Desde os tempos bíblicos, sempre houve judeus em Damasco, cidade descrita no Talmud como ‘Portão do Éden’ por seus belos pomares e vinhedos.

Núcleo urbano mais antigo do planeta, assentado em uma planície sobre o Guta, oásis entre os rios Barada e Aawah, Damasco é a primeira parada para quem vem do deserto. Até o século 20, quando o acesso à cidade se fazia pelas montanhas, lá do alto, a primeira visão era a rica vegetação. Os viajantes entendiam, de imediato, seu apelido, "Esmeralda do deserto".

As primeiras referências bíblicas à cidade, chamada na Torá de Dammesek, são da época do patriarca Abraham. Em sua obra Antigüidades Judaicas, Flávio Josefo, historiador judeu do século 1 E.C., relata que a cidade foi fundada por Uz, filho de Aram, que era neto de Terach, pai de Abraham.

Na antiguidade

No 3º milênio a.E.C., Damasco já era respeitável centro urbano e, no 2º milênio, torna-se capital de um pequeno reino arameu. Data da época o primeiro sistema de distribuição de águas do rio Barada. E, segundo o Livro de Samuel, o exército do rei David conquista Damasco por volta do 1º milênio a.E.C.

Nos séculos seguintes, a cidade é dominada por diversos povos: assírios, em 732, a.E.C.; babilônios, em 572 a.E.C.; e, em 538 a.E.C., por Ciro, imperador persa. Em 333 a.E.C. é a vez de Alexandre, o Grande, conquistá-la. Após sua morte, a cidade passou a fazer parte do Império Selêucida.

Durante toda a Antigüidade, sempre houve judeus em Damasco, mas seu número aumentou depois que Nabucodonosor II conquistou Judá, em 586 a.E.C.. Apesar da maioria de seus habitantes serem exilados para a Babilônia, alguns se espalharam pelo Oriente Médio, inclusive em Damasco. Setenta anos depois, quando Ciro autorizou a volta dos judeus para Eretz Israel, houve quem optasse por permanecer onde vivia. Durante todo o período do Segundo Templo, a comunidade de Damasco foi um dos elos na cadeia de assentamentos judaicos que se estendiam desde a Terra de Israel até a Babilônia.

No ano 65 desta era, Roma captura a cidade, que se torna importante na rota comercial entre Ocidente e Oriente. Quando cinco anos depois, Tito, general romano, vence a 1ª. Grande Revolta na Judéia, milhares de judeus são obrigados a deixar sua terra, iniciando-se a Grande Diáspora. Em 132, mais uma catástrofe se abate sobre Israel. Os romanos esmagam uma nova rebelião, liderada por Bar Kochba, banindo os judeus de Jerusalém e de toda a Judéia. Muitos procuraram refúgio em Damasco, cuja proximidade com Tiberíades e Tzfat a tornava praticamente um subúrbio religioso de Eretz Israel. No final do século 1o, amparados pelas leis romanas que lhes garantiam liberdade de credo e autonomia nos assuntos internos, 10 mil judeus viviam na cidade.

Essa tranqüilidade sofre grande revés em 392, quando o cristianismo é declarado religião do Império e são promulgadas as primeiras restrições legais contra os judeus. A situação se deteriora ainda mais após a divisão do Império Romano em Império do Ocidente e do Oriente, também chamado Bizantino. As autoridades cristãs bizantinas, extremamente hostis aos judeus, exercem uma política de severa intolerância, segregação e conversão forçada em todo o império. Em Damasco não foi diferente, fazendo com que a chegada dos invasores muçulmanos fosse vista com alívio.

Sob domínio islâmico

Em março de 635, exércitos árabes conquistam Damasco. Quando, trinta anos mais tarde, a dinastia omíada toma o poder e faz da cidade capital do imenso Império islâmico, inicia-se a Idade de Ouro de Damasco. Até a queda dos omíadas, em meados do 8o século, a cidade era o mais importante centro cultural, econômico e político de todo o império.

O Islã mudaria para sempre a Dimashk-al-Sham ou Al-Sham, como a cidade passou a ser chamada. Seus habitantes adotam a nova religião, o árabe substitui o grego e o aramaico, e um novo estilo arquitetônico muda a face da cidade. A vida dos judeus melhora significativamente sob os omíadas e, apesar de preservarem sua cultura e tradição, como o restante da população, adotam o árabe e alguns de seus costumes, passando por isso a ser chamados de Must' Arab'eem. Eles e os cristãos - os dois povos do Livro - eram tratados com relativa tolerância, e mediante o pagamento de impostos especiais, o Estado islâmico lhes concedia o "status protegido" de dhimmis.

