A Neilá é a quinta e última oração de Yom Kipur. É proferida já ao final do dia, após a oração de Minchá, ao entardecer e antes do pôr do sol. Por caracterizar o final do Yom Kipur, é imbuída de grande solenidade. Na maior parte das sinagogas, a Neilá é a oração à qual acorre o maior número de pessoas, no ano todo.

A palavra Neilá significa “fechamento” e é a forma abreviada para Neilat Shearim, “o fechamento dos portões”. O Talmud de Jerusalém registra uma diferença de opinião quanto a seu significado: Rabi Yochanan afirma que se refere ao fechamento dos portões do Templo Sagrado, ocorrido ao fim do dia, ao passo que outro Sábio do Talmud, Rav (também conhecido como Abba Aricha), afirma que se refere ao fechamento dos Portões Celestiais. Obviamente, ambas as afirmações estão corretas. O fechamento dos portões do Templo Sagrado era uma representação física do fechamento dos portões espirituais dos Céus, ao final do Yom Kipur. Outra explicação para o nome Neilá ser atribuído à última oração de Yom Kipur é o fato de, nesse momento, D’us e o Povo Judeu, metaforicamente falando, estarem trancados em um mesmo local, juntos, e sua união atinge seu ponto mais elevado justamente naquele momento em que os Portões Celestiais estão se fechando e o dia mais sagrado do ano está chegando a seu final.

Portanto, em Yom Kipur, o momento da Neilá é a oportunidade final para que a pessoa se arrependa de seus erros e transgressões e inicie um capítulo mais positivo e sagrado de sua vida.Considerando a singularidade dessa oração, a Arca Sagrada – o Hechal, como o chamam os sefaradim, ou Aron haKodesh, para os ashquenazim – permanece aberta. Todas as pessoas fisicamente capazes ficam de pé durante quase toda a Neilá – o que, durante um jejum de mais de 24 horas, é bastante difícil, mas que contribui para o sentido de urgência e transformação espiritual que caracteriza essa última oração de Yom Kipur.

Uma das razões para a Neilá ser tão venerada, atraindo tanta gente, até mesmo aqueles que raramente vão à sinagoga ao longo do ano, é o fato de ser uma oração singular, que constitui uma das razões para o Yom Kipur ser o dia mais sagrado do ano judaico. E um dos aspectos singulares desse dia é ser o único, no ano, em que há cinco orações – a Neilá é a quinta delas. Nos seis dias laicos da semana judaica – que se inicia com o término do Shabate se encerra com o início do Shabatseguinte – oramos três vezes ao dia: Arvit (a reza da noite), Shacharit (a reza da manhã) e Minchá (a reza do entardecer). No Shabat, em Rosh Chodesh (o início de cada novo mês judaico) e nas Festas – Rosh Hashaná, Sucot, Shemini Atseret/Simchat Torá, Pessach e Shavuot – rezamos quatro vezes ao dia, pois, além dessas três orações, há uma quarta, a oração de Mussaf (que literalmente significa “adicional”). E somente em Yom Kipur rezamos cinco vezes ao dia: Arvit, Shacharit, Mussaf, Minchá e Neilá.

Qual seria a razão para orarmos três vezes num dia de semana normal, quatro vezes em dias especiais como o Shabat, Rosh Chodesh e em nossas Festas, e cinco vezes em Yom Kipur? Segundo a Cabalá, o número de vezes que rezamos, diariamente, corresponde aos níveis da alma que o ser humano pode alcançar, nesse dia. As obras cabalistas nos ensinam que a alma do ser humano é composta por cinco níveis espirituais: Nefesh, Ruach, Neshamá, Chayá e Yechidá. Em um dia de semana comum, a grande maioria das pessoas pode acessar os primeiros três níveis de sua alma, daí serem três as orações diárias. Em dias especiais, como o Shabat, Rosh Chodesh ou as Festas, é possível acessar o quarto nível – Chayá – razão pela qual oramos quatro vezes ao dia nessas ocasiões. Mas, apenas em Yom Kipur, e particularmente durante a oração de Neilá – a quinta do dia – qualquer pessoa pode atingir o quinto nível de sua alma, o mais alto de todos – Yechidá. Esse nome deriva da palavra Yachid, que significa “unidade singular”. Esse quinto nível da alma é o ponto de conexão mais profundo entre o homem e D’us.

