A Torá constitui a base do Judaísmo, sem a qual este não existiria. Apesar da palavra ser usada, com frequência, em referência a todo o corpo de textos judaicos sagrados – o Talmud, o Midrash e as obras da Cabalá, sua definição precisa é Chamishá Chumshei Torá – os Cinco Livros da Torá: Bereshit (Gênesis), Shemot (Êxodo), Vaicrá (Levítico), Bamidbar (Números) e Devarim (Deuteronômio).

Um dos pilares do Judaísmo é o fato de D’us ter transmitido a Moshé cada uma das letras dos Chamishá Chumshei Torá. Segundo o Talmud, negar a origem Divina de uma letra sequer dos Cinco Livros da Torá equivale a rejeitar os princípios do judaísmo.

Os Chamishá Chumshei Torá se destacam em meio aos demais livros sagrados do Judaísmo pelo fato de terem sido os únicos não escritos por seres humanos, mas por D’us, Ele mesmo. Sendo assim, é um erro comum, mas muito grave, acreditar que Moshé foi o autor dos Cinco Livros da Torá. Como nos ensina o Talmud e também foi codificado por Maimônides, Moshé não teve participação alguma na autoria da Torá; ele apenas a transcreveu, como um secretário a quem é ditado um texto. A razão pela qual os Chamishá Chumshei Torá são comumente chamados de Torat Moshé – a Torá de Moshé – é porque somente ele, entre todos os homens, teve o mérito e a capacidade de recebê-los, letra por letra, e transmiti-los e ensiná-los ao Povo Judeu.

Como ensina Maimônides, um dos pilares fundamentais do Judaísmo é o fato de Moshé ter sido o maior dentre todos os profetas, passados e futuros. Nem o próprio Mashiach terá igual grandeza profética. A Revelação Divina vivenciada por Moshé foi única, em quantidade e qualidade. A Torá nos relata que “Moshé, o homem, era muito humilde, mais que todos os homens na face da Terra” (Números 12:3). Devido a essa humildade sem paralelo, ele foi o ser humano mais dotado de espiritualidade, em todos os tempos, e fez uso de seus dons espirituais para se anular completamente perante D’us. Como era um ser humano totalmente despido de ego, sua existência física não constituía barreira entre ele e o Altíssimo. Portanto, diferentemente dos profetas que o precederam e sucederam, ele vivenciou a experiência direta com a Revelação Divina. Nossos Sábios ensinaram que enquanto todos os profetas “viam através de um vidro fosco, Moshé via através de um vidro translúcido e brilhante”. Ao contrário dos demais profetas, ele recebeu a Revelação Divina com total transparência – e não mascarada por simbolismos. D’us escreveu em Sua Torá: “Claramente falarei com ele (Moshé), e com palavras claras, e não com enigmas... (Números 12:8).

Diferente de outros profetas, que vivenciaram alguma forma de Revelação Divina em seu sono ou em estado de semiconsciência, Moshé foi o único que pôde comunicar-se com D’us plenamente desperto e no pleno comando de seus sentidos. Pois D’us assim falou: “…. Se houver profeta entre vós, Eu, o Eterno, em visão a ele Me faço conhecer ou no sonho falo com ele. Não é assim com Meu servo Moshé…” (Números 12:6). E pelo fato de Moshé ter vivenciado a Revelação Divina plenamente desperto, em plena consciência, e de forma clara e transparente, lhe foi possível receber os Chamishá Chumshei Torá com absoluta precisão – cada uma de suas letras e palavras, bem como a Torá Oral, que explica e elucida o texto escrito e seus mandamentos.

