A ajuda a países subdesenvolvidos e em desenvolvimento tem feito parte da política do estado de Israel desde seus primeiros anos de existência.

Furacões, tempestades, terremotos, tsunamis. O rastro de destruição deixado, nos últimos anos, pelas forças da natureza vem aumentando a cada evento trágico que ocorre. Como se fossem olhos humanos, os satélites ao redor da terra registram todos os movimentos e permitem aos telespectadores assombrados, mundo afora, acompanhar em tempo quase real tudo que acontece: ondas gigantescas, ventos ultravelozes. As lentes dos jornalistas, no entanto, captam as imagens mais trágicas: a dor das vítimas pela perda irrecuperável de seus entes queridos e de seus bens materiais.

Em meio a estas cenas no entanto há uma imagem de esperança: o grito de solidariedade que ecoa dos quatro cantos do globo. A ajuda vem das mãos de países grandes e pequenos e de voluntários que, em momentos dramáticos, desconhecem as diferenças entre religiões e etnias, unidos por um único sentimento: o amor ao próximo. Seja carregando caixas de suprimentos, atendendo os feridos ou cuidando dos desamparados, os membros das equipes de ajuda humanitária são rapidamente identificados pelas cores das bandeiras de seus países e pelos logotipos das organizações. A bandeira azul e branco com a Estrela de David é uma presença constante e, muitas vezes, das primeiras a ser vista em meio às centenas de pessoas que se entregam a tais missões. Todos trabalham de maneira organizada em pleno caos e escrevem um novo capítulo na história das relações entre seres humanos.

Assim foi no final de 2004, quando a Ásia foi atingida por uma série de tsunamis. Enquanto o mundo ainda assistia estarrecido às primeiras imagens do horror que varreu o continente asiático, em 26 de dezembro, e o número de vítimas era totalmente indefinido, já se haviam iniciado, em Israel, os preparativos para enviar auxílio aos países atingidos. Dois dias depois, uma equipe médica coordenada por especialistas do Hospital Hadassah, de Jerusalém, desembarcava em Sri Lanka, levando remédios, alimentos infantis e seis médicos, entre os quais, especialistas em moléstias contagiosas e operações de resgate. Nos dias subseqüentes, 18 toneladas de suprimentos foram despachados por avião pela organização Latet - "doar", em português - e por equipes das Forças de Defesa de Israel (FDI), que levaram 80 toneladas de produtos para ajudar nos trabalhos de busca e resgate das vítimas e sobreviventes. Em meio a escombros e corpos mutilados, membros da organização de voluntários Zaka recolhiam elementos que pudessem ajudar a identificar as vítimas da tragédia.

O mesmo esforço humanitário se repetiu em 2005, quando o mundo mal se recuperava do que acontecera na Ásia. Novamente a natureza mostrou sua força, desta vez no estado americano da Lousiana. O furacão Katrina atingiu no dia 29 de agosto a cidade de Nova Orleans, deixando-a quase totalmente submersa sob as ondas gigantescas, e mais de um milhão de pessoas foram evacuadas. O furacão Katrina causou aproximadamente mil mortes, sendo um dos mais destrutivos a ter atingido os Estados Unidos.

Após a divulgação inicial da extensão da tragédia americana, Israel enviou equipes de busca e resgate, rações militares, refeições de campanha, alimentos em conserva, água, barracas, geradores, alimentos para bebês, fraldas descartáveis e roupas de cama. Uma equipe de 25 voluntários da área médica, especializados em busca, resgate e transtornos mentais, viajou para a região. As entidades não-governamentais do país centralizaram sua atuação através da "Israeli Flying Aid" (Ajuda Aérea Israelense).

A Universidade Ben-Gurion, do Neguev, também enviou a Nova Orleans um grupo de 25 profissionais, liderados pelo professor Michael Alkan, entre os quais se contavam um pediatra, um clínico-geral e um médico de família, além de outros profissionais com vasta experiência em trabalho de resgate e socorro a vítimas de desastres naturais. Alkan já participara de várias missões humanitárias. Fez parte do grupo organizado pela gigante farmacêutica Merck, para reduzir a disseminação da AIDS em Botsuana; trabalhou com refugiados do Camboja e Tailândia; implantou um hospital de campo durante a guerra de Kosovo; e coordenou um grupo de profissionais logo após a erupção de um vulcão no Congo. Além disso, atuou também com as equipes de ajuda humanitária após os tsunamis na Ásia.

Confirmando mais uma vez sua crença no princípio de amor ao próximo e sua firme convicção de que a tragédia não tem religião nem nacionalidade, Israel ofereceu ajuda ao Paquistão, com quem não tem relações diplomáticas, depois que um forte terremoto, 7,6 graus na escala Richter atingiu no dia 8 de outubro a região, atingindo também a Índia e a região de Cashemira, matando aproximadamente 30 mil pessoas. Diante da extensão da tragédia e necessidades da população e ciente da ampla experiência de Israel nessa área, após certa relutância - pois é raro um país muçulmano aceitar ajuda humanitária do Estado judeu - o presidente paquistanês Pervez Musharraf aceitou a oferta de auxílio das autoridades israelenses, do Congresso Judaico Mundial e de entidades judaicas americanas.