Podemos, portanto, entender a razão para tantos judeus se sentirem inclinados – ainda que, em alguns casos, sem mesmo saber por que – a estar na sinagoga durante a oração de Neilá. Mesmo que não o percebam, esse é o momento em que se manifesta o nível mais elevado de sua alma. O momento da Neilá é único para um despertar religioso e, de fato, tem inspirado muitos judeus a transformar sua vida e voltar à prática do Judaísmo.

El Norá Alilá

Este poema litúrgico, piyut em hebraico, inicia o serviço da Neilá nas sinagogas sefarditas, cantado em uníssono e com grande emoção. Este piyut tão bonito e inspirador também foi adotado por algumas comunidades ashquenazitas que, a exemplo das grandes sinagogas do rito sefaradi, cantam-no com grande emoção. El Norá Alilá é uma súplica pelo perdão Divino no momento da última oração do dia mais sagrado do ano.

O piyut foi composto por Rabi Moshé ben Jacob ibn Ezra (Abu Harun Musa bin Ya’acub ibn Ezra), conhecido como Ha-Salá (o autor de preces de penitência). Nascido em Granada, Espanha, em 1055, é considerado um de seus maiores poetas, além de ter sido muito influente no ambiente literário árabe. Várias de suas 220 composições fazem parte do livro de orações para Rosh Hashaná e Yom Kipur. O Rabi Moshé ben Jacob ibn Ezra era parente do Rabi Abraham ibn Ezra – um dos mais famosos comentaristas da Torá e filósofos judeus, na Idade Média.

Para muitos judeus sefarditas, a recitação do El Norá Alilá é o ponto alto e o momento mais emotivo de Yom Kipur. Segue-se uma tradução e um breve comentário sobre esse comovente piyut, que toca nossa alma:

El Norá Alilá

D’us de ações sublimes, D’us de ações sublimes,

Encontra perdão para nós, nesta hora da Neilá.

O povo, a quem julgam pequeno, em número, clama a Ti

Temeroso e trêmulo (literalmente, desgostoso e nauseado), nesta hora da Neilá.

Este povo derrama sua alma perante Ti; apaga seus pecados e suas negações (falsidades)

E encontra perdão para si, nesta hora da Neilá.

Seja-lhes um refúgio, e os salva da desgraça

E os sela para a glória e o júbilo, nesta hora da Neilá.

Sê gracioso e misericordiosocom eles, e faz cair a justiça sobre todos aqueles que os oprimem e contra eles lutam, nesta hora da Neilá.

Lembra-Te da retidão de seus Patriarcas e renova seus dias

Como no passado, como nos primórdios, nesta hora da Neilá.

Proclama um ano de favor e restaura os remanescentes de Teu rebanho

Em Oholivá (Jerusalém) e Oholá (Samaria), nesta hora da Neilá.

Possam os filhos e seus pais ser merecedores de muitos anos (de vida)

Com alegria e regozijo, nesta hora da Neilá.

Possam, em breve, Michael, anjo de Israel, Eliyahu (o Profeta) e Gabriel (o anjo) anunciar a Redenção, nesta hora da Neilá.

 

Um breve comentário sobre o poema El Norá Alilá

El Norá Alilá (D’us de ações sublimes), El Norá Alilá (D’us de ações sublimes)

Encontra perdão para nós, nesta hora da Neilá.

