Há 350 anos, após séculos de exclusão, os judeus receberam permissão para voltar a viver nas ilhas inglesas. Foi um arranjo informal, visto por alguns como um fracasso. Contudo, provou ser o que de melhor poderia ter ocorrido, pois permitiu o surgimento da primeira comunidade judaica moderna.

Era Medieval

Antes de analisar a readmissão dos judeus na Inglaterra é preciso avaliar os eventos ocorridos à época medieval. Quando, em 1290, o rei Eduardo I decretou sua expulsão do reino, encerrava-se o primeiro período da história dos judeus nas ilhas britânicas, iniciado quando da invasão normanda de 1066. Apesar de alguns judeus lá viverem desde a época romana, a presença judaica tornou-se significativa somente quando judeus franceses convidados por Guilherme, o Conquistador, estabeleceram-se principalmente em Londres. Seu status civil e social permaneceu, de certa forma, ambíguo até ser legalizado por Henrique I (1100-1135), que lhes garantiu direitos e privilégios. Ademais, por determinação da Coroa, somente os judeus podiam conceder empréstimos a juros. Os financistas judeus atendiam as necessidades monetárias dos soberanos e de seus súditos. A verba para a construção do Palácio de Westminster, residência real até o século XVI, por exemplo, saiu dos cofres dos "banqueiros" judeus.

Durante 200 anos exerceram importante papel na Inglaterra, estando espalhados em comunidades por todo o país, inclusive em York, Winchester, Lincoln, Canterbury e Oxford. Protegidos pelos soberanos, prosperaram e, com eles, o Tesouro Real, pois eram obrigados a pagar à Coroa uma grande fatia de todas as transações comerciais, assim como "contribuir" com vultosas somas para as insaciáveis demandas reais. Um dos que mais impostos pagou foi Aaron de Lincoln, cuja mansão ainda está de pé, sendo das mais antigas da Inglaterra. Ao falecer, em 1186, teve todas as suas posses confiscadas, num montante que equivalia a 75% da receita anual do fisco real.

Na Inglaterra do século XII, a população judaica vivia em relativa tranqüilidade, pois fora poupada da violência que se abatera sobre seus irmãos da Europa continental, por ocasião da 1ª e 2ª Cruzadas. A Inglaterra não participara ativamente nessas duas primeiras iniciativas. A partir da segunda metade do século, no entanto, tornaram-se freqüentes os sentimentos anti-judaicos. Em 1144, os judeus de Norwich foram injustamente acusados de ter assassinado um menino, em uma cerimônia ritual. Apesar da pressão popular, as autoridades se negaram a abrir inquérito face à ausência de provas. Foi a primeira acusação de assassinato ritual na História. Nos anos seguintes, repetiu-se o libelo em outras cidades inglesas, mas, por falta de provas, as denúncias nunca chegaram aos tribunais.

A vida dos judeus britânicos tornou-se cada vez mais difícil. Um incidente ocorrido em Westminster, em 1189, quando a delegação judaica foi impedida de assistir à coroação de Ricardo I, Coração de Leão, provocou distúrbios violentos e a morte de 30 judeus. Um ano depois, quando o rei se engajou na 3ª Cruzada, as comunidades se alarmaram, pois a pregação para essas campanhas religiosas inevitavelmente trazia à tona sentimentos anti-judaicos que acabavam em violência. E assim foi. Antes de partir rumo a Jerusalém, os cruzados massacraram judeus em Lynn, Bury St. Edwards, Lincoln e Norwich.

Mas, o pior aconteceu em York, em março de 1190. Atacados por uma multidão enfurecida, 150 judeus se refugiaram no castelo real, em busca de proteção. Em vão.A turba atacou a torre do castelo, Clifford's Tower, onde estavam homens, mulheres e crianças judeus. Apesar de inferiores em número, defenderam-se com bravura, mas não havia como resistir. Negando-se ao batismo forçado, a maioria optou por morrer pelo Sagrado Nome de D'us, Al Kidush Hashem. Quando o castelo foi dominado, os judeus remanescentes foram massacrados, sem piedade.

