Ao completar 95 anos, o ganhador do Prêmio Nobel da Paz de 1973 e ex-Secretário de Estado dos EUA é um ícone no mundo da diplomacia; até hoje, um dos mais solicitados observadores políticos do mundo. Ao colocar os interesses americanos acima de tudo, Kissinger colecionou muitos admiradores e muitos críticos.

De 1973 a 1975, os americanos responderam à pesquisa anual do Instituto Gallup, sobre qual o homem mais influente do país, com um único nome: Henry Kissinger. Na década de 1980, o presidente Ronald Reagan o convidou para presidir um painel sobre política na América Central; em 2001, após os ataques terroristas às Torres Gêmeas, em Nova York, George W. Bush o convocou para presidir uma comissão de inquérito. Em novembro de 2016, antes de assumir a presidência dos Estados Unidos, Donald Trump se reuniu com ele para se aconselhar sobre a formação de sua equipe de governo. Nosso personagem está, também, entre os 195 judeus de um total de 900 laureados com o Prêmio Nobel desde sua criação, em 1901, até 2017. Uma das figuras mais brilhantes e controversas da História Contemporânea, gênio político, peça-chave na política externa dos Estados Unidos entre os anos 1968 e 1976, o diplomata americano Henry Alfred Kissinger continua a exercer influência no cenário político mundial até os dias de hoje, aos 95 anos.

Kissinger recebeu o Nobel da Paz em 1973, em reconhecimento à sua atuação no acordo de cessar-fogo na Guerra do Vietnã. Naquele ano, o prêmio também deveria ser entregue ao político vietnamita Le Duc Tho, por seu papel igualmente fundamental em busca da bandeira branca entre Estados Unidos e Vietnã, mas Duc Tho recusou a honraria, alegando que a paz ainda não reinava sobre o Vietnã – fato que se confirmou em 1975, quando os ataques foram retomados.

Heinz Alfred Kissinger nasceu na Alemanha, em 27 de maio de 1923, na cidade de Fürth, vizinha a Nuremberg, ao norte da Bavária. Seu pai, Louis, era judeu ortodoxo, professor na escola local e valorizava os estudos, embora, para seu desespero, o pequeno Heinz (ele vai adotar o nome Henry ao chegar nos Estados Unidos) preferisse o futebol aos livros. (E, aqui, abrimos um parêntese: Talvez a sede de armar jogadas e driblar adversários o tenha acompanhado do campo às mesas de negociação com líderes de todo o mundo, durante sua carreira de diplomata, como veremos mais adiante...).

Voltemos à História: Kissinger cresceu em um lar ortodoxo judaico, o que acarretou intenso estudo da Torá e do Talmud. Em suas memórias, lembra-se de ter sido alvo de antissemitismo. Em mais de uma ocasião, apanhou dos guardas nos estádios por estar assistindo ilegalmente aos jogos e, com frequência, teve de andar se esgueirando pelas ruas de Fürth, com cuidado, para evitar as primeiras gangues nazistas. Em suas memórias da juventude, Kissinger escreve: “Você não pode crescer como nós, judeus, na Alemanha, e permanecer intocado”. Surpreendentemente, ele não foi um ótimo aluno. Sonhava em entrar no “Gymnasium” – o termo alemão para o nosso Ensino Médio, quando as futuras oportunidades profissionais são forjadas, e para o qual a admissão depende do conjunto de matérias e sucesso acadêmico na área pretendida. No entanto, quando ele chegou à idade adequada, em fins da década de 1930, na Alemanha, o Gymnasium já não aceitava candidatos judeus...

Com a ascensão de Adolf Hitler ao poder, seu pai, Louis Kissinger, assim como centenas de milhares de outros judeus, ficou desempregado e perdeu seus direitos de cidadão alemão, da mesma forma que todos os judeus do Terceiro Reich.

À procura de um país que a acolhesse, a família – formada pelos pais, Louis e Paula, Henry e seu irmão mais novo, Walter –, finalmente conseguiu, em 1938, o visto para entrar nos Estados Unidos, via Londres. Os Kissinger chegam a Nova York, onde se estabeleceram em Washington Heights, Manhattan, região que abrigava muitos outros judeus refugiados da Alemanha.

À época com 15 anos, Henry entendeu que seria melhor abraçar os estudos e deixar a bola de lado. Depois de um ano, os parcos recursos da família acabaram forçando o jovem a trabalhar em uma fábrica de pincéis de barba. Resultado: ele teve de se contentar com a escola noturna. Depois de completar o ensino médio, foi em busca de um diploma de contador no City College de Nova York.