D’us tem vários Nomes. Cada um de Seus Nomes expressa a maneira pela qual Ele age com os seres humanos. Por exemplo, o inefável Tetragrama do Nome Divino é associado a Seu Atributo de Misericórdia (Tiferet), ao passo que o Nome Elo-him indica Seu Atributo de Justiça (Guevurá).

O Nome El, Nome Divino mencionado repetidamente neste poema litúrgico, é associado ao Atributo Divino de Bondade (Chessed).

Encontra-se a referência ao Todo Poderoso como D’us de atos sublimes, que despertam reverência, no Salmo 66: “Vinde perceber os feitos do Eterno, que por sua grandeza despertam reverência (Norá Alilá) nos homens” (Salmos, 66:5).

Rashi, comentarista clássico da Torá, explica a maneira pela qual D’us desperta reverência com Seus atos: a Onisciência Divina aterroriza os homens. Como cada um dos atos humanos Lhe é conhecido, os homens tremem, temerosos de que Ele os repreenda.

O Radak (Rabi David Kim’hi) comenta acerca desse versículo: D’us é sublime em Seus atos no sentido em que Ele pode agir a seu bel-prazer com a humanidade, pois Suas ações não têm restrições externas, ou seja, Ele é o Ser Supremo. Assim sendo, todos os homens O reverenciam.

El Norá Alilá se inicia reconhecendo a Onisciência e Onipotência Divinas. Em Yom Kipur, especificamente durante a Neilá, quando, metaforicamente falando, estamos trancados com D’us, não nos podemos iludir de que Ele não esteja ciente de tudo o que pensamos, dizemos e fazemos. Como diz o Livro de Jeremias: “Poderia um homem se ocultar em lugares tão secretos que Eu não o pudesse ver? – diz o Eterno. Acaso não preencho totalmente os céus e a terra?” (Jeremias 23:24).

Não é possível esconder-se de D’us ou a Ele ocultar algo. Ao reconhecer que o Todo Poderoso está ciente de cada detalhe de nossa vida e pode agir como quiser, estamos admitindo que somos completamente dependentes d’Ele e Lhe pedimos perdão e Sua misericórdia.

Esta estrofe – assim como as demais neste piyut – conclui com as palavras Bisha’at haNeilá – que significa, literalmente, “na hora do fechamento”. Como vimos acima, isso se refere ao iminente fechamento dos Portões Celestiais, emulando o fechamento dos portões do Templo Sagrado de Jerusalém, como descreve o livro de Ezequiel: “…, mas o portão não será fechado até o entardecer” (Ezequiel 46:2).

O povo, a quem julgam pequeno, em número, clama a Ti:

Temeroso e trêmulo (literalmente, desgostoso e nauseado), nesta hora da Neilá.

As palavras “pequeno, em número” são retiradas de um versículo na Torá que narra a gênese do Povo Judeu: “e ele (Yaacov) desceu ao Egito e lá peregrinou com pouca gente, pequenos em número ...”. (Deuteronômio 26:5).

Já transcorreram mais de 3.500 anos desde que nosso patriarca Yaacov e seus filhos desceram ao Egito, lá dando origem ao Povo de Israel; e, ainda assim, seguimos sendo um povo “pequeno em número”. Muitos se surpreendem ao saber que somos menos de 15 milhões de judeus, no mundo, em meio a mais de 2,3 bilhões de cristãos, quase 2 bilhões de muçulmanos, mais de um bilhão de hindus e mais de meio bilhão de budistas. Nós, judeus, constituímos apenas 0,2% da Humanidade. No entanto, influenciamos diretamente mais de metade da Humanidade, pois o Cristianismo se originou do Judaísmo, que também influenciou fortemente o Islamismo. A contribuição do Povo Judeu aos campos seculares do conhecimento também é extremamente desproporcional à sua população. Cerca de 20% dos ganhadores do Prêmio Nobel foram judeus e, apenas na área da Fisiologia/Medicina, esse número é ainda mais impressionante – praticamente 40%.