No século seguinte, a situação se deteriorou rapidamente. Antigos direitos foram abolidos, adotando-se severas medidas anti-judaicas. Extorquiam os judeus de todas as formas e, em 1230, a Coroa confiscou um terço de todos os seus bens e créditos. Em 1255, Lincoln foi palco de nova acusação de assassinato ritual, mas, desta vez, 92 judeus foram aprisionados na Torre de Londres, tendo suas propriedades confiscadas. Destes, 18 foram executados. A história do suposto assassinato ritual de um menino cristão, Hugh de Lincoln, tornou-se parte do folclore popular inglês e o escritor Chaucer a incluiu em seus The Canterbury Tales, a mais importante obra literária inglesa medieval.

Quando, em 1275, Eduardo I proibiu aos judeus continuar na atividade financeira, foi o sinal de que sua utilidade ao reino chegava ao fim. Em 18 de julho de 1290, além de apreender seus bens, o soberano decreta sua expulsão da Inglaterra. No calendário judaico, era o fatídico dia 9 de Av. Foi a primeira expulsão, na História da humanidade, a abranger a totalidade de um povo. A data limite para deixarem as terras inglesas era 1º de novembro. Podiam apenas levar consigo seus pertences. Todos os bens imóveis e créditos foram confiscados pela Coroa. Não se sabe exatamente quantos judeus atravessaram o Canal - os números mencionados variam de 2.500 a 16.000.

O período antes da readmissão

Até o final do século XV poucos judeus viveram secretamente em solo inglês. Mas, a partir de sua expulsão da Espanha, em 1492, e de Portugal, em 1497, alguns conversos ibéricos buscaram refúgio na Inglaterra. Na Europa, as nações governadas por protestantes, em particular calvinistas, ofereciam aos judeus e aos conversos melhores condições de vida.

Durante o reinado de Henrique VIII havia conversos vivendo em relativa tranqüilidade em Londres e Bristol, graças à influência que a família Mendes exercia sobre a Coroa. Donos de verdadeiro império financeiro, os Mendes haviam concedido vultoso empréstimo ao soberano inglês. Quando, em 1535, Doña Gracia, viúva de Francisco Mendes, foge de Lisboa, permanece algum tempo em Londres, assim conhecendo a pequena comunidade local de cripto-judeus.

Um dos membros dessa comunidade era Hector Nunes, em cuja residência funcionava em sigilo, uma sinagoga. Médico e comerciante, este judeu português entrou na história inglesa por ter sido o primeiro a alertar a rainha Elizabeth I de que a Invencível Armada espanhola preparava-se para atacar seu reino. Outro converso famoso durante o período elisabetano foi Rodrigo Lopes, que se estabelece em Londres, em 1560, após fugir da Inquisição portuguesa. Ele, que se tornara o médico de cabeceira da rainha Elizabeth I, foi vítima de intrigas políticas. Acusado de tentar envenenar a soberana, em 1594 foi julgado e condenado à morte. O destino de Lopes fez com que muitos conversos deixassem o país e, os que ficaram, foram expulsos por James I, em 1609, ao tomar ciência de que praticavam o judaísmo em segredo.

No entanto, após algumas décadas, uma nova leva de conversos se estabelece em Londres. Eram, na maioria, grandes comerciantes, com atividades econômicas que se estendiam ao Oriente, às Américas e, principalmente, aos Países Baixos, Espanha e Portugal. Em 1653, já viviam na cidade 20 famílias de conversos, o embrião da futura comunidade judaica. Apesar de procurar manter as aparências como católicos, não era segredo para os membros do governo que eram judeus secretos. O líder da comunidade era Antonio Fernandez Carvajal, que chegara a Londres por volta de 1635. Próspero e influente, é considerado um dos maiores negociantes de prata da Inglaterra, de todos os tempos. Na década de 1640, o confronto entre o rei e o Parlamento, agravado por divergências religiosas, resultara em uma guerra civil - a Revolução Puritana. As forças parlamentares, puritanos chamados de "Cabeças Redondas", eram lideradas por Oliver Cromwell, um homem que teve importância fundamental na história judaica e ao qual o líder judeu Carvajal dá seu apoio. Além de ajudar financeiramente o esforço de guerra puritano, este último repassa a Cromwell preciosas informações sobre o então exilado Stuart, futuro Charles II, bem como sobre os planos que os realistas engendravam com a Espanha. As informações de Carvajal evitaram pelo menos um atentado à vida de Cromwell. Com a vitória dos puritanos seguida pela tomada do poder em 1653, por Cromwell, ele declara Carvajal persona grata do governo. Em 1655, ele e seus dois filhos recebem o status legal de residência, sendo os primeiros judeus a merecer tamanha distinção.