Como ensina Maimônides, é essencial saber que não é pelo fato de Moshé ter sido o canal Divino para a realização dos milagres mais extraordinários – como as Dez Pragas que se abateram sobre o Egito e a Divisão do Mar de Juncos – que julgamos que ele seja o maior profeta de todos os tempos. Mais exatamente, cremos que as profecias de Moshé não têm paralelo nem comparação com as demais porque D’us, Ele Próprio, foi testemunha de que Moshé era o portador de Sua Palavra. Pois D’us disse a Moshé: “Eis que Eu venho a ti, na espessura da nuvem, para que ouça o povo enquanto Eu falo contigo, e também em ti crerão para sempre” (Êxodo 19:9). Portanto, não acreditamos na veracidade da Torá graças a qualquer dos milagres que Moshé realizou. Pois o Judaísmo não se baseia em milagres ou nas habilidades sobrenaturais e profecias de ninguém. Na verdade, a própria Torá atesta o fato de que muitos seres humanos maus, como os feiticeiros do Faraó e o famoso profeta de Midian, Bilaam, conseguiram realizar feitos sobrenaturais. A autoridade do Judaísmo deriva exclusivamente da Revelação Divina no Monte Sinai, testemunhada por milhões de pessoas, que corroborou a origem Divina da Torá e o fato de Moshé ter falado em Nome de D’us.

Como os Chamishá Chumshei Torá são, literalmente,a Palavra de D’us Infinito – tendo o Todo Poderoso, Ele Próprio, escrito cada letra –, esses Cinco Livros da Torá são imutáveis e eternos. Assim como D’us é perfeito, Sua Torá também o é. Assim como D’us não se modifica nem envelhece, imutável também é a Sua Torá, que tampouco se torna anacrônica, sob aspecto algum. Assim sendo, D’us nos impõe em Sua Torá: “Não acrescentareis sobre a coisa que Eu vos ordeno, e não diminuireis dela, para que guardeis os preceitos do Eterno, vosso D’us, que Eu vos ordeno” (Deuteronômio 4:2). Isso significa que nenhum mandamento da Torá pode ser permanentemente anulado, modificado ou manipulado, de forma alguma.

Como a Torá revela a Vontade e Sabedoria Divinas ao homem, ela foi transmitida letra por letra para evitar qualquer interpretação errônea. Assim sendo, qualquer uma de suas frases, letras ou palavras tem significado profundo. Mesmo seus versículos e passagens aparentemente irrelevantes transmitem muitas lições àquele que deseja explorar suas profundezas. No entanto, os Chamishá Chumshei Torá também são uma obra extremamente hermética: ordenam ao Povo Judeu o cumprimento de uma multiplicidade de mandamentos, mas não explicam como cumprir a grande maioria deles. Por exemplo, ainda que nos ordenem “afligir-nos” em Yom Kipur, nada dizem sobre a obrigação de jejuar nesse dia. A chave para o entendimento dos Cinco Livros da Torá reside na Torá Oral – ensinada por D’us a Moshé e transmitida de geração em geração. A Torá Oral, como indica seu nome, foi transmitida oralmente. Após a destruição do segundo Templo Sagrado de Jerusalém e o exílio do Povo Judeu da Terra de Israel, temia-se que a Torá Oral se perdesse. Assim sendo, foi transcrita, constituindo o Talmud (Mishná e Guemará), o Midrash e outros textos sagrados. É a Torá Oral que explica e elucida os Chamishá Chumshei Torá e nos ensina como cumprir adequadamente suas leis e seus mandamentos, inclusive os mais básicos dentre eles, como ouvir o Shofar em Rosh Hashaná e jejuar em Yom Kipur.

Como os Cinco Livros da Torá são uma obra de Autoria Divina, eles contêm informações que apenas um Ser Onisciente poderia conhecer. Quem estuda esses Cinco Livros com diligência e seriedade intelectual irá perceber que tais textos não podem ter sido concebidos por um ser humano. A Divindade dos Chamishá Chumshei Torá é clara para aqueles que se aprofundam nos mesmos. Além disso, assim como D’us é Infinito, também o é a Sua Torá. Seu estudo, portanto, é uma tarefa sem fim, que requer uma devoção constante.

