Um dos princípios da religião judaica é a oferenda das primícias ao Todo Poderoso. A primeira fruta da estação, a primeira semente da colheita, eram oferecidas a D’us, pois não pertenciam aos mortais...

O primogênito dos filhos de Israel também não pertencia aos pais. Os Cohanim e os Levitas são servidores de D’us, e cuidavam do Templo. Por isso eram isentos das oferendas, enquanto que os filhos de Israel tinham obrigação de oferecer as primícias.

Quando numa família judia (não sendo Cohen ou Levi) a primeira criança do sexo masculino completa 30 dias de vida, é protagonista principal de um lindo ritual, chamado Pidion. É uma comemoração muito esperada pelos pais e pelos familiares.

A cerimônia segue um ritual muito especial. Os familiares e os convidados assistem a festa com muito bom humor e alegria. Geralmente, o Pidion é anunciado com uma semana de antecedência para dar tempo que um número maior de pessoas estejam a par da festa e compareçam. Assistir a um Pidion é uma grande mitzvá, equivalente até a 80 jejuns. Por isso, procura-se sempre fazer a cerimônia num local amplo, que possa conter bastante gente. Geralmente não se convida para um Pidion, pois se, por acaso, os anfitriões esquecerem de convidar alguém, este perderá a chance de cumprir esta grande mitzvá.

Antigamente, nas comunidades de Ankara e Istambul, a mãe da criança usava o vestido de noiva para o Pidion. Em meados do século XX, passou-se a usar apenas o véu do vestido e, atualmente, usa-se roupas normais

O ato simbólico e o diálogo travados diante de parentes e convidados geralmente é feito da seguinte forma: o pai do menino entrega o filho a um Cohen, judeu de ascendência sacerdotal, e diz: "Este meu primogênito é o primogênito de sua mãe e o Santificado, O Abençoado seja, ordenou-nos que o redimíssemos". Este é o mandamento 18-15 do Livro de Números: "O primogênito do homem, tu o redimirás certamente e o primeiro filhote de bestas impuras, tu resgatarás".

O pagamento do resgate é fixado pelas Escrituras em 5 shekelim de prata (equivalentes a 101 gramas de prata pura. Nos Estados Unidos usa-se 5 dólares de prata e o dinheiro geralmente destina-se a uma instituição de caridade). Aqui em São Paulo costuma-se colocar as moedas em leilão. O dinheiro arrecadado vai para caridade.

O Cohen pergunta o que o pai prefere, o primogênito ou os 5 shekelim e o pai responde: "Prefiro resgatar meu filho e aqui está o resgate a que me obriga a Torá". O Cohen aceita o dinheiro, devolvendo então o filho a seu pai, que diz bênçãos agradecendo a D’us. O Cohen coloca o dinheiro sobre a cabeça da criança e recita: "Isto ao invés daquilo, isto no lugar daquilo, isto em resgate daquilo". E com um cálice na mão cheio de vinho, reza para D’us dar paz e proteção à criança.

O porquê da tradição

O Pidion é uma alusão à época do cativeiro dos israelitas, quando foram sacrificados todos os primogênitos do Egito e poupados os primogênitos israelitas. Esses "pertenciam" a D’us e, por isso, todo primogênito do sexo masculino era consagrado ao serviço pessoal de D’us no Templo de Jerusalém.

A tradição talmúdica diz que até ser concluído o Santuário de Jerusalém, o clero que apoiava os filhos de Israel no deserto era composto de primogênitos e depois só os das tribos de Levi. Para ajudar a sustentar o clero, o resgate era feito com 5 shekelim. No livro do Êxodo, D’us disse a Moisés: "Santifica todos os primogênitos, tudo que sair do ventre em meio aos filhos de Israel, do homem ou do animal é Meu" (vale lembrar que os judeus foram o primeiro povo a abolir o sacrifício humano, como por exemplo na troca do sacrifício do filho de Abrahão pelo carneiro).

Guia para o Pidion

Nem todo primogênito de mãe israelita deve ser resgatado. A criança que tiver um irmão mais velho de um pai que tenha se casado antes, deve fazer o Pidion, se for o primogênito da mãe. Por outro lado, não é preciso fazê-lo quando ele é o primogênito do pai, mas não da mãe. Se a mãe tiver abortado antes, o filho não precisa ser redimido, a não ser que o aborto tenha sido feito nos primeiros 40 dias de concepção. Nem um filho nascido de cesariana precisa ser redimido, porque não houve "abertura do útero" e se a mãe tiver depois um outro filho de parto normal, esse também estará isento. O filho de um Cohen ou Levi tampouco precisa ser redimido. Nem o primogênito de uma filha de Cohen ou Levi casada com um israelita. Portanto, só se faz Pidion quando os dois pais são da tribo de Israel. Nem sempre a cerimônia é feita no 31º dia. Em Pessach e Sucot a redenção não é adiada. Mas se cair no Shabat é adiada para outro dia.

Esta cerimônia linda e comovente sempre é esperada com muita alegria pela comunidade. É uma das razões também pela qual se dá preferência ao nascimento de um criança do sexo masculino como primogênito.