Shimon Peres poderia traçar sua própria história em paralelo à de seu país, o Estado de Israel, ao qual dedicou sua vida e alma. Lutou incansavelmente para fortalecer a segurança militar do país e, com o mesmo ardor, para trazer a paz sempre que esta lhe parecia factível. “Quando éramos atacados, eu fui um falcão. Quando poderíamos fazer a paz, me tornei uma pomba”.

Shimon Peres, falecido em 28 de setembro de 2016 aos 93 anos, foi um maiores estadistas mundiais. Sua morte marca o fim de uma era. Ele foi o último dos fundadores do Estado de Israel – homens que, apesar de ideias políticas diferentes, acreditaram no sonho de ter uma Pátria Judaica e dedicaram a vida para que nós, judeus, após 2000 anos de exilio e sofrimentos indescritíveis, pudéssemos ter um Estado Judeu forte e seguro.

Quem era Shimon Peres? Sem dúvida, um homem de mente brilhante, intrigante, complexo. Dominava com maestria o hebraico, porém ainda o falava com sotaque polonês; era o especialista na defesa de Israel, comprou armamentos secretamente sem nunca ter usado um uniforme; era um dos idealizadores da política dos assentamentos israelenses na Margem Ocidental, o idealizador do programa nuclear de Israel e o homem que negociou os Acordos de Oslo. Era um exímio intelectual sem ter tido educação formal; um político medíocre que se tornou um grande estadista; um poeta tímido, romântico, que se tornou um orador carismático, que arrebatava as plateias.

Ao longo de sua vida, serviu seu país de todas as formas: foi kibutznik, líder juvenil, parlamentar e ocupou vários ministérios: Defesa, Transportes, Comunicações, Absorção de Imigrantes, Informação, Relações Exteriores e do Tesouro, além de ter ocupado o cargo de Primeiro Ministro e Presidente.

Sua trajetória de homem público foi impressionante. Vivenciou momentos de triunfo e admiração mundial e outros de grandes perdas e fracassos. Foi cercado por fervorosos admiradores e adversários ferrenhos; foi igualmente amado e odiado. Chegou, mesmo, a conquistar o relutante afeto de muitos de seus próprios concidadãos – que chegaram a odiá-lo por suas etéreas promessas de um novo Oriente Médio, que rapidamente se afogaram em sangue.

Shimon Peres era, acima de tudo, um otimista, um humanista, um judeu de corpo e alma. Ele acreditava que “a singularidade real do Povo Judeu é a base moral, a preferência pela moralidade”. Sua teimosa busca pela paz bem ilustra seu idealismo e sua visão e amor pelo Estado de Israel e por nosso povo.

Sua vida

Shimon Peres (nascido Szymon Persky) nasceu em 15 de agosto de 1923 (no dia 20 de Av), na pequena cidade polonesa de Vieniava (atualmente Vishniev, na Bielorrússia). Era o filho mais velho de Yitzhak Getzel e Sarah Persky. Seu irmão, Gershon (Gigi), era dois anos mais novo. Shimon cresceu em Vishniev, um shtetl onde viviam cerca de 1.500 judeus. “Tinha apenas uma rua, casas de madeira sem eletricidade, duas sinagogas e uma escola de orientação sionista”. Shimon costumava dizer: “Em minha casa falava-se três línguas: iídiche, hebraico e russo. Durante as duas guerras mundiais o lugar no qual nasci estava sob domínio polonês, mas antes era parte da Bielorrússia”.

Desde seus primeiros anos de vida seus pais perceberam que ele possuía uma mente excepcional; para eles a testa saliente de Shimon era sinal de grande inteligência. As duas pessoas que mais o influenciaram foram seu avô materno e sua mãe. O avô, Rabi Zvi Meltzer, possuía uma oficina de fabricação de botas. Ele era um homem profundamente religioso que estudara na famosa Yeshivá Volozhin. Cada dia ele ensinava ao neto algumas linhas do Talmud. “Ele era um rabino, mas também lia Tolstoi e Dostoievsky e sempre me dizia que eu também devia lê-los. Ele me ensinou que a maior riqueza de um homem é seu conhecimento, seu saber.”

Apesar dos pais serem seculares, Shimon era religioso: usava kipá, era casher e shomer Shabat, isto é, guardava as leis do Shabat. Certa vez seu pai comprou o primeiro rádio da cidade e o ligou no Shabat, “Chocado, eu o quebrei”, contava Shimon. “Quando era menino, estava convencido da existência de D’us, temia Sua ira, sentia Sua enorme e invisível Presença. Eu rezava com incansável entusiasmo. Os primeiros livros que li foram os Textos Sagrados. A Santidade, o Divino e não histórias infantis preenchiam meu coração”...

