‘A carruagem celestial consistia de três rodas - Avraham, Yitzhak e Yaacov. O santo, bendito é ele, adicionou-lhe o rei David, como quarta roda, e a carruagem celestial assim se completou...’ (do Zohar, o livro do esplendor)

Quem foi maior que o rei David, pergunta o Zohar? Líder carismático, valente guerreiro com coração de leão, amigo leal, teve a vida marcada por inabalável fé em D'us. Lutou e venceu muitas guerras, tanto militares como pessoais. De simples pastor, tornou-se o maior rei na história do Povo de Israel, fundando a única dinastia judaica real legítima, que só voltará a reinar com a vida do Mashiach, seu descendente direto. No entanto, não foi como guerreiro e nem mesmo como rei que David conquistou o coração de nosso povo e inspirou grande parte da humanidade. David é celebrado, acima de tudo, pelos Salmos que compôs.

É lembrado por todo o sempre como o "doce poeta de Israel".

Apesar das vitórias e das glórias alcançadas, em todo o Tanach não há quem tenha sofrido tanto e por tanto tempo quanto David. Ninguém foi tão incompreendido, traído e perseguido quanto ele; mas, por outro lado, ninguém soube, como ele, transformar seu sofrimento em cânticos de louvor a D'us. Mais da metade do Livro de Salmos, o Sefer Tehilim, foi composto por David. Muitos são súplicas a D'us compostas em seus momentos mais difíceis. A vida do maior Rei de Israel se tornou símbolo da história de seu povo - o exílio, as perseguições, as lutas, os triunfos. Sua história espelha a nossa, suas palavras e súplicas tornaram-se as nossas.`

A Cabalá ensina que David foi a personificação da Malchut, a última Sefirá. Cada Sefirá é um canal espiritual pelo qual D'us interage com o mundo, transmitindo Energia e Plenitude Divina. Quando as demais Sefirot, entre as quais generosidade, justiça e verdade, são atraídas de forma adequada para o mundo - fruto do comportamento adequado do homem - o resultado é a Malchut.

Conseqüentemente, tendo personificado este Atributo Divino, David não poderia ter sido nada menos do que um grande guerreiro espiritual, cuja missão na vida foi a de transmitir uma maior consciência espiritual, mesmo nas lutas do simples cotidiano. Neste artigo, abordaremos a primeira parte da vida de David: seus primeiros anos e sua unção pelo profeta Samuel como o escolhido por D'us para se tornar Rei de Israel, sua memorável vitória contra o gigante Golias, seu difícil relacionamento com Shaul e sua ascensão ao trono de Israel.

Os primeiros anos da vida

A figura do rei David fascina a todos. Ele é personagem central e herói de grande parte dos Livros de Samuel, Reis e Crônicas, e mais está escrito sobre ele do que sobre qualquer outra figura do Tanach. Ele, cujo nome literalmente significa "querido" ou "amado", nasceu e faleceu em Shavuot, a data em que comemoramos o recebimento da Torá. De acordo com Rabi Yitzhak Luria, maior cabalista de todos os tempos, David, mesmo antes de seu nascimento, fora preparado para a grandeza que lhe tocaria.

Revela o Midrash que Adão, após ter falhado no episódio do fruto proibido, procurou uma alma especial que pudesse enaltecer a D'us e trazer a perfeição de volta ao mundo. Encontrou a alma de David, mas descobriu que esta estava destinada a viver somente 3 horas. Ele pede, então, a D'us, que lhe fosse permitido doar 70 anos de sua vida a David. O Eterno concordou e Adão, que estava destinado a viver 1.000 anos, viveu 930: os outros 70 anos foram os anos de vida do maior rei na história de Israel. Referindo-se a David, Adão proclamou ao Criador: "Mestre do Universo, a este, que é tão lindo, presenteio, com soberania e cânticos de louvor, oferecendo-lhe 70 anos de vida, para que durante todos esses anos, possa cantar louvores a Ti".

O mais novo de oito irmãos, David nasceu em uma família proeminente e abastada, no ano de 907 a.E.C., 2854 do calendário judaico, em Beit Lechem, na Terra de Judá. Era filho de Yishai, que, por sua vez, era neto de Boaz, décimo juiz de Israel, e de Ruth, a moabita. Yishai era descendente de Nachshon ben Aminadav, o príncipe da tribo de Yehudá. Homem de conduta impecável, Yishai era o líder espiritual de sua geração e presidia o Sanhedrin, Corte Suprema judaica. Sua esposa, mãe de David, foi Nitzevet bat-Adel.

