Assim falou Yehoshua: “Sol, detém-te em Guibeon, e Lua, no Vale de Ayalon (...) E o Sol se deteve e a Lua parou (...) Não houve dia semelhante a esse, nem antes nem depois dele, em que o Eterno tivesse atendido à voz humana”. (Sefer Yehoshua)

Profeta e guerreiro, legislador e juiz, Yehoshua foi o principal discípulo de Moshé Rabeinu. Durante 40 anos permaneceu fielmente ao lado de seu mestre, servindo-o, acompanhando-o, absorvendo seus ensinamentos. Foi a Yehoshua que Moshé transmitiu a Lei Oral que recebera de D’us, no Sinai, incumbindo-o de preservá-la e transmiti-la aos anciãos, e estes, por sua vez, às gerações seguintes. Diz o Talmud que “o rosto de Moshé era como o Sol e o de Yehoshua como a Lua”, pois Yehoshua era o reflexo dos ensinamentos de seu mestre. Esta era a sua grandeza, a razão pela qual D’us o escolhera para dar continuidade à missão de seu antecessor, o maior profeta do Povo Judeu.

Caberia a Yehoshua liderar a geração que nascera no deserto durante a conquista da Terra de Israel e, a seguir, dividi-la entre as tribos de Israel. Ademais, ele teria que ajudar a moldar uma nova vida para os Bnei Israel, incutindo neles uma verdade fundamental: mantendo-se fiéis à Aliança com D’us e Sua Torá, o Eterno os abençoaria com vitórias e prosperidade. Durante os anos de conquista, ele revela ser um gênio militar, o maior estrategista de toda a história judaica. Considerado um rei, apesar de não ter sido coroado, ele possuía as qualidades de verdadeiro líder do Povo Judeu, que sob seu comando viveu dias de glória.

Poucas são as informações biográficas disponíveisna Torá sobre Yehoshua bin Nun. Apesar de podermos encontrar mais dados no Midrash e no Talmud, é no Sefer Yehoshua, o primeiro livro dos Profetas, que nos são reveladas sua personalidade e trajetória. A obra de sua própria autoria, com exceção do último trecho que relata sua morte, é, de certa forma, a continuação dos Cinco Livros de Moshé. Nela estão descritos os anos de conquista e assentamento do Povo Judeu na Terra Prometida. O Sefer Yehoshua especifica em várias ocasiões os limites da Terra que D’us prometeu a Israel.

“Antes que se pusesse o sol de Moshé, nasce o sol de Yehoshua”
 
Yehoshua, filho de Nun, nasceu no Egito, na tribo de Efraim. Não se sabe o nome de sua mãe nem há qualquer informação sobre sua família. A figura predominante, que mais vai influenciar sua vida, é Moshé, seu mestre. Até seu nome, “Yehoshua”, que, em hebraico, significa “D’us salva” ou “D’us salvará”, foi Moshé quem lhe deu ao adicionar a seu nome original, Hoshea, a letra yud, uma letra do Nome do Eterno. De acordo com o Targun Yonathan, a razão que levou Moshé a mudar-lhe o nome foi sua grande modéstia.

De estatura imponente e inteligência privilegiada, Yehoshua bin Nun era o melhor dentre os discípulos de Moshé. Nachmânides, Rabi Moshé ben Nachman, aponta a vocalização singular de seu nome na Torá, sugerindo que as duas palavras “bin nun” deveriam ser lidas juntas. O nome, cuja raiz vem da palavra hebraica biná, significa “aquele que compreende”, em respeito à sua aguçada inteligência.

Yehoshua entra repentinamente na história de nosso povo. Logo após a travessia do Mar Vermelho, quando os Filhos de Israel são atacados por Amalek, Moshé o incumbe de repelir o ataque: “Escolha alguns homens e saia à luta com Amalek; amanhã, estarei sobre o cume da colina com o cajado de D’us em minhas mãos”, diz-lhe (Êxodo,17: 9). De acordo com o Zohar, Moshé sabia que o combate seria realizado em duas frentes – na arena espiritual e no campo de batalha e que a vitória militar só poderia ser obtida se houvesse um triunfo na frente espiritual.

Yehoshua obedece sem hesitar e, apesar de inexperiente em combates, repele Amalek “com a lâmina da espada”. O futuro sucessor de Moshé revela ser corajoso, leal, confiável e, apesar de sua modéstia, um líder. Diz o Midrash: “Antes que se pusesse o sol de Moshé, nasce o sol de Yehoshua”, pois, como ensina o Talmud, um líder do Povo Judeu não deixa este mundo antes do Eterno ter prepara­do seu sucessor.