Em 750, outra dinastia islâmica, a dos abássidas, toma o poder e transfere a capital do império para Bagdá. Para os judeus, é o início de um período de grandes dificuldades. Os novos governantes não eram tão tolerantes com os não-muçulmanos e os judeus ficam à mercê de seus interesses e caprichos. Em Damasco, onde se sentia claramente a intolerância aos estrangeiros, estavam à mercê do fanatismo muçulmano.

Desde a conquista islâmica, Damasco era o ponto de convergência de todos os muçulmanos antes do início, no último mês do calendário, do Hajj, a peregrinação obrigatória a Meca, na Península Arábica. Último "porto" para quem quisesse atravessar o deserto, Damasco anualmente acolhia milhares de fiéis exaltados, à espera do início da peregrinação.

Nos séculos seguintes, a região foi palco de guerras entre as várias dinastias islâmicas ansiosas pelo poder. E, no fim do século 11, as forças muçulmanas começam a enfrentar os cruzados. Quando, em 1147, Damasco resiste ao cerco da Segunda Cruzada, os judeus são salvos da fúria cristã. Muitos dos que viviam na Palestina sob domínio cruzado encontram refúgio em Damasco, aumentando, assim, a população judaica da cidade.

No final do século, quando Saladino il-Ayubbi, que expulsara os cruzados de Jerusalém e reconquistara os territórios islâmicos, se torna sultão do Egito, Síria e Terra Santa, Damasco recupera a importância. Sob Saladino e seus sucessores, os aiúbidas, os judeus vivem outro período de paz e prosperidade.

Pelos relatos de correligionários nossos em visita à região, temos informações sobre a comunidade judaica damascena. Entre tais viajantes, destacam-se Rabi Abraham ibn Ezra, em 1128, e Rabi Benjamin de Tudela, em 1173. Este último relata ter encontrado 3.000 judeus na cidade, entre os quais médicos, poetas e intelectuais. Samuel ben-Simson, judeu francês que esteve em Damasco em 1210, relata ter visto "a linda sinagoga de Jobar", vilarejo próximo à cidade. Segundo a tradição, a sinagoga, que datava da época do profeta Elisha, fora restaurada, no século 1 E.C., por Rabi Eleazar ben-Arak, discípulo de Rabi Yochanan ben-Zakai.

Em 1260, liderados por Gêngis Khan, os mongóis invadem a Síria e matam milhares de seus habitantes. Apenas foi poupada Damasco, que se rendeu. É o início de um período de grande sofrimento para a população e principalmente para os judeus. Sob os mamelucos, que no final do século expulsam os mongóis, sua vida fica ainda pior - os novos governantes queriam convertê-los à força.

Os mongóis voltam à Síria, em 1401, liderados por Timur, o Coxo, destruindo e matando tudo o que encontram pelo caminho. Entre os mortos havia milhares de judeus. Meio século foi necessário para que Damasco se refizesse dessa ocupação violenta. E, isso feito, voltaram os judeus a prosperar e sua vida religiosa e comunitária a desabrochar. Rabi Obadia de Bertinoro, o Bartenura, em carta de 1488, descreve as riquezas e as lindas casas ajardinadas da comunidade judaica.

Turcos otomanos

Com a vitória dos turcos sobre os mamelucos, em 1515, a Síria se torna uma das províncias do Império Otomano. O número de judeus ibéricos, que, desde 1492, começam a se estabelecer na cidade, aumenta consideravelmente.

Segundo relatos de Rabi Moshe Basola, que esteve em Damasco em 1521, lá viviam 400 famílias judias divididas em três comunidades: os Must' Arab'eem, os judeus da Sicília e os sefaradim. A influência destes últimos sobre os judeus damascenos era grande, principalmente porque entre os judeus ibéricos havia rabinos de grande erudição. Cada comunidade possuía uma sinagoga e seu próprio Beit Din, além de duas ieshivot.

A proximidade da cidade com Tiberíades e Safed fazia com que de tempo em tempo famosos cabalistas passassem a para viver em Damasco onde, invariavelmente, assumiam a liderança religiosa. Entre os rabinos famosos que viveram em Damasco, podemos destacar: Rabi Hayim Alshaich; Rabi Chaim Vital, discípulo do Ari, autor de Etz HaChaim, e Rabi Israel Najara, autor de Lek hTob e de inúmeros piyutim, como Yah Ribon 'Olam, recitado no Shabat.

