Há 22 séculos, quando a Terra de Israel estava sob ocupação do Império sírio-grego, o Rei Antíoco IV emitiu uma série de decretos malignos para subjugar e humilhar o Povo Judeu, visando A forçá-lo a abandonar o Judaísmo e A abraçar o helenismo. Antíoco proibiu o estudo da Torá e o cumprimento de muitos de seus mandamentos, e ergueu uma estátua de uma divindade grega no Templo Sagrado de Jerusalém.

Em resposta aos cruéis decretos de Antíoco e seu empenho de extirpar o Judaísmo, um grupo de judeus intrépidos, os Macabeus, enfrentou as forças sírio-gregas, superpotência da época. Após três anos de guerra, os Macabeus tiveram uma vitória espetacular contra o exército mais poderoso da Antiguidade. Após vencer Antíoco e seus exércitos, libertaram Jerusalém, reinauguraram o Templo Sagrado e reacenderam a Menorá – o candelabro de sete braços –, valendo-se apenas de um jarro de azeite de oliva ritualmente puro encontrado em meio aos escombros. Todos os outros jarros de azeite ritualmente puro para o serviço no Templo, que levavam o selo do Cohen Gadol, o Sumo Sacerdote, tinham sido propositalmente profanados pelos sírio-gregos.

Esse único jarro continha azeite que daria para acender a Menorá durante um único dia – e eram necessários oito para produzir mais azeite ritualmente puro. Os Macabeus usaram esse jarro; mas o azeite, milagrosamente, ardeu durante oito dias – o prazo necessário para que fosse produzido mais azeite ritualmente puro.

Para comemorar esses dois milagres – o azeite e a vitória dos Macabeus –, celebramos a festa de Chanucá durante oito dias. O triunfo militar desses valentes judeus foi, como dizemos em nossas orações, uma vitória dos poucos contra os muitos, dos fracos contra os fortes. O profeta Zechariah resumiu o acontecimento de forma poética: “‘Não pelo poder nem pela força, mas pelo Meu Espírito’, diz o Eterno”. O milagre do azeite que se seguiu à vitória militar foi um sinal Divino de que os judeus tinham vencido a guerra apenas porque o Eterno, D’us Todo Poderoso, tinha operado milagres em seu favor. O suprimento de azeite para um dia milagrosamente ardeu durante oito não apenas porque esse era o mínimo tempo necessário para produzir azeite ritualmente puro, mas porque, segundo a Torá, o número oito representa o sobrenatural, o milagroso. Esse fenômeno sobrenatural assinalava que a Divina Providência possibilitara o triunfo dos Macabeus, ainda que eles não tivessem nem a força nem o poder nem os armamentos nem os homens para vencer a máquina de guerra sírio-grega. Essa vitória militar significou a sobrevivência do Judaísmo e, por conseguinte, do Povo Judeu. A festa de Chanucá, portanto, não é apenas a celebração de milagres. Comemora, também, a eternidade da Torá e do Povo de Israel.

Este ano, Chanucá se inicia em uma terça-feira à noite, 12 de dezembro de 2017. Na primeira noite da festa, acendemos um jarro de azeite ou uma vela; na segunda noite, duas; na terceira, três, e assim por diante. Na oitava e última noite, acendemos todos os oito jarros de azeite ou velas da Chanuquiá – o candelabro de oito braços reminiscente da Menorá de sete braços do Templo Sagrado de Jerusalém.

Chanucá é uma das festas judaicas mais apreciadas. Suas luzes são queridas não apenas para o Povo Judeu, mas para muitas pessoas de outras religiões. Uma Chanuquiá é acesa na Casa Branca e no Kremlin e líderes políticos do mundo todo, inclusive do Brasil, a acendem. Chanucá é reconhecida de forma ampla porque seus temas e lições são atemporais e universais. São relevantes não apenas para o Povo Judeu, mas para todas as pessoas de bem no mundo. Suas luzes nos ensinam que cedo ou tarde, a luz triunfa sobre a escuridão, a bondade sobre a maldade, a justiça sobre a iniquidade e a santidade sobre o profano.