Durante os anos em que Israel permanece no deserto, Yehoshua estará sempre ao lado de Moshé, tão próximos e unidos como podem sê-lo discípulo e mestre. Diz a Torá que Yehoshua “não saía de dentro da Tenda da Reunião” (Ibid, 33:11), a tenda de Moshé. Estava presente quando o mestre falava com o Eterno, quando ensinava a Torá a Israel. Quando D’us ordena a Moshé que suba ao Monte Sinai para receber as Tábuas da Lei, é Yehoshua quem tem o privilégio de acompanhá-lo e o espera no sopé da montanha por 40 dias e 40 noites. Era também ele quem, segundo o Zohar, vigiava e protegia o Tabernáculo.

A primeira indicação de que Yehoshua sucederá Moshé ocorre alguns dias antes do fatídico episódio dos 12 espiões. Relata a Torá que o espírito da profecia pousará sobre dois anciãos – Eldad e Medad (Números11:26), e eles revelam que “Moshé morrerá e Yehoshua bin Nunirá sucedê-lo, e que será ele quem levará Israel à Terra Prometida e supervisionará sua distribuição”. As palavras dos dois anciãos abalam os judeus, à exceção de Moshé.

Quando Israel chega à fronteira da Terra Prometida, prestes a entrar, Moshé envia 12 homens – um líder de cada uma das Tribos – em uma missão de espionagem. (Ver artigo na  página 6). Entre eles estavam Yehoshua bin Nun e Caleb ben Yefune, em quem Moshé confiava. É nessa ocasião que Moshé muda o nome do discípulo para Yehoshua, para fortalecê-lo, como uma forma de empoderá-lo e também como prece para que “D’us o salve da trama dos espiões”.

Quarenta dias depois os 12 “espiões” voltam. Dez relatam que a Terra era grandiosa, mas que Israel não teria condições de a conquistar. O Povo Judeu entra em desespero “e chorou naquela noite”. (Números 14:3). Era a noite do nono dia do mês de Av do calendário judaico.

Apenas Yehoshua e Caleb mantiveram-se resolutos e confiantes. Eles tentam persuadir Israel, mas de nada adiantam suas palavras. Desapontado com a falta de fé de Seu Povo, o Eterno decreta que toda a geração que saíra do Egito, com mais de 20 anos – excetuando-se Yehoshua e Caleb – não entraria em Eretz Israel, devendo perecer no deserto. Durante os 38 anos seguintes o Povo Judeu perambulou no deserto, até perecer toda a geração que deixara o Egito.

Uma nova geração estava prestes a iniciar a conquista da Terra Prometida quando D’us diz a Moshé que nem ele nem Aaron entrariam em Canaã. Nosso profeta então pede ao Eterno que nomeie um sucessor, “um homem que sai adiante deles e que entre diante deles” (Ibid, 27:17) . Um líder que possa guiá-los com eficácia e vigor, grande amor e ilimitada devoção, alguém que conheça a natureza humana e possa lidar com as divergências de opinião de seus integrantes.

O Eterno responde à Moshé: “Toma para ti Yehoshua bin Nun”. Coloca tua mão sobre ele (...) diante de toda a congregação (...) E, darás de teu brilho a ele para que lhe obedeçam os Filhos de Israel”. (Ibid, 27:18 até 21). O Midrash compara a transmissão do esplendor de Moshé para Yehoshua à chama de uma vela que pode acender uma outra sem perder sua luz.

Ao receber uma parte do espírito de Moshé, Yehoshua, “cheio do Espírito da sabedoria”, torna-se condutor da Palavra Divina.Sentia-se, no entanto, indigno para assumir o lugar de Moshé, mas seu mestre o encoraja e lhe diz que quando D’us o encarregara de salvar o povo do Egito ele também tinha recusado, mas, “finalmente aceitei, e tu também aceitarás”.

Antes de deixar este mundo, Moshé instrui seu amado discípulo perante todo Israel: “Sê forte e corajoso porque tu entrarás com este povo à terra que o Eterno jurou a teus pais dar-lhes e tu os farás herdar. O Eterno é quem vai diante de ti, não te deixará, nem te abandonará, não temas”. (Deuteronômio, 31:6).