Os Profetas

Um dos princípios fundamentais do Judaísmo diz respeito à profecia. A existência de profetas é um elemento necessário no relacionamento entre D’us e o ser humano, pois é por meio desses homens e mulheres que o Todo Poderoso se comunica conosco. Na verdade, a Torá nos ordena dar importância às palavras dos verdadeiros profetas. Como está escrito, “Profeta do meio de ti, ... te fará surgir, o Eterno, em todas as gerações; a ele ouvireis” (Deuteronômio 18:15).

É importante observar que a capacidade de um indivíduo de enxergar o futuro com exatidão ou de realizar milagres ou feitos sobrenaturais não fazem dele, necessariamente, um verdadeiro profeta. Para sê-lo, é preciso destacar-se em sabedoria, conhecimento da Torá e devoção a D’us. Ademais, para ser aceito como verdadeiro profeta pelo Povo Judeu, era necessário dar sinais disso perante o Sanhedrin – a Corte Suprema Judaica –, sendo testado por seus juízes, que eram peritos em questão de profecia e capazes de distinguir os verdadeiros profetas dos falsos.

O ponto a seguir tem importância crucial: a autoridade de todo profeta deriva exclusivamente da Torá. Isso significa que nenhum profeta pode contradizer uma única de suas palavras, independentemente de quantos sinais ou maravilhas ele produza. Portanto, se um profeta tenta contradizer, de alguma maneira, a Torá, ele não tem crédito; é um falso profeta, ainda que realize os milagres mais assombrosos. É importante enfatizar que o falso profeta não é, necessariamente, impostor ou trapaceiro. Ele pode, perfeitamente, prever o futuro e realizar milagres com precisão. É natural, então, que perguntemos por que D’us permite a existência de falsos profetas, concedendo-lhes poderes sobrenaturais. Temos a resposta na própria Torá: D’us nos alerta que tais falsos profetas podem surgir para testar nossa lealdade a Ele e à Sua Torá. Como está escrito, “Se um profeta se levantar em teu meio, ou um sonhador, e te der um sinal do céu ou um milagre da Terra, e realizar-se o sinal ou o milagre de que te falou, e te disser: ‘Vamos atrás de outros deuses, que não conheceste, e sirvamo-los!’..., mesmo se o sinal ou milagre que ele previu se concretizar, não obedecerás às palavras daquele profeta ou daquele sonhador; porque o Eterno, teu D’us, te está experimentando para saber se amas o Eterno, teu D’us, com todo o teu coração e com toda a tua alma” (Deuteronômio 13:2-4). D’us permite a existência de falsos profetas porque deseja testar se o Povo Judeu permanecerá fiel a Ele e à Sua Torá, ou se permitirá ser seduzido por milagreiros.

As palavras do verdadeiro profeta não podem contradizem a Torá porque, como somente os Chamishá Chumshei Torá foram escritos por D’us, eles são a única fonte verdadeira de Autoridade Divina obrigatória por todo o sempre. Com a finalização da transcrição dos Cinco Livros da Torá e a morte de Moshé, nenhuma outra lei ou mandamento bíblico novo pôde ser introduzido por via profética.

Os Chamishá Chumshei Torá são a Constituição do Povo Judeu, e seu Autor, é o único Legislador. Os seres humanos, ainda que sejam grandes profetas, nada podem fazer além de servir ao Legislador e Juiz Supremo, interpretando e implementando Sua Lei com fidelidade e honestidade, e seguindo a Lei Oral ensinada por D’us a Moshé. Como está escrito, ... “Estes são os preceitos que ordenou o Eterno a Moshé, para os Filhos de Israel, no Monte Sinai” (Levítico 27:33). Em outras palavras, tudo o que está escrito nos Chamishá Chumshei Torá é intocável, como explica a Torá Oral. O máximo que Profetas, Sábios e Rabinos podem fazer é introduzir Leis Rabínicas, cujo único propósito é fortalecer o cumprimento das Leis dos Cinco Livros da Torá ou celebrar eventos de importância histórica para o Povo Judeu. Por exemplo, nossos Sábios instituíram – por razões que fogem ao escopo deste trabalho – que os judeus na Diáspora devem adicionar um dia às festas religiosas, os Yamim Tovim. Contudo, jamais ousariam anular um Yom Tov ou decretar que devem ser guardados menos dias do que ordena a Torá. Se um profeta contradissesse uma única lei da Torá, mesmo que fosse uma aparentemente trivial, ele seria considerado falso profeta.

