sentimentos negativos em relação a nosso povo.

Em outra inscrição, encontrada na Região 9, Insula2 11, Casa 14, lê-se, em letras latinas, a palavra “Cherem”. Se, em hebraico, a palavra fosse escrita com a letra hebraica “het”, significava excomunhão ou destruição. A palavra pode ser interpretada como referência à destruição de Pompeia, como uma condenação Divina da cidade pela destruição pela mão dos romanos de Seu Templo Sagrado, em Jerusalém.

Em uma casa, na região de Pompeia hoje designada como Região 9, Ínsula 1, Casa 26, uma testemunha que viu a ruína e a destruição da cidade, rabiscou na parede em caracteres latinos grandes as palavras “Sodoma e Gomorra”. Aos olhos dessa testemunha ocular, o castigo Divino sobre essas duas cidades bíblicas ecoou através da chuva  de fogo que se abateu sobre Pompeia. Essa inscrição, quase imperceptível, encontrada em uma escavação do século 19 no local, e que hoje está no Museu Arqueológico de Nápoles, é considerada mais uma prova do fato de que havia judeus vivendo em Pompeia à época da tragédia.

Reconstruindo  a tragédia

Graças a relatos romanos e achados arqueológicos, os historiadores reconstruíram os dois últimos dias de Pompeia e Herculano. Devemos muito do que se sabe ao relato feito por Plínio, o Jovem, testemunha ocular do evento, em duas cartas endereçadas ao historiador romano Tácito, escritas nos anos de 106 e 107. No dia da erupção, Plínio, o Jovem, estava em Miseno, do outro lado do Golfo de Nápoles, a 30 Km de Pompeia, hospedado na casa de seu tio, Plínio, o Velho, autor da renomada obra Historia Naturalis, que estava na cidade como comandante da esquadra romana.

Apesar de terem ocorrido tremores alguns dias antes, o dia 24 de agosto começara como qualquer outro para os habitantes das cidades de Pompeia e Herculano. A baía estava calma e não havia nenhuma nuvem no céu. Por volta de meio-dia, a terra estremeceu e houve uma explosão violenta, seguida de um ruído contínuo e trovejante.

Às 13h a erupção começou. No interior da cratera, após a expulsão da tampa de lava, a pressão começou a cair vertiginosamente. O magma vulcânico, adormecido há séculos, começou lentamente a espumar. O topo do Vesúvio partira-se em dois, propelindo na estratosfera uma nuvem monstruosa. Segundo Plínio, o Jovem, “como um pinheiro, pois subiu a uma altura monumental, como um tronco, e depois se abriu em ramificações”...

A rocha derretida, lançada a 27 km na estratosfera, transformara-se em uma nuvem de cinzas brancas e rochas vulcânicas, que chegou a atingir, três horas mais tarde,  32 km de altitude. A nuvem se moveu em direção de Pompeia e Estábia.  Nessa fase, um forte vento à oeste ainda protegia Herculano. Uma chuva de cinzas e projéteis começou a desabar, cobrindo a região:  rochas vulcânicas ou pedras-pomes, lapíli, pedaços de rochas – fragmentos arrancados do topo da montanha e da tampa de lava resfriada que obstruía a cratera. A chuva era tão densa que obscureceu o sol e fez-se noite em pleno dia, uma noite marcada por raios. A chuva vinha carregada de vapores clorídricos, tóxicos. Um espetáculo alucinante.

O terror tomou conta da população  e milhares fugiram em direção à praia. Alguns poucos milhares conseguiram se salvar. Relata Plínio, o Jovem, em suas cartas: “Dificilmente podíamos ver as coisas; parecia noite, como num lugar fechado e sem luz. Em Pompeia, a chuva de pedras já durava pelo menos 12 horas e, praticamente,  toda a cidade estava soterrada embaixo de 20 metros de rochas incandescentes e cinzas... (...)  As pessoas cobriam a cabeça com travesseiros, a única defesa contra a chuva de pedras, e, de repente, como uma nuvem negra carregada de material incandescente, cobriu tudo. Alguns lamentavam seu destino e outros rezavam. Podiam-se ouvir os soluços das mulheres, o lamento das crianças e os gritos dos homens. Muitos clamavam pela ajuda dos deuses, mas muitos outros imaginavam que não havia mais deuses e que o universo estava imerso numa eterna escuridão”.

Entre os que acorreram de outros locais para prestar ajuda estavam Plínio, o Velho. Como Almirante- da-armada, ele havia ordenado que os navios da Marinha Imperial atracados em Miseno atravessassem o golfo para auxiliar nas tentativas de evacuação.  O Almirante morreu enquanto tentava resgatar vítimas isoladas.

O sobrinho relata: “Meu tio correu para o lugar do qual todo mundo, desesperadamente, tentava fugir, dirigindo-se diretamente para a zona de perigo. Cinzas já estavam caindo, mais quentes e mais grossas à medida que as embarcações se aproximavam, seguidas por pedaços de rochas vulcânicas e pedras enegrecidas, torradas e rachadas pelas chamas. Por um momento, ele se deteve, como que calculando se batia em retirada, mas quando o timoneiro o aconselhou a fazê-lo, ele recusou, ordenando que avançassem para a casa de Pomponianus, em Estábia”.