Yehoshua assume a liderança

A morte de Moshé afetara profundamente o Povo de Israel; aos pés do Monte Nevó a nação órfã estava enlutada. Yehoshua, inconsolável, esquece 300 preceitos e adquire 700 dúvidas. Mas passados os dias de luto o Eterno o sacode de sua dor: “Levanta-te, atravessa o Jordão, tu e todo o povo”. (Sefer Yehoshua, 1:2)

A missão da qual D’us incumbira Yehoshua era árdua. Ao entrar na terra de Canaã a vida do Povo de Israel passaria por uma mudança radical, pois terminariam os milagres sobrenaturais através dos quais D’us cuidara de seu Povo. Durante 40 anos o alimento descia dos céus, a água brotava de poços que surgiam onde quer que acampassem e uma nuvem os guiava. Mas, assim que entrassem na Terra teriam que lutar para a conquistar e se defender. Eles teriam que produzir seu próprio sustento, os Filhos de Israel passariam a levar uma vida normal, sem, no entanto, esquecer que a fonte de tudo é D’us.

O Eterno o encoraja, assegurando que ninguém irá resistir-lhe: “Todos os dias de tua vida, como fui com Moshé, serei contigo, não te desampararei e não te deixarei. Sê firme e corajoso, porque tu farás este povo herdar a Terra que jurei dar a teus pais”. (Ibid, 1:5). D’us lhe promete que irá prevalecer sobre as nações canaanitas e que nenhum dentre os Filhos de Israel irá desafiar sua liderança. A união da Nação Judaica em volta de seu líder era primordial para levar Israel à vitória. No entanto, adverte o Eterno, para ser bem-sucedido, ele não deverá se desviar dos mandamentos da Torá que Moshé transmitira a Israel e deverá zelar por seu estudo.

Entrando em Eretz Israel

Os Filhos de Israel, acampados em Sitim, em frente a Jericó, a leste do rio Jordão, estavam prestes a entrar em Canaã. A região era, na época, habitada por sete tribos que viviam em cidades fortificadas, cada uma governada por seu próprio “rei”.

A conquista de Jericó era de vital importância, pois dava acesso a toda Eretz Israel. Yehoshua envia, pois, Phinehas e Caleb para verificar as fortificações e o estado de espírito dos habitantes. Após se infiltrar até as impenetráveis muralhas de Jericó, eles se escondem em uma hospedaria situada junto aos muros.

O local pertencia a Rahav, uma cortesã de uma beleza extraordinária que lhes revela que os ajudava por saber que D’us prometera aquela terra a Israel e que ninguém podia lutar contra Sua Vontade. Phinehas e Caleb voltam ao acampamento com a informação que Yehoshua queria ouvir, de que “todos os moradores da terra estão aterrorizados diante de nós”. (Ibid, 2:24). O Povo Judeu estava prestes a voltar para a Terra que o Eterno prometera dar como herança a Israel.

Antes de atravessarem o rio Jordão, D’us revela a Yehoshua que Ele irá realizar milagres para “engrandecê-lo perante os olhos de Israel” (Ibid, 3:7) e consolidar a confiança do povo em seu novo líder. Os milagres seriam uma prova de que o Eterno estava com Israel.  Na manhã de 10 de Nissan, com a Arca Sagrada carregada pelos Cohanim, abrindo o caminho, o Povo de Israel chega às margens do rio. Relata o Livro de Yehoshuaque, quando “os pés dos Cohanim que carregavam a Arca, molharam-se  na beira da água (...) pararam as águas (...) e se levantaram verticalmente, como uma muralha”. (Ibid, 3: 15 e 16). O leito do rio secou em frente a Jericó e o Povo Judeu passou a pé, a seco, como fizera outrora no Mar Vermelho.

Em lembrança do milagre que D’us realizara para Seu Povo, 12 grandes pedras retiradas do local onde parou o fluxo do rio, por 12 homens – um de cada tribo – e foram levadas para Guigal. Lá foi erguido um monumento. Guilgal, a primeira parada de Israel no lado ocidental do Jordão, tornou-se a capital da nação durante os 14 anos seguintes.

No entanto, eles ainda não estavam prontos para tomar posse da Terra, pois precisavam cumprir dois mandamentos: o brit e o sacrifício de Pessach. No deserto, a maioria dos homens não fora circuncidada por causa das condições de vida e do clima árido da região. Yehoshua realiza então, uma circuncisão em massa e, no dia 14 de Nissan, os judeus oferecem o sacrifício pascal e celebram Pessach.

