Dentre os maiores sábios de todos os tempos, é um dos poucos a quem nosso povo adicionou, ao nome, o aposto ‘Hacadosh’, o santo. Respeitado por seu conhecimento e o alcance de seus extraordinários dons espirituais, era tido como homem que realizava prodigiosos milagres.

Foi curta a vida de Rabi Chaim Ben Attar e, em grande parte, passada no Marrocos do século 18. Deixou este mundo com apenas 47 anos, mas mesmo assim foi imensa sua contribuição ao judaísmo. Cabalista, exegeta, talmudista e orador conceituado, é o autor da obra Or HaChaim, Luz da Vida, na qual explica as passagens da Torá utilizando-se de interpretações literárias, midrashim e explicações místicas mais profundas. Sua obra conquistou tamanha fama que, após sua publicação, ele próprio ficou conhecido como Or HaChaim Hacadosh. Dedicou a vida não apenas a estudar a Torá e a Cabalá, mas procurou ensiná-la a todos em sua volta. Sabia que o mero conhecimento não bastava; havia que disseminá-lo.

A extraordinária bondade e pureza de sua alma eram visíveis por quem dele se aproximava. Rabi Chaim Yossef David Azulay, o Chidá, um de seus discípulos durante os poucos meses em que o Or HaChaim Hacadosh viveu em Jerusalém, escreveu sobre o venerado mestre: "Sua santidade era a de um Anjo do Eterno". Havia momentos em que o rosto de Rabi Chaim refletia o êxtase de sua alma que acessava mundos superiores e recebia os mais profundos ensinamentos na Academia Celestial.

É interessante observar que as informações sobre a vida de Rabi Chaim Ben Attar nos chegam através de seu próprio testemunho e de seus contemporâneos, homens simples, rabinos e alunos que tiveram o privilégio de conviver com ele ou simplesmente conhecê-lo.

Sobre ele contam-se inúmeros fatos extraordinários, verdadeiros milagres. Como, por exemplo, ao ver o desespero de um judeu que, durante uma tempestade, perdera todo dinheiro que trazia consigo, o Rabi fez com que, por alguns instantes, o fundo do mar subisse até a superfície, permitindo que o homem recuperasse o dinheiro que sua família tanto necessitava. De outra vez, o governador de Salé ficara furioso com ele por não acatar sua vontade e ordenara que fosse jogado aos leões, mas quando os ferozes animais o viram, tornaram-se dóceis e se sentaram a seu redor. Ou de tempestades, em alto-mar, que subitamente cessavam quando Rabi Chaim orava e pedia a proteção Divina.

Sua vida, em Marrocos filho de Rabi Moshé, Chaim Ben Attar nasceu no ano de 1696, em Salé, ao norte de Marrocos. Banhada pelo oceano Atlântico, o rio Bu Regreg a separa de Rabat, capital imperial. Inúmeros judeus exilados da Espanha se estabeleceram na cidade, entre os quais os membros da família Attar, conhecida por ter trazido ao mundo grandes eruditos na Torá e na Cabalá.

Conforme o costume sefaradita, Or Chaim Hacadosh recebeu o nome do avô, Rabi Chaim, conhecido por sua erudição e grande generosidade. Os irmãos Attar - o velho Rabi Chaim e Rabi Shem-Tob, que tomava conta dos negócios da família em Meknés, eram abastados comerciantes. Isto, no entanto, não os impedia de se dedicarem ao estudo da Torá, usando grande parte de seus recursos para difundir o judaísmo.

Ainda criança, Rabi Chaim começou a estudar com o avô, de quem o jovem herdara não só o nome como as virtudes e prodigiosas aptidões, em especial a extraordinária assiduidade no estudo dos Livros Sagrados. Desde a infância, o jovem revelara os dons que o fariam um dos maiores sábios de sua geração: uma alma extraordinária e um profundo amor a D'us, aliados a uma mente privilegiada e a uma insaciável sede de conhecimento.