Chanucá e suas luzes transmitem inúmeras mensagens e lições. Preparamos, pois, oito considerações sobre Chanucá – uma para cada um dos oito dias da Festa das Luzes.

1º dia - Chanucá na Torá

Chanucá e seus mandamentos não são mencionados explicitamente na Torá, pois os eventos comemorados na festa ocorreram mais de 1.000 anos após D’us ter dado a Torá ao Povo Judeu. Moshé terminou de transcrever o Pentateuco – os Cinco Livros da Torá – no ano de 2488 após a Criação (ano de 1273 AEC no calendário gregoriano), e os milagres de Chanucá ocorreram nos anos de 3621-3622 (ano de 140-139 AEC no calendário gregoriano). No entanto, D’us, que é Onisciente e acima do tempo e de todas as demais limitações, incluiu alusões à Chanucá na Torá. Isso não surpreende, pois a Torá é o projeto de toda a Criação: todo evento de maior ou menor porte – já ocorrido ou que um dia ocorrerá – tem fundamento ou alusão no Pentateuco.

Seguem-se algumas das alusões à Chanucá encontradas nos Cinco Livros da Torá:

• A 25a palavra na Torá é Or, “luz”. Começamos a acender as luzes de Chanucá na noite do 25o dia do mês judaico de Kislev.

• Durante a jornada de 40 anos dos judeus pelo deserto a caminho da Terra Prometida, eles acamparam em diversos lugares. O 25º lugar era chamado Chashmoná. Isso é uma alusão à família de sacerdotes, os Chashmonayim, que lideraram os Macabeus na luta contra os sírio-gregos.

• O 23o capítulo de Levítico, terceiro livro da Torá, descreve os vários feriados judaicos. Logo a seguir, no início do capítulo 24, vemos o mandamento de acender a Menorá. Isso é uma alusão à Chanucá – nossa festividade ligada ao acendimento da Chanuquiá - a Menorá de oito braços.

• O capítulo 7 de Números, quarto livro da Torá, descreve as oferendas trazidas pelos líderes das tribos após a inauguração do Mishkan – o Tabernáculo. O capítulo 8 se inicia com as seguintes palavras: “O Eterno falou a Moshé, dizendo: ‘Fala a Aaron e diz-lhe: Quando acenderes as luzes, faz de modo que as sete luzes iluminem a luz central da Menorá’ ”. Vemos, aqui, uma conexão entre a inauguração do Tabernáculo – que foi o predecessor do Templo Sagrado de Jerusalém – e o acendimento da Menorá. Na história de Chanucá, depois que os Macabeus venceram a guerra, os judeus restauraram e reinauguraram o Templo Sagrado, novamente acendendo a Menorá.

Além disso, o Midrash nos ensina que após ser inaugurado o Tabernáculo, D’us ordenou que cada líder de tribo trouxesse uma oferenda. Uma tribo foi excluída – a de Levi. D’us ordenou a Aaron, o primeiro Sumo Sacerdote e chefe da tribo de Levi, que não trouxesse oferenda, mas que acendesse a Menorá. D’us instruiu Moshé a dizer a seu irmão Aaron que não se aborrecesse com o fato de sua tribo não trazer sacrifícios, já que estes durariam apenas enquanto existisse o Templo Sagrado – ao passo que as luzes da Menorá continuariam a ser acesas por todo o sempre. A mensagem de D’us a Aaron aludia às luzes da Chanuquiá, que são uma recordação das luzes da Menorá do Templo. E de fato, já transcorreram quase 2.000 anos desde que foram interrompidos os serviços de sacrifício, mas as luzes da Chanuquiá, remanescentes diretas da Menorá, nunca deixaram de brilhar. Apesar da ausência do Templo Sagrado de Jerusalém, elas continuam a iluminar a escuridão que há no mundo.

2º dia – As 36 velas de Chanucá

Este ensinamento provém dos escritos de um gigante espiritual, Cabalista, o Rabi Levi-Yitzchak Schneerson, pai do Lubavitcher Rebe.

Durante a festa de Chanucá, acendemos um total de 36 luzes: 1 +2 + 3 + 4 + 5 + 6 + 7 + 8. Esse número não é acidental – como nada na vida o é, especialmente em assuntos diretamente relacionados à Torá. Rabi Levi-Yitzhak Schneerson revela um profundo significado desse número, associado a um dos principais temas de Chanucá.