Logo em seguida, Yehoshua vai para os arredores de Jericó, onde se depara com um guerreiro com uma espada desembainhada na mão. Era um anjo, um “comandante do exército do Eterno”. De acordo com Rashi, era Michael, o anjo protetor de Israel, que o informa que viera para ajudar na conquista de Jericó, e lhe diz que o Todo Poderoso mobilizaria todas as Suas forças a favor de Israel.

A conquista dos Reinos do Sul

De acordo com o Talmud, durante sete anos Israel lutou contra os povos que habitavam na região, porém, no Livro de Yehoshua estão registradas apenas cinco de suas inúmeras campanhas militares: as conquistas de Jericó e Ai, a rendição dos guibonitas e as conquistas dos Reinos do Sul e do Norte.

O primeiro enfrentamento entre Israel e os povos de Canaã ocorreu em Jericó. A estrondosa vitória de Israel, no entanto, não foi o resultado de uma ação militar, pois D’us determinara que a cidade caísse de uma maneira milagrosa. O Todo Poderoso instrui Yehoshua como agir. No decorrer de sete dias todos os guerreiros de Israel, a Arca Sagrada e sete Cohanim tocando sete shofarim rodearam Jericó. O estrondo dos sons visava confundir e assustar os habitantes da cidade sitiada.   O número sete representa a presença de D’us na Criação, enquanto que a repetição da sequência desse número e a conseqüente queda das impenetráveis muralhas de Jericó seria uma prova de que Ele estava dando a Terra a Seu povo.

Nos primeiros seis dias o exército de Yehoshua, a Arca e os Cohanim deram uma única volta e os shofarim tocaram uma única vez. No sétimo dia rodearam a cidade sete vezes e os Cohanim tocaram os shofarim sete vezes. E, quando os Cohanim tocaram pela sétima vez os shofarim, Yehoshua diz ao povo: “Ao ouvir o último toque do shofar, gritai porque o Eterno vos deu a cidade”. (Ibid, 6:16). Ele ordena a destruição de Jericó com tudo o que contém, com uma única exceção – Rahav e todos os que se haviam abrigado em sua casa seriam poupados. Proíbe, também, saques. Os bens do inimigo deviam ser queimados, em oferenda a D’us.

E ainda adverte que se alguém violasse a proibição poria em perigo todo Israel.  Assim que se ouviu no vale o som de Israel, as muralhas de Jericó caíram e o povo, liderado por Yehoshua, conquista a cidade. Os próprios espiões resgataram Rahav e, segundo certas fontes, outras 260 pessoas que ela abrigara. Levada ao acampamento de Israel, ela se converte ao judaísmo e se casa com Yehoshua. Oito profetas, entre eles Jeremias e Baruch, descenderiam dessa união.

Sem dar descanso ao inimigo, Yehoshua decide atacar Ai, antiga cidade que dominava o planalto central. Mais uma vez, ele envia homens para averiguar o inimigo. Eles voltam com uma avaliação por demais otimista, afirmando não ser necessário que a nação inteira lutasse contra o próximo alvo. No entanto, a pequena tropa destacada para tomar Ai é facilmente repelida pelo inimigo e 36 judeus perdem a vida.

A derrota abala Israel. Yehoshua sabia que aquilo seria fatal para a moral de seus homens e fortaleceria o inimigo. Arrasado, pergunta à D’us por que Ele abandonara Seu Povo. O Eterno lhe responde que Israel pecara. O erro precisava ser corrigido e que enquanto não o fosse, a Presença Divina permaneceria afastada de toda a Nação.

Perante toda Israel o culpado e sua transgressão são revelados. Apesar de Yehoshua ter advertido de que nada poderia ser levado como despojo de Jericó, Achan, respeitado membro da tribo de Yehuda, apossara-se de alguns objetos. A ganância de uma única pessoa resultara na derrota de Israel. Punido o culpado e restabelecida a disciplina, Yehoshua planeja cuidadosamente um novo ataque a Ai. D’us lhe reassegura de que a derrota fora temporária e ordena que siga em frente. Mas teria que levar todos seus homens, pois a nação deveria permanecer unida.

Os arrojados planos de batalha de Yehoshua dão certo e Ai cai em suas mãos. A vitória reabilita o nome e a valentia do Povo Judeu e Yehoshua prova ser brilhante estrategista, além de um valente guerreiro.

A derrota na primeira batalha, no entanto, terá conseqüências, pois, para os canaanitas, era prova de que Israel não era invencível. Eles se unem para fazer frente a Yehoshua e seu exército.