Deve, pois, ficar claro que o mandamento da Torá que reza que devemos obedecer às palavras de um profeta não lhe dá autoridade de anular, inovar ou, de alguma maneira, manipular as leis e mandamentos dos Chamishá Chumshei Torá. Profeta algum tem autoridade para anular ou modificar lei alguma da Torá, como as leis de Tefilin, Cashrut (leis alimentares) ou do Shabat. D’us prometeu nunca enviar um profeta verdadeiro para acrescentar, subtrair ou modificar qualquer mandamento da Torá. Ademais, um verdadeiro profeta não interpretaria uma lei de maneira diferente do que dispõe a Torá Oral. Assim, pois, qualquer profeta que alegue fazer qualquer dessas ações é, por definição, um falso profeta.

Bem verdade, a Torá permite, em certos casos, que um profeta revogue, temporariamente, uma de suas leis ou mandamentos. No entanto, ele deve ter uma razão irrefutável para fazê-lo. Por exemplo, se um profeta instruísse o Povo Judeu a não jejuar durante determinado Yom Kipur, ele deveria ser obedecido. Na verdade, isso aconteceu uma só vez na História Judaica: quando foi inaugurado o Primeiro Templo de Jerusalém. Mas, se o profeta alegar que recebeu uma Revelação Divina no sentido de que Yom Kipur não deve mais ser cumprido como tal, ele estará anulando uma lei da Torá e, definitivamente, é um falso profeta. As leis referentes à idolatria, no entanto, não podem ser revogadas nem por um instante sequer. Assim, pois, se um profeta der uma instrução qualquer de adoração a um deus, ser humano, objeto ou imagem, ou alegar ser mediador entre D’us e o homem, ainda que uma única vez, ele não deve ser obedecido. Isso se aplica mesmo que ele realize milagres e maravilhas para comprovar sua profecia. O profeta que tenta levar alguém à idolatria é culpado de um delito capital. Pois a Torá ordena: “E aquele profeta ou sonhador será morto, porquanto pregou falsidade em Nome do Eterno, teu D’us” (Deuteronômio 13:6).

Além disso, o profeta que alega ser enviado por algum poder ou divindade além do Eterno, ainda que em defesa da Torá, é culpado de pecado capital. Como está escrito, “Mas o profeta que propositadamente falar alguma coisa em Meu Nome que não lhe ordenei falar ou que falar em nome de outros deuses, este profeta morrerá” (Deuteronômio 18:20). É proibido discutir com tal falso profeta, nem mesmo pedir-lhe um sinal. Se ele produzir um sinal por si só, é proibido acreditar nesse sinal ou lhe dar atenção. Pois está escrito: “…não obedecerás às palavras daquele profeta ou sonhador” (Deuteronômio 13:4).