Nenhum outro povo na História foi tão admirado e tão perseguido como nós, o Povo Judeu. O mundo sempre foi obcecado conosco, quer positiva quer negativamente. Mas, apesar de nossas conquistas, sempre fomos e continuaremos a ser um povo pequeno. E, através da História, até hoje, não são poucos os homens e os países que nos querem aniquilar. Assim sendo, erguemos nossos olhos aos Céus, pois reconhecemos que nossa sobrevivência como judeus, quer como indivíduos quer como povo, depende exclusivamente do Todo Poderoso – Aquele que nos manteve com vida até hoje, Ele que é a Fonte de nossa segurança e de nossas realizações e êxitos.

Uma das razões para o Povo Judeu ter realizado tanto, ao longo da História, é o fato de nunca se ter permitido ser complacente, acomodado. Em Yom Kipur, até mesmo na Neilá, expressamos nosso pesar – e até mesmo desgosto – por nossos pecados e transgressões, pois somente admitindo, honestamente, nossos erros e nos arrependendo deles é que poderemos expiá-los e obter o perdão Divino. Aquele que não se arrepende, sinceramente, pelo que fez de errado, e não sente profunda constrição por suas transgressões, está representando uma farsa do processo de obtenção do perdão Divino. Contudo, é importante notar que mesmo ao expressarmos arrependimento por nossos pecados, a liturgia de Yom Kipur é repleta de júbilo e cantamos El Norá Alilá com grande fervor e emoção. O Rabi Levi-Yitzhak de Berditchev, grande Mestre chassídico conhecido por ser um incansável defensor do Povo Judeu, disse, certa vez, a D’us em um Yom Kipur: “Façamos uma troca justa – nós Te daremos nossos pecados em troca de Teu perdão. Pois não fora por nossos pecados, o que Tu farias com Teu perdão?”.

Este povo derrama sua alma perante Ti; apaga seus pecados e suas negações (falsidades)

E encontra perdão para si, nesta hora da Neilá.

A oração de Neilá marca a conclusão dos Dez Dias de Teshuvá, iniciados em Rosh Hashaná. Nesse momento em que os Portões Celestiais estão prestes a se fechar, é quando devemos derramar nossa alma perante D’us – a Ele clamando desde o mais íntimo de nosso coração –, pois a prece que provém do coração é aquela que é ouvida nos Céus, como nos ensinam nossos Sábios. Se clamamos a D’us com fervor, se abrimos nosso coração e nossa alma, podemos rogar que Ele ignore nossas transgressões, apagando-as mesmo, como se nunca tivessem ocorrido.

Em hebraico há várias palavras para expressar o pecado. Pisham, por exemplo (“seus pecados”), usada nesta estrofe, refere-se ao pior tipo de transgressão: aquela que é cometida propositalmente como ato de revolta contra D’us. E até mesmo tais pecados podem ser perdoados – D’us pode eliminá-los como se jamais tivessem ocorrido. Mas para tanto é necessário que a pessoa verdadeiramente se arrependa de os ter cometido.

Seja-lhes um refúgio, e os salva da desgraça

E os sela para a glória e o júbilo, nesta hora da Neilá.

Um tema recorrente, repetido ao longo do Tanach (a Torá, o Livro dos Profetas e os Escritos Sagrados), particularmente no Livro dos Salmos, é que somente D’us pode nos proteger e abrigar contra todos os males que há no mundo. Como nos mostrou a História recente, mesmo os arranha-céus podem ser derrubados por gente má e mesmo altos edifícios em um país tão avançado como os Estados Unidos podem desabar. Quer realizemos, quer não, todos nós, em todos os momentos de nossa vida, dependemos totalmente de D’us. Como nos ensina o Talmud, não temos ciência da miríade de milagres que D’us realiza em nosso favor, diariamente, para nos manter a salvo do perigo.