A juventude de David foi marcada pela solidão e introspecção. Vivia afastado de todos, inclusive de seus familiares, passando seus dias no campo, orando, meditando e cuidando dos rebanhos de ovelhas do pai. David, como o patriarca Yaacov e o profeta Moshé, que o precederam, era pastor. Enquanto pastoreava, adquiriu o hábito de meditar e admirar a Criação Divina, aproximando-se cada vez mais de D'us. Ao contemplar o céu, a lua e as estrelas, transbordava seu amor pelo Criador e por todas as Suas criaturas, sentimentos que tão bem soube capturar nos Salmos que compôs. O Zohar afirma que, como Moshé, David cuidava com carinho de cada uma das ovelhas de seu rebanho, portanto, um dia haveria de cuidar do rebanho de D'us - os Filhos de Israel - assim como o nosso maior líder e profeta.

Profeta Samuel unge David

A ascensão de David se inicia durante o reinado do primeiro Rei de Israel, Shaul. Apesar de ser homem de grande valor e virtude, Shaul desobedece uma ordem direta de D'us, que teria graves conseqüências para as futuras gerações de judeus. O erro de Shaul marca o começo da derrocada de seu reinado. D'us decide que chegara a hora de ungir um descendente da tribo de Yehudá. E, assim como Jacob profetizara em seus últimos momentos nesse mundo terreno, ao abençoar seu filho Judá, uma vez que a tribo de Yehudá chegue ao trono, "o cetro dela não se afastará" - e reinará para todo o sempre sobre Israel.

O Eterno revela ao profeta Shmuel que escolherá para sucessor de Shaul... "um rei para Mim Mesmo" (Samuel 1-16:1), alguém que obedeça sem titubear à Palavra Divina. E o incumbe da dolorosa missão de ungir um novo rei com Shaul ainda em vida, ordenando-lhe ir a Beit Lechem. Ao chegar à cidade, o profeta não revela o verdadeiro motivo de sua presença, mas convoca os anciãos e pede a Yishai que traga seus filhos. Todos eram altos, fortes e bonitos, mas D'us informa ao profeta que, apesar de todos terem aparência condizente com um rei, nenhum deles era o escolhido, ensinando a Samuel que "o homem enxerga o que seus olhos vêem, mas D'us enxerga o coração".

Samuel pergunta a Yishai se ele tinha mais outro filho, sabedor de que um deles seria o novo Rei de Israel. Yishai responde que sim; o caçula, de 28 anos de idade, retraído e modesto, que ficara para trás, apascentando o rebanho de ovelhas.

David era homem formoso e bonito, cuja aparência física era digna de um Rei de Israel. Mas, ao se apresentar perante Samuel, alarma-o. O jovem era ruivo, o que fez o profeta recear que tivesse temperamento violento, sanguinário, como o ruivo Esaú, irmão de Yaacov. Mas D'us tranqüiliza o profeta: "Este é diferente, tem lindos olhos".

Afirma o Zohar que os olhos azuis de David eram uma mistura de todas as cores.

Todas as cores do mundo nele reluziam, não havendo outros olhos, em todo o mundo, que vissem tão bem quanto os dele...

Samuel unge David como Melech Israel, Rei de Israel.

As gotas do azeite derramado sobre sua cabeça endurecem e brilham como pedras preciosas, como que a formar uma coroa em sua fronte. Mas, isto não significava que David já era rei; mas que D'us o escolhera para, no devido tempo, ser o próximo Melech Israel.

Assim que David foi ungido, o Espírito de D'us, que estimula os homens a realizarem grandes atos, repousou sobre o filho de Yishai, agraciando-o com maior força física, coragem e espírito profético. David se tornou o principal discípulo de Samuel. Ele sentiu que uma nova alma despertara dentro de si e isto o inspirou a compor e cantar mais e maiores louvores a D'us. Seus Salmos e sua música se espalharam pelas colinas de Judá.

Apesar de ter sido ungido rei, David não se torna orgulhoso. Retorna aos campos e a seu rebanho, à espera do dia em que o Chamado Divino o conduziria ao trono de Israel. Porém, o instante em que David foi ungido, o Espírito Divino, que nele já repousava, retira-Se de Shaul. O vazio deixado por este afastamento causa uma profunda mudança em sua personalidade. Shaul passa a ser afligido por períodos de profunda melancolia e intensa depressão. Os homens que o serviam, preocupados, buscam alguém para alegrar a alma do Rei. Doeg, um de seus mais próximos conselheiros e um dos grandes eruditos da época, lembrou que "um filho de Yishai, David, sabia tocar, era valente e guerreiro; homem prudente nas palavras e de boa aparência; que tinha D'us a seu lado e sucesso em tudo o que fazia". Segundo o Talmud, eram sinistras as intenções de Doeg. Como suspeitava que David, da tribo de Yehudá, podia ter sido o escolhido para futuro Rei de Israel, sutilmente incute na mente de Shaul que o jovem pastor lhe representava uma ameaça. Esta dúvida passará a atormentar Shaul e será a causa de muito sofrimento.