Yehoshua faz parar o Sol
                      
Assim como determina a Torá, antes de dar início às conquistas, Yehoshua apresentara suas condições de paz aos inimigos. Em sua mensagem, afirmava que Israel se preparava para reivindicar sua herança, pedindo, “que partissem pacificamente ou que ficassem aceitando viver sob governo judeu”. Apenas uma das tribos optou por deixar a Terra; o restante decidiu ficar e lutar. Mas, vendo o avanço de Israel, um dos povos, os guibonitas, decidem romper a aliança dos reis canaanitas e fazer um acordo de paz com Yehoshua. Acreditando que o objetivo de Israel era aniquilar todos os povos de Canaã e que era tarde demais para aceitar as condições anteriormente oferecidas, fingem “vir de terras distantes” e fazem um acordo. Eles sabiam que Israel não romperia um compromisso ainda que feito sob falsos pretextos.

Enfurecidos com os antigos aliados, cinco reis canaanitas atacam Guibon, cujos habitantes pedem socorro a Yehoshua. Ao alvorecer do dia seguinte, ele surge com seu exército no alto dos montes que circundam a cidade sitiada. Tinham percorrido uma jornada de vários dias em apenas uma noite. Surpreendido, o inimigo entra em debandada. Os que não tombaram pelas espadas de Israel foram mortos por uma chuva de pedras que D’us lança sobre eles. A batalha ainda estava sendo travada quando Yehoshua agradece a D’us pelos milagres que acabara de realizar. Em seguida, perante toda Israel, proclama: “Sol, detém-te em Guibeon, e Lua, no vale de Ayalon”. (Ibid, 10:12). E, como relata o Livro de Yehoshua, “não houve dia semelhante a esse, nem antes nem depois dele, em que o Eterno tivesse atendido à voz humana”. (Ibid, 10:14). De acordo com o Pirkei de Rabi Eliezer, Yehoshua pediu pelo milagre porque já era sexta-feira à tarde e temia que a batalha fosse estender-se pelo Shabat, eele queria que o dia se prolongasse até Israel completar sua vitória. O milagre era mais uma prova de que D’us lutava ao lado de Israel.

Derrotados os cinco reis canaanitas, Yehoshua prossegue com suas conquistas. Planejamento cuidadoso, manobras ousadas e um espírito de camaradagem, solidariedade e auto-sacrifício vão conduzir Israel a mais e mais vitórias.

A conquista dos Reinos do Norte

Conquistado o sul de Eretz Israel, Yehoshua se volta para o norte. Ao contrário das guerras no sul, relativamente curtas, as do norte foram difíceis e levaram muitos anos, pois a aliança entre os reis do norte resultara na criação de uma poderosa força bélica, em número e mobilização. Mesmo assim não conseguiram fazer frente a Yehoshua e seus homens. Rápidos, audaciosos e imprevisíveis, eles surgiam do nada, surpreendendo o inimigo. Atacavam e derrotavam-nos, prosseguindo até dominar a maior parte de Canaã. Permaneceram em vários enclaves onde ainda habitavam outros povos, mas esses já não ousavam lutar contra Israel.

Yehoshua bin Nun foi o comandante ideal. Liderava seus homens à guerra gritando “Acharei” – “Sigam-me”. Seus homens lhe devotavam lealdade absoluta. Jamais Israel esteve tão unido quanto sob a sua liderança. Brilhante estrategista, ele permanece imbatível em termos militares. Seu nome consta no Hall of Fame da Academia Militar de West Point como o primeiro e maior estrategista e comandante de campo de nossa civilização. Suas campanhas militares são consideradas verdadeiros manuais de combate, e muitos generais contemporâneos admitem que, não fosse por algumas táticas de Yehoshua, muitas operações em seus países teriam fracassado.

A divisão da Terra

Após sete anos de lutas, D’us fez ver a Yehoshua que ele já estava velho para continuar combatendo. Chegara a hora de os “Filhos de Israel receberem sua herança na terra de Canaã”. O Eterno o instrui para distribuir a Terra entre o povo, mesmo os territórios que ainda não haviam sido conquistados, pois era importante que cada tribo soubesse o que era seu de direito.  Duas tribos e meio já haviam recebido de Moshé territórios conquistados no lado oriental do Jordão. A tribo de Levi  não receberia, como as demais,  um território específico, mas cidades espalhadas por toda Eretz Israel, pois sua herança era servir a D’us e ensinar a Torá ao Povo. A distribuição da Terra às outras tribos foi realizada por Yehoshua e Eleazar, o Cohen Gadol, na presença dos líderes de cada tribo, mediante sorteio, e consultando-se o Urim V Turim1, prova de que era D’us, Ele Próprio, Quem determinara qual porção pertencia a cada tribo.