Durante a Neilá, quando a Corte Celestial está a ponto de decretar o destino de cada ser humano no ano que se inicia, pedimos a D’us que nos proteja e nos guarde de todo tipo de mal e sofrimento. Pedimos-Lhe que nos confirme para um ano de glória, de grande sucesso em nossas iniciativas – e um ano de júbilo.

Sê gracioso e misericordioso com eles, e faz cair a justiça sobre todos aqueles que os oprimem e contra eles lutam, nesta hora da Neilá.

Em nossas preces diárias, e especialmente em Yom Kipur, referimo-nos a D’us como Rachum ve’Chanun – Misericordioso e Gracioso. Ser gracioso significa ser bom e generoso, além das expectativas. Misericordioso é aquele que se recusa a punir mesmo ao que o merece.

O Rei Salomão, o mais sábio dos homens, escreveu em seu Livro dos Provérbios (Mishlei) que o mal sucede à iniquidade: punição e sofrimento são consequência natural do pecado. Em um mundo de simples causa e efeito, os homens teriam que pagar por cada uma de suas transgressões. Mas como D’us é Gracioso e Misericordioso, Ele é facilmente aplacado face às transgressões cometidas contra Ele. Contudo, é importante esclarecer que a Misericórdia Divina não se estende àqueles que cometem maldade contra outros seres humanos. Yom Kipur apenas expia os pecados cometidos contra D’us, não contra outros seres humanos.

A Misericórdia Divina também é expressa por D’us na forma de proteção a nós contra todos os que nos oprimem e se levantam contra nós. Ao extirpar o mal, D’us concede misericórdia aos oprimidos. E, de fato, a História nos tem demonstrado que os maiores inimigos do Povo Judeu também foram os maiores vilões da Humanidade.

Como repetimos ano após ano na Hagadá de Pessach: “Em toda geração eles se levantam para nos exterminar, e o Santo, Bendito é Ele, nos salva de suas mãos”. Rezamos, portanto, rogando a D’us por nossa salvação daqueles que nos desejam o mal. Como escreveu o Rei Salomão em seus Provérbios (11:10): ... “E canções são entoadas quando perecem os malvados”.

Lembra-Te da retidão de seus Patriarcas e renova seus dias

Como no passado, como nos primórdios, nesta hora da Neilá.

Em todas as nossas preces invocamos o mérito de nossos antepassados, especialmente dos três Patriarcas – Avraham, Yitzhak e Yaacov. Mesmo o maior profeta de todos os tempos, Moshé Rabenu, invocou os méritos dos três Patriarcas em momentos críticos, quando rogou a D’us em favor do Povo de Israel.

A expressão “renova seus dias” é retirada do Livro de Eichá (Lamentações 5:21), em que o profeta Jeremias roga a D’us para que restaure nosso povo e a Pátria dos Judeus a seus dias de glória. O versículo “Restaura nossos dias como já foram outrora” constitui também uma expressão de esperança pela renovação do relacionamento entre D’us e os Filhos de Israel e sua restauração a seu estado no início da história de nosso povo. Um desejo semelhante aparece no Livro de Malachi: “Então as oferendas de Judá e de Jerusalém serão prazerosamente aceitas pelo Eterno, como nos dias antigos e nos anos passados” (Malachi 3:4).

Proclama um ano de favor e restaura os remanescentes de Teu rebanho

Em Oholivá (Jerusalém) e Oholá (Samaria), nesta hora da Neilá.

A Neilá é o ponto culminante do Yom Kipur. A Arca Sagrada permanece aberta, na sinagoga, como um símbolo dos Portões Celestiais abertos às nossas preces. É o momento de se pedir que D’us proclame – e decrete – um ano de graça para nós, para nossa família e comunidade, para o Povo de Israel e para toda a Humanidade.

Como a Neilá é o momento mais auspicioso do ano – quando D’us está mais acessível a todos nós – esse é o momento de pedir a Ele coisas extraordinárias. Portanto, com o olhar no futuro, pedimos a D’us não apenas por nossa própria salvação, mas pela redenção de nosso Povo.