Está escrito na passagem Al Hanissim, recitada na oração da Amidá e no Bircat Hamazon durante os oito dias de Chanucá, que os sírio-gregos se empenharam em “Fazer [Israel] esquecer a Sua Torá”.

Em sua tentativa de fazer com que isso acontecesse, os sírio-gregos visaram à Torá Oral, que explica e elucida a Torá Escrita. Os invasores perceberam que a própria Torá Escrita, tão amplamente documentada em milhares de rolos, jamais seria esquecida. Sua estratégia foi, então, erradicar todos os vestígios da Torá Oral, que era preservada e transmitida oralmente de uma geração à outra. Sem a Torá Oral, é impossível entender corretamente a Torá Escrita e cumprir seus mandamentos. Os sírio-gregos perceberam que se conseguissem fazer o Povo Judeu esquecer a Torá Oral, o fim do Judaísmo seguir-se-ia.

Séculos após o milagre de Chanucá, a Torá Oral foi finalmente redigida. Seu núcleo, conhecido como a Mishná, foi editado pelo Rabi Yehudá HaNassi. Nas gerações seguintes, mais conteúdo da Torá Oral foi escrito, formando-se os dois principais corpos da Lei Judaica: um em Israel, o Talmud Yerushalmi (Talmud de Jerusalém), e o outro na Babilônia – o Talmud Bavli (Talmud da Babilônia). Este último, em geral mais estudado do que o de Jerusalém, contém comentários sobre exatamente 36 tratados da Mishná, que é o número total de velas acesas durante Chanucá. As 36 velas de Chanucá celebram a sobrevivência da Lei Oral, que foi transcrita e preservada nos 36 tratados do Talmud Bavli.

Há outra conexão entre Chanucá e a Torá Oral. O editor do Talmud Bavli foi Rav Ashi, cujo nome é foneticamente ligado a Esh, palavra em hebraico para “fogo” – o veículo para a celebração de Chanucá.

Pode-se traçar uma terceira conexão entre as 36 velas de Chanucá e a Torá Oral. Os principais guardiães da Torá Oral eram os 71 membros do Sanhedrin, a Suprema Corte de Israel. Para que qualquer decisão do Sanhedrin fosse obrigatória, era necessário haver uma maioria de, no mínimo, 36 juízes.

Quando acendemos a Chanuquiá, devemos lembrar que estamos fazendo mais do que celebrar uma vitória militar e o milagre do azeite. Estamos celebrando a sobrevivência da Torá Oral, sem a qual a Torá Escrita não pode ser entendida. Sem a Torá Oral, o Judaísmo autêntico não pode sobreviver. As 36 luzes de Chanucá simbolizam, assim, o triunfo e a eternidade da Torá e, por conseguinte, do Povo de Israel.

3º dia – O Povo Judeu é uma Vela Eterna

Nossos Sábios lançam uma pergunta intrigante acerca do mandamento de acender as luzes de Chanucá. Durante as oito noites da festividade, acendemos azeite de oliva ou velas e recitamos a benção “She-assá Nissim La-Avotenu (“Que fez milagres para nossos antepassados”). Mas, qual o milagre que estamos celebrando na primeira noite de Chanucá? O milagre do azeite é o fato de uma quantidade suficiente para apenas um dia ter durado oito. Algo de miraculoso ocorreu do segundo ao oitavo dia, mas era natural que o suprimento encontrado ardesse durante um dia. O fato de o jarro de azeite ritualmente puro ter mantido a Menorá acessa durante o primeiro dos oito dias não constituiu milagre algum – era o esperado. O milagre foi continuar a queimar nos demais sete dias. Por que, então, recitamos a bênção “Que fez milagres para nossos antepassados” na primeira noite de Chanucá?