Os primeiros anos da vida do jovem Chaim foram de tranqüilidade e estudo, como ele os descreve na introdução de seu livro, Hefetz Hashem (O Desejo de D'us): "Estudei a Torá com meu avô, meu mestre, que era um grande rabino, respeitado, piedoso e humilde. Seu nome era Chaim Ben Attar. Desde que nasci, fui criado em seus joelhos e absorvi todas as suas maravilhosas palavras."

Quando Chaim tinha apenas 9 anos, iniciou-se em Salé mais um ciclo de opressão contra os judeus. A família Attar decide ir para Meknés, onde vivia Rabi Shem-Tob, irmão de seu avô.

Como no resto do Islã, a vida dos judeus estava à mercê dos governantes. Para piorar a situação, a instabilidade política era uma constante na história do Marrocos; períodos de paz eram seguidos por outros, de turbulência e matança. Passíveis de obediência a uma série de leis cujo rigor dependia do humor dos diferentes governantes, eram os judeus quem mais sofriam. O fanatismo religioso e, principalmente, a ganância eram os principais vetores das perseguições. Quando os cofres do Governo estavam cheios, os judeus eram deixados à sua sorte; na situação contrária, eram acossados, tendo que pagar impostos exorbitantes. Quando suas posses não o permitiam, eram perseguidos e seus bens, confiscados.

Não seria curta a estada do jovem Rabi Chaim em Meknés. Apesar de ter voltado a Salé acompanhando sua família, aquela volta não duraria muito tempo. Quando falece Shem-Tob, irmão de seu avô, o velho Rabi Chaim retorna a Meknés. Chamava-o seu senso de responsabilidade, que o impele a ajudar o sobrinho, Rabi Moshé Ben Shem-Tob Ben Attar, a consolidar os respeitáveis negócios da família. Com ele vai também o Or Chaim Hacadosh. Não queria separar-se do mestre.

Em Meknés, o jovem se dedica integralmente a estudar Torá e Cabalá. Quando chega o momento de escolher uma noiva, é seu avô e mentor quem escolhe Patsonia, sua prima, filha de Rabi Moshé Ben Shem-Tob. Homem de grandes posses, conselheiro do sultão, a casa de Rabi Moshé era sempre aberta aos necessitados. E, para incentivar o estudo da Torá, financiava a impressão de livros judaicos e garantia o sustento a quem quisesse dedicar a vida a ensinar o judaísmo.

Os dois jovens se casam e, sem ter que se preocupar com a manutenção de sua nova família, o Or Chaim Hacadosh continua a estudar e lecionar. Esse período de calma permite que se desenvolva sua personalidade e dons espirituais. Apesar de ainda jovem, suas opiniões e deliberações são respeitadas por todos. É nessa época que começa a escrever os livros que o tornariam famoso em todo o mundo judaico.

A tranqüilidade acaba bruscamente quando as autoridades, há muito de olho na riqueza de Rabi Moshé, prendem-no sob falsas acusações e o condenam a pagar pesada multa. Abalado fisicamente, Rabi Moshé falece ainda jovem. Os acontecimentos provocam uma reviravolta na vida do Or Chaim Hacadosh, pois a magnífica casa de Rabi Moshé é confiscada pelo governo e o restante de seus bens são objeto de litígio entre os herdeiros. Rabi Chaim acaba sem nada e decide voltar a Salé.

Uma vez de volta à cidade, reabre a ieshivá fundada pelo avô, o velho Rabi Chaim, então já falecido. Também trabalha algumas horas por dia como ourives e tecelão, em fios de ouro e prata. Aprendera o ofício, na adolescência, para um dia não ser obrigado a depender dos outros. Extremamente habilidoso, o que ganhava lhe garantia sustentar a família, os alunos e ainda lhe permitia ajudar muitos pobres da cidade. Sua casa, assim como seu coração, era aberta a todos que precisassem, havendo sempre convidados à sua mesa. Toda sexta-feira matava um boi para distribuir carne aos alunos e aos necessitados.