É importante observar que apesar da capacidade dos profetas de receber mensagens Divinas, eles não tinham sequer a palavra final em questões ligadas à interpretação da Lei da Torá e suas aplicações. Em outras palavras: ao dar a Torá ao Povo Judeu, D’us estabeleceu um meio de autoridade baseado no julgamento e na razão humana. Está escrito: “Porque este mandamento que Eu hoje te ordeno, ... não está nos Céus...” (Deuteronômio 30:11-12). As leis devem ser estabelecidas por juízes e especialistas na Lei da Torá por meio do exercício de raciocínio intelectual, não pela capacidade de se comunicar com os Céus. Portanto, nenhuma questão da Lei da Torá pode ser decidida por profecias, Inspiração Divina, vozes celestiais, Urim v’Tumim, sonhos ou qualquer outro fenômeno sobrenatural. Em questões de Leis da Torá, o profeta não é melhor nem pior que qualquer outro Sábio. Bem verdade, muitos profetas dirigiam o Sanhedrin ou serviam como seus membros. Nessa capacidade, tinham o direito de interpretar leis e iniciar legislação, mas na exata medida dos demais juízes do Sanhedrin. Durante longo período, os profetas foram os guardiães da Torá Oral; na verdade, muitas leis encontradas em seus escritos baseiam-se na Tradição Oral dada por D’us a Moshé no Sinai. Mas, em caso algum, eles introduziram uma lei baseada apenas em profecia. Um profeta não pode alegar que seu dom profético o intitula a ditar questões sobre a Lei Judaica.

À luz do que discutimos acima, deve ficar claro que como os Chamishá Chumshei Torá são exclusivamente um trabalho de Autoria Divina, sua autoridade é suprema e final. Isso significa que nada que esteja escrito em outros livros sagrados, como nos Livros dos Profetas, pode suplantar o que contêm os Cinco Livros que D’us, Todo Poderoso, ditou a Moshé. Através da História, muitos grupos religiosos tentaram converter os judeus tentando convencê-los de que as leis dos Chamishá Chumshei Torá já não se aplicavam. Em sua tentativa de converter os judeus às suas respectivas religiões, esses grupos citavam versículos ou passagens dos Livros dos Profetas, como a seguinte citação do Livro de Jeremias: “Aproximam-se os dias quando estabelecerei um novo pacto com a Casa de Israel” ... (Jeremias 31:30).

Independentemente de como se quiser interpretar essa citação – e outras semelhantes nos Livros dos Profetas –, nada tem poder acima dos mandamentos dos Chamishá Chumshei Torá e da obrigação do Povo Judeu de cumpri-los. Dentro de seu contexto, fica claro que esse versículo do Livro de Jeremias não fala de um novo testamento ou legislação que viria a substituir a Torá transmitida por D’us a Moshé, mas sim, de uma renovação da devoção a seus ensinamentos. O profeta Jeremias assim conclui, em nome de D’us, “Pois este é o pacto que Eu farei com a Casa de Israel: farei com que internalizem Minha Torá em todo o seu ser e a gravarei em seu coração...” (Jeremias 31:32).

É nefasto usar os versículos dos Livros dos Profetas fora de contexto na tentativa de convencer o Povo Judeu a abandonar a Torá. Além do mais, como vimos acima, profecia alguma pode anular as palavras dos Chamishá Chumshei Torá, assim como profeta algum jamais teve ou terá mais autoridade do que Moshé. Unicamente os Cinco Livros da Torá são obra de pura Autoria Divina e, portanto, nenhum outro livro pode a eles se comparar, desafiar ou contradizer, de maneira alguma. As palavras dos Profetas apenas fortalecem e corroboram os ensinamentos dos Cinco Livros da Torá, jamais a eles se opondo. Portanto, nem é tão relevante a maneira como se interpretam os versículos e passagens dos Livros dos Profetas. Apesar de servirem a diversos propósitos religiosos e serem, sem sombra de dúvida, sagrados, não constituem fonte da Lei da Torá e não podem anular ou modificar algo que esteja escrito nos Chamishá Chumshei Torá.

