O Talmud se refere ao Shemonê Esrê simplesmente como Tefilá – oração – por ser o ponto alto de todas as orações. Trata-se do veículo através do qual formulamos nossas necessidades individuais e coletivas e oramos a D’us para que as realize.

Composta no início do período do Segundo Templo pelos Anshei Knesset HaGuedolá, os Membros da Grande Assembleia, esta oração foiorganizada em sua forma atual sob a orientação do Raban Gamliel II. Cento e vinte Sábios, entre os quais mais de oitenta profetas, participaram de sua composição. Cada uma de suas palavras, tendo sido escritas por sábios e místicos, é, portanto, carregada de profundo significado e grande poder espiritual. Sua mera recitação, mesmo se a pessoa não entenda seu significado, deixa uma marca nos mundos espirituais e evoca bênçãos Divinas para quem as profere, para o Povo Judeu e para o mundo, como um todo.

Durante os dias da semana judaica, o Shemonê Esrê é recitado trêsvezes ao dia: durante Shacharit (a prece matinal), Minchá (a prece vespertina) e Maariv (a prece noturna). O costume de se orar três vezes ao dia foi instituído por nossos patriarcas. Avraham instituiu o Shacharit, Itzhak criou a oração de Minchá e Yaacov a de Maariv. As três orações de Shemonê Esrê também são ditasem lugar das oferendas diárias no Templo Sagrado (Talmud, Berachot 26b).

No Shabat, em um Yom Tov (dia sagrado) e em Rosh Chodesh (o início de um novo mês do calendário hebraico), recitamos uma quarta oração de Shemonê Esrê, chamada de Mussaf. Em Yom Kipur, dia mais sagrado do calendário judaico, recitamos um quinto Shemonê Esrêh – a Neilá.

É importante observar que o conteúdo das orações de Mussaf e Neilá, bem como do Shemonê Esrê recitado no Shabat e nos Yamim Tovim, é muito diferente do que o que se recita durante os dias de semana. Por exemplo, os recitados no Shabat não incluem pedidos individuais, pois o Shabat é um dia em que devemos recolher-nos de nossas preocupações materiais. Portanto, a oração menciona a santidade do dia e a recompensa que recai sobre aqueles que o guardam e se rejubilam nele.

Este ensaio é um estudo introdutório do Shemonê Esrê recitado durante os seis dias da semana judaica, portanto, o conteúdo dos demais fica além do escopo deste artigo. Nosso propósito não é traduzir a oração nem discutir as leis que dizem respeito à sua recitação, mas sim elucidar o significado geral de suas bênçãos.

Dezoito Berachot

Em hebraico, Shemonê Esrê significa, literalmente,“dezoito”. A oração original consistia de dezoito bênçãos, mas adicionou-se, posteriormente, uma décima-nona. Contudo, seu nome não foi mudado. O Zohar, obra fundamental da Cabalá, chama a oração de Amidá – a prece “em posição vertical”, por ser recitada de pé. Os dois nomes são igualmente usados.

O Shemonê Esrê é composto de três partes. Na primeira, formada por três bênçãos, o suplicante presta tributo a D’us, como um servo que louva seu mestre antes de lhe fazer um pedido. A parte intermediária, que consiste de treze bênçãos, contém os pedidos do suplicante. A parte final traz as três últimas bênçãos da oração e é uma expressão de gratidão e confiança na benevolência Divina.

Os rogos feitos na seção intermediária do Shemonê Esrê não devem ser interpretados como uma lista de pedidos egoístas. Antes de recitar cada uma das bênçãos, reconhecemos o domínio Divino sobre toda a Criação – afirmamos nossa total dependência Dele – e quando Lhe fazemos pedidos, não pedimos só para nós, mas também para os demais. Ao nos submetermos perante o Todo Poderoso e recitarmos a oração com o estado de espírito adequado, tornamo-nos o canal da plenitude e bondade Divina neste mundo: servimos como condutores para as bênçãos Superiores a serem transmitidas dos mundos espirituais para o mundo material em que vivemos.

Há um grande valor em simplesmente recitar as palavras da Amidá, mesmo para quem não as entende. Mas qualquer oração é mais eficaz se a pessoa sabe o que diz. Nosso propósito ao elucidar as berachot do Shemonê Esrê é torná-lo mais significativo mesmo para aqueles que conhecem o significado literal de suas palavras, mas não a profundidade desse significado.

Avot - Patriarcas

A primeira bênção do Shemonê Esrê é a mais importante pelo fato de encapsular a essência do judaísmo. Abrimos essa oração afirmando que o Eterno é nosso D’us e D’us de nossos pais, e que somos filhos dos homens que ensinaram ao mundo sobre D’us e sobre Sua Unicidade: os Patriarcas – Avraham, Itzhak e Yaacov. Esta primeira berachá relembra a grandeza desses três patriarcas do judaísmo, em cujo mérito D’us prometeu ajudar o Povo Judeu através de toda a história.