Em 1943, aos 20 anos, conseguiu sua cidadania americana, época em que se alistou para servir na 2a Guerra Mundial. E foi assim que ele voltou à Alemanha, só que, dessa vez, vestindo um uniforme militar americano. Juntou-se à 84ª Infantaria. (Ver artigo) Foi ali que um oficial superior, o também refugiado alemão Fritz Kraemer, ficou impressionado com o jovem Kissinger e o designou para o setor de inteligência militar de sua divisão. Destemido, ele se ofereceu para inúmeras missões perigosas. Durante uma das ações mais cruciais da Guerra, viu os combates de perto e logo se voluntariou para servir na Inteligência em Zonas de Risco na grande contraofensiva alemã, a Batalha das Ardenas (Bélgica). A seguir, foi transferido para o 970º Corpo de Contrainteligência, onde chegou à patente de sargento. Em 1945 recebeu uma Estrela de Bronze por caçar oficiais nazistas e colaboradores a serviço da Gestapo. Em 1946, ele já atingira o posto de Capitão da Inteligência Militar da Reserva. Ao término da guerra, continuou na Europa servindo como instrutor na Escola de Inteligência de Comando, em Oberammergau, no sul da Alemanha.

Depois de receber dispensa do exército, foi estudar em Harvard. Na renomada universidade cursou História Política e Ciências Políticas, formando-se em 1950. No ano seguinte, Kissinger tornou-se Diretor do Departamento de Pesquisa de Operações – centro de pesquisa civil e militar criado pelo Exército dos EUA em 1948, com sede em Washington. Apesar da responsabilidade do cargo, conseguiu se formar com o título de Mestrado, em 1951. No ano seguinte, foi nomeado Diretor do Seminário Internacional de Harvard, posto onde permaneceria por sete anos.

Dois anos mais tarde, ao concluir seu doutorado, apresentou uma tese sobre a diplomacia da Europa pós-napoleônica, período pelo qual sempre foi fascinado. Esse material lhe rendeu a base para seu primeiro livro, publicado em 1957, A World Restored: Metternich, Castlereagh and the Problem of Peace, 1812-1822. Seu interesse nesse período da História ofereceu-lhe uma oportunidade de mergulhar nos problemas e soluções adotadas no passado que seriam oportunas para os então atuais problemas políticos. O livro é um marco importante na formação de Kissinger como cientista político, especialista em política externa. Seus argumentos continuam válidos e parte importante do pensamento dos estudiosos e praticantes da política externa da atualidade e pelas próximas décadas.

Em 1955, Kissinger passou a ser consultor no Conselho de Coordenação de Operações, fundado pelo Presidente Eisenhower para implementar a integração das informações de todas as agências de segurança dos Estados Unidos. Contudo, por ter ganho uma cátedra como professor em Harvard, nesse mesmo ano, ele julgou, então, que se sentia mais confortável em um ambiente mais teórico.

Ainda que não tivesse tido cargos de relevância no Departamento de Estado durante a administração Kennedy e Johnson, ele serviu como Assessor Especial dos dois presidentes, nos sete anos seguintes.

Com sua mente brilhante, acabou chamando a atenção do magnata Nelson Rockfeller e fez parte de sua equipe, em três campanhas presidenciais. Em 1968, Rockfeller, então governador de Nova York, disputou e perdeu as prévias do Partido Republicano com Richard Nixon. Fora da briga nas urnas, Rockfeller sai de cena, enquanto Kissinger é convidado a fazer parte da equipe de Nixon logo que este assume como 37º Presidente dos Estados Unidos. Durante o jantar do National Press Club, em 2001, Kissinger ironizou essa situação: “Então, quando vocês forem ler sobre como planejei ‘cuidadosamente’ minha trajetória para me aproximar de Nixon, e quiserem ensinar a seus filhos, digam: ‘Apoiem o oponente do homem para quem desejam trabalhar’ ”.

Em 1973, Kissinger, que já era Conselheiro de Segurança Nacional, assume simultaneamente o posto de Secretário de Estado americano, que, no Brasil, equivale ao cargo de Ministro das Relações Exteriores. Era o primeiro judeu e o primeiro imigrante naturalizado a se tornar Secretário de Estado. Até 1974 ocupou o cargo no governo do presidente Richard Nixon, que foi levado a renunciar depois do escândalo Watergate, e durante um ano no governo de Gerald Ford (1974-1977). “Nunca antes ou depois disso, as relações entre a Casa Branca e o Departamento de Estado foram tão harmoniosas”, brincou Kissinger, naquele mesmo jantar do National Press Club.