Cerca de 2 mil pessoas optaram por permanecer em Pompeia, refugiando-se em porões ou debaixo de estruturas de pedra. Todos acabaram morrendo na manhã do dia seguinte, quando uma nuvem de gás tóxico cobriu a cidade, sufocando a todos.

Em Pompeia, os escombros vulcânicos atingiram uma profundidade de mais de 2 metros e uma nuvem letal, acompanhada de um mar de lava, engolfa a cidade. Quem ainda tinha sobrevivido e permanecido no local, acabou sufocado pelos gases venenosos e soterrado. Por volta das 6h, mais uma nuvem piroclástica atinge Pompeia, sendo seguida por mais uma. Essas nuvens moviam-se rapidamente, eram densas e de temperatura intensa, destruindo todas as estruturas em seu caminho, incinerando ou sufocando e alterando a paisagem, incluindo a faixa costeira. A exposição ao calor de, no mínimo, 250°C, a uma distância de 10 km da erupção, foi suficiente para causar morte instantânea, mesmo daqueles abrigados em construções, durante a erupção o calor passou dos 700º C.

A nuvem letal de gases tóxicos prosseguiu em direção a Estábia.  Os moradores perceberam e tentaram fugir, atravessando, sem sucesso,  a baía de Nápoles. Ocorriam paralelamente tremores leves de  terra, enquanto um maremoto atingia o Golfo de Nápoles. Às 8h, uma última nuvem piroclástica, a mais poderosa de todas, cai sobre Herculano e Pompeia e seus arredores, queimando ou asfixiando todos. Entre 10 e 12h, a erupção começa a se enfraquecer, embora as cinzas continuassem a cair ao longo do dia. De acordo com Plínio, a erupção durou 18 horas, milhares de pessoas ficaram soterradas a 20 metros de profundidade de massa vulcânica.

A escala da tragédia era apavorante. A população e as construções de Pompeia foram cobertas por doze diferentes camadas de piroclastos, que totalizaram 25 metros de profundidade. A vida estava totalmente interrompida naquele que fora um dos mais ativos e esplêndidos centros romanos.

A descoberta

Depois que as grossas camadas de cinzas cobriram Pompeia e Herculano, estas cidades foram abandonadas e seus nomes e localizações eventualmente esquecidos. Pompeia se manteve oculta por 1.600 anos, até ser eventualmente reencontrada em 1649. Cinzas e lama protegeram as construções e objetos dos efeitos do tempo, moldando também os corpos das vítimas, o que fez com que fossem encontradas do modo exato como foram atingidas pela erupção. Desde então, as escavações proporcionaram um sítio arqueológico extraordinário, que possibilita uma visão detalhada na vida de uma cidade dos tempos da Roma Antiga.

A primeira vez em que parte delas foi redescoberta foi em 1599, quando a escavação de um canal subterrâneo para desviar o curso do rio Sarno esbarrou acidentalmente em muros antigos recobertos por pinturas e inscrições. O arquiteto Domenico Fontana foi então convocado, e ele escavou alguns outros afrescos antes de mandar que tudo fosse coberto novamente. Tal procedimento foi visto posteriormente tanto como um ato de preservação do sítio para gerações posteriores quanto um ato de censura, considerando-se o conteúdo sexual das pinturas e o clima moralista e classicista da Contrarreforma, à época.

Herculano foi apropriadamente redescoberta em 1738 por operários que escavavam as fundações do palácio de verão do Rei Carlos III,  de Nápoles. Pompeia foi redescoberta como resultado de escavações intencionais realizadas em 1748  pelo engenheiro militar espanhol, Rocque Joaquin de Alcubierre.

As duas cidades passaram então a ser escavadas, revelando muitas construções e pinturas intactas. Pompeia nos fornece excelentes informações sobre a civilização romana, em geral e, mais especificamente, sobre a arte, os costumes, o comércio e o dia-a-dia de seus cidadãos.

Pompeia tem sido um sítio turístico por mais de 250 anos. Atualmente faz parte do Patrimônio Mundial  da UNESCO e é uma das atrações mais populares da Itália, recebendo cerca de 2,5 milhões de visitantes por ano.

1  Antigo escravo a quem, de algum modo, foi concedida a liberdade, por emancipação ou por alforria.
2 Ínsula era um tipo de edifício de apartamentos na Roma antiga que fornecia moradia para todos, menos os membros da elite.

BIBLIOGRAFIA
Giordano, Carlo e Kahn, Isidoro, The Jews in Pompeii, Herculaneum, Stabiae and in the cities of Campania Felix, Procaccini Editore,1979

Destruction and Rediscovery http://www.pompeionline.net/pompeii/

https://sites.google.com/site/ad79eruption/