Sua fama de grande mekubal, assim como de grande erudito e talmudista, se espalhara além das fronteiras do Marrocos. Seu desejo era viver em tranqüilidade para se consagrar completamente à Torá, mas este parecia um sonho cada vez mais difícil de alcançar. Após a morte do Sultão Moulay Ismaël, em 1727, a anarquia toma conta do país e a situação dos judeus marroquinos torna-se muito precária, sendo comunidades inteiras arrasadas. Rabi Chaim descreve em detalhe a perseguição contra seus irmãos, a crueldade das autoridades islâmicas, que lhes tiravam tudo o que possuíam: dinheiro, comida, roupa e até a vida.

Seu desejo de ir para Eretz Israel foi aumentando, mas não queria iniciar a grande jornada sem receber um sinal dos Céus. Alguns dias após o falecimento de um dos grandes sábios de Marrocos, este lhe aparece em sonho para responder à pergunta que Rabi Chaim Ben Attar lhe formulara, logo após sua morte, ao pé do ouvido, ao se aproximar do corpo: "Nos Céus havia sido decretado que o Or Chaim Hacadosh teria o privilégio de se instalar em Eretz Israel".

Jornada rumo a Eretz Israel

Após ter recebido a esperada confirmação espiritual, Rabi Chaim deixa Salé, iniciando uma jornada longa e perigosa rumo a Jerusalém, na qual enfrenta graves perigos e testemunha grandes milagres.

Vai a Meknés e, em seguida, a Fez, onde permanece alguns anos totalmente dedicado aos estudos sagrados e místicos. Ainda estava em Marrocos quando da publicação de seu livro de comentários sobre a Guemará, Hefetz Hashem, em 1732.

Em 1738, uma grande carestia se abate sobre Fez, matando milhares de habitantes. Os judeus deixam a cidade, com medo de um ataque dos vizinhos. Uma dor intensa toma conta de Rabi Chaim ao ver o sofrimento de seu povo. Estava cada vez mais convencido de que só havia um lugar onde o Povo Judeu poderia viver em paz - Eretz Israel. Percebe ter chegado a hora de deixar o Marrocos, o que faz acompanhado da família e de dois alunos.

Na introdução da obra Or HaChaim, descreve esse momento: "Desde que Hashem me iluminou, nada mais me resta fazer a não ser me erguer e ir para o lugar que não me sai do pensamento - lá onde paira a Shechiná, a louvada e amada Cidade do Eterno ... Armei-me de toda a coragem e afrontei grandes perigos no caminho para chegar ao país pelo qual ansiava, o local puro e santo, Eretz Israel..."

Assim que chega à Argélia, é aprisionado pelas autoridades muçulmanas, sem motivo algum, e condenado a morrer na fogueira servindo de espetáculo para o populacho. Mas, no dia da execução, seus algozes encontraram a cela vazia. Correu o boato, na cidade, de que o Rabi conseguira escapar graças a seus poderes sobrenaturais. Mas, na realidade, na noite anterior, com a ajuda Divina e grande dose de coragem, um de seus alunos tinha conseguido entrar em sua cela, ajudando-o a fugir. Após se esconder nas montanhas, Rabi Chaim chega à capital, Argel, onde é recebido com grandes honras pela comunidade local e pelos Rabinos Itshak Chouraqui e Yéhouda Ayache, grandes admiradores de sua obra.

No ano de 1739 Rabi Chaim embarca em um navio, rumo a Livorno. A comunidade judaica desta cidade italiana era próspera, havendo, entre seus mais proeminentes membros, muitos judeus da África do Norte. Era também um dos grandes centros de impressão de livros judaicos.

O objetivo de Rabi Chaim, em Livorno, era levantar recursos para publicar seus dois livros e fundar uma ieshivá em Jerusalém.

Livorno

Após turbulenta travessia pelos mares, Or Chaim Hacadosh chega a Livorno. Foi acolhido com grandes honras e calor humano. Sua reputação de Gaon e grande Tzadik o haviam precedido, bem como o relato de seu sofrimento e as dificuldades pelas quais passara. Os judeus de Livorno queriam proporcionar-lhe todo o conforto e tranqüilidade.