E foi no exercício do poder que Henry Kissinger se mostrou dono de uma personalidade forte, determinada e polêmica. No futebol, poderia ser comparado a um meio-campista, armador de jogadas arriscadas, geniais e que, na maioria das vezes, resultam em gols. Seus estratagemas, frequentemente, incluíam sentar-se à mesa com inimigos passados, caso fosse preciso, em prol dos interesses americanos. “A América não tem amigos ou inimigos eternos, apenas interesses”, costumava dizer, referindo-se ao método da mediação diplomática ao qual deu origem – a famosa “shuttle diplomacy” (ou diplomacia de “Ponte Aérea” de Kissinger).

Muito dessa postura é notória na própria época em que Kissinger foi designado por Nixon para o Conselho de Segurança Nacional, em 1968. Naquele período, os Estados Unidos estavam literalmente enlameados até o pescoço na Guerra do Vietnã, sem perspectiva alguma de chegar à paz. E com o agravante de que Nixon havia calcado sua campanha sob o lema “Paz com Honra”. Ao assumir a presidência, ele reduziu, aos poucos, o papel americano no combate por terra, enquanto aumentava a campanha de bombardeio aéreo contra o Vietnã do Norte e ordenava incursões ao vizinho Camboja, provocando fortes protestos em casa. Nesse período, Kissinger se concentrava nas negociações por um cessar-fogo com o Vietnã do Norte. Em agosto de 1969, Kissinger e Le Duc Tho, membro do Politburo do Partido Comunista do Vietnã do Norte, passaram a se encontrar secretamente em uma vila nos arredores de Paris, o que levou ao acordo de janeiro de 1973, estabelecendo o fim da guerra. Esse esforço acabou rendendo-lhes o Nobel da Paz daquele mesmo ano. E enquanto Le Duc Tho não quis aceitar a honraria, Kissinger anunciou que doaria seu prêmio em dinheiro “para os filhos de soldados americanos mortos ou desaparecidos na Indochina”. De carona na pretensa paz estabelecida, Nixon se elegeu para o segundo mandato.

Negócio da China

Paralelamente ao conflito no Vietnã, Kissinger tratou de atuar explorando as crescentes tensões entre as duas potências comunistas da época, a China e a União Soviética. Nesse papel de consultar uma das partes, nem sempre voltando a Washington, e consultar a outra (a tal shuttle diplomacy), acabou atraindo para si críticas tanto de conservadores (que viam com desconfiança sua aproximação da China e da União Soviética) quanto de liberais (que pediam uma retirada mais rápida das tropas americanas do Vietnã). E Kissinger tinha consciência do terreno delicado por onde pisava. Prova disso está no seguinte diálogo que teve com o cantor e ator Frank Sinatra, durante um jantar. Tomado por sua mania de perseguição, Sinatra disse a Kissinger: “Sabe, muitas pessoas dizem que tenho ligação com a máfia, mas eu não tenho”. Ao que Kissinger respondeu: “Que pena, Frank! Precisava de alguém para dar um fim aos meus inimigos...”.

Em 1971, Kissinger fez uma viagem secreta à China e deu início ao pleno reconhecimento diplomático entre os Estados Unidos e o governo de Pequim, levando à integração da China na economia global, no que seria o embrião para o gigante econômico em que o país se tornaria, anos mais tarde. Também iniciou as negociações estratégicas de limitação de armas com a União Soviética, que resultaram no Tratado de SALT (sigla para Strategic Arms Limitation Talks, em tradução livre: Negociações sobre Limitação de Armas Estratégicas) e no Tratado de Mísseis Antibalísticos.

Operação Condor

Também era alvo de críticas a posição de Kissinger em relação às ditaduras que se instalavam na América do Sul, nas décadas de 1970 e 1980, com os golpes militares que depuseram presidentes eleitos democraticamente, como o socialista Salvador Allende, no Chile. Rapidamente, os governos militares estabelecidos nesses países foram reconhecidos pelos Estados Unidos. Segundo Kissinger, era melhor apoiar a estabilidade de um governo anticomunista a um governo instável e simpatizante do comunismo. “Não vejo por que temos de ficar parados enquanto um país se torna comunista em razão da irresponsabilidade de seu povo”.

Ele é apontado como o mentor da “Operação Condor” (no Brasil, também chamada de Carcará), uma aliança político-militar entre os vários regimes militares da América do Sul – Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Uruguai – com a CIA, serviço secreto dos Estados Unidos, levada a cabo nos anos 1970 e 1980. Seu objetivo era neutralizar opositores dessas ditaduras nos países do Cone Sul e reagir à OLAS (Organização Latino-Americana de Solidariedade), criada por Fidel Castro.

