Comparemos a maneira como o judaísmo e o mundo secular comemoram o início de um novo ano.

Em 31 de dezembro, há reuniões de regozijo, algumas em casas de famílias outras em salões de festas. Todos ficam à espera do momento mágico da entrada do novo ano. Invariavelmente, preparam-se para esse grande momento consumindo quantidades copiosas de bebidas alcoólicas e, ao chegar o momento de gritar “Feliz Ano Novo”, com todas as suas forças, estão em um estado de inebriação total.

Como especialista em alcoolismo, posso dizer-lhes que as bebidas alcoólicas têm um único efeito preponderante sobre a mente da pessoa: o álcool é um anestésico emocional. As pessoas podem sentir-se aliviadas e descontraídas quando bebem, pois o álcool anestesia sua mente e as torna insensíveis a quaisquer sensações desagradáveis que as estejam perturbando. Pode-se até compreender o motivo pelo qual uma pessoa queira aliviar-se de sentimentos desagradáveis, mas não faz sentido algum anestesiar-se contra sensações agradáveis. Se alguém sente-se realmente feliz, este alguém deseja saborear cada momento da vida. Seria muito difícil alguém querer evitar sentimentos de bem-estar e felicidade.

Por que, então, tantas pessoas bebem para receber o ano novo, já que se trata de uma ocasião tão feliz?

Via de regra, não paramos muito freqüentemente para fazer uma avaliação do que já conseguimos e do que ainda pretendemos atingir. Geralmente continuamos a trabalhar sem fazer um balanço da nossa vida. Mas há vezes em que justamente estamos a fim de fazê-lo. E tal ocasião é o início de um novo ano. “Dentro de algumas horas já será 2001! Como pode? Mal me acostumei a escrever 2000 nos cheques, ao invés de 1999... Será que já se passou um ano? D’us do céu! De que forma este ano se destacou em mim? Estou mais saudável? Não. Estou mais sábio? Não. Estou em melhor situação financeira? De forma alguma! Devo mais do que nunca. A única coisa que aconteceu foi que estou um ano mais velho. E quais as perspectivas de que este próximo ano seja muito melhor? Nenhuma, francamente”.

Este pensamento é muito depressivo. Alguém que pensa desta forma dificilmente poderá celebrar o novo ano com alegria. De jeito nenhum, a não ser que se auto-anestesie com o álcool. Apenas quando o estado depressivo dessa pessoa tiver sido aliviado pela bebida ela poderá bradar “Feliz Ano Novo”. Na manhã seguinte, sentir-se-á muito mal e nem poderá lembrar-se de quão “feliz” esteve na noite anterior.

Rosh Hashaná é tão, tão diferente. Durante o mês que o antecede temos uma séria auto-análise a fazer para descobrir aquilo em nós que precisa ser mudado. Nos dias imediatamente antes de Rosh Hashaná recitamos preces adicionais invocando o perdão Divino. Tornamo-nos mais espirituais. Reafirmamos nossa bitachon, confiança em D’us, e nos tornamos mais seguros sabendo que Ele nos ajudará a fazer o que for melhor para nós. Se o ano findo teve seus contratempos, nossa emuná, nossa fé na benevolência Divina é o que nos dá condições de aceitá-los. Não temos por que deprimir-nos pelo ano que passou, podendo ter esperanças de sucesso no ano que se inicia. Não há por que afogar na bebida qualquer problema que seja.

Rosh Hashaná é uma ocasião serena, porém feliz. O Midrash ensina que devemos vestir-nos como para uma ocasião festiva e ter uma refeição festiva, confiantes de que seremos inscritos para um ano de vida. Despertamos na manhã de Rosh Hashaná com a cabeça leve, sentindo-nos bem de corpo e alma.

Nas orações de Rosh Hashaná dizemos: “Nosso Pai, Nosso Rei, inscreve-nos para um ano de vida saudável, de redenção e salvação, de sustento e apoio, um ano de merecimentos, de absolvição e de perdão”.

Em júbilo, cumprimentamo-nos uns aos outros com o desejo e prece “Que você seja inscrito para um ano bom”.

(Do livro “PRAYERFULLY YOURS”, a ser lançado nos Estados Unidos às vésperas de Rosh Hashaná pela Editora ArtScroll, que autorizou a publicação deste artigo em Morashá)

Traduzido por Lilia Wachsmann