A metáfora que diz que o Povo Judeu é o rebanho de D’us aparece na Torá e se tornou muito famosa graças ao Salmo 23, que declara que o Todo Poderoso é nosso Pastor. Nesta estrofe, rogamos a D’us pela restauração do restante de Seu rebanho – nós todos, judeus, que aqui estamos, apesar de um exílio muito longo e das constantes perseguições.

Os nomes Oholivá e Oholá se referem, respectivamente, a Jerusalém e Samaria (Ezequiel 23:4). Após o falecimento do Rei Salomão, seu reino foi dividido em dois: o Reino de Judá, com Jerusalém como sua capital, e o Reino de Israel, que tinha sua capital na Samaria. O nome Oholá pode ser uma referência à cidade de Samaria, ao Reino de Israel e às 10 Tribos perdidas, ao passo que Oholivá pode ser usado para descrever Jerusalém, o Reino de Judá e o Templo Sagrado de Jerusalém. Ao mencionar esses dois nomes, pedimos a D’us pela restauração dos descendentes de todas as 12 Tribos de Israel em sua terra, a Terra de Israel.

Possam os filhos e seus pais ser merecedores de muitos anos (de vida)

Com alegria e regozijo, nesta hora da Neilá.

Tizku LeShanim Rabot, que significa “Que vocês sejam merecedores de muitos anos (de vida)” é um cumprimento que os judeus sefaraditas costumam estender uns aos outros em Rosh Hashaná e Yom Kipur. Pedimos que D’us nos abençoe, a todos nós, filhos e pais, com uma vida longa: que Ele nos inscreva e sele no Livro da Vida. Mas apenas uma vida longa não representa uma bênção se esses anos forem cobertos de sofrimento. Por isso pedimos a D’us por muitos anos de vida repletos de júbilo e felicidades.

Possam, em breve, Michael, anjo de Israel, Eliyahu (o Profeta) e Gabriel (o anjo) anunciar a Redenção, nesta hora da Neilá.

Este belo piyut conclui com uma prece pela Redenção Messiânica. Caberá a Eliyahu HaNavi, o Profeta Elias, ser aquele que anunciará a vinda do Mashiach e conclamar a todos os povos que a paz finalmente chegou ao mundo. O último profeta do Tanach, Malachi, assim proclama em nome de D’us: “Eis que vos mandarei o profeta Eliyahu, antes que venha o grande e sublime dia do Eterno” (Malachi 3:23).

A estrofe final do piyut menciona os anjos Michael e Gabriel, ambos protetores do Povo Judeu. Michael é o anjo da misericórdia. Gabriel é o anjo da força, que luta a favor do Povo Judeu e é enviado por D’us para executar a justiça contra os malfeitores. No entanto, é importante ressaltar que, apesar de o poema mencionar esses anjos, não nos dirigimos a eles, muito menos os invocamos. Pois, como ensina o Talmud de Jerusalém, é absolutamente proibido – e considerado um ato de idolatria – orar para qualquer um dos anjos. Oramos a D’us – e somente a D’us. Não há intermediários entre os judeus e o Todo Poderoso. E quando chegar a Era Messiânica, todos os seres humanos entenderão que devem orar apenas a D’us e diretamente a Ele. Como dizemos ao concluir nossas preces, durante o Aleinu Leshabeach: (Na Era Messiânica) “toda a humanidade invocará o Teu Nome.... E perante a Ti, Eterno nosso D’us, eles se curvarão e se prostrarão, e honrarão a glória do Teu Nome Sagrado”.

BIBLIOGRAFIA

Steinsaltz, Rabbi Adin Even-Israel, The Steinsaltz Nevi’im, Koren Publishers, Jerusalém

Steinsaltz, Rabbi Adin Even-Israel, The Steinsaltz Ketuvim, Koren Publishers, Jerusalém