As três principais festas judaicas que constam na Torá, além de Rosh Hashaná e Yom Kipur, são Pessach, Shavuot e Sucot. Conhecidas como os “Shalosh Regalim”, essas festas estão relacionadas ao Êxodo do Egito e comemoram os principais eventos na História Judaica.

Pessach celebra a libertação do Povo Judeu da escravidão egípcia; Shavuot, a Revelação Divina no Monte Sinai e o recebimento da Torá – o principal propósito da saída do Egito; e, Sucot, a proteção Divina com a qual foi agraciada a geração de judeus que foi libertada do Egito após os 40 anos em que percorreu o Deserto do Sinai.

No Seder de Pessach, celebrado durante as duas primeiras noites desta festividadade, este ano em 6 e 7 de abril, recitamos a Hagadá que narra a história de como o Povo Judeu, que começou como uma família de 70 pessoas, se tornou uma grande nação – o Povo escolhido por D'us para receber Sua Torá. A Hagadá nos conta acerca de eventos e milagres que precedem e sucedem o Êxodo e que devemos relatar a nossos filhos, para que um dia, eles, também, possam transmiti-la a seus próprios filhos. A Hagadá narra, entre outros, a amarga escravidão vivida por nossos antepassados, as Dez Pragas que venceram o Faraó, o Êxodo, a divisão do Mar. Narra, também, o encontro do Povo Judeu com D’us no Monte Sinai, em Shavuot, quando d’Ele recebemos os Mandamentos Divinos, com o encargo de mantê-los e transmiti-los a todas as gerações futuras.

Pode-se considerar, portanto, Shavuot, de certa forma, como a conclusão da festa de Pessach. Seu próprio nome, que significa “Semanas”, evidencia a ligação entre ambas. Diferentemente de todas as demais, esta festividade não está ligada a nenhuma data específica do calendário judaico, isto é, a Torá não decreta que deva ser celebrada no dia 6 de Sivan (na Diáspora, a festa é celebrada durante dois dias – nos dia 6 e 7), e sim, 49 dias após a Contagem do Omer, ou seja, 50 dias depois de Pessach. Na Torá, Shavuot é também chamada de Atzeret, que significa uma data festiva. Da mesma forma como Sucot possui uma data festiva adicional, Shemini Atzeret, que ocorre logo após os sete dias de Sucot, Pessach também possui sua Atzeret. Contudo, diferentemente de Sucot, a Atzeret de Pessach não ocorre logo após a festa, e sim, 50 dias mais tarde – em Shavuot.

Evidentemente, há uma forte ligação entre as Três Festas. Na antiga Israel, quando existia o Templo Sagrado de Jerusalém, os judeus cumpriam o mandamento da Torá de peregrinar para essa cidade, a mais sagrada do mundo, para celebrar os Shalosh Regalim. Um dos propósitos das Três Festas era, portanto, a congregação do Povo Judeu em sua capital e a alegria resultante de tal reunião.

Apesar das diferenças entre Pessach e Sucot, as duas festas compartilham algumas similaridades: ambas são celebradas durante sete dias na Terra de Israel e ambas comemoram milagres vivenciados pela geração de judeus que foi liderada por Moshé. Outra similaridade é que ambas fazem referência a quatro tipos de judeus.

Na Hagadá lemos a respeito dos quarto filhos: o “sábio”, o “perverso”, o “ingênuo” e aquele que “não sabe perguntar”. De forma similar, em Sucot, o mandamento das quatro espécies – o lulav (a tamareira), o etrog (a fruta cítrica), o hadass (o mirto) e a aravá (o salgueiro) – representa a união de quatro tipos de judeus. O etrog, que simboliza o judeu que estuda a Torá e faz boas ações, é comparável ao filho “sábio”. A aravá, que representa aquele que não estuda a Torá nem faz boas ações, é comparável ao filho “perverso”. O lulav, que representa o judeu que estuda a Torá, mas que não faz muitas boas ações, é comparado ao filho “ingênuo”. Pois a palavra escolhida pela Hagadá para identificá-lo, Tam (que em hebraico significa “simples”, “ingênuo”), é usada pela Torá para descrever um estudioso que se dedica ao estudo da Torá sem ter muito contato com o mundo. Finalmente, o hadass, que simboliza o judeu que faz boas ações, mas não estuda a Torá, corresponde ao filho que “não sabe perguntar”, ou seja, devido à sua falta de conhecimentos, ele nem sabe como formular perguntas a respeito do judaísmo.

Evidentemente, é preferível ser um sábio a ser um perverso. É preferível estudar o judaísmo e fazer boas ações do que não fazer nem um nem outro. Contudo, apesar das diferenças, há algo que une esses quatro tipos de judeus: todos eles estão sentados à mesa do Seder, mesmo aquele que a Hagadá chama de “perverso”. Da mesma forma, em Sucot, o mandamento das quatro espécies exige que todas sejam utilizadas simultaneamente, inclusive a aravá. Apesar de sua rebeldia e suas contestações, o filho “perverso” participa do Seder. Similarmente, o judeu simbolizado pela aravá se une a outros judeus para que a Vontade Divina possa ser cumprida. À luz dessa realidade, ensinou um grande Sábio de nossa geração que não devemos nos preocupar demais com o filho “perverso”, com o judeu simbolizado pela aravá, e sim, com o “quinto” filho – aquele que nem vem ao Seder. De fato, hoje há até um “sexto” filho – o judeu que nem sabe que há o Seder de Pessach. A mesma idéia se aplica a Sucot: não devemos nos preocupar demais com os judeus que são simbolizados pela aravá, e sim, com aqueles que nem sabem o que é Sucot.