É absurdo sugerir que um verdadeiro profeta contradiria ou buscaria anular uma única letra de um livro composto por D’us. Alguém que alegue ser um profeta e critique ou questione uma única letra dos Cinco Livros da Torá se está rebelando contra o Seu Mestre – e é, portanto, e por definição, um falso profeta. A missão de vida do verdadeiro profeta é fortalecer o relacionamento do Povo Judeu com D’us e Sua Torá. Quando alguém estuda os Livros dos Profetas com honestidade intelectual, sem subtrair versículos ou passagens de contexto, esse alguém percebe que a principal mensagem dos Profetas foi ordenar ao Povo Judeu que seguisse D’us com toda a fé, mediante o cumprimento de todos os mandamentos de Sua Torá. Por exemplo, o Profeta Isaías falou não apenas de nossas obrigações diante do fraco e do necessitado, mas também sobre a importância de guardar o Shabat. É digno de nota – e certamente não uma coincidência – que as últimas palavras de D’us ao último dos Profetas tivessem sido: “Lembrai-vos da Torá de Moshé, Meu servo, a quem ordenei, em Horev (Sinai) estatutos e preceitos para todo Israel” (Malachi 3:22).

Os 24 Livros do Tanach e sua Autoria

Ainda que tenham havido muitos profetas na História do Povo Judeu e muitas palavras de profecia tenham sido ditas e gravadas, apenas foram registradas no Tanach, aBíbliaHebraica, aquelas que seriam necessárias para as futuras gerações. O Tanach é dividido em três partes principais: a Torá (Chamishá Chumshei Torá), os Livros dos Profetas (Neviim) e os Escritos (Ketuvim). A palavra Tanach é um acrônimo dessas três palavras: Torá, Neviim, Ketuvim.

Em sua forma final, o Tanach foi composto pela Grande Assembleia (Anshei Knesset HaGuedolá), sob a liderança de Ezra, pouco antes de deixarem de existir as profecias. A Grande Assembleia era composta por 120 anciãos, inclusive o último dos profetas (Malachi). Hoje, o Tanach é um cânone pronto, ao qual nada pode ser acrescentado ou subtraído. Como está escrito: “Cada palavra de D’us é verdadeira ... Não acrescentes nada às Suas palavras...” (Provérbios 30:5-6).

O Tanach consiste de 24 livros. Destes, cinco estão na Torá, oito nos Profetas e 11 nos Escritos. Como mencionamos acima, repetidamente, a Torá - os Chamishá Chumshei Torá é singular, pois foi composta por D’us e ditada a Moshé, que a transcreveu. Os Livros dos Profetas foram revelados através de profecias. Os Escritos foram escritos por intermédio de Inspiração Divina, sem visão profética.

Os Neviim (Livros dos Profetas) consistem de oito livros, e são: Iehoshua (Josué), Shoftim (Juízes), Shmuel (Samuel 1 e 2), Melachim (Reis 1 e 2), Ieshaiáhu (Isaías), Irmiáhu (Jeremias), Iechezkel (Ezequiel) e Trei Assar (Doze Profetas Menores): Hoshêa, Ioel, Amós, Ovádia, Ioná, Michá, Nachum, Chavacuc, Tsefaniá, Hagai, Zehariá e Malachi.

Os Ketuvim (Escritos) consistem de 11 livros: Tehilim (Salmos), Mishlê (Provérbios), Ióv (Jó), Shir HaShirim (Cântico dos Cânticos), Ruth, Eichá (Lamentações), Cohelet (Eclesiastes), Esther, Daniel, Ezra e Neemias (Ezra) e Divrei Haiamim (Crônicas, 1 e 2).

O Livro de Josué foi escrito por ele. Contudo, os versículos que nos contam sua morte (Josué 23:20-32), bem como a morte de Elazar (Josué 24:33) foram escritos por Pinchás.

O Livro dos Juízes foi escrito pelo profeta Shmuel. A primeira parte do Livro de Shmuel até sua morte (Shmuel 1, 25:1) também foi escrita por ele. O restante de Shmuel 1 e todo Shmuel 2 foram escritos pelos profetas Gad e Natan. Como está escrito: “E os atos do Rei David… estão registrados nas Crônicas de Shmuel, o vidente, nas Crônicas do profeta Natan e nas Crônicas de Gad, o vidente (Crônicas 1 – 29:29).