Guerra do Yom Kipur

A maior crise internacional enfrentada por Kissinger no segundo mandato de Nixon foi a Guerra do Yom Kipur, em 1973, em Israel. O conflito tinha como motivação principal o desejo do Egito e da Síria de recuperar seus territórios, respectivamente, a Península do Sinai e as Colinas de Golã, perdidos durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967. A guerra ganhou este nome porque Israel foi invadido – e surpreendido – justamente durante o Yom Kipur de 1973 (Ver artigos no número 81 de Morashá)

De um lado, estavam o Egito e a Síria, que tinham o apoio e armamentos da União Soviética. Do outro, Israel, apadrinhado pelos Estados Unidos. Assim, o que deveria ser um confronto regional poderia levar a um enfrentamento militar entre as superpotências de então.

A Guerra do Yom Kipur teve implicações profundas e provocou um rearranjo político-estratégico na região, que repercute até os dias de hoje. Tudo com a sagaz participação de Kissinger, que teve papel fundamental no acordo de paz instituído entre Israel e o Egito, no pós-guerra e a ida de Sadat a Jerusalém – mesmo que isso o tenha levado a jogar para os dois times.

Um exemplo de sua atuação é que, sob a orientação de Kissinger, os Estados Unidos fizeram a maior ponte aérea militar da História para entregar 22 mil toneladas de equipamentos militares a Israel no meio da guerra, em pleno campo de batalha, atendendo pedido alarmado da primeira-ministra israelense Golda Meir, através de seu embaixador em Washington, Simcha Dinitz.

Em 22 de outubro, os Estados Unidos e a União Soviética negociaram um cessar-fogo, mas, nos bastidores, Kissinger avisou a Golda que o governo americano não se importaria, pelo contrário, se Israel continuasse com operações militares antes do início da trégua. Resultado: Israel avançou em várias frentes de batalha e cercou o 3º Exército do Egito, no Sinai.

Kissinger conseguiu, mais uma vez, tirar proveito de um cenário pós-conflito: como a guerra havia prejudicado a relação entre Egito e União Soviética, ele viu nisso a chance de o governo dos Estados Unidos se aproximar do então presidente do Egito, Anwar Sadat. Os Estados Unidos queriam melhorar sua posição de influência no Oriente Médio, uma vez que em 1973 tinham, além de Israel, apenas um amigo e aliado, o Rei Feisal, da Arábia Saudita. Kissinger conseguiu trazer o Egito para a órbita americana e, consequentemente, a total abertura e controle da região estratégica do Canal de Suez. Em 1977, Anwar Sadat visitou Israel, abrindo caminho para as negociações que culminaram com o Acordo de Paz de Camp David, residência de verão do presidente dos Estados Unidos, em 1979, quando o Egito reconheceu o Estado de Israel e houve a devolução da Península do Sinai aos egípcios.

Judeus soviéticos

Uma grande polêmica na biografia de Kissinger é a questão da imigração de judeus da então União Soviética para Israel e Estados Unidos, na década de 1970. De 1972 a 1975, o Congresso Americano discutiu e articulou a criação de uma Lei (que ficaria conhecida como Emenda Federal Jackson-Vanik, em referência aos seus criadores) que iria impor fortes sanções econômicas aos países do bloco soviético que restringissem a emigração e a livre circulação de pessoas.

A medida era uma resposta à política soviética adotada em 1972 de taxar pesadamente e, na prática, proibir, por meio de várias medidas adicionais, a emigração de pessoas nascidas no bloco para outros países, especialmente aquelas com boa formação educacional. A ação atingia mais pesadamente os judeus. Como a emigração de judeus soviéticos para Israel ia contra os interesses dos países árabes, a medida do governo de Moscou era vista como um afago a seus aliados de então: Egito, Síria e Cia. Durante todo o período de tramitação da Emenda Jackson-Vanik, a administração Nixon, em especial o Secretário de Estado (leia-se Kissinger), trabalhou para derrubar a lei ou, ao menos, postergar sua implantação, já que via no projeto um empecilho aos objetivos da política externa americana.

Durante anos Kissinger nunca foi devidamente ‘perdoado’ por ativistas, políticos e associações judaicas dos Estados Unidos, especialmente porque diálogos entre ele e Nixon revelaram ser verdadeira a sua oposição à lei, tendo ficado famosa uma frase dita ao presidente, após encontro com Golda Meir, de que “a emigração de judeus russos não era uma prioridade do governo americano e que, se os russos colocassem os judeus em câmaras de gás, isso não seria um problema político. No máximo, humanitário...”.