Uma das respostas é que o milagre celebrado no primeiro dia foi o fato de os Macabeus terem encontrado um jarro de azeite que não havia sido profanado pelos sírio-gregos. Em outras palavras, na primeira noite de Chanucá, celebramos o milagre da “sobrevivência” desse jarro de azeite. De fato, não havia razão para se supor que algo tivesse sobrevivido à profanação sistemática feita pelos sírio-gregos e seus seguidores no Templo Sagrado. No entanto, quando os Macabeus reconquistaram o Templo, insistiram em procurar azeite ritualmente puro, ainda que as chances de encontrar qualquer vestígio fossem mínimas. E por que procuraram, assim mesmo? Porque tinham fé de que mesmo em meio à maior tragédia, algo sobreviveria. E estavam certos. Um jarro de azeite ritualmente puro realmente sobreviveu. Por alguma razão, inexplicável, os invasores não o encontraram.

O milagre celebrado na primeira noite de Chanucá é o da fé pura, total e simples – a fé em que, apesar de toda a destruição perpetrada, algo precioso, sagrado e puro restaria para que dali os judeus pudessem se erguer e começar de novo. Portanto, a primeira noite de Chanucá celebra o próprio fato de um pouco de azeite ritualmente puro ter sobrevivido à destruição. Não era muito – apenas a quantidade para um dia – mas aquilo milagrosamente manteve acesa a Menorá durante oito dias – tempo suficiente para que mais azeite ritualmente puro fosse produzido.

Esse milagre simboliza um dos temas principais na História Judaica. Várias foram as ocasiões na longa e árdua caminhada de nosso povo em que tudo parecia perdido. Uma outra nação teria desistido, em meio ao desespero. O Povo de Israel vivenciou a destruição de dois Templos Sagrados e foi expulso da Terra de Israel. Na Diáspora, foi submetido a perseguições e expulsões constantes, aos massacres dos Cruzados, às fogueiras da Inquisição espanhola, aos pogroms e, acima de tudo, ao Holocausto. Mas, de um modo ou outro, os judeus não desistiram. Não se prostraram e choraram. Juntaram o pouco que restara, reconstruíram nosso povo e brilharam de forma ainda mais vibrante do que antes.

A luz do Judaísmo sempre se recusou a ser apagada. Pelo contrário, sempre que a escuridão ameaça extingui-la, consegue brilhar com intensidade ainda maior. O resultado foi que as maiores catástrofes na História Judaica foram seguidas pelos maiores triunfos do Povo Judeu. O estudo e a disseminação da Cabalá floresceram após a Inquisição na Espanha. O retorno dos judeus à Terra de Israel e a Jerusalém, bem como a disseminação do Judaísmo pelos quatro cantos do mundo, ocorreram pouco após o Holocausto.

As luzes de Chanucá ensinam ao Povo Judeu e a toda a humanidade que o poder do espírito humano de vencer qualquer dificuldade não tem limites. A festa de Chanucá nos faz recordar, repetidamente, que temos que nos recusar a aceitar a derrota.

O jarro de azeite ritualmente puro que sobreviveu à destruição representa o Povo Judeu. Somos uma Ner Tamid – uma Vela Eterna – cuja luz perene não há potência na Terra que possa extinguir.

4º dia - Um choque de civilizações: Atenas versus Jerusalém

É comum ouvirmos, atualmente, a expressão “choque de civilizações”. A história de Chanucá foi um dos primeiros grandes choques de civilizações, travado entre os gregos da Antiguidade e os judeus – entre Atenas e Jerusalém.

Não se pode negar que os gregos produziram uma das civilizações mais extraordinárias na história humana. Seu legado dura até hoje. O mundo, particularmente a Civilização Ocidental, deve muito à Grécia Antiga. Eles geraram filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles; historiadores como Heródoto e Tucídides, e dramaturgos como Sófocles e Ésquilo. Os antigos gregos foram mestres na Arte e na Arquitetura, entre inúmeros outros campos do conhecimento humano. Foram grandes pensadores, linguistas, artistas, intelectuais, desportistas, líderes políticos e guerreiros. Ainda assim, essa superpotência foi vencida por um grupo pequeno de combatentes judeus, conhecidos como os Macabeus e, a partir de então, entrou em declínio. A Grécia Antiga desapareceu para nunca ressurgir. Hoje, vive apenas nos livros de História: os descendentes dos gregos da Antiguidade não mais vivem em Atenas nem em outro lugar qualquer. Por sua vez, o minúsculo Povo Judeu, destituído de seu Lar e perseguido, sobreviveu a 2.000 anos de exílio, perseguições constantes e mesmo genocídio, e hoje vive soberano em sua Pátria ancestral e eterna. Seus filhos brincam, hoje, nas ruas de Jerusalém e falam a mesma língua que os Profetas usavam há 3.000 anos.

