Não há consenso entre os historiadores sobre a data exata em que os judeus chegaram a Barbados. No entanto, é certo que os de origem sefaradita tiveram uma influência marcante na formação da comunidade local.

Os ingleses assumiram Barbados em 1627. Um ano depois, judeus de origem sefaradita vindos do Brasil Holandês, além de outros de Caiena, Suriname, Inglaterra, Hamburgo e Leghorn foram, aos poucos, chegando e se concentrando principalmente em Bridgetown. A vida em Barbados não era das mais fáceis. Os furacões eram devastadores, as mortes por lepra, febre amarela e elefantíase, uma constante. Para os inúmeros judeus que vinham de Hamburgo e Londres, o clima era muito diferente ao que estavam acostumados.

Os sefaraditas constituíam um grande atrativo para o poder colonial que se estabelecera no Novo Mundo. Holanda e Inglaterra valorizavam muito as amplas conexões que aqueles possuíam, sua experiência em comércio colonial e suas habilidades nas transações internacionais. Ademais, dominavam o português e o espanhol e podiam servir de intermediários para as autoridades da colônia e a população do continente americano. Desta forma, aos mercadores sefaraditas eram oferecidas vantagens bastante tentadoras, melhores do que as apresentadas aos judeus da Europa Ocidental, inclusive da própria Holanda. Foi em Bridgetown que se fundou a primeira comunidade judaica organizada de Barbados e a primeira sinagoga, "Nidhei Israel", em 1654, por Louis Diais. Nesse mesmo ano, quando Recife voltou às mãos dos portugueses, grande maioria dos judeus preferiu partir a se submeter à dominação desse povo, a recém-fundada comunidade de Barbados acolheu várias famílias que vieram do Brasil. Estas pareciam já estar imunes às doenças da região ou, então, tinham aprendido a se tratar e a evitá-las. Para eles, a ilha parecia um lugar agradável. A presença judaica na ilha continuou a crescer e foi erguida outra sinagoga, sinagoga, "Semah David", em Speightown, a segunda maior cidade da ilha. Esta sinagoga foi incendiada durante uma manifestação contra a população judaica local, em 1739.

Aproximadamente 300 judeus sefaraditas já viviam em 1679, em Barbados. Os judeus desta ilha foram os primeiros entre os súditos da Coroa Britânica a conquistar direitos políticos, alguns dos quais antes mesmo que estes lhes fossem outorgados na Inglaterra.

Vida econômica e social

Os primeiros judeus que se instalaram na ilha dedicaram-se, a princípio, ao plantio de trigo, para consumo interno, e, posteriormente, do tabaco e de algodão com fins de exportação. Entretanto, devido à queda dos preços dessas commodities no mercado internacional, passaram a cultivar açúcar e café. Além de se destacar no comércio, em geral, os judeus tinham também um bom desempenho nas atividades bancárias.

Ao contrário das outras colônias do Caribe, Barbados não possuía população nativa, apenas ingleses, em sua maioria anglicanos. Os judeus, por sua vez, eram um pequeno segmento em meio a esta população. Não obstante algumas famílias serem respeitadas e inseridas na vida político-social da cidade, a maior parte deles ficavam à margem. E mesmo não sendo ostensivamente perseguidos pelo governo britânico, sofriam a influência dos preconceitos raciais e religiosos vigentes na Europa.

Apesar da prosperidade da comunidade judaica ao final do século XVII e ao longo do XVIII, o antagonismo das autoridades locais, as energéticas medidas contra o comércio com a Holanda - principal contato dos mercadores judeus - e os exorbitantes impostos de 4,5% sobre as exportações, fizeram com que os judeus começassem a procurar outros lugares para viver. Já em 1678, Mordechai Campanell e Israel Pacheco organizaram um grupo que se estabeleceu em Newport (Rhode Island), nos Estados Unidos, comprando inicialmente um terreno para um cemitério, sendo seguidos em 1693 por judeus de Curaçao. Os mais influentes de Barbados foram para Londres, mas o principal êxodo foi para a Filadélfia e para a Ilha de Nevis. No final do século XVIII, o número de judeus em Barbados declinara drasticamente.

Vida comunitária e religiosa

A vida religiosa girava em torno das duas sinagogas ortodoxas, pois os Chahamim que foram para Barbados vinham geralmente da Europa ou da Terra Santa. Em Bridegtown, os judeus viviam concentrados na Rua Swan - conhecida como a Rua do Judeu. Os primeiros Rolos da Torá foram doados pelos parnassim de Amsterdã, os mesmos que também haviam enviado Torot para as ilhas de Caiena, Pomoroon, bem como para outras comunidades judaicas das Américas. Ao longo dos anos, a liderança comunitária de Barbados não mediu esforços para trazer profissionais que pudessem ajudar a preservar as tradições e a cultura judaica. Entre os religiosos que viveram na ilha estão Meir Hacohen Belifante, nascido em Amsterdã; e Rafael Haim Carigal, um dos rabinos mais ilustres das Américas no século XVIII. Nascido em Hebron, em 1732, no seio de uma família de origem portuguesa, o Rabino Carigal atuou na Europa e na Pérsia como emissário das escolas rabínicas da Terra Santa. Chegou a Barbados em 1744, mais de 20 anos após a morte de Belifante. Carigal faleceu em 1777, sendo enterrado no cemitério da ilha.