E quanto à festa de Shavuot? Em contraste com Pessach e Sucot, em Israel essa festa é celebrada durante um único dia – e não durante sete. Um único dia de festa indica que um dos seus temas é a unicidade.

E diferentemente de Pessach e Sucot, não há menção sobre quatro tipos de judeus. De fato, como relata a Torá, D’us se revelou a três milhões de judeus, independentemente do fato de serem sábios ou tolos, justos ou perversos. Rashi, o comentarista clássico da Torá, escreve que Shavuot foi o único momento na história do Povo Judeu em que todos os judeus estavam unidos como “uma única pessoa, com um único coração”. Foi a união dos judeus que possibilitou a Revelação Divina do Eterno, que é definido por sua Unicidade.

As três festas judaicas – Pessach, Sucot e Shavuot – compartilham um tema subjacente: a união judaica. Pois, se ao ler a Hagadá durante o Seder, deixássemos de mencionar qualquer um dos filhos, mesmo o “perverso”, nossa recitação do texto seria incompleta e imprecisa.

De fato, se prestarmos atenção à escolha precisa de palavras da Hagadá quando são mencionados os quatro filhos, notaremos que está escrito: Echad Chacham (um deles é sábio), V’Echad Rashá (e um deles é perverso), V’Echad Tam (e um deles é ingênuo), V’Echad Sheinó Yodêa Lishol (e um que não sabe perguntar).

Há um elemento em comum entre os quatro filhos: a palavra “Echad”– Um. Ela é uma alusão ao verso, “Shemá Israel, Hashem Elo-kenu, Hashem Echad” – “Ouça Israel, o Eterno é nosso D’us, o Eterno é Um”. Essa declaração é o fundamento da fé judaica. Portanto, a própria Hagadá indica que mesmo o filho perverso acredita, fundamentalmente, na existência de D’us e na veracidade da Torá. Apesar de ser rebelde ou contestar as tradições judaicas, sua essência é a mesma que a dos outros três filhos.

Da mesma forma como a presença do filho perverso é imprescindível no Seder, também a aravá é indispensável ao mandamento das quatro espécies. Sem a aravá, é impossível cumpri-lo: não há forma de as outras três espécies compensarem por sua falta. Isso nos ensina que o Povo Judeu não pode abandonar nenhum de seus membros, mesmo aqueles que não demonstram nenhum interesse em estudar ou seguir o judaísmo.

Mas, se Pessach e Sucot nos ensinam que é necessário que haja união entre os judeus apesar de suas diferenças, Shavuot não faz esse tipo de distinção. Pois no Monte Sinai, D’us se revelou de forma equânime a todos os judeus – tanto a Moshé quanto aos recém-nascidos que nem sequer sabiam o que significa ser judeu. Ademais, quando D’us proclamou os Dez Mandamentos, Ele falou em primeira pessoa, dirigindo-se a cada indivíduo. O Eterno não dirigiu sua atenção apenas a alguns poucos – os filhos “sábios” e os judeus simbolizados pelo etrog.

Entretanto, o conceito do “quinto” e “sexto” filho também se aplica a Shavuot. Há um Midrash que ensina que antes de dar a Torá ao Povo Judeu, D’us exigiu um fiador. O povo disse a D’us que seus ancestrais seriam os fiadores, mas o Todo Poderoso não aceitou. O povo então declarou que os profetas seriam os fiadores e D’us respondeu que também não os aceitaria como tal. Finalmente, o povo disse que seus filhos seriam os fiadores. E D’us respondeu: “Seus filhos de fato são bons fiadores. É em mérito deles que eu lhes darei a Torá”. Portanto, quando aproximamos os judeus do judaísmo estamos honrando nosso acordo com D’us.

Como foi mencionado acima, Pessach, Sucot e Shavuot, apesar de ocorrerem em meses diferentes do calendário judaico,estão relacionadas ao Êxodo. Já que Pessach lembra os milagres que ocorreram no Egito e na divisão do mar, quando trazemos judeus para a mesa do Seder, tornamo-nos merecedores dos milagres de D’us. Já que Sucot simboliza a proteção Divina, quando trazemos judeus para a Sucá – que simboliza a Shechiná, a Manifestação Divina na Terra – tornamo-nos merecedores de que D’us proteja o nosso povo, coletiva e individualmente. Mas Shavuot representa muito mais que tudo isso: a festa simboliza a própria essência de D’us. Shavuot nos ensina que quando o Povo Judeu se une a tal ponto que as diferenças se tornam irreconhecíveis e insignificantes, tornamo-nos merecedores da própria Revelação Divina. E, quando nos unimos como povo – quando nos tornamos “Um Povo na Terra”, possibilitamos a Revelação da Unicidade de D’us, que resultará na união de toda a humanidade e na era tão esperada pelo homem, em que, ao invés de divisões e conflitos, haverá paz e prosperidade para todos os seres humanos.