Shaul manda buscar David, que a todos prontamente encanta. Quando a melancolia se apossava do Rei, o toque de sua harpa e a voz do jovem aliviavam sua depressão e maus pensamentos. Shaul passa a amá-lo e pede a Yishai que deixe o filho, David, viver na corte, ocupando o posto de carregador de armas - um posto importante com status ministerial. O jovem, no entanto, sempre voltava para casa para cuidar do rebanho do pai.

Mas, repentinamente, David se torna o centro das atenções de Israel quando enfrenta o campeão dos filisteus, o gigante Golias.

David e Golias

Apesar de derrotados por Shaul, os exércitos filisteus invadem o território de Judá e acampam entre Sokho e Azeka. Para enfrentá-los, as forças de Israel acampam ao norte do vale de Eilá. Duas vezes ao dia, Golias, arrogante guerreiro de 3 metros e meio de altura, dirige-se até o meio do vale que separava os acampamentos dos filisteus e dos judeus, em provocação a Israel. Acusava-os de covardia e, como se julgava invencível, desafiava os guerreiros judeus: "Dai-me um homem com quem lutar. Se ele conseguir acabar comigo, seremos vossos servos. Porém, se for eu o vencedor, sereis vós os nossos servos" (Samuel I-17: 9-10).

O rei Shaul prometera que o homem que tivesse a coragem de enfrentar e derrotar o gigante filisteu seria regiamente recompensado e se casaria com sua filha. Os soldados de Israel, no entanto, temiam o enfrentamento com o gigante e o próprio rei Shaul, outrora grande e destemido guerreiro, enfraquecera após o Espírito Divino dele se ter afastado.

David, que então se encontrava em Beit Lechem, não sabia das provocações dos filisteus.

Mas quando foi até o acampamento do exército de Shaul, para levar as provisões que seu pai enviara a seus irmãos, em armas, viu Golias aproximar-se e impunemente insultar Israel, como vinha fazendo há quarenta dias. David sabia que o gigante precisava ser derrotado - o desafio lançado pelo filisteu não era uma simples confrontação tática, mas um desafio à própria fé de Israel no Todo Poderoso. O jovem se oferece, então, para enfrentar Golias e o Rei, avisado de suas intenções, demonstra preocupação. David, percebendo que Shaul perdera sua força espiritual, declara que sua vitória sobre Golias não dependia de força ou proeza, mas de fé em D'us. E, assim como D'us o ajudara quando os animais selvagens ameaçavam devorar suas ovelhas, agora, também, Ele o ajudaria a derrotar o gigante que ameaçava e zombava de Israel.

Shaul empresta a David sua espada e armadura, que milagrosamente, assenta-se à perfeição no jovem, apesar de sua estatura menor do que a do Rei. Shaul fica perturbado - seria este um sinal de que David seria o futuro Melech Israel, substituindo-o? Para tranqüilizá-lo, o jovem lhe devolve a espada e a armadura, sabedor de que a única arma que precisava para derrotar Golias era sua fé em D'us. Mas, como seu objetivo principal não era colocá-lo por terra, mas santificar o Nome de D'us, decide enfrentá-lo armado com uma simples funda e cinco pedras.

Estava cônscio de que a vitória de um pastor desarmado contra o mais poderoso inimigo de seu povo, apenas serviria para aumentar a fé de Israel no Todo Poderoso.

Ao ver o pastor judeu, desarmado e de baixa estatura, indo ao seu encontro, Golias se sente insultado com tamanha audácia, mas David o alerta: "Tu vens a mim com espada e com lança e dardo, mas eu venho a ti em Nome do Eterno, D'us dos Exércitos de Israel, a Quem tu afrontaste... Hoje mesmo o Eterno te entregará em minha mão, e te matarei, e arrancarei fora a tua cabeça...e toda a Terra saberá que há Um D'us Único em Israel" (Samuel I-17:45-46). E assim foi. Quando o irado Golias avançou em direção a David, este lhe atirou, com a funda, uma única pedra certeira, que o atingiu na testa, jogando-o por terra, morto.