O pai de Shimon, apesar de ser descendente de uma dinastia rabínica, era um homem secular, bem apessoado e elegante. Abrira seu próprio negócio de comércio de madeira e fornecia trigo para o Exército polonês. Sua mãe, Sara, era uma mulher inteligente que nutria profundo amor pelo filho. Trabalhava como voluntária na biblioteca pública e transmitiu a Shimon sua paixão pela leitura. Ela trazia livros para casa para o filho ler, despertando nele uma sede pela leitura.

Shimon estudava na escola Tarbut, de orientação sionista, onde aprendia hebraico junto com o iídiche. Ele era um excelente aluno, sério, raramente brincava com outras crianças, preferindo ficar em casa e ler. A poesia tornou-se sua grande paixão. “Quando descobri a poesia, pensei que havia encontrado o meu destino”.

Vishniev era um shtetl com uma vibrante comunidade sionista e o sonho de emigrar para a Terra de Israel incendiava o espírito dos mais jovens. Na época, o fervor religioso de Shimon diminuíra e ele abraçou o sionismo de corpo e alma. Um dia, um judeu vindo da Terra de Israel visitou Vishniev. Shimon e sua família estavam entre os que se reuniram para ouvi-lo contar sobre a terra distante. O relato que ele fez sobre os feitos heroicos dos pioneiros judeus deixaram todos os presentes com um sentimento de orgulho.

Os primeiros familiares a deixar Vishniev para a então Palestina foram suas três tias com as respectivas famílias. Em 1932, quando ele tinha 9 anos, foi a vez de seu pai. Ao partir para a Terra de Israel, Getzel Persky prometeu aos filhos e à esposa que, em poucos meses, mandaria buscá-los. Os meses transformaram-se em três longos anos.

A vida em Israel

Foi somente em 1935 que as autoridades britânicas concederam a Getzel os documentos de imigração, que permitiriam à sua família entrar no país. Ao despedir-se de seu avô, Zvi Meltzer lhe fez uma única recomendação: “Seja um judeu, para todo o sempre!”.

Ele não veria mais o avô. Durante a cerimônia pelo Dia de Recordação do Holocausto, no Yad Vashem, em 2012, o Presidente Shimon Peres contou: “Metade dos habitantes da cidade vieram para Israel. A outra metade pereceu… Em 30 de agosto de 1942 o dia amanheceu escuro em minha cidade natal... Todos os judeus foram levados pelos nazistas para a sinagoga de madeira da cidade e queimados vivos. O Rabino Zvi Meltzer, meu avô, …foi consumido pelo fogo com seu talit sobre a cabeça. Foi o último dia judaico em Vieshniev”.

Foi longa a viagem de Shimon e sua família para a então Palestina. Foram de trem até Istambul onde embarcaram em um navio e, dias depois, atracaram em Yaffo. Ele imediatamente se apaixonou por aquela terra. Os Persky alugaram um pequeno apartamento em Tel Aviv, mas enfrentavam dificuldades financeiras. Shimon e Gigi foram viver por algum tempo com os tios em Rehovot e passaram o verão patrulhando sua nova pátria. No outono retornaram a Tel Aviv, e ficaram fascinados com a cidade, os cinemas, teatros, praias, cafés e pessoas elegantes. Para Shimon, “Tel Aviv era mais chique do que Paris”.

Ele começou a cursar a 6ª série da Escola Balfour, mas, no ano seguinte, os professores o transferiram para a 8ª série. Seus colegas diziam que ele “era extremante inteligente. E, quando falava, todos escutavam”. Shimon escrevia para o jornal da escola – ensaios, debates e histórias humorísticas. E, em segredo, continuou a escrever poemas, nos quais revelava um traço triste e solitário de sua alma jovem.

O ano de 1936 foi decisivo na História Judaica. Na Europa, os nazistas já no poder na Alemanha, haviam tomado a região da Renânia. E, na então Palestina, iniciava-se a chamada “Revolta Árabe” – uma revolta armada contra o domínio colonial britânico e a imigração judaica. Na época, conforme o compromisso assumido com a Declaração Balfour, a Grã-Bretanha estava auxiliando o estabelecimento dos judeus na região. No ano de 1935, uns 65 mil judeus haviam emigrado para a Terra de Israel.

Os confrontos tiveram início em 15 de abril, quando árabes assassinaram dois judeus. A Haganá, organização judaica de autodefesa, retaliou, matando dois árabes. Alguns dias depois, um grupo de árabes massacrou 16 judeus nas ruas de Yaffo. No dia 25 foi criado, em Nablus, por iniciativa de Hajj Amin al-Huseini, o mufti de Jerusalém, o “Comitê Árabe Supremo”, que assumiu o controle da revolta. A violência escalou, árabes armados passaram a emboscar os judeus nas estradas. Qualquer viagem de Tel Aviv a Yaffo tornara-se uma aventura arriscada.