Durante o tempo em que lá permaneceu, passava os dias imerso nos estudos ou lecionando para o grande número de alunos que o procuravam. Exímio orador, costumava proferir palestras diante de grandes multidões que acorriam para ouvi-lo.

Logo encontrou filantropos dispostos a publicar suas duas obras - Pri Toar ("Belo fruto"), um comentário sobre uma das partes do Shulchan Aruch, o Yorê De'á; e o famoso trabalho Or HaChaim. Neste, Rabi Chaim explica as passagens da Torá utilizando-se dos quatro métodos de exegese: pshat - o significado literal do Texto Sagrado; remez - o significado figurativo, o ensinamento insinuado contido em cada palavra; drush, o significado interpretativo e homilético; e sod -o significado esotérico e místico, popularmente chamado de Cabalá.

Seu livro foi entusiasticamente aceito tanto por sefaraditas e asquenazitas quanto pelo Movimento Chassídico. Conta-se que o Baal Shem Tov, seu contemporâneo, se alegrou quando recebeu uma cópia do Or HaChaim recomendando a seus discípulos que o estudassem atentamente.

Enquanto supervisionava a impressão de seus trabalhos, Rabi Chaim se preparava para a grande partida para Eretz Israel. Para fundar sua ieshivá em Jerusalém, precisava arrecadar fundos e discípulos dispostos a seguirem-no, juntamente com suas famílias. Nessa mesma época, recebe a notícia de que Rabi Chaim Aboulafia, de Ismirna, deixara a Turquia para estabelecer uma nova comunidade judaica na Galiléia, após séculos de desolação na região.

Conseguindo os recursos e os discípulos para acompanhá-lo na grande jornada, o Rabi decide iniciá-la. Era o outono europeu de 1741 quando a embarcação, com Rabi Chaim e sua comitiva de 30 pessoas a bordo, deixa Livorno. Após uma parada em Alexandria, no Egito, o navio segue viagem até Jaffa e, de lá, para Jerusalém.

Quatro dias antes de Rosh Hashaná, Or HaChaim Hacadosh chega à Terra de Israel, mas, devido a um erro do capitão, o navio aporta em Acre e não em Jaffa. O engano foi uma bênção, pois uma epidemia assolava Jerusalém e Jaffa. Acompanhado de seus discípulos, Rabi Chaim passa Yom Kipur na caverna de Eliahu ha-Navi, no Monte Carmel, em Haifa. Os judeus de Haifa se juntaram ao grupo e vivenciaram uma exaltação espiritual jamais vista. Na hora da Neilá perceberam uma grande Luz no local onde, de acordo com a Cabalá, o profeta Eliahu invocara a D'us (Reis, 1: 18). E aquela Luz se estendia até a Tebá onde orava o Or Chaim Hacadosh.

Rabi Chaim adotou o costume de periodicamente visitar, junto com os discípulos, os túmulos dos Tzadikim, dos Tanaim e dos Amoraim enterrados em Tzfat, Tiberíades e nos vilarejos da Galiléia. Conta-se que foi tomado de grande emoção ao avistar o túmulo de Rabi Shimon bar Yochai, no alto da colina, quando se aproximava de Meron. "Como é possível que eu, que nada sou, possa pisar neste lugar em fogo, onde reside a chama do Santo, Bendito Seja, e de Sua Shechiná, agora que toda a Corte Celestial e todas as almas dos Tzadikim aqui estão reunidas!"

Chegando em Tzfat, é recebido com entusiasmo. Durante sua estadia estuda o Zohar no Beit Midrash de Rabi Joseph Caro, onde, segundo a tradição, havia rezado Rabi Itzhak Luria, o Arizal. Em Tiberíades, Rabi Aboulafia o exortou a se instalar na cidade para dirigir a recém-criada kehilá, mas Rabi Chaim declina, pois seu propósito era chegar a Jerusalém e lá fundar sua própria ieshivá. No dia 15 de Elul de 1742, Rabi Chaim finalmente chega à Cidade Santa. Sua emoção, profunda e arrebatadora, é revelada em uma carta em que descreve com grande entusiasmo seu primeiro Yom Kipur em Jerusalém. "Vi uma luz vibrante no momento do Kol Nidrei (...) e quando abri o Hechal foi para mim como se os portões do Gan Éden estivessem abertos, de par em par, diante de mim. Era tamanha a luminosidade na sinagoga, os fiéis se desdobrando em súplicas, chorando copiosamente em seu desejo de ver reconstruído o Templo... Creiam-me, em toda a minha vida jamais vira tamanho esplendor".