Tradição de Solidariedade

Ensina-nos a Torá: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Levítico 19:18). Esse mandamento, segundo nossos Sábios, é o âmago do judaísmo e faz parte dos princípios da tradição histórica de Israel, desde os seus primórdios. Mesmo quando seus recursos e experiência ainda eram limitados, o jovem Estado Judeu já participava ativamente do esforço internacional para ajudar outros países. Em 1953, quando a Grécia foi atingida por um forte terremoto, uma das primeiras embarcações a chegar ao local para prestar socorro foi um navio israelense. Foi a primeira das inúmeras missões que se seguiriam. Em 1958, dez anos após a criação de Israel, o governo tomou uma decisão que o futuro mostraria ser estratégica na maneira do novo Estado se relacionar com a comunidade internacional - criou um programa de cooperação internacional. Tinha por objetivo principal compartilhar com outros países os êxitos obtidos em diferentes áreas, viabilizando a transferência de experiências, metodologias e tecnologias. Assim, nascia o Mashav (sigla em hebraico de Machlaká leShituf Benleumi). Um importante programa do Ministério de Relações Exteriores, o Mashav abriu a série para as várias formas de cooperação internacional implantadas por Israel.

Desde então, multiplicou-se o número de ONGs com objetivos humanitários, que incluem projetos desenvolvidos pelos Ministérios de Saúde e de Agricultura. Em 2001, foi criada a IsraAid, um órgão coordenador das ONGs israelenses e judaicas sediadas em Israel, mas com atuação em diversos países, no campo do desenvolvimento e trabalho humanitário.

São mais de 35 entidades membros, entre elas, Joint Distribution Committee Israel, Jovens Médicos de Israel, Fundo Humanitário do Movimento Kibutziano, Conselho Estudantil de Israel, Ajuda Sem Fronteiras, B'nai B'rith Mundial, Salve o Coração de uma Criança, American Jewish Committee e outras. O aspecto mais positivo da criação da entidade foi a possibilidade de centralizar a ajuda humanitária, evitando o desperdício de recursos em programas repetidos. O tempo logo provou ser esta a estratégia mais acertada. Na erupção do vulcão no Congo, em 2002, já mencionada, organizou-se um comitê central que distribuiu as tarefas antes que as equipes partissem - o que fez racionalizar o trabalho e evitou a duplicação dos esforços.

A IsraAid, no entanto, não age apenas em resposta a desastres, mas atua também no campo da ajuda a países necessitados. Neste aspecto, vale mencionar o trabalho realizado por duas de suas integrantes - a Jovens Médicos de Israel e uma organização judaica canadense chamada Ve'ahavta - que desenvolvem um treinamento em primeiros socorros nas Guianas e na Índia.

O Mashav ainda é a pedra fundamental, seja nas operações de emergência seja nos programas de cooperação de médio e longo prazo mantidos por Israel. Dentro do Mashav, tem papel importante o Cinadco (Centro de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Agrícola). Em 2004, por exemplo, enviou para Mianmar técnicos para ministrar programas sobre temas como a reprodução humana e medidas sanitárias, entre outros, além da visita de consultores do Centro de Treinamento Internacional Golda Meir para um trabalho direcionado a professores.

A América Latina também faz parte dos projetos do Mashav. Em setembro de 2004 foi implantado no Peru um programa para atendimento oftalmológico nas regiões de Ayackotcho e Sullana, ao passo que, nas duas últimas décadas, centenas de técnicos do Governo brasileiro e líderes sindicalistas se beneficiaram de cursos de especialização nas mais variadas áreas. A ex-URSS também tem sediado inúmeros programas especiais. Muitos dos projetos do Mashav são realizados em cooperação com organismos internacionais como a ONU, a USAID e o BID, entre outros.

Também em 2004, o país se uniu à luta mundial contra a Aids, através do Projeto Jerusalém. A campanha em Israel contou com a participação da cantora Noa, nomeada Embaixadora da Boa Vontade junto ao Programa contra a Fome, das Nações Unidas; e Inbal Gur-Arie, jovem israelense portadora do vírus HIV, que foi indicada pela ONU como porta-voz da campanha, em 2003. Juntas, apareceram em pôsteres, selos e outdoors espalhados pelo país, com os dizeres "Todos nos importamos".

Nos últimos dois anos a organização Salve o Coração de uma Criança tem enviado à China uma equipe de especialistas para atender crianças com problemas cardíacos. Em setembro de 2004, Israel recebeu 18 sobreviventes do atentado terrorista à escola de Beslan, Chechênia, acompanhados de seus pais. Durante duas semanas, além de tratamento e apoio psicológico, participaram de programas turísticos e atividades de lazer, hospedando-se em um resort na cidade costeira de Ashkelon. A visita foi patrocinada pela prefeitura da cidade e por várias instituições voluntárias e empresas israelenses. A lista de missões israelenses no exterior inclui, entre outras, a participação no esforço internacional para auxílio às vítimas do terremoto no Afeganistão, em 1998, com o envio de toneladas de equipamentos, inclusive barracas, travesseiros, alimentos e remédios, além de equipes médicas e de profissionais do Mashav. Em 2001, em função de um terremoto ocorrido em El Salvador, equipes de Israel também ajudaram no resgate e socorro às vítimas.

"Não importa para onde vamos, estamos sempre com a bandeira de Israel desfraldada. Nossos grupos têm viajado pela Ásia e pela África, sem jamais dissimular nossa identidade. As pessoas a quem ajudamos - sejam quais forem as circunstâncias - não estão preocupadas com quem nós representamos. Percebem, isto sim, que o povo de Israel se preocupa com sua sorte. Esta é a nossa contribuição ao mundo - e é dada quando e onde for necessária", explica Shahar Zehavi, fundador da Israid.

Bibliografia:

http://www.israid.org.

http://www.mfa.gov.il

Fast Israeli Rescue & Search Team [F.I.R.S.T.]