Desde adolescente o sangue político já corria nas veias de Peres. Ele era um dos seguidores de David Ben Gurion e apoiava o Movimento Trabalhista e a Histadrut, a organização sindical criada pelos partidos trabalhistas. Filiou-se ao Hanoar Haoved (“Juventude Operária”), o movimento juvenil socialista da Histadrut.

No outono de 1937, Shimon Peres obteve uma bolsa de estudos para a Geula Commerce High School, uma instituição elitista e de renome. Mas não estava interessado em trabalhar no mundo dos negócios; queria trabalhar num kibutz. Aos 15 anos, deixa a escola e vai para a Aldeia Juvenil Ben-Shemen, uma escola agrícola onde ficou por dois anos e meio. “Meu objetivo na vida é servir meu povo”, escreveu ao chegar. Ele amava a vida em Ben-Shemen, trabalhava a terra, levantava-se antes do sol nascer para ordenhar as vacas e, à noite, lia avidamente – os clássicos, literatura hebraica, poesia, ensaios políticos. E, continuava a escrever – poemas românticos, artigos ideológicos...

Na época já era um líder. Um dia, os ingleses foram até Ben-Shemen à procura de armas para confiscá-las. Os alunos, liderados por Peres, sentaram-se no chão sobre a entrada do depósito onde estavam escondidas as armas, fingindo estar estudando, e elas não foram descobertas.

Como os demais jovens, integrou-se às fileiras da Haganá e passava inúmeras noites nos postos de vigilância ao redor de Ben-Shemen. Em 16 de janeiro de 1939, os árabes emboscaram três jovens que estavam de vigília. Dois foram mortos e um terceiro, ferido. Os assassinatos chocaram a comunidade e Shimon ficou profundamente abalado com a morte de seus amigos.

Foi também em Ben-Shemen que Peres encontrou o grande amor de sua vida, Sonia Gelman. Cheia de vida e grande idealista, Sonia emigrara com a família para a então Palestina aos três anos de idade.

Shimon, um ativo membro do Movimento Trabalhista, considerava a Juventude Trabalhista o seu lar ideológico embora não compartilhasse a admiração de seus companheiros pela então União Soviética. Tinha profunda ojeriza por Stalin.

No ano de 1939, a Grã Bretanha voltou as costas ao Sionismo, publicando um documento limitando o estabelecimento de judeus na então Palestina. O chamado Livro Branco parecia ser uma sentença de morte para o sonho sionista, mas os judeus decidiram lutar contra a política britânica de todas as formas possíveis. Mas, com a eclosão da 2ª Guerra Mundial, com os nazistas ameaçando a sobrevivência dos judeus da Europa, tanto Ben Gurion quanto Yitzhak Tabenkin, um dos fundadores do Movimento Kibutziano, uniram-se para pedir aos judeus do Ishuv que se alistassem nas forças britânicas para lutar contra os alemães. Foi quando Ben Gurion cunha seu famoso slogan: “Nós devemos ajudar os britânicos em sua guerra contra Hitler como se não houvesse o Livro Branco, e devemos resistir ao Livro Branco como se não houvesse guerra!”.

O apelo de Ben Gurion provocou uma tremenda resposta. Mais de 35 mil judeus alistaram-se no exército britânico. Outros, principalmente os simpatizantes de Tabenkin, preferiram integrar-se à Haganá, o exército não oficial do Ishuv e às suas forças de combate, o Palmach.

A 2ª Guerra teve um impacto direto na família Persky. O pai de Shimon fechou seu negócio e, apesar de ter mais de 40 anos, voluntariou-se no exército britânico e foi enviado à Europa. Gigi filiou-se ao Palmach. Sonia, futura esposa de Shimon, também se voluntariou, atuando como enfermeira e motorista nas forças britânicas. Até sua mãe empregou-se numa fábrica do exército inglês. Seus melhores amigos, seu pai, seu irmão e a mulher que amava se alistaram, apenas ele ficou de fora. Já era uma das lideranças nacionais da Juventude Trabalhista e estava totalmente absorvido em suas atividades em Ben-Shemen. Ele sabia que ao término da Guerra seria de suma importância para o Povo Judeu ter mais assentamentos judaicos no país.

Sentia-se fortemente atraído pelo Neguev, o deserto ao sul do país. Em janeiro de 1945, organizou uma expedição composta de membros da Juventude Trabalhista para explorar a região. O intuito era chegar a Eilat. Durante a viagem, Shimon mapeou o terreno e passou a calcular quanto poderia ser cultivado e quanto de água poderia ser armazenada por represamento. Ele estava convencido de que nós, judeus, poderíamos fazer o Neguev florescer, novamente.

Durante a viagem, cruzou com um pássaro enorme, uma ave mais perigosa até do que as águias. Era um abutre, em hebraico, Peres. Shimon gostou do nome da ave. O deserto lhe havia presenteado com o que ele acabaria adotando como seu nome hebraico.