Sem perder tempo, fundou uma ieshivá que chamou de Knesset Yisrael e mais outra, secreta, para o estudo da Cabalá. Tão logo chega à cidade, encontra em Rabi Chaim Yossef David Azulay, conhecido como Chidá, um de seus mais devotados discípulos. Em seu livro Chem Haguedolim, "São eles os grandes", o Chidá assim descreve seu mestre: "E eu, o jovem, tive o grande mérito de fazer parte de sua ieshivá, meus olhos puderam ver a grandiosidade de sua Torá, sua sutileza extrema, sua extraordinária santidade... O Rav tinha uma pujança interior impressionante no estudo... Percebe-se sua sabedoria em seus escritos, mas nada disso representa mais que um décimo de sua profundidade, da grandeza de seu coração e de sua inteligência excepcionalmente afiada. O tempo todo pairava sobre ele um espírito de santidade e de desprendimento deste mundo, bem como uma força espiritual fora do comum". O prestígio e fama de Rabi Chaim fizeram com que sua ieshivá atraísse um número crescente de alunos.

Nos meses em que viveu em Jerusalém, Rabi Chaim rezava freqüentemente no Kotel, diante do Beit Hamicdash, como costumava dizer. E, segundo a tradição, teria surgido com ele o costume de colocar "bilhetinhos" nas frestas das pedras do Muro pedindo ajuda e proteção Divina. Há várias histórias sobre pessoas que o procuravam buscando auxílio e recebiam um pequeno pedaço de papel dobrado, com a recomendação de que o colocassem sem demora em uma das frestas do Muro Ocidental. No papel, o Or Chaim Hacadosh implorava a D'us para que concedesse Sua Divina bênção ao suplicante.

Em Jerusalém, Rabi Chaim não mediu esforços em seu desvelo para atingir níveis cada vez mais altos de espiritualidade. Envolto em seu Talit, sempre com os Tefilin colocados, passava dias estudando e orando na companhia dos alunos. Ademais, rompendo com a tradição à época, apenas se expressava em hebraico, Lashon haCodesh, o idioma sagrado. Não parou de escrever, sendo desta época sua obra Rishon Letzion, Al Neviim V'Ketuvim, um comentário sobre os Profetas, as Crônicas e sobre alguns tratados do Talmud.

Em seu último ano na Terra, nosso mestre passou acordado toda a noite de Hoshaná Rabá, recitando o Tikun. Os discípulos viam seu rosto brilhar como a luz do sol, enquanto ele mais parecia um anjo vestido de branco. Mas, ao chegar a meia-noite, o Or Chaim Hacadosh voltou a seu quarto, despiu as vestes brancas, trocando-as por pretas, e se prostrou estendido no chão, chorando amargamente. Assim permaneceu até a hora da oração matinal. Concluída esta, voltou a seu quarto e novamente se estendeu no chão, assim ficando até Shemini Atzeret. Novamente coloca as vestes brancas. Ao término das festas, seus discípulos lhe perguntaram o porquê daquele comportamento. Ele respondeu que rezara com toda a alma pela vinda do Mashiach e que suas orações haviam sido aceitas. Mas , revelou Rabi Chaim, "quando o Anjo da morte viu que o mal estava a ponto de desaparecer, canalizou todas as suas forças para conduzir o mundo inteiro ao erro, e o conseguiu a tal ponto que causou um revertério, fazendo, ao contrário, com que fosse decretada a destruição". Sendo avisado pelos Céus do ocorrido, entregara-se à oração, implorando para que o peso do decreto recaísse unicamente sobre sua pessoa.