Readmissão

A readmissão judaica à Inglaterra deve ser vista como resultado da conjunção de vários acontecimentos históricos e políticos. É quando entra a figura do Menasseh Ben Israel (1604-1657), filho de conversos portugueses e rabino da comunidade de Amsterdã. Autor de várias obras, muitas das quais em defesa do povo judeu e do judaísmo, seguia com atenção o desenrolar da política interna inglesa. Acreditava que a chegada dos puritanos ao poder era uma oportunidade singular para o restabelecimento dos judeus na Inglaterra, país que poderia servir de abrigo a milhares de refugiados.

Os puritanos eram fervorosos estudiosos do que os cristãos chamam de "Velho Testamento", a Torá, e nutriam uma percepção mais positiva dos Filhos de Israel. O rabino lograra boa reputação entre eles, principalmente por suas idéias sobre a vinda do Messias. Em meados do século XVII, curiosamente, coincidia entre judeus e cristãos um generalizado anseio messiânico. Do lado judaico havia os que previam a iminente vinda do Mashiach. O rabino Menasseh acreditava que a dispersão dos judeus por todos os "cantos da terra", Ketsê ha-Aretz, era uma das pré-condições para a vinda do Mashiach. Em 1644, o relato de um explorador converso, Antônio de Montezinus, sobre sua viagem à América do Sul, criara uma onda de entusiasmo no mundo judaico. Montezinus afirmava ter encontrado nas florestas do Equador nativos que falavam hebraico e diziam ser parte das Tribos Perdidas. Convencido da veracidade do relato, Ben Israel acreditava que se os judeus retornassem à Inglaterra, estaria completa a dispersão. Em 1650 expõe a idéia no livro "A Esperança de Israel", encaminhando uma cópia ao Parlamento inglês, com um prefácio a eles especialmente dedicado.

Do lado puritano havia quem acreditasse estar próximo o "Segundo Advento de Jesus". Segundo a tradição cristã, uma das condições para tal era a conversão dos judeus ao cristianismo. Outra, o retorno dos judeus à Terra Prometida. Para muitos puritanos, o fato de os judeus viverem em contato com o cristianismo inglês, sem as distorções do catolicismo, poderia facilitar sua conversão espontânea. Essa idéia fez com que encaminhassem uma petição em favor da readmissão judaica, no entanto, malograda.

Cromwell também favorecia a vinda dos judeus e isso foi decisivo. Essencialmente pragmático, seus interesses iam além de qualquer esperança messiânica ou tolerância religiosa. Empenhado em erguer a economia do país e expandir seu comércio, entendia as vantagens da vinda dos comerciantes de Amsterdã, além de saber das importantes conexões judaicas, que lhe tinham sido tão úteis na prestação de informações.

Em setembro de 1655, Menasseh Ben Israel, foi a Londres, a convite de Cromwell, para lhe apresentar a petição sobre a readmissão dos judeus ao país. No documento, o rabino apontava os benefícios econômicos que o capital judaico e o empreendedorismo de seus membros trariam, rechaçando as acusações de que eram vítima. Mas tal petição, iniciativa dele próprio, não representava os interesses da comunidade de conversos que, liderada por Antonio Carvajal, estava satisfeita com seu modo de vida.

O que se seguiu foi uma solução tipicamente inglesa, que vale a pena examinar. Cromwell, após receber favoravelmente a petição, submeteu-a ao Conselho que, em novembro de 1655, designou uma comissão para analisá-la. Sua surpreendente conclusão foi apresentada numa Conferência realizada no mês seguinte, em Whitehall. Não havia lei que impedisse a readmissão dos judeus à Inglaterra, a expulsão de 1290 fora uma prerrogativa real e, como não tinha sido sustentada por nenhum ato Parlamentar, tampouco necessitaria de um para ser revogada.