Na primavera de 1945, Sonia Gelman deu baixa do exército britânico e filiou-se ao Kibutz Alumot, ao norte do mar da Galiléia, do qual Shimon foi um dos fundadores. Ela e Shimon se casaram em 1º de maio de 1945. A festa de casamento foi realizada em Ben-Shemen. O pai de Shimon não estava presente. Durante a Guerra ele fora capturado pelos alemães, várias vezes, mas conseguiu escapar, retornando a Israel no final da 2ª Guerra. Shimon e Sonia tiveram três filhos e permaneceram casados por 66 anos.

A Guerra da Independência

Em 1945, Shimon tornou-se líder da Juventude Trabalhista. Foi então liberado de suas tarefas no Kibutz Alumot para que pudesse dedicar-se a suas funções no movimento. Em dezembro de 1946 foi escolhido por Ben Gurion para ser um dos delegados ao Congresso Sionista, na Basileia. O outro jovem era Moshé Dayan. Na Basileia eles iniciaram uma aliança política que duraria 30 anos.

O Ishuv estava dividido entre aceitar ou não a Partilha da então Palestina, proposta pelas Nações Unidas. Muitos entre os delegados que participavam do Congresso argumentavam que o país oferecido aos judeus era ínfimo e sequer incluía alguma parte de Jerusalém. Ben Gurion, pragmático, era favorável, mas percebera que eram grandes as chances da proposta ser rejeitada. Impulsivamente retirou-se do plenário do Congresso, afirmando que “os delegados não percebiam para onde sopravam os ventos da História”. Peres e outros jovens foram atrás dele. Ben Gurion perguntou a Peres: “Você vem comigo?” Ele respondeu: “Vou, se voltar ao plenário para ver o que acontece. Se ganharmos, ficamos. Se perdermos, vamos todos juntos”. Após uma tumultuada sessão, por pequena maioria, os judeus aceitaram a Partilha.

No início de maio de 1947, os judeus já sabiam que teriam que enfrentar os exércitos árabes. Joseph Izraeli, o vice-comandante da Haganá, convocou Peres para trabalhar no QG da organização, em Tel Aviv.

Peres tinha apenas 24 anos e não poderia ter imaginado que os meses seguintes revolucionariam sua vida e o introduziriam no universo da segurança nacional. Inicialmente ele era responsável por recursos humanos e pela pequena indústria secreta de armas. Israel estava prestes a lutar uma guerra por sua sobrevivência, mas não possuía armas e tampouco munições. Segundo um despacho que um general enviou a Ben Gurion, recusando o posto de comando que lhe havia sido oferecido, as forças de Israel possuíam um total de seis milhões de balas; para cada dia do conflito teria que se utilizar um milhão. Ou seja, Israel tinha munição para seis dias...

Ben Gurion chamou Peres, entregou-lhe um papel no qual estava escrito 150 metralhadoras, 600 ou 700 rifles e disse: “Estamos indo para a guerra, mas não temos armas. Precisamos delas. É a coisa mais importante. Faça isso acontecer”. O que tornava Shimon uma escolha perfeita para qualquer função que lhe era repentinamente atribuída era sua capacidade de se focar em um assunto e estudá-lo com profundidade até se tornar um expert.

Ele passou a trabalhar sem parar. O “Sr. Segurança”, como era chamado, encontrara mais uma paixão, provavelmente a maior de todas: a construção do poderio militar de Israel. Ele entrou de cabeça no mundo de missões secretas, passou a enviar mensagens codificadas e telegramas à Europa e à América, para conseguir comprar rifles, morteiros, aviões, navios de guerra, armas e munições. Foi nesse período que mudou oficialmente seu nome para “Shimon Peres”.

Quando Teddy Kollek, chefe da delegação de aquisição de armas da Haganá, nos Estados Unidos, foi a Israel, queixou-se a Ben Gurion da desorganização da sede americana, e exigiu que alguém competente fosse escolhido para “ajeitar as coisas”. Escolheram Peres ainda que ele não falasse inglês e nunca tivesse estado na América. Ben Gurion sabia que ele daria conta.

Shimon estava trabalhando contra o relógio quando, em novembro de 1947, as Nações Unidas votaram a Partilha da Palestina em dois estados – um árabe e um judeu. O Estado de Israel foi criado em 14 de maio de 1948. Os árabes da região e as nações vizinhas árabes, que haviam rejeitado a resolução da ONU, imediatamente atacaram Israel.

As atividades de Peres estavam canalizadas para um único objetivo: comprar armas e enviá-las ao recém-criado exército de Israel. Era uma tarefa dificílima porque os Estados Unidos, a Inglaterra e, depois, a Rússia impuseram um embargo de armas ao jovem país. Os israelenses utilizaram toda a sua criatividade para conseguir os armamentos – forjaram identidades, utilizaram passaportes falsos de países da América do Sul e da África. Ao final, conseguiram comprar uma quantidade enorme de armas, a maior parte eram armamentos da 2ª Guerra. Peres integrou a missão que negociou a compra de armamentos na Checoslováquia, cruciais para a vitória de Israel. Os arsenais adquiridos eram enviados em navios sem registro e aviões sem qualquer identificação.

