A festa de Purim, que recorda a milagrosa salvação dos judeus da Pérsia, é celebrada no décimo quarto dia de Adar - neste ano, em 14 de março de 2006. É o dia mais alegre do calendário judaico. Aquele, segundo nossos sábios, em que devemos alegrar-nos mais do que em qualquer outra de nossas festividades. Segundo o Midrash, Purim nunca deixará de existir e ninguém está isento de sua observância - homens, mulheres e crianças.

A festa de Purim, que recorda a milagrosa salvação dos judeus da Pérsia, é celebrada no décimo quarto dia de Adar - neste ano, em 14 de março de 2006. É o dia mais alegre do calendário judaico. Aquele, segundo nossos sábios, em que devemos alegrar-nos mais do que em qualquer outra de nossas festividades. Segundo o Midrash, Purim nunca deixará de existir e ninguém está isento de sua observância - homens, mulheres e crianças.

Muitos pensam que Purim, por ser uma festa rabínica, instituída durante o período do Sanhedrin, não tenha grande importância, não estando à altura das festividades bíblicas. Não é como Pessach, que se caracteriza pela reunião da família no Seder. Também não se compara com Shavuot, que marca a Outorga da Torá, nem com Sucot que, para o Povo de Israel, é o símbolo e o auge da alegria. Purim não se iguala, com certeza, a Rosh Hashaná e, muito menos, a Yom Kipur. O que não sabem, porém, é que Purim tem sua particularidade e valor próprio. De fato, segundo o Zohar, esta festa é assim chamada por sua grande semelhança com Yom Ha-Kipurim (o dia de Kipur), o mais sagrado do ano. Este dia único, dedicado ao perdão, é assim chamado por que ele é *Ke-Purim, isto é, um dia "como Purim". Quando se fazem comparações, geralmente compara-se o menor com o maior. Resulta, então, que Yom Kipur é secundário em relação ao dia de Purim. É, apenas "como" Purim. A razão para tal é que em Purim podemos alcançar níveis espirituais mais elevados do que em Yom Kipur. Neste último, alcançamos a espiritualidade através da abstenção e do jejum. Já em Purim, o jejum é a preparação, ao passo que o objetivo é atingir níveis espirituais elevados festejando e se alimentando.

Analisemos as semelhanças entre Yom Kipur e Purim. Na véspera do primeiro, nos alimentamos para jejuar no dia seguinte. E como o jejum é o objetivo, preparamo-nos de véspera, alimentando-nos bastante conforme exige a lei. Em Purim ocorre exatamente o contrário: começamos com o "Jejum de Esther" - Taanit Esther, um dia antes de Purim - mas nosso objetivo é comer e festejar posteriormente. Partindo do princípio de que o objetivo sempre vem no final, nossa meta é o banquete de Purim. Yom Kipur, com toda sua seriedade e magnificência, é apenas "como" Purim.

Existe uma diferença significativa entre o judaísmo e as demais religiões. Muitas acreditam haver uma dicotomia entre físico e espiritual. Ensinam que para alcançar a espiritualidade e a luz, o homem deve obrigatoriamente se afastar das coisas físicas e materiais. O judaísmo nos ensina exatamente o contrário. É possível atingir níveis espirituais elevadíssimos exatamente através do físico, do material. O Rebe de Kotzk costumava afirmar que D'us não quer que o homem busque atingir o nível espiritual dos anjos, pois possui muitos anjos nos céus. O que Ele realmente quer é que o homem se santifique na terra, no mundo físico, elevando-se espiritualmente mediante seus atos.

A Torá nos ensina que os níveis mais elevados de santidade são atingidos através do mundo material. Comemos e bebemos em Purim para transformar estas atividades diárias e mundanas em algo sagrado. O objetivo não é apenas satisfazer desejos e saciar a fome; mas sim enquanto nos alimentamos santificar o Nome de D'us. Jejuar, quando se tem em mente apenas o mandamento Divino, é relativamente fácil. Bem mais difícil é comer e beber sem visar "proveito pessoal"; fazê-lo para obedecer um mandamento Divino e para, assim, elevar nosso físico e nossa matéria. A meta é transformar-nos em seres humanos elevados e espirituais. Isto, caros leitores, é Purim!