Desde que haviam entrado em Canaã, o Tabernáculo estava em Guilgal, mas agora que o Povo estava-se assentando em sua Terra, era necessário erguer um centro espiritual e religioso. O local escolhido para erguer o Santuário foi Shiló, no território de Efraim, onde permaneceu por 369 anos.

Terminada a distribuição das terras, D’us diz a Yehoshua para estabelecer Cidades-refúgio, onde podiam-se abrigar indivíduos que cometessem assassinatos acidentais. E, em seguida, as cidades dos Levitas, num total de 48, incluindo as seis Cidades-refúgio.

E assim relata o Livro de Yehoshua: “E o Eterno deu a Israel toda a terra que jurara dar a seus pais, e a possuíram e habitaram nela. E o Eterno lhes deu descanso de seus inimigos em redor, conforme tudo quanto jurara a seus pais, e nenhum de seus inimigos ficou em pé diante deles.... Nada falhou de todas as coisas boas que o Eterno havia falado à Casa de Israel, tudo se cumpriu”. (Ibid 21:41-43)

A despedida de Yehoshua

E foi muito tempo depois que o Eterno deu descanso a Israel. Yehoshua chamou a todo Israel”. (Ibid 23:1). Ele sentia que se aproximava o fim de seus dias e que estava para deixar seu povo amado. Portanto, preocupado em preparar a nação para o futuro sem sua presença, convoca seu povo em duas assembléias. Na primeira ele exorta Israel a preservar a Torá e cumprir seus mandamentos. Ressalta que se concretizaram as promessas que Israel recebera do Eterno e que o povo testemunhara milagres. Diz que já havia distribuído todo o território da Terra e que cabia, então, aos judeus lutar pelo que era seu, podendo contar com a ajuda Divina. Diz-lhes que não devem temer sua morte iminente, pois D’us – e não ele – fora o responsável pelas vitórias de Israel. Seu sucesso não dependera dele, mas da lealdade do povo à Torá. Se eles continuassem fiéis a D’us e a Seus mandamentos, Ele os faria vitoriosos.

Caso contrário, os canaanitas lá permaneceriam, infligindo amargas consequências sobre eles. Ele sabia que os idólatras que viviam nas terras não conquistadas e aqueles que ainda habitavam entre os judeus constituíam uma ameaça. Exorta-os a serem fortes e guardar todos os mandamentos e prevenir-se contra as influências do meio-ambiente pagão. Yehoshua convoca a segunda assembléia em Shechem (Nablus) para despedir-se de seu povo. Narra-lhes toda a história de Israel desde os dias de Avraham, nosso patriarca, conclamando-os a permanecer firmes em seu pacto de obediência a D’us e à Torá. Entre suas palavras finais, ele os desafia: “Escolham, neste dia de hoje, a quem irão servir, pois eu e minha casa, serviremos a D’us!” (Ibid, 24:150). E todo o povo respondeu, sem hesitação: “Permaneceremos, para sempre, fiéis a nosso D’us e a nossa Torá!”.
Isso ocorreu no ano de 2516, no 26o ano de liderança de Yehoshua, e dois anos depois, aos 110 anos de idade, ele faleceria. O grande líder foi enterrado em sua propriedade, em Timnat-Serach, no monte Efraim.

O Livro de Yehoshua termina com um tributo à grandeza de Yehoshua, a “Lua”. O sucessor de Moshé cumprira plenamente sua difícil missão e, no final de sua vida, D’us a ele se refere com o título que havia conferido a seu mestre: “Servo do Eterno”.

Bibliografia:
Rabi Scherman, Nosson e Rabi Zlotowitz, Meir, The Rubin Edition of the Prophets: Joshua and Judges,
The Early Prophets - with a commentary anthologized from the Rabbinic writings, ArtScroll Series
Rabi Munk, Elie, The Call of the Torah, an anthology of interpretatios and commentary on the Five Books  of Moses, Ed. Mesorah Publications
O Livro de Josué com comentários do Rabino  Avraham Blau, Ed. Maayanot
Wiesel, Elie, Five Biblical Portraits, Ed. University of Notre Dame Press

1  Peitoral usado pelo Cohen Gadol, onde estava gravado o Nome de D’us e das Tribos. As respostas a questões levantadas eram transmitidas por letras que se iluminavam.