Aos 26 anos, ele foi indicado assistente do Secretário de Defesa para assuntos da Marinha, e tornou-se assessor de Ben Gurion e por ele protegido. Trabalhava diretamente com ele nos problemas do Neguev, cujo reflorescer era sonho compartilhado por ambos.

A Guerra de Independência de Israel foi o grande feito e maior erro de Shimon. As atividades de Peres foram cruciais para os esforços de guerra; sem armas Israel não poderia ter ganhado a Guerra, no entanto, ao não se alistar Shimon cometeu um dos maiores erros de sua vida. Talvez não se tenha alistado por estar convicto de que lidava com questões de vital importância para a existência de Israel. Mas, enquanto os soldados arriscavam a vida, Shimon era um civil, e nenhum deles jamais conseguiu perdoá-lo. Naqueles dias fatídicos, quando o Estado lutava por sua sobrevivência, eles acreditavam que todo cidadão apto deveria vestir um uniforme e lutar.

Depois da Guerra de Independência, a nova geração de líderes israelenses emergiu das fileiras das Forças de Defesa de Israel (FDI): Yigael Yadin, Yigal Allon, Moshe Dayan, Yitzhak Rabin, Chaim Herzog, Ezer Weizman, Ariel Sharon e tantos outros. Shimon Peres não fazia parte desse grupo; seu erro tornou-se um obstáculo para suas aspirações políticas. A animosidade de Yitzhak Rabin em relação a Peres originou-se do fato de Rabin jamais tê-lo perdoado por não ter servido o exército naqueles tempos terríveis.

Missão nos EUA

Em 1950, Shimon Peres foi enviado aos EUA como adido militar. Aprendeu inglês em três meses, fez cursos avançados em filosofia e economia na Faculdade de Pesquisas Sociais de Nova York, na New York University e, em Harvard, fez um curso avançado sobre Administração.

Mas, seu principal objetivo continuava sendo a compra de armas em grande escala e dos aviões que o exército de Israel necessitava. Seu trabalho implicava em assumir sérios riscos, pois Washington ainda impunha duras restrições à venda de armas a Israel. Sendo assim, ele e sua equipe viram-se forçados a usar de todos os métodos – legais ou não perante a lei americana – para consegui-los. Muitos dos aviões conseguidos foram comprados em partes e secretamente montados em uma pequena fábrica em Burbank, Califórnia.

Em muitas ocasiões, Peres falava de seu sonho aos membros de sua equipe, que o consideravam delirante. “Virá o dia”, costumava dizer, “em que Israel não dependerá mais de aviões velhos restaurados, comprados em outros países, mas terá seus próprios aviões modernos, idealizados e fabricados em Israel”.

Construindo o poderio de Israel

Em 1952 Peres retornou a Israel. Aos 29 anos, foi indicado por Ben Gurion para ocupar um cargo importante no Ministério da Defesa. Viajava constantemente ao exterior para conduzir delicadas negociações militares para adquirir todo tipo de armamento. Sua reputação era de negociador astuto, eficaz e realista. Seu papel foi primordial para armar as Forças de Defesa de Israel com armamento moderno.

Em poucos anos transformou o Ministério da Defesa em um verdadeiro “império” econômico, industrial e científico. Desenvolveu a indústria de armamento nacional, fundou a indústria aeronáutica. Seu trabalho permitiu que o país equipasse seus aviões e tanques com peças “Made in Israel”, fator decisivo para o fortalecimento militar de Israel.

Uma de suas grandes vitórias aconteceu em 1955. Peres tinha conseguido criar uma sólida rede de relações com a França, o que lhe permitiu fechar uma aliança militar franco-israelense. Israel passou a ter acesso ao moderno estoque de armamentos franceses. O acordo resultou na compra de US$ 1 bilhão em armas da França, sem as quais teria sido difícil para Israel vencer as guerras em 1956 e 1967. Suas boas relações com os franceses foram, também, fundamentais nos encontros secretos que culminaram na aliança entre Israel, França e Inglaterra na Guerra de Suez, contra o Egito, em 1956.

Seu pragmatismo em relação ao que era melhor para o Estado de Israel o levou a uma aproximação com a Alemanha Ocidental antes mesmo do relacionamento se tornar oficial. Dessa forma, pôde fechar importantes acordos que permitiram que Israel recebesse aviões, helicópteros e tanques.