A partir do século 17, judeus sefaraditas, principalmente italianos, se estabelecem na Síria, atraídos pela possibilidade de participar do comércio Europa-Oriente. Conhecidos como "Señores Francos" ou Franj, procuravam manter a nacionalidade européia, estando assim sujeitos à jurisdição dos tribunais consulares, não islâmicos, como determinava o Sistema de Capitulações vigente no Império Otomano.

No século 17, a comunidade judaica da cidade era basicamente composta de artesões e vendedores, havendo poucas famílias abastadas. Eram, na maioria, banqueiros dos governantes,ou comerciantes internacionais. Entre as famílias mais proeminentes, contavam-se Farhi, Stambouli, Molchos, Attieh, Shemaya (Angel), Lisbona .

No final do século 18, o homem de maiores posses, em Damasco, era Haim Farhi. Político, filantropo e banqueiro, ele é alçado, em 1789, ao posto de conselheiro de Ahmad al-Jazar, cruel e poderoso governador de Acre, hoje Israel. Em 1799, Farhi teve um papel decisivo na defesa de Acre contra Napoleão. Cinco anos mais tarde, após a morte de al-Jazzar, o novo governador da cidade, Soliman Pacha, incumbe Haim Farhi de cuidar de todos os assuntos estatais, o que ele faria por 19 anos. Em 1818 Haim Farhi é morto pelo recém empossado governador Abdallah, que ele criara como um filho.

Século 19

Em 1831, após a Síria ser conquistada pelo egípcio Muhammad Ali Pacha, Damasco é finalmente aberta a estrangeiros, fomentando assim o comércio com a Europa. Companhias comerciais instalam representantes na cidade e estes acumulam grandes fortunas. O fato de serem geralmente cristãos e, alguns poucos, judeus, não havendo muçulmanos entre os bem-sucedidos representantes, provoca um profundo ressentimento entre a população local. Em meados do século 19, havia na cidade cerca de 4.000 judeus e, como escrevera Josias Porter em seu guia Murray's Handbook, "Os judeus da cidade não são numerosos, mas são muitos influentes devido à grande riqueza de algumas de suas famílias".

Em fevereiro de 1840, a comunidade sofre grande abalo. Treze de seus mais proeminentes membros são presos e torturados, sob acusação de terem matado o frade capuchinho Tommaso de Calangianus e seu criado, para fins rituais. O Caso Damasco, como passou à história, repercutiu no mundo todo. Líderes judeus mundiais se uniram para pressionar seus respectivos governos, exigindo a libertação de seus irmãos. Em setembro do mesmo ano, quando uma delegação judaica consegue que o Pacha do Egito os liberte, quatro deles já estavam mortos.

Vinte anos mais tarde, os judeus de Damasco novamente são vítima de perseguição, acusados de, junto com os muçulmanos, participar no massacre de cristãos maronitas. Centenas de pessoas foram detidas por ordem do vizir Fuad Pacha, entre eles, 200 judeus. Quinhentos muçulmanos foram enforcados e o mesmo destino aguardava os judeus, não fosse pela intervenção do próprio Fuad Pacha, do cônsul prussiano, de sir Moses Montefiore e dos banqueiros Abraham Camondo, de Constantinopla; além de Shemaya Angel, de Damasco.

Após a inauguração do Canal de Suez, em 1869, Damasco perde sua importância no comércio internacional. Com a estagnação econômica, os judeus começam a deixar a Síria em busca de países com melhores oportunidades.

Em 1880, é inaugurada na cidade a primeira escola da Alliance Israélite Universelle para meninos e, três anos depois, outra para meninas. Criada em 1860, na França, após o Caso Damasco, por Adolphe Crémieux, a instituição visava prover uma educação nos moldes da francesa e a profissionalização dos alunos, a exemplo que vinha fazendo em todo o Oriente Médio.

A comunidade no século 20

O processo de imigração se acelerou nas primeiras décadas do século 20, em função do problema econômico. Judeus damascenos deixam a Síria para se estabelecer no Egito, Inglaterra, Palestina, Argentina, México e Estados Unidos.

Apesar do êxodo, em 1911 havia ainda 11.000 judeus, dentre uma população de 160.000 pessoas. A comunidade abrigava 8 sinagogas, além da antiga de Jobar. Havia 4 sociedades beneficentes encarregadas de cuidar dos membros mais carentes da comunidade e, nas festas, arrecadavam-se fundos para a manutenção de rabinos e alunos das ieshivot. Damasco era, também, o centro das atividades sionistas na Síria.