Resolvida a questão da legalidade, a passou a discutir os termos da admissão. Mas Cromwell, que se expressara a favor desse movimento, encontrou uma oposição maior do que esperava. Comerciantes e certos setores religiosos, temendo a vinda dos judeus, condicionavam-na a muitas restrições. Por outro lado, rumores fantasiosos sobre as "reais intenções" judaicas em relação à Inglaterra corriam o país. Dizia-se até que pretendiam comprar a Catedral de São Paulo para transformá-la em sinagoga. Temendo um parecer negativo, Cromwell dissolve a Conferência, abstendo-se de declarações públicas.

Como vimos, os conversos de Londres não participaram da iniciativa do Rabi Menasseh, mas a guerra com a Espanha (1656 - 1659) forçou-os a mudar de atitude. Por serem, formalmente, súditos da Coroa espanhola, o governo inglês poderia confiscar suas propriedades. Quando, em março de 1656, são de fato confiscados os bens do comerciante Antonio Robles, um dos mais ricos conversos, eles decidem apelar diretamente a Cromwell. A missão de Ben Israel conseguira provar às autoridades que o banimento não tinha força legal, mas o "Caso Robles" demonstrava que os judeus precisavam de garantias "mais concretas" de sua legitimidade em solo inglês.

Em 24 de março é entregue a Cromwell uma petição na qual os signatários afirmam seu desejo de viver em paz, sob a autoridade do governo inglês e pedem permissão para conduzir serviços religiosos judaicos em suas casas e adquirir um terreno a ser usado como cemitério. Apesar de assegurada sua posição legal por ter recebido direito de residência, Carvajal é um dos signatários, assim como Ben Israel. Em paralelo, Robles submete outra petição, na qual pede a devolução de suas propriedades já que não era espanhol, mas "Português da Nação Judaica". Não era, portanto, inimigo, mas "vítima do inimigo". O Conselho respondeu em favor de Robles, reintegrando-lhe suas posses. Mas não há registros de uma resposta por escrito à petição dos conversos. Contudo, segundo historiadores, há fortes indícios de que Cromwell tenha dado alguma garantia informal sobre o status da comunidade no país, pois, em dezembro de 1656, em um prédio em Creechurch Lane, foi fundada a primeira sinagoga oficial. De Amsterdã vieram os Rolos da Torá e, menos de dois meses depois, comprava-se o terreno para o cemitério. Menasseh Ben Israel, acreditando que sua missão falhara, regressou desapontado para Amsterdã, onde faleceu, pouco depois.

O arranjo informal que permitiu aos judeus viver e professar abertamente sua fé em solo inglês, demonstrou ser um benefício, não-intencional, de grandes conseqüências. Se a Comissão tivesse chegado a um acordo, teria condicionado a volta dos judeus a vexatórios regulamentos legais, semelhantes aos que vigoravam em outros países.

Reconhecimento formal da presença judaica

Em 1660, é restaurada a monarquia na Inglaterra. A ascensão de Charles II ao trono foi vista com apreensão pela comunidade judaica, mas o desenrolar dos acontecimentos mostrou serem infundados os seus temores. Charles, bem como seu sucessor, James II, protegeram a nova comunidade, ignorando várias petições de comerciantes da City de Londres. Os apelos iam desde pedidos de imposição de sérias limitações às atividades econômicas dos judeus, até uma nova expulsão dos mesmos.

Contudo, o status civil e legal dos judeus se manteve informal e ambíguo até ser formalmente reconhecido em 1664, após a entrada em vigor de uma lei que proibia reuniões religiosas fora dos auspícios da Igreja Anglicana. Isso era parte da campanha para desestimular os seguidores do "não-conformismo" aos preceitos da Igreja Anglicana. O alvo eram os cristãos não-anglicanos, fossem eles protestantes ou católicos. Mesmo assim, a comunidade judaica ficou receosa e o fez saber ao rei. Desta vez, o Conselho respondeu por escrito, assegurando que o soberano ordenara que não fossem perturbados, que "poderiam viver e trabalhar como sempre, desde que mantivessem comportamento pacífico e tranqüilo, com a devida obediência às leis de Sua Majestade e sem escândalos para o Reino".