O apogeu de seu trabalho de segurança foi a criação do programa nuclear israelense, um arsenal que nunca foi oficialmente reconhecido. Na época, muitos o chamaram de “aventureiro irresponsável”. “A ideia e sua implementação despertaram a ira de muitos contra mim”, contava Peres. “Havia quem alegasse que nada daquilo se concretizaria (...) que a ideia era impossível de ser posta em pratica, e alguns profetizavam que se nós sequer tentássemos ir na direção que eu sugeria, o mundo inteiro se voltaria contra nós, e Dimona faria desabar contra Israel uma terrível guerra. Mas, o reator deu uma nova dimensão a Israel. Trata-se da maior compensação pelo pequeno tamanho do país. Nesse caso, a tecnologia constitui a compensação pelo território, pela geografia. E, tudo bem, se o reator é sempre misterioso e ambíguo, porque ele é suficientemente claro para servir como força dissuasora para nossos inimigos, e ambíguo o bastante para não despertar a fúria do mundo. E deu autoconfiança a Israel. Todos perceberam que a opção de nos destruir já passou, no mundo”.

Os esforços de Peres e a contínua ajuda miliar dos EUA ajudaram a transformar o Estado Judeu na nação mais poderosa do Oriente Médio. A força militar israelense é uma das mais respeitadas e temidas da região.

Vida política

Peres entrou na vida política em 1959 e atuou no Knesset por praticamente 50 anos – de 1959 até 2007, ano em que foi eleito o 9º Presidente de Israel. Sempre esteve no centro da ação, onde as decisões sobre o futuro do Estado eram tomadas, mas sua vida política foi turbulenta. Uma das personalidades mais amadas do mundo político israelense, concorreu a cinco pleitos sem jamais vencer. Atuou como ministro em 12 governos diferentes e foi duas vezes Primeiro Ministro. O período mais longo em que atuou como tal foram dois anos na época em que fez uma aliança com seu oponente político, o Likud. Peres foi o único israelense a ocupar o cargo de Primeiro Ministro e, também, o de Presidente.

Foi eleito pela primeira vez para o Knesset em 1950 pelo Partido Mapai e indicado Vice-Ministro da Defesa. Saiu do Mapai em 1965, juntamente com Ben Gurion, que o indicou para secretário geral do seu novo partido, o Rafi. Em 1968, Rafi e Mapai se uniram, criando o Partido Trabalhista e Peres tornou-se Vice-Secretário Geral. Foi ministro em diferentes Pastas no governo de Golda Meir, incluindo o de Absorção de Imigrantes, Transportes e Comunicações.

Peres concorreu para a liderança do Partido Trabalhista em 1974, perdendo para Yitzhak Rabin. Quando este foi eleito Primeiro Ministro, ele indicou Peres “com o coração pesado”, como ele mesmo disse, para o Ministério da Defesa.

Os desafios que Peres enfrentou à frente do Ministério da Defesa foram muitos, inclusive o de reerguer as FDI depois da Guerra de Yom Kipur, em 1973. Ele modernizou o arsenal militar, equipou o exército com mísseis, tanques e jatos de combate, alguns feitos pela própria indústria do país. Porém, grande parte de suas realizações ainda permanecem secretas. Em 1976, ele era Ministro da Defesa no governo de Rabin quando Israel realizou a Operação Entebbe. Hoje se sabe que o grande mérito coube a ele, pois desde o início Peres acreditou que Israel podia, e devia, enviar um comando aéreo até Uganda e que seria viável um resgate dos reféns dos terroristas que haviam sequestrado o avião da Air France.

Em 1977 ele perdeu para Rabin as primárias partidárias. Nessa época já começavam a surgir sinais de mudanças em suas posições diplomáticas em direção à reconciliação com o mundo árabe. Em 1980 ele finalmente derrotou Rabin nas eleições partidárias, mas perdeu o pleito de 1981 para o Likud.

As eleições seguintes foram realizadas em 1984, logo após a eclosão da Guerra do Líbano e uma grave crise econômica. Shimon levou seu partido à vitória no Knesset pela primeira e última vez. Mas o Partido Trabalhista não obteve maioria expressiva e Peres foi obrigado a formar um governo de coalisão nacional e alternar o cargo de primeiro-ministro com Yitzhak Shamir.

Peres tinha 61 anos, e passou a fazer da busca pela paz seu principal objetivo como Primeiro Ministro. Foi um período difícil, pois enfrentou grandes desafios internos, entre os quais, a hiperinflação. Retirou as forças israelenses do Líbano e, durante sua administração, trouxe os judeus etíopes para Israel.

Depois da alternância na função de Primeiro Ministro, em 1986, Peres foi Ministro das Relações Exteriores do governo Shamir. Em 1987, a Primeira Intifada eclodiu e, em 1988, o Likud venceu as eleições e foi formado um novo governo de coalizão no qual Shamir foi o Primeiro Ministro e, Peres, Ministro das Finanças. Os trabalhistas retornam ao poder em 1992 sob a liderança de Rabin que indicou Peres como Chanceler. O relacionamento entre Rabin e Peres mudara ao longo dos anos, tendo os dois aprendido a trabalhar juntos e a depender totalmente um do outro.