Gritos de vitória ecoaram por toda Israel e os soldados, revigorados pelo moral alto, passaram a perseguir os filisteus, em debandada. David leva a cabeça de Golias para o rei Shaul e, em seguida, os dois a fazem percorrer por toda Israel. David queria que todos vissem como D'us ajudara Seu povo, pois sua inesperada vitória nada mais era do que a vitória de D'us sobre todos os que ousavam duvidar de Seu Poder e Soberania.

Todo o povo de Israel exulta com a coragem e grande feito de David e o Rei o nomeia comandante das tropas de elite. De qualquer missão que Shaul o enviasse, onde quer que fosse, David voltava vitorioso.

Ainda que a conduta do jovem guerreiro fosse prudente e modesta, e ainda que Shaul fosse um homem justo e temente a D'us, a inveja, um sentimento que corrói o coração, toma conta do Rei. Ele passara a temer David desde a vitória sobre Golias, sabendo que D'us estava com o filho de Yishai. Mais ainda, quando juntos percorreram as cidades, triunfantes a ostentar a cabeça de Golias, as mulheres saíam ao seu encontro para festejar a vitória, proclamando: "Shaul abateu milhares, porém David, dezenas de milhares".

O Livro de Samuel relata que lhe desagradaram aquelas palavras. E assim falou o Rei: "A David deram dezenas de milhares e, a mim, apenas milhares; falta-lhe, agora, apenas o meu reino". Desde então, Shaul, que via a Mão de D'us abençoando tudo o que David fazia, fica obcecado com a idéia de que ele era o homem ao qual aludira Samuel, ao lhe dizer:.... "e o teu reino deu ao teu próximo, que é melhor que tu" (Samuel 1-15:28).

A reação de seu filho, Yonatan, foi radicalmente oposta à do Rei. Ao presenciar a vitória de David e ver que D'us estava com o jovem guerreiro, Yonatan entendeu que David fora "o escolhido" para tomar o lugar de seu pai. Não sentiu ciúmes. Pelo contrário, uma grande amizade e um amor fraternal se desenvolvem entre eles e os unem em uma aliança. Primeiro, Yonatan veste David com seu manto - sinal de que desistira de seu direito de herdar a coroa paterna; a seguir, entrega a David suas armas de guerra - símbolo do poder - uma demonstração de que o aceitava como rei. "Tu reinarás sobre Israel e eu serei contigo o segundo", declara Yonatan a David (Samuel 1-23:17). Ensina o Talmud que a amizade de Yonatan e David simboliza o amor puro e desinteressado que pode brotar entre seres humanos.

David e Shaul

O rei Shaul sabia que precisava de David - dele era a única voz que desanuviava a escuridão espiritual que tomara conta de sua pessoa. Mas, passa a odiá-lo pelas mesmas razões que o amara: por sua inteligência, coragem e lealdade; por ser sempre bondoso e gracioso; e por sua música, que encantava os habitantes de Judá. Em seu turbilhão mental, não acredita que o carinho de David por ele seja genuíno, desprovido de interesse.

O Livro de Samuel conta em detalhes o difícil relacionamento entre Shaul e David. Quanto mais Shaul suspeitava que o próximo Rei de Israel, Melech Israel, seria David, mais cresciam seu ciúme e ódio pelo jovem guerreiro. Diz o Midrash que Shaul equivalia a todos os inimigos de David, juntos. Este considerava o Rei seu inimigo mais difícil porque, diferentemente dos outros, Shaul era um homem justo e de grande valor, escolhido por D'us para ser o primeiro Rei de Israel. De sua parte, seu comportamento era impecável em relação ao Rei; leal e generoso, David o admirava. Ao menor sinal de que Shaul necessitava dele, ele acorria, ainda que a missão o expusesse a perigos ou à morte. Diante dos surtos de violência gratuita que acometiam o Rei, David se mantinha calado. Shaul o queria morto e o jovem continua a servi-lo, porque amava seu Rei. Nunca expressou o desejo de tomar seu lugar; nunca quis feri-lo; tudo fazia para servi-lo, pois, melhor do que ninguém David sabia que desrespeitar Shaul, o homem que D'us ungira como primeiro Rei de Israel, seria uma afronta ao Eterno.