Assim, sem alarde, os judeus tornaram-se cidadãos ingleses. Quem nascia em solo inglês recebia a cidadania britânica, com as mesmas limitações impostas a qualquer cidadão não pertencente à Igreja Anglicana. As exclusões referiam-se principalmente ao acesso à vida pública, tendo sido criadas antes da Readmissão, como tentativa de vetar o acesso de não-anglicanos às esferas políticas. No caso judaico, havia só mais um impedimento, referente à necessidade de se fazer votos cristãos para ter permissão de exercer certas atividades profissionais. Durante as gerações seguintes, várias decisões judiciárias estabeleceram o direito aos judeus nos tribunais de pleitear e prestar testemunho e de ter reconhecidas as suas suscetibilidades religiosas.

A posição da comunidade se fortaleceu ainda mais a partir de 1688, quando o protestante Guilherme de Orange, Stadholder (governador) da Holanda, invade o país atendendo um pedido do Parlamento para libertar a nação "da tirania católica" e, a seguir, é coroado Rei da Inglaterra. Sob Guilherme III, nome que passa a usar, muitos financistas judeus se estabelecem em Londres, e tornam-se fundamentais no mercado financeiro da City, que, no período, registrou notável crescimento.Nos anos seguintes, quando a comunidade judaica se sentia de alguma forma atacada, apelava diretamente à Coroa, que reprimia qualquer ação contrária a eles. Finalmente, uma lei de 1698 reconhece a legalidade do exercício da fé judaica na Inglaterra.

O crescimento da comunidade

Nos primeiros 50 anos após a readmissão, estabeleceram-se em Londres sefaraditas provenientes principalmente da Península Ibérica, Holanda e França. Apesar de não ter ocorrido um grande influxo, como imaginara o rabino Menasseh, a comunidade cresceu, já contando em 1684 com 414 famílias. Eram prósperos e se estabeleceram nos moldes da comunidade portuguesa de Amsterdã. Em poucas décadas, a sinagoga de Creechurch Lane se tornou pequena e, em 1701, inauguraram outra bem maior e mais suntuosa, em Bevis Marks, na City de Londres, onde vivia a maioria dos judeus. Em grande parte inalterada, a sinagoga é usada até hoje como lugar de oração.

Levas de ashquenazim também se estabeleceram em Londres, fundando suas próprias comunidades e casas de oração. A primeira destas, a Grande Sinagoga de Duke's Place, de rito asquenazita, foi inaugurada em 1690 e utilizada durante 250 anos, até ser destruída na 2ª. Guerra Mundial, durante os bombardeios que devastaram Londres.

No final do século, quando Londres se torna um importante centro de comércio internacional, a comunidade judaica da cidade acompanha o crescimento, em tamanho e importância. Apesar de representar apenas uma parcela minúscula da população judaica no século XVII, tem uma importância especial por ter sido a precursora da moderna história de nosso povo. Até então, era extremamente vulnerável e sujeita aos caprichos de seus governantes a situação legal, social e econômica das várias comunidades judaicas mundiais. Sem nenhum tipo de amparo da lei, tanto em países cristãos como no Islã, as propriedades dos judeus eram passíveis de confiscos e expulsões arbitrários. Apenas na Inglaterra e nas áreas sob domínio anglo-saxão a situação foi diferente. Apesar de permanecerem vivos os antigos preconceitos e de serem os judeus vistos como uma "nação com hábitos peculiares", eram cidadãos com direitos assegurados perante a lei. Quase não havia restrições às atividades comerciais ou à liberdade de residência, nem havia guetos. Em raras ocasiões o governo inglês pressionou a comunidade a pagar impostos extras, mas nunca confiscou bens judaicos - como ocorria em outras partes do mundo. Além do que, os impedimentos legais não eram considerados estigma social. E, nas colônias, os judeus gozavam dos mesmos direitos que na Inglaterra.

Não resta dúvida de que nos domínios anglo-saxões os judeus tinham maior segurança política e um maior grau de aceitação social do que em qualquer outra comunidade judaica da época. E este fato lhes conferiu uma estabilidade nunca dantes vivenciada. Em decorrência, surge a primeira comunidade judaica moderna, que vai ter impacto crescente e determinante na história judaica da Era Moderna e na criação do Estado de Israel.

Bibliografia:

Endelman, Todd M, The Jews of Britain, 1656 to 2000, Ed University of California Press

Katz, David S, The Jews in the History of England 1485 -1850, Ed. University Press of the Pacific Binding

Hyamson, Albert Montefiore, A History of the Jews in England, Ed Oxford