Como explicar que um dos maiores impérios de todos os tempos tenha perecido e um povo minúsculo tenha sobrevivido e florescido? As respostas são inúmeras. Uma delas, óbvia, é a Divina Providência. D’us assegurando a eternidade do Povo de Israel é um tema constante em nossas orações e celebrado em nossas datas sagradas, inclusive em Chanucá. Mas há outra resposta que também explica o choque de civilizações entre os antigos gregos e os judeus.

Os gregos antigos, que acreditavam em várias divindades, não acreditavam em um D’us único, que ama e Se preocupa com tudo e todos. A Grécia Antiga deu ao mundo o conceito de tragédia. Para seu povo, os seres humanos nasciam para se empenhar e, às vezes, atingiam a grandeza. Mas para eles a vida não tinha um propósito supremo. De acordo com sua cultura, o Universo desconhecia e não se importava com o destino do homem.

Para o Judaísmo, esse conceito é um anátema. Os judeus ensinaram ao mundo que estamos aqui na Terra porque D’us nos criou com amor. O Judaísmo ensina que D’us está preocupado não apenas com o mundo em sua totalidade, mas também com o destino de cada uma de suas criaturas. O Judaísmo deu à humanidade a ideia de que a vida tem significado e propósito, pois o mundo e todos os que o habitam foram criados e são supervisionados por um Ser Infinito que está intimamente envolvido com absolutamente todos os detalhes de Sua criação.

As civilizações cujos conceitos fundamentais são a tragédia e a futilidade da existência inevitavelmente se desintegram. Povos destituídos de qualquer senso de significado e propósito superiores não possuem as convicções morais das quais depende a continuidade. Aqueles que creem que a vida é fútil e destituída de propósito sacrificam a felicidade em troca do prazer. Vendem o futuro pelo presente. Negligenciam sua alma, que é eterna, e apenas alimentam o corpo, que é temporário. Tais civilizações hedonistas, cedo ou tarde, perdem a paixão, a energia, a sabedoria e a direção que lhes trouxe grandeza. A decadência espiritual inevitavelmente é seguida pelo fim de uma civilização, mesmo de uma tão grandiosa como o foi a Grécia Antiga. Em nítido contraste, o Judaísmo e sua cultura de esperança, propósito e amor, sobreviveram. As luzes de Chanucá são um símbolo dessa sobrevivência.

A Acrópoles de Atenas sobreviveu, mas os antigos gregos, não. O Templo Sagrado de Jerusalém não sobreviveu, mas o Povo Judeu, sim. Os judeus ainda estão nesta Terra por causa da Divina Providência, mas também porque nosso povo sempre acreditou no poder da luz e de tudo o que representa. Chanucá nos ensina que uma vela de esperança pode parecer pouco, mas dela pode depender a própria sobrevivência de toda uma civilização.

5º dia - A Luz da Guerra e a Luz da Paz

Maimônides, o maior filósofo judeu, que produziu uma obra que é um dos pilares da Lei Judaica, escreveu: “O mandamento das luzes de Chanucá é muito precioso. Quem não tem meios de comprar as suas luzes deve vender algo de seus bens ou, se necessário, tomar um empréstimo, para poder cumprir essa mitzvá”.

Uma pergunta: E se em uma tarde de 6a feira, durante a festividade de Chanucá, a pessoa se vê com apenas uma vela? Deve usá-la como vela de Shabat ou de Chanucá? Não dá para usá-la para os dois propósitos. A lógica sugere que deve acendê-la como vela de Chanucá. Afinal, não há lei ordenando que se venda algo ou se tome empréstimo para comprar velas para Shabat. Mas a Lei Judaica dita que em tal situação, deve-se usar a vela para o Shabat e não para Chanucá. Por que seria?

Maimônides explica: “A vela de Shabat tem prioridade porque simboliza Shalom Bait – a paz no lar. E a paz é de suma importância porque toda a Torá nos foi dada para trazer paz ao mundo”.