Os dois livros dos Reis foram escritos pelo profeta Irmiáhu (Jeremias), sendo que incluíam também material escrito por profetas anteriores. 

O Livro de Isaías foi escrito pela Escola do Rei Ezequias. Era costume os profetas registrarem suas profecias pouco antes de sua morte. No entanto, suas profecias públicas eram transmitidas ao Sanhedrin e registradas por eles. Como Ieshaiáhu (Isaías) foi morto pelo Rei Menashé, ele não teve chance de deixar suas profecias por escrito. Posteriormente, isso foi feito pelo Sanhedrin.

O Livro de Irmiáhu (Jeremias) foi escrito por ele mesmo e terminado pela Grande Assembleia.

Apesar de que, sob certas condições, revelações proféticas podiam ocorrer fora da Terra de Israel, nenhuma profecia podia ser publicada fora dela. Portanto, como o profeta Ezequiel vivia fora da Terra Santa, ele não publicou suas profecias, que foram preservadas pelo Sanhedrin, que finalmente as publicaram.

A Grande Assembleia publicou os Trei Assar (Doze Profetas Menores), primeiramente em um único rolo. Individualmente, os livros eram tão pequenos que se teriam perdido se publicados em separado.

O Rei David publicou seus Salmos. Contudo, alguns deles já tinham sido compostos e transmitidos por gerações anteriores.

O Livro dos Provérbios, o Eclesiastes (Cohelet) e o Cântico dos Cânticos (Shir haShirim) foram escritos pelo Rei Salomão, filho do Rei David. Mas, já no final de sua vida, o Rei Salomão estava muito envolvido com afazeres de seu reino para poder publicá-los. Quem o fez foi a Escola do Rei Ezequias. Como está escrito, “Também estes são os provérbios de Salomão, copiados pelos homens de Hizquiá (Ezequias), rei de Judá” (Provérbios 25:1).

O Livro de Jó foi escrito por Moshé. O Livro de Ruth, que se lê durante a festa de Shavuot, foi escrito pelo profeta Shmuel. O Livro das Lamentações (Eichá), lido em Tisha b’Av, foi escrito pelo profeta Irmiahú (Jeremias).

O Livro de Esther, que lemos em Purim, foi escrito originalmente por Mordechai, como uma carta às várias comunidades judaicas da época, contando-lhes acerca do milagre. Mas surgiu uma dúvida se essa carta deveria ou não ser incluída no Tanach. Mesmo após se ter decidido incluí-la, havia a proibição de publicá-la fora da Terra de Israel, até que acabou sendo publicada pela Grande Assembleia.

As profecias de Daniel ocorreram na Babilônia, não na Terra de Israel. Sendo assim, não poderiam ser publicadas de imediato. Por essa razão, o Livro de Daniel também foi publicado pela Grande Assembleia. Ezra escreveu os Livros de Ezra e Neemias.

O primeiro Livro de Crônicas e o segundo livro até o versículo 21:2 foram escritos por Ezra. O restante de Crônicas 2, por Neemias.

Outros livros, como os Livros Apócrifos, também contêm sabedoria, mas não foram escritos por Inspiração Divina, e, por isso, não foram incluídos no Tanach.

Apesar de o Tanach ter sido dado, originalmente, apenas ao Povo Judeu, hoje é aceito por grande parte da humanidade, constituindo uma das bases da Civilização Ocidental. Portanto, D’us utiliza o Tanach para conduzir o mundo inteiro em direção à verdade, preparando a humanidade para a vinda do Mashiach.

BIBLIOGRAFIA

Rabbi Kaplan, Aryeh - Handbook of Jewish Thought - Maznaim Publishing Corporation

Rabbi Kaplan, Aryeh – Maimonides’ Principles: The Fundamentals of Jewish Faith - Mesorah Publications Ltd