Acordos de Oslo e assassinato de Rabin

Peres nunca acreditou que Israel tinha uma “dívida histórica” com os palestinos. Ele acreditava que a paz deveria ser algo pragmático, uma opção. Em uma entrevista, disse: “Israel pagou com sangue. Eu acredito que nós sofremos muito. (...) Eu pessoalmente paguei um alto preço, porque defendia as negociações com os palestinos e eles nos aterrorizaram. No início, os árabes queriam riscar-nos do mapa, tentaram fazer isso através da guerra. Fomos atacados sete vezes. Eles estavam corretos em sua análise, mas errados em sua compreensão. Eram numericamente superiores. Nós estávamos em número menor e sozinhos, não tínhamos ainda um Estado e estávamos em guerra. Então, de seu ponto de vista, eles estavam corretos em tentar nos destruir. Mas acontece que eles perderam todas as sete guerras, apesar de todos os seus cálculos, pois há elementos que não podem ser calculados, mas são decisivos: o espírito humano e o sacrifício humano”.

Ele ainda dizia: “Acredito que há duas coisas na vida que não podem ser alcançadas a menos que você feche um pouco os olhos: o amor e a paz. Se você ficar sempre de olhos abertos jamais se apaixonará. Se você abrir seus olhos nunca fará a paz. Porque todos nós somos incompletos, não somos perfeitos”.

Segundo Peres, Rabin não queria conversar com Arafat, então ele o fez. Negociações secretas com a OLP levaram à assinatura de um acordo entre Peres e Mahmoud Abbas, em 1993, em Oslo. O intuito dos acordos era resolver o conflito pela terra entre a Jordânia e o Mar Mediterrâneo.

Rabin sequer queria ir a Washington. “Já que Rabin não queria ir, Arafat disse que se Rabin não fosse, ele também não iria. Rabin não gostava de Arafat e não queria falar com ele”. A famosa cerimônia realizada na Casa Branca em setembro daquele ano contou com a participação de Rabin, Arafat, Clinton, Peres e Abbas. “Como vocês sabem”, contava Peres, “quando estávamos em Washington, Clinton praticamente forçou Rabin a apertar a mão de Arafat. E quando o fez virou-se para mim e disse: ‘Agora é sua vez’, porque ele já passara pela agonia”. Em 1994, Peres, Rabin e Arafat receberam o Prêmio Nobel da Paz pelos Acordos de Oslo.

Depois de Oslo, Peres costumava traçar uma conexão entre segurança e paz. “Dimona sedimentou o caminho para Oslo. Uma vez me perguntaram como eu gostaria de descrever minha biografia e eu disse: ‘De Dimona a Oslo’. Uma nação ataca a outra por duas razões – o desejo de destruir o outro país e a capacidade de fazê-lo. Como nós não podemos mudar o desejo, precisamos convencer o outro de que ele não pode fazer isso. Portanto, Dimona puxou o tapete sob os pés daqueles que pensaram que poderiam destruir Israel”.

Juntos, Peres e Rabin deram início ao processo de Oslo e juntos tornaram-se alvo de fortes críticas e ameaças de morte por parte de radicais israelenses. Durante dois anos Peres trabalhou arduamente para manter a imperfeita paz. Mas, a fúria dos israelenses diante do constante terrorismo árabe, a violência e números de mortos, levou a uma série de manifestações contra o governo de Rabin e Peres. Em 1995, Yigal Amir assassinou Rabin em uma manifestação em prol da paz. Peres, outro alvo de Amir, estava a alguns metros de distância. Peres foi indicado Primeiro Ministro. Pela segunda vez em sua vida era Primeiro Ministro e também Ministro da Defesa.

Israel entrou em um dos períodos mais difíceis de sua história, incluindo uma série de ataques terroristas perpetrados pelo Hamas, que mataram centenas de israelenses. Peres perdeu o apoio politico quando sucessivos ataques a bomba mataram dezenas de cidadãos em Tel Aviv e em Jerusalém. A promessa de Oslo foi destruída em meio aos ataques suicidas palestinos. A Segunda Intifada tinha começado.

Peres, no entanto, insistia em argumentar que negociações eram o único caminho para se conseguir a segurança definitiva de Israel.

Derrota eleitoral

Em 1996 Peres enfrentou um oponente mais jovem, Binyamin Netanyahu, e perdeu as eleições pela estreita margem de 1%. Depois da derrota, fundou o Centro Peres para a Paz. O pleito de 1999 foi vencido pelo líder do Partido Trabalhista, Ehud Barak, e Peres foi indicado para o Ministério da Cooperação Regional. Mas em 2000, sofreu mais uma derrota ao perder a eleição presidencial no Knesset para Moshe Katsav.