Tanto o Chidá como o Baal Shem Tov acreditavam que Rabi Chaim fosse o Mashiach daquela geração. Segundo a tradição chassídica, o Baal Shem Tov tentou, em vão, ir a Eretz Israel, pois acreditava que se conseguisse se juntar ao Or HaChaim Hacadosh, juntos poderiam trazer a esperada Era Messiânica.

Rabi Chaim não pôde viver muito na Jerusalém com a qual tanto sonhara. Nem um ano transcorrera desde que se instalara na cidade, quando, no dia 15 de Tamuz de 1743, um sábado à noite, com apenas 47 anos de idade, ele é chamado desta sua moradia terrestre. Quando sua alma deixou seu corpo, seu contemporâneo, Rabi Haim Aboulafia, em Tiberíades, perdeu os sentidos em meio à oração, ficando desacordado durante meia-hora. Ao voltar a si, revelou ter acompanhado o Or HaChaim Hacadosh até os portões do Gan Eden.

O Baal Shem Tov terminara de lavar as mãos para a terceira refeição de Shabat. De repente, diz a seus discípulos: "Apagou-se a Luz do Oriente". E após o término do Shabat, completou: "O Tzadik do Oriente, Rabi Chaim Ben Attar, deixou este mundo". O Baal Shem Tov explicou que havia uma razão secreta para o ato de netilat iadaim, a ablução das mãos, que apenas era revelada a uma pessoa, em cada geração. E, Rabi Chaim era essa pessoa. Portanto, quando ele próprio, o Baal Shem Tov, ao lavar as mãos para a terceira refeição de Shabat, teve subitamente o segredo revelado, soube, de pronto, que a "Luz do Oriente" se extinguira.

Rabinos de Jerusalém relatam, em missivas, que no dia que o Or Chaim Hacadosh deixou este mundo terrestre ... "todo o país se pôs a chorar, os Anciãos de Sion prostrados por terra, suas lamentações respondidas com lágrimas ...".

Rabi Chaim Ben Attar foi enterrado fora das muralhas da Cidade Velha de Jerusalém, no Monte das Oliveiras. Seu túmulo é visitado por milhares de judeus, principalmente no dia 15 de Tamuz, dia de sua Hilulá*, para orar e pedir que o Or Chaim Hacadosh interceda por eles nos Céus. Isto porque, como ensinam nossos Sábios, mesmo ápos ter deixado sua moradia terrestre, a alma de um Tzadik ascende a níveis espirituais mais elevados, fortalecendo-se ainda mais no aniversário de seu falecimento. Portanto, é um dia propício para pedir que o Tzadik interceda perante D'us em favor de quem roga e de todo Povo Judeu.

Antes da Guerra de Seis Dias, em 1967, os jordanianos tinham controle sobre o cemitério onde jaziam os restos de Rabi Chaim. Para abrir uma nova estrada, esse campo santo foi sendo destruído por tratores. Mas, quando um destes tocou o túmulo do Or HaChaim Hacadosh, tombou. Os jordanianos tentaram uma segunda vez e o trator novamente capotou. Após outras tentativas, acabaram desistindo e o túmulo do Grande Tzadik permaneceu intacto.

* Hilulá - segundo costume judaico, dia dedicado à memória de um Tzadik, o dia de seu falecimento, quando o mesmo é pranteado com peregrinações ao seu túmulo e orações. Costume especialmente difundido entre os judeus do Marrocos.

Bibliografia:

· Artigo do rabino Yehoshua Ra'hamim Dufour, "Le Rav 'Hayim ben Attar, dit le Or ha 'Hayim ha Qadoche, publicado no site http://www.modia.org/

· Hassan, Abraham, Or Ha'Haim Ha'Kadoch,la vie de Rabbi 'Haim Benatar, publicado em Bnei Barak,1993

· "Rabbi Haïm Ben Attar 'Orh Hahaïm Hakadoch', publicado no site http://hevratpinto.org/