Barbados contou também com homens dedicados que atuavam em prol da comunidade. As frases cunhadas em suas lápides, no cemitério, demonstram o reconhecimento por seu trabalho. O mercador Benjamin Massiah, falecido em 1782, tem em seu túmulo a seguinte inscrição: "Durante muitos anos ele leu a Torá para os judeus na sinagoga sem nenhuma remuneração ou qualquer tipo de pagamento, atuando também como mohel com grandes aplausos". A sinagoga mantinha também atividades educacionais, um fundo especial para tsedacá e um núcleo de ajuda aos necessitados.

Os membros da comunidade também deixaram contribuições religiosas e literárias, como por exemplo, a obra Sefer Yad Avraham, um trabalho sobre as 613 mitzvot, escrito por Abraham Gabai Isidro, que viveu em Barbados em 1753. Nascido na Espanha e preso pela Inquisição, retornou ao judaísmo em Londres, tendo estudado em Amsterdã. No livro, ele afirma ter sido presidente do Tribunal Rabínico em Suriname e em Barbados. O mercador Moses Lopes escreveu o livro Berachot ha-Milah (Bênçãos para a Circuncisão) para ser usado pela congregação local.

A comunidade de Barbados mantinha vínculos com outras da região, inclusive enviando donativos, quando necessário. Em novembro de 1772 foi feita uma doação para a reconstrução da Sinagoga Honen Dalim, em St. Eustatius. Em junho de 1792, a entidade fez uma contribuição para uma entidade em Charleston e, em março de 1819, ajudou na construção da Mikve Israel na Filadélfia. Comunidades mais distantes, como a de Tiberíades, Damasco e Rodes, também foram auxiliadas quando o solicitaram. As contribuições, no entanto, incluíam também causas locais, como a construção de um hospital em Barbados para atender os carentes de várias etnias.

Na edição de 2 de abril de 1833 do jornal Barbados Mercury foi publicada uma nota ressaltando a participação dos judeus na sociedade maior. "Não há uma instituição civil, política ou religiosa com a qual eles não tenham contribuído para melhorias, e também não há uma instituição de caridade na ilha que não esteja em débito com eles". Em 1864, o rico mercador John Montefiore doou uma fonte a um dos principais parques e marcos turísticos de Bridgetown, que se tornou conhecida como Fonte Montefiore.

Século XIX e XX

O início do declínio da comunidade judaica de Barbados coincidiu com a conquista da igualdade. Um ato do Parlamento britânico, em 1820, acabou com todas as restrições políticas aos judeus de Barbados. Foi-lhes garantido também o direito de ter cinco representantes que teriam o poder de decidir quais seriam suas taxas e impostos. Mas a comunidade tornava-se cada vez menor. Em 1831, uma série de fortes furacões destruiu grande parte das plantações e inclusive a sinagoga "Nidhei Israel". O desastre natural, somado à discriminação social, levou muitos judeus a deixar a colônia com destino a Londres, Newport e à Ilha de Nevis.

Quando, em 29 de março de 1833, a Sinagoga "Nidhei Israel" foi reinaugurada, dentre os presentes havia apenas 95 judeus. Em 1848, o numero destes na ilha caiu para 91, dos quais 38 eram membros da congregação. Em maio de 1869, havia apenas oito sócios contribuintes. Foi decidido, então, que a sinagoga e a propriedade ao seu redor seriam dadas como garantia à uma instituição financeira, que poderia usá-las desde que não houvesse nenhum judeu vivendo na ilha. Durante anos foi mantida aberta, com as luzes acesas para as preces, mesmo que fosse para uma única pessoa. Em 28 de abril de 1908, havia apenas dois sócios pagantes - os irmãos Edmundo Isaac e Joshua Baeza. Com a morte de Joshua, a instituição financeira deu autorização para a venda da propriedade, o que ocorreu em 1928. Parte dos móveis foi vendida para os Estados Unidos. O cemitério, no entanto, foi mantido limpo e pronto para uso. Atualmente alguns dos objetos pertencentes à sinagoga podem ser vistos no Museu de Barbados.

Com a ascensão do nazismo na Europa, 30 famílias judias vindas da Europa Oriental se instalaram em Barbados, seguidas por um pequeno grupo vindo de Trinidad, iniciando um novo capítulo na história comunitária local.

Foi somente em meados de 1980, graças à iniciativa de Paul Altman, cuja família chegara a Barbados fugida do nazismo, que se iniciaria um processo de restauração da "Nidhei Israel", que culminou com a reinauguração, em 1987. Na ocasião, foram realizadas uma conferência e uma exposição sobre "Judeus do Caribe", organizada pelo Museu da Diáspora de Israel. O cemitério, com alguns dos mais antigos túmulos judaicos do continente americano, também foi restaurado. Atualmente, poucas famílias ainda vivem no país. Os serviços religiosos são realizados apenas de novembro a abril, às sextas-feiras à noite e aos sábados pela manhã. Não há rabino e, quando necessário, um é trazido dos Estados Unidos ou do Canadá. Quando é preciso fazer um brit milá, a família do recém-nascido contrata um de Miami ou de Curaçao.