Relembrando os fatos

Celebramos em Purim a milagrosa salvação dos judeus da Pérsia, onde estes foram exilados após a destruição do Primeiro Templo. O nome da festa advém da palavra persa "pur", que significa "sorte". O infame ministro real, Haman, concebera uma forma de exterminar os judeus, realizando um "sorteio" para escolher a data mais propícia para executar seu plano diabólico. Mas, os judeus foram salvos do extermínio iminente pela rainha Esther, a heroína de Purim.

Após a morte de Vashti, sua esposa, o rei Achashverosh escolhe Esther, entre várias candidatas, para ser sua rainha. Quando Mordechai, tio de Esther, se inteira do fatal decreto que estava por se abater sobre os judeus persas, pede que ela interfira junto ao rei, tentando anulá-lo. A rainha Esther convida então Achashverosh e seu primeiro-ministro, o famigerado Haman, para dois jantares, nos quais revela ao rei sua verdadeira identidade e o maligno plano de Haman. Chocado, ao tomar conhecimento de que seu primeiro-ministro o fizera decretar o extermínio do povo judeu, o monarca ordena sua execução. Haman é imediatamente enforcado na própria forca que preparara para Mordechai, seu pior inimigo. E, assim, milagrosamente, salvavam-se todos os judeus.

A história de Purim foi registrada no livro chamado "Meguilat Esther". Em todo o Livro de Esther não consta nenhuma vez o Nome do Todo-Poderoso. Isto para nos ensinar que D'us estava encoberto e que tudo parecia acontecer por acaso, como por mera coincidência de fatos. O fantástico dessa festa é que o milagre não foi óbvio. Os acontecimentos ocorridos durante o reinado de Achashverosh se sucederam por mais de nove anos, tornando difícil associá-los a um único milagre. Somente alguém com a visão profética de Mordechai poderia perceber a Mão de D'us em todos os acontecimentos.

Ainda hoje recordamos o milagre de Purim de quatro maneiras: lendo a Meguilat Esther; enviando a amigos alimentos que devem estar prontos para consumo, os mishloach manot; alegrando os menos favorecidas mediante donativos de tsedacá, ao menos a duas pessoas; e, finalmente, participando de um banquete de Purim. Em outras palavras, um dos pontos principais da festa é a participação em uma refeição festiva, uma seudá. Para recordarmos este milagre somos obrigados a nos alegrar comendo e tomando vinho. O Talmud ordena que em Purim a pessoa beba vinho até que não consiga diferenciar entre "amaldiçoado é Haman" e "abençoado é Mordechai". É importante, no entanto, lembrar que o Shulchan Aruch - o Código de Leis - determina que esta esta mitzvá se aplique apenas àqueles que têm certeza que o seu comportamento não será alterado pela ingestão de bebidas, caso contrário, não é nenhuma mitzvá tomar bebidas alcoólicas. Portanto, se a saúde ou a conduta de uma pessoa forem afetadas negativamente pelo consumo de álcool, esta não deverá consumir mais do que uma quantidade simbólica.

Precisamos entender melhor a razão da importância atribuída ao alimento do corpo, em Purim. Haman não queria obrigar os judeus a abandonar sua fé. Sua intenção não era assimilá-los, mas dar-lhes um fim. Como seu decreto visava exterminar o "físico", para relembrar e comemorar devemos beneficiar o corpo, a parte física do homem, comendo e bebendo. Daí a diferença entre Chanucá e Purim. Em Chanucá, os gregos queriam atingir o espírito judaico, a alma dos judeus. Sua intenção era assimilar o povo, não exterminá-lo. Em Purim, por outro lado, o decreto de Haman era contra o físico, por isto institui-se relembrar a parte material. Nesse dia não recitamos o Halel, como é costume em Chanucá, pois o Halel é um canto de louvor a D'us, mais relacionado com a alma do que com o corpo.

Nossos votos para que se concretizem as palavras da Meguilá: "LaYehudim Hayeta Orah Vesimcha Vesasson Vikar - Para os judeus, houve luz, alegria, regozijo e honra!