Em um artigo assinado por Kissinger e publicado em 2010 no jornal The Washington Post, ele se defendeu, afirmando que a frase foi exposta fora de contexto e que a oposição pública à Emenda Jackson –Vanik era apenas uma estratégia para tirar o maior número possível de judeus da então União Soviética sem publicidade e sem utilizar os imigrantes com objetivos político-eleitoreiros. “Para alguém que perdeu muitos parentes próximos e cresceu com pessoas que passaram pela mesma situação, é doloroso ver uma frase que se disse fora de contexto. (...) Minha intenção à época era que a retirada dos judeus da então União Soviética fosse feita sem alarde, de forma silenciosa, para resguardar a segurança de todos”, escreveu.

Aposentadoria? Jamais...

Com a renúncia do presidente Richard Nixon, em agosto de 1974, seu sucessor, Gerald Ford, procurou dar continuidade ao governo anterior e manteve Kissinger como Secretário de Estado. Foi quando os norte-vietnamitas quebraram o acordo de paz retomando seu avanço sobre o Vietnã do Sul. Quando Saigon, a capital, caiu sob as forças comunistas, em 1975, Henry Kissinger se ofereceu para devolver sua medalha do Prêmio Nobel. Afinal, a paz ainda era um sonho distante naquela região... Nas eleições de 1976, Gerald Ford foi derrotado por Jimmy Carter. Em seu último mês no governo, Ford concedeu a Kissinger a Medalha Presidencial da Liberdade, a mais alta honraria civil da nação. O mandato de Kissinger como Secretário de Estado terminou em 1977. Desde então, dedicou-se a lecionar, escrever dezenas de livros e dar consultorias (em 1980, ele ganhou o National Book Award por seu livro de memórias The White House Years e, em 1982, fundou a empresa de consultoria Kissinger and Associates). Dentre seus livros, estão: Diplomacia (1994); Does America Need a Foreign Policy? (2001); Ending the Vietnam War (2002); Sobre a China (2011) e Ordem Mundial (2015).

Nos últimos anos, Kissinger uniu-se ao ex-Secretário de Estado George Schultz, ao ex-senador Sam Nunn e ao ex-Secretário de Defesa William Perry para pedir pela extinção total e completa das armas nucleares. Anos após os acontecimentos da Guerra de Yom Kipur e a saída dos judeus da então União Soviética, novos arquivos até então secretos foram liberados ao público, revelando os bastidores da diplomacia americana. Novos livros foram publicados sobre Kissinger que relatam sua atuação durante a 2ª Guerra Mundial, o antissemitismo de Nixon, a Guerra de Yom Kipur e sua amizade com os líderes de Israel, Golda Meir, Rabin e Peres ... e muito mais.

Em junho de 2012, o então Presidente Shimon Peres, uma semana após Kissinger ter recebido a Medalha Presidencial da Liberdade das mãos do Presidente Barack Obama, concedeu-lhe a versão israelense da mesma honraria em reconhecimento por sua atuação a favor de Israel. O título lhe foi concedido “por sua contribuição singular a Israel e à paz no Oriente Médio, e por ser um estadista com visão e criatividade” – ao que o homenageado respondeu: “Meus pais ficariam mais orgulhosos com esta honraria do que com quaisquer outras que eu tenha recebido ao longo da vida”.

Em novembro de 2014 foi o laureado com o Prêmio Theodor Herzl do World Jewish Congress, “por ter contribuído com conhecimento, brilho e grande habilidade ao cargo de Secretário de Estado”, nas palavras de Ronald S. Lauder, presidente da instituição. E, por ocasião de seu 93º aniversário, Shimon Peres quis agradecer mais uma vez a Kissinger por sua contribuição à História do Estado Judeu. Em grande evento da comunidade judaica de Montreal, diante das 2.500 pessoas presentes, Peres declarou: “A sabedoria não envelhece jamais; e tenho um exemplo vivo aqui à minha direita. Henry Kissinger foi o maior estadista de nossa era”.

BIBLIOGRAFIA

Slater, Elinor e Slater, Robert, Great Jewish Men, JDavid, 1996

Oren, Michal, Six Days of War, Oxford University Press, 2002

Encyclopaedia Judaica, Second Edition, Volume 12

Academy of Achievement - http://www.achievement.org/

Artigo de Henry A. Kissinger “Putting the Nixon tape in context”, publicado no The Washington Post em 26 de dezembro de 2010