O mesmo não se pode dizer de Shaul. Corroído pela inveja, este tenta, de todas as formas, eliminar David. Para poder liquidá-lo, primeiro procurou inutilmente atribuir-lhe um ato de rebeldia. Em duas ocasiões, enquanto David tocava a harpa para distrair o espírito do Rei, Shaul atirou sua lança contra o jovem. Este se desvia, involuntariamente, sem perceber o ocorrido. Ao ver David escapar essas duas vezes da morte, Shaul não tem mais dúvidas de que D'us estava com o jovem. Mas não desiste de eliminá-lo. Nomeia-o comandante dos batalhões reais e o envia à guerra contra os filisteus, esperançoso de que fosse morto em batalha. O oposto ocorre. David vence todas as batalhas, apenas aumentando sua popularidade. "Toda Israel e Judá amavam David", relata o Livro de Samuel.

O ódio do Rei recrudesce frente à popularidade do jovem guerreiro. E quando é informado que sua filha Michal amava David, calcula, erradamente, que poderia usá-la para o eliminar. Shaul oferece a mão de Michal em casamento a David, com a condição que ele vingasse a morte dos Filhos de Israel, executando cem filisteus.

A verdadeira intenção de Shaul era fazer cair David em mãos inimigas, pois esperava que, desta vez, D'us não o ajudasse, já que o jovem estaria guerreando "em proveito próprio".

David aceita as condições e, ao voltar vitorioso, Shaul permite que ele se case com Michal, mas não desiste da idéia de se livrar do agora genro. As vitórias de David só tinham feito aumentar seu medo; a cada dia, crescia a desconfiança do Rei de que era David a quem o profeta Samuel ungira para substituí-lo.

Finalmente, esse ódio se torna público. O guerreiro, que só temia a D'us, prefere fugir e se exilar a ser forçado a derrotar o Rei. Enquanto vivia com seus homens como fugitivo, não faltaram a David oportunidades de matar Shaul. Mas, a despeito dos conselhos de seus companheiros, nunca feriu aquele que D'us ungira, antes dele.

Certa vez, em que o Rei entra em uma caverna em que David se escondera, poderia tê-lo matado, facilmente. Mas bastou-lhe cortar um pedaço do manto real como prova de que jamais feriria o Rei de Israel. Quando Shaul se apercebe do ocorrido, é tomado de emoção pela grandeza de espírito de David e o abençoa, chamando-o de "filho". É quando profere as palavras que logo se iriam concretizar: "David, meu filho... és mais justo do que eu. Pagaste-me com bondade enquanto eu te pagava com maldade. Provaste-me hoje só me ter feito o bem, pois o Eterno me entregou em tuas mãos. Mas poupaste minha vida... Que o Eterno te pague com a bondade que tiveste, hoje, comigo... Sei que serás o próximo rei e que o reino de Israel será criado por tuas mãos" (Samuel I-24:16-20). Mas, apesar de tão nobres palavras, não houve reconciliação; Shaul continua a perseguir David.

Em outra ocasião, David entra, furtivamente, no acampamento do Rei, encontrando-o adormecido.

Facilmente, poderia tê-lo eliminado. Mas, ao invés disso, toma a lança real como prova do que poderia ter feito - e não fez. Novamente David poupara a vida de Shaul e novamente este tenta a reconciliação, abençoando-o: "Abençoado és tu, meu filho David. Que realizes muito e sejas muito bem sucedido" (Samuel I-26:25).

Mas David sabia que aquela reconciliação, como a primeira, seria efêmera. Decide fugir de Israel e se exila, temporariamente, na Terra dos Filisteus. Durante este seu exílio, os filisteus se preparam para guerrear novamente contra Israel. Numa batalha contra os arquiinimigos do Povo Judeu, o rei Shaul e seus filhos são mortos. O Livro de Samuel I termina com a trágica morte do rei Shaul e de seus filhos e a desmoralização dos exércitos de Israel.

Chegara a hora determinada pelo Todo Poderoso, D'us de Israel, para que David iniciasse uma nova era para Seu Povo. É David, que muito lamentou a morte do Rei de Israel e de seu melhor amigo, Yonatan, quem sucederá Shaul. E é David - líder, guerreiro, Sábio da Torá, profeta, poeta e músico - quem trará a glória de volta a Israel, tornando-se um rei que, até hoje, inspira e captura a imaginação do mundo, estabelecendo Jerusalém como Capital Eterna do Povo Judeu, planejando a construção do Templo Sagrado, a Morada de D'us em nosso mundo terreno.

Bibliografia:

Rabbi Scherman, Nosson, Samuel I-II, The Early Prophets,with commentary anthologized from rabbinic writings, The ArtScroll Series, Mesorah Publications.

Tehillim, with commentaries by Rabbi Avrohom Chaim Feurer, Mesorah Publications.