Chanucá comemora uma das maiores vitórias militares na História Judaica. Até hoje, os Macabeus simbolizam a bravura e a coragem do Povo Judeu. Não fossem os Macabeus, o Judaísmo e, por conseguinte, o Povo Judeu, teriam desaparecido da face da Terra. No entanto, a Lei Judaica determina que se tivermos apenas uma vela às vésperas do Shabat durante a festa de Chanucá, devemos usá-la como vela de Shabat – não de Chanucá. A precedência para o Shabat se deve ao fato de que nem mesmo a maior vitória militar é mais importante do que a paz no lar.

Os antigos gregos foram grandes guerreiros, conquistadores e governantes, mas sua civilização foi extinta. Como o Povo Judeu pôde sobreviver a eles? Entre outras, pelo fato de os judeus darem mais valor a seu lar do que ao campo de batalha. A paz no lar importava muito mais a nossos ancestrais do que as vitórias militares.

Ao celebrarmos Chanucá e comemorarmos os triunfos militares e atos de bravura e heroísmo do Povo Judeu – sejam os dos Macabeus ou dos valorosos soldados do Estado de Israel –, não podemos esquecer que a vitória suprema é vencida não no campo de batalha, mas em nossos lares e em nossas comunidades. O Povo Judeu é singular porque valoriza a vida, o casamento, os filhos e o lar – mais do que as grandes vitórias militares.

Os judeus comprovaram ser capazes de produzir os melhores guerreiros do mundo. Os Macabeus foram soldados determinados e destemidos que, com a ajuda de D’us, venceram uma superpotência militar. Hoje, o Estado de Israel tem as forças armadas mais bem treinadas no mundo. País algum, nem mesmo os Estados Unidos ou a Rússia, tem pilotos, forças especiais, tecnologia militar e serviços de inteligência melhores do que os de Israel. O Estado Judeu não tem outra opção – tem que ser uma superpotência militar, pois se o Holocausto nos deixou alguma lição, esta foi que nós, judeus, temos que nos defender sozinhos. Nosso desejo, no entanto, é formar eruditos e cientistas, não soldados. Contrariamente aos antigos gregos, preferimos viver para nossos filhos e netos do que ter uma morte heroica no campo de batalha.

Há vezes em que a luz da guerra é necessária, como na história de Chanucá e na do Estado de Israel. Mas, quando há opção, a luz da paz é preferível.

6º dia - O terceiro milagre de Chanucá

A festa de Chanucá celebra dois milagres: a vitória militar dos Macabeus e o suprimento de azeite para um único dia ter durado oito. Mas houve um terceiro milagre. Poucos o conhecem. Ocorreu séculos mais tarde.

Após a destruição do segundo Templo Sagrado de Jerusalém, muitos rabinos julgavam que a festa de Chanucá deveria ser abolida. Argumentavam que como Chanucá celebra a reinauguração do segundo Templo Sagrado, deixara de existir uma razão para seguir celebrando-a – já que o Templo havia sido destruído por Roma.

Conta-nos o Talmud que em uma cidade, Lod, Chanucá chegou mesmo a ser abolida. No entanto, o Povo Judeu decidiu que, apesar da destruição do segundo Templo, continuariam a celebrar a festividade. Esse foi o terceiro milagre de Chanucá: a decisão de continuar a celebração apesar da ausência do Beit HaMikdash, o Templo Sagrado.

E por que tomaram essa decisão? Porque, apesar de ter caído a “Morada de nossa Vida”, a esperança judaica continuava de pé. Podíamos ter perdido o Beit HaMikdash – a Morada Divina na Terra –, mas os romanos não nos tinham tirado a lembrança, a esperança e a luz de Chanucá e tudo o que simboliza. Tinha sido destruída uma gloriosa estrutura física, mas seu espírito continuou a viver dentro de cada um dos judeus e dentro de cada uma de nossas sinagogas – que são um Mikdash Me’at – um pequeno Templo Sagrado. Continuamos a celebrar Chanucá 2.000 anos depois do segundo Templo ter sido destruído, porque sabemos que um dia o terceiro Templo Sagrado será construído. Sempre acreditamos que os milagres dos dias dos Macabeus poderiam voltar a acontecer – e de que acontecerão, de fato. As palavras Od Lo Avdá Tikvatenu, “nossa esperança não está perdida”, reverberaram, sem parar, na alma coletiva dos Filhos de Israel nos últimos 2.000 anos: tornaram-se parte do Hino Nacional do Estado de Israel, o Hatikvá (A Esperança), que inspirou o Povo Judeu a voltar ao seu Lar e à sua capital eterna, Jerusalém, onde um dia brilhou majestoso o Templo Sagrado.