No entanto, apesar da aparente tranqüilidade judaica, nuvens negras se aproximavam. A cidade se tornara centro do nacionalismo árabe. Este movimento, que se opunha ao colonialismo e à interferência ocidental, vinha imbuído de violento anti-sionismo e conseqüente anti-semitismo.

Ao término da 1ª Guerra Mundial e do desmembramento do Império Otomano, não se realizam as esperanças sírias de independência, ficando o país sob tutela francesa. O ressentimento árabe contra o mandato francês explode, em 1925. Durante os combates, que duraram até 1927, aviões franceses bombardeiam a Cidade Velha de Damasco.

Durante o mandato, melhora a vida dos judeus, que têm representatividade nos conselhos municipais e administrativos, chegando a ocupar cargos públicos. Apesar disso, os acontecimentos de 1925 levam muitos deles a deixar Damasco para se estabelecer em Beirute.

A partir da década de 1930, os nacionalistas árabes estreitam seus laços com a Alemanha nazista, resultando daí uma intensificação da propaganda anti-semita. O movimento nacionalista fortaleceu-se ainda mais quando, em 1940, é fundado em Damasco, o "Movimento do Renascimento Árabe", que, em 1947 se torna o partido Baath (ou do renascimento, em árabe). Até hoje, este partido domina a Síria.

Em 1940, assume o poder o Regime de Vichy, criado na França quando Hitler derrotou o país. No ano seguinte, para deter o avanço alemão no Oriente Médio, tropas britânicas e da França Livre derrotam as forças de Vichy e ocupam a Síria. Na ocasião, os nacionalistas árabes obtêm dos aliados o reconhecimento da independência do país. No entanto, a França manteria sua presença militar na Síria até 1946.

Enquanto o país estava sob mandato, as autoridades francesas, mesmo as de Vichy, protegiam a comunidade judaica dos extremistas árabes. Com a saída dos franceses, a situação muda, rapidamente. O governo da nova república árabe logo promulga medidas persecutórias. Entre estas, a proibição da emigração de judeus para a então Palestina. Em Damasco, os boicotes contra estabelecimentos comerciais judaicos e os atos de violência se tornam cada vez mais comuns. E, a decisão das Nações Unidas a favor da Partilha da Palestina, em 29 de novembro de 1947, aumentou a escalada contra a população judaica por toda a Síria. Em Alepo, 48 horas após a histórica decisão, judeus foram vítima de violento pogrom. (Ver Morashá 59).

Os sinais do tratamento que o novo governo daria aos judeus eram cada vez mais preocupantes. Desde o final da 2ª Guerra Mundial, a Síria abrigara criminosos nazistas, em parte por afinidade ideológica e, em outra, porque o governo queria sua "expertise" na guerra que pretendia travar contra um possível Estado judeu. Isto de fato ocorreu, pois eram alemães a maioria dos oficiais que comandavam as tropas sírias que atacaram o norte de Israel, nos primeiros meses de 1948.

Com a criação de Israel, a situação se agrava. Bairros judeus são invadidos e novas leis anti-judaicas, promulgadas. As carteiras de identidades de judeus portavam o carimbo Mussaw, judeu, em grandes letras vermelhas. Um artigo publicado no New York Times, em 16 de maio daquele ano, revela a posição do governo sírio: "Pôs-se em prática uma política de discriminação econômica contra os judeus, na Síria. Virtualmente, foram demitidos todos os cidadãos judeus empregados pelo governo. Na prática, aboliu-se a liberdade de movimentos. Postos especiais de fronteira foram estabelecidos para controlar o movimento dos judeus.

Muitos conseguiram fugir, deixando para trás tudo o que possuíam, pois o governo proibira aos judeus a venda de suas propriedades. Aos que ficaram, restou uma vida em constante tensão. Obrigando-os a viver nos bairros judaicos de Damasco, Alepo e Qamishli, necessitavam de permissão especial para circular a mais de 3 quilômetros de suas residências. Todas as entidades judaicas assistenciais e religiosas passam para o controle muçulmano e, em Damasco, a estrada para o aeroporto foi construída cortando o cemitério judaico.

Mediante uma medida emergencial, o governo confiscou várias propriedades judaicas, entregando-as a refugiados palestinos. Em Damasco, por exemplo, estes são alojados nas mansões do bairro judeu, transformando-as em cortiços. O edifício da Alliance Israélite Universelle, inaugurado em 1939, virou escola para crianças palestinas.