Nesta primeira bênção, proclamamos que D’us é El Elyon – o Altíssimo – significando que D’us é tão exaltado que está muito além da compreensão até mesmo dos seres celestiais mais elevados e sagrados. Afirmamos, também, que D’us é bondoso e generoso – que Ele concede sua bondade – e que, como Senhor de tudo e Mestre da Criação, tudo o que existe foi criado por Ele, a Ele pertence e é completamente dependente Dele.

Guevurot – O Poder Divino

A segunda bênção da Amidá é uma afirmação do poder de D’us. Não afirmamos, apenas, que Ele é a fonte de toda a Vida, mas que toda a existência depende continuamente Dele. D’us não nos deu simplesmente a vida, como o fizeram nossos pais, mas Ele a preserva e, mesmo, a restaura.

O conceito de que D’us faz renascerem os mortos é encontrado três vezes nesta parte e alude a três tipos de ressuscitações. O primeiro ocorre diariamente, ao nos levantarmos após o sono letárgico, que se assemelha à morte. Como ensina a Cabalá, grande parte de nossa alma nos deixa quando adormecemos; e se D’us não a devolvesse a nós, jamais voltaríamos a despertar. A segunda ressuscitação ocorre com frequência, ainda que não diariamente: é a chuva que tem a qualidade essencial à vida de fazer crescer a vegetação. Se D’us retivesse a chuva, a vida na Terra não se manteria. E, por último, a bênção alude à ressuscitação dos mortos que ocorrerá na Era Messiânica. Essa bênção nos ensina que o poder Divino é ilimitado a tal ponto que mesmo um fenômeno que pareça inevitável – como a morte – será, um dia, anulado, e os mortos voltarão à vida.

Kedushat Hashem – a Santidade do Nome de D’us

Nesta terceira bênção da Amidá – a última da primeira parte – afirmamos a Santidade de D’us e a Santidade de Seu Nome.

Antes de suplicarmos a D’us por nossas necessidades, é imperativo entender que estamos apelando a um Ser que não é apenas o Criador de Tudo, mas que está acima de Sua Criação. Nada e ninguém a Ele se comparam. Reverenciá-lo e honrar Seu Nome são dois mandamentos capitais no judaísmo. O pecado de Chilul Hashem – da violação do Nome de D’us – por agir de maneira que desrespeite D’us e Seus mandamentos – é o pior dos pecados. Por outro lado, Kidush Hashem – a santificação ao Nome de D’us e atos que engrandecem a Torá e o Povo Judeu – é o maior de todos os mandamentos.

Antes de nos chegarmos a D’us e rogarmos que nos abençoe e atenda nossos pedidos, precisamos recordar a Quem nos dirigimos, devendo falar e agir com palavras de louvor e elevação.

Biná – Discernimento

Esta bênção inicia a seção intermediária do Shemonê Esrê, na qual fazemos nossos pedidos a D’us. A primeira súplica é por sabedoria e conhecimento, pois, ensina o Talmud que aquele que detém o conhecimento tudo possui, e aquele que não o possui está despido de tudo.
Aquele que não tem sabedoria ou conhecimento pode até ser uma pessoa bem intencionada, mas não tem o poder de discernir o bem do mal, o certo do errado. Uma pessoa justa necessita, portanto, de sabedoria, do poder do discernimento e de conhecimentos. É por isso que o estudo da Torá é considerado um dos mandamentos mais importantes do judaísmo.

Esta bênção menciona Chochmá (sabedoria), Biná (compreensão) e Daat (conhecimento), que são as três Sefirot intelectuais através das quais D’us dirige o mundo. Essas Sefirot estão contidas na alma dos seres humanos. Chochmá é sua capacidade criativa; Biná é seu poder de análise e Daat é o conhecimento que ele conquista, bem como a aplicação prática de sua sabedoria e compreensão.

Nesta bênção, reconhecemos que nossas capacidades intelectuais são uma dádiva Divina e pedimos a Ele que nos abençoe continuamente para que possamos aumentar essa sabedoria e esse discernimento e ter a capacidade de assimilar a Torá – que é a transmissão da Divina Sabedoria e Vontade – para que possamos viver de acordo com a Sua Vontade.

Teshuvá – Arrependimento

O Talmud Yerushalmi ensina que a bênção de Daat precede a de Teshuvá porque a compreensão é um pré-requisito para o arrependimento. A pessoa somente se arrependerá quando entender a gravidade de seus erros e contra Quem pecou. O arrependimento é um mandamento essencial no judaísmo – é o retorno ao nosso Criador. No entanto, a pessoa não pode fazê-lo a menos que tenha o discernimento de distinguir entre o que é bom e o que é mau. Portanto, após orar para ter essa compreensão, podemos pedir a D’us que nos ajude a alcançar o arrependimento.

É interessante notar que é apenas nesta prece e na seguinte – em que pedimos pelo perdão – que nos referimos a D’us como nosso Pai. Um pai tem a responsabilidade de ensinar a seu filho a maneira digna de se viver, e seu amor e compaixão paterna sempre se farão valer quando o filho se arrepender dos erros cometidos.

Selichá – Perdão

Após ter orado a D’us para nos ajudar a nos arrependermos, pedimos que Ele nos perdoe por esses erros. Como ensina o Talmud Yerushalmi, já tendo D’us aceitado