Ao acendermos as luzes de Chanucá, devemos lembrar-nos que, apesar da queda do Templo Sagrado e de toda a destruição que nosso povo vivenciou, o Povo Judeu manteve viva a sua esperança, e essa esperança nos manteve vivos como povo. Nunca se deve duvidar do poder da esperança. Ela é mais potente e duradoura que grandes impérios e exércitos. A luz da esperança preservou e sustentou nosso povo mesmo em seus momentos mais difíceis. As luzes de Chanucá despertam o coração e a alma de tantas pessoas porque nos ensinam a nunca perder a esperança.

7º dia - Constante crescimento espiritual

Na primeira noite de Chanucá, acendemos um jarro de azeite ou uma vela. Na segunda, acendemos duas, e na terceira, três. Somente na oitava e última noite de Chanucá acendemos todas as luzes da Chanuquiá. Essa progressão nos ensina que o que importa na vida não é nosso ponto de partida, mas nosso progresso. O que D’us espera de cada um de nós é que cada dia consigamos dar um passo à frente: que possamos produzir mais luz hoje do que ontem e que amanhã possamos brilhar mais intensamente do que hoje.

Ninguém se torna um sábio ou um gigante espiritual da noite para o dia. Isso exige muitos anos de estudo, prática e auto-refinamento. O processo é longo e árduo. Tornar-se mestre em Torá e – ainda mais difícil – tornar-se mestre de si mesmo, requer um empenho e uma bravura enormes. Mas, se avançarmos constantemente – se brilharmos, dia após dia, um pouco mais intensamente –, poderemos atingir alturas inconcebíveis. E para isso basta coragem e determinação de dar o primeiro passo e continuar crescendo. Basta acender uma vela hoje e uma vela adicional amanhã.

Temos que nos empenhar para constantemente subir a Escada de nosso patriarca Jacob, que toca a Terra e alcança os Céus. Não importa quantos atos de bondade um ser humano praticou; não importa quanto da Sabedoria Divina aprendeu e nem quantos atos sagrados e generosos praticou. Ele nunca deve estar satisfeito com suas realizações. Ainda que hoje tenha praticado muitos atos de bondade, amanhã terá que praticar ainda muitos atos mais.

8º dia - Chanucá e a Guerra Mundial Final

Muitas pessoas estão esperando por uma guerra mundial final. Estão convencidos de que o fim do mundo está próximo e temem pelo que o futuro possa trazer. De fato, os Profetas falaram de uma guerra apocalíptica que precederá a vinda do Mashiach. Mas essa guerra final não será travada nos campos de batalha, nem no mar e tampouco nos céus. Não se usarão armamentos avançados ou bombas nucleares. Não será uma guerra entre líderes nem entre nações.

A guerra final que precederá a Era Messiânica será travada no coração de cada pessoa, com os exércitos de seus atos neste mundo. A Guerra Final é a reencenação da batalha espiritual de Chanucá – a batalha da luz contra a escuridão. E nós todos seremos forçados a participar dessa guerra final. Na verdade, quer o saibamos ou não, já a estamos travando. O resultado dessa guerra determinará o destino do mundo, e isso está nas mãos de cada um de nós. Mas não devemos temer seu resultado: D’us nos assegurou por meio de seus Profetas que nós havemos de prevalecer. Venceremos a guerra mundial final. A paz advirá, a escuridão será banida para sempre e a Luz Divina, simbolizada pelas luzes de Chanucá, preencherá o mundo inteiro. Que D’us nos ajude a vencer essa guerra o mais breve possível. Amén, Ken Yehi Ratson.