Em 1949, a situação se deteriorou ainda mais - uma bomba explodiu na sinagoga do bairro judaico da cidade, matando 12 pessoas. Ao longo dos anos posteriores, os judeus remanescentes sofreram todo tipo de discriminação, tendo que conviver com o estrangulamento político e econômico. Em 1953 as contas bancárias foram congeladas. A situação levou ao empobrecimento da comunidade, com muitos de seus membros vivendo à custa das entidades beneficentes comunitárias. Assim mesmo, a organização comunitária se manteve.

Impedidos de sair legalmente do país, muitos perderam a vida tentando escapar; se capturados, eram trancados e torturados nas prisões. Quando alguém conseguia autorização para viajar ao exterior, além de ter que pagar impostos exorbitantes, seus familiares eram mantidos como reféns no país - como garantia de seu retorno.

Agentes da Mukhabarat, a temida polícia secreta síria, eram encarregados de vigiar os judeus de perto.Todas as atividades religiosas e comunitárias eram monitoradas, contatos com estrangeiros eram severamente controlados e toda a correspondência era violada. As poucas linhas telefônicas que lhes eram concedidas, eram grampeadas. O treinamento da Muhabarat foi "idealizado" pelo nazista Aloïs Brünner, responsável também por criar na Síria um departamento especial para os "assuntos judaicos". Braço direito de Eichmann, responsável pela morte de mais de 130 mil judeus, Brunner se refugiou em Damasco na década de 1950 e viveu tranqüilamente sob a proteção do regime sírio, que sempre negou pedidos de extradição.

Em 1971, quando Assad subiu ao poder, ainda havia cerca de 5.000 judeus na Síria, enfrentando problemas de toda ordem.Periodicamente, pressões externas, principalmente dos Estados Unidos, levavam o governo a permitir aos judeus viajar ao exterior, o que equivalia a uma clara oportunidade de "escapar". Mas, para obter um visto de saída, eram obrigados a pagar um resgate "legal" de US$ 800, tendo que desembolsar outros US$ 225 para garantir a liberação dos papéis. Os fundos necessários eram arrecadados principalmente entre os judeus sírios que viviam nos Estados Unidos. Em 1977, a canadense Judy Carr, que há anos abraçara a causa dos judeus sírios, envolveu-se pessoalmente em resgatar os que estavam nas prisões e, a seguir, em retirá-los do país. Nos 23 anos em que atuou, esta corajosa mulher conseguiu fazer saírem da Síria 3.288 judeus. (ver Morashá nº 54).

A crueldade com a qual eram tratados ocupou as manchetes internacionais quando 10 judeus presos em 1988 sob a acusação de terem planejado fugir, são libertados e relatam os maus tratos e a tortura. Pressionado, o governo prometeu facilitar a emigração de mais de 500 mulheres judias. Mas apenas 24 foram autorizadas a partir em 1989, e outras 20 em 1991.

Mais uma vez, por pressão americana, o presidente Assad iniciou, em 1990, uma política mais flexível em relação aos judeus, eliminando as restrições para venda de propriedades e prometendo facilitar a emigração, salvo para Israel. Em 1992, outros 2.000 judeus conseguiram sair da Síria, seguindo, na grande maioria, para Nova York. Novamente, as portas se fecharam para a comunidade judaica do país, mas, em 1994, graças a uma ousada operação clandestina, 1.263 deles foram levados para Israel.

A postura do governo sírio em relação aos judeus ainda é de hostilidade e a polícia secreta continua vigiando, de perto, a comunidade. Não há informações exatas sobre o total de judeus que ainda lá se encontram. Segundo dados da comunidade de Damasco, há de 100 a 150 judeus na cidade, mais outros 20 espalhados em outras cidades. De acordo com a Agência Judaica, de 50 a 60 judeus vivem na capital síria, uma família de cinco membros está em Qamishli, no norte do país, não restando nenhum em Alepo. Ainda é proibido aos judeus sírios ter contatos com estrangeiros e com Israel.

Em outubro de 2007, o jornalista israelense Ron Ben-Yishai conseguiu passar Yom Kipur na bonita e ainda bem conservada sinagoga "Franji", localizada no coração da Cidade Velha de Damasco.

Bibliografia:

Stillman, Norman A. Jews of Arab Lands: A History and Source Book, Jewish Publication Society of America

Stillman, Norman A. Jews Of Arab Lands in Modern Times, Jewish Publication Society of America

Sutton, Joseph A.D., Magic Carpet, Aleppo-inFlatbush,Thayer-Jacoby,1991

Keenan, Brigid, Damascus, Hidden Treasures of the Old City, Thames and Hudson