Quando Ariel Sharon derrotou Barak, em 2001, Peres fez com que o Partido Trabalhista participasse do governo. Israel vivia dias dramáticos, pois a Segunda Intifada estava no auge. No final de 2002, quando os trabalhistas deixaram a coalisão, Peres renunciou ao cargo.
Os trabalhistas também perderam a eleição de 2003 e, mais uma vez, Peres levou o partido ao governo de Sharon para apoiar a retirada da Faixa de Gaza. Mas, em 2005, quando Amir Peretz derrotou Peres nas primárias e, tirou o partido do governo, a reação de Peres foi imediata, deixando definitivamente o partido.

Na eleição seguinte ele concorreu com o Partido Kadima, que tinha sido criado por Sharon, e foi indicado Vice-Primeiro Ministro e Ministro para o Desenvolvimento do Neguev, Galileia e Economia Regional na gestão de Ehud Olmert.

Peres foi eleito 9º Presidente de Israel em 2007 e permaneceu no cargo até 2014. Dentro do sistema parlamentar israelense, a presidência é uma função principalmente cerimonial. Rapidamente, alcançou o status de estadista mundial. Durante esse período, ele e sua equipe se tornaram uma “marca” internacional e convidado imprescindível em importantes conferências e eventos ao redor do globo. Internamente, ele jamais foi tão popular quanto durante os sete anos em que esteve na presidência, obtendo mais de 80% de aprovação.

A perda de um gigante

No dia 13 de setembro de 2016 Shimon Peres sofreu um infarto, vindo a falecer duas semanas depois, no dia 28. Deixou três filhos – Tzvia Walden, Yoni Peres, e Chemi, além de netos e bisnetos. Peres escreveu 11 livros, ganhou inúmeros prêmios, além do Nobel da Paz.

Tendo sobrevivido a todos os políticos de sua geração, ele foi um dos mais importantes líderes do mundo. Não era “ingênuo”, em relação à paz com os árabes, como tantos os acusam. Em 2012, durante seu discurso em Yad Vashem, ele foi muito firme ao declarar: “Viemos aqui para dizer que somos um povo pacífico que pode defender-se. Podemos e iremos fazê-lo”. Tinha plena consciência de quão arraigado é o ódio dos árabes contra Israel e quão difícil seria conseguir a paz. “Nós as vencemos, todas as guerras de Israel”, costumava dizer. “Mas não vencemos a maior das vitórias a que aspirávamos: a libertação da necessidade de ter que vencer as vitórias”.

Shimon Peres nunca viu seu sonho de paz realizado. No entanto, aos 93 anos, jamais parou de trabalhar pelo seu povo e nunca deixou de sonhar por um futuro melhor. Foi amado por judeus e não judeus, e o mundo lamentou profundamente sua morte, a perda de um grande homem. Um homem que se tornou um símbolo de paz e esperança.

Líderes de todo o mundo foram ao Monte Herzl, o cemitério nacional de Israel, para dar seu último adeus a Shimon Peres. Netanyahu, Primeiro Ministro de Israel, proferiu um discurso emocionado: “Shimon viveu uma vida cheia de propósito. Ele alçou a alturas incríveis. Arrebatou a tantos com sua visão e esperança. Era um grande homem de Israel. Era um grande homem do mundo. Ele pertencia a uma geração que emergiu da escravidão para a liberdade, que lançou raízes em nossa Pátria ancestral, e empunhou a Espada de David para defendê-la”.

As palavras do presidente Barack Obama não foram menos tocantes: “O último da geração dos fundadores agora se foi. Em sua vida, Shimon realizou feitos que equivalem à vida de mil homens. Mas ele entendeu que é melhor viver até o final dos dias na Terra com saudades não do passado, mas dos sonhos que ainda não se realizaram – um Estado de Israel seguro e em uma paz justa e duradoura com seus vizinhos”. O ex-presidente Bill Clinton disse que Peres “... viveu 93 anos em um estado de constante admiração sobre o inacreditável potencial que todos nós temos de superar nossas feridas, nossos ressentimentos, nossos temores de fazer o melhor hoje e reivindicar a promessa do amanhã”.

“Eu sou filho de uma geração que perdeu um mundo e construiu outro”, Peres escreveu. E, nós, o povo judeu, somos eternamente gratos ao mundo que ele, entre outros gigantes de nossa nação, ajudou a construir.

Bibliografia
Samuel, David, President: Shimon Peres: The Kindle Singles Interview, 2013
Bar-Zohar, Shimon Peres: The Biography
Ziv, Guy, Why Hawks Become Doves: Shimon Peres and Foreign Policy Change in Israel, 2014- kindle edition
Yardena, Schwartz, Exclusive: Shimon Peres on Peace, War and Israel’s Future 15 de fevereiro de 2016 (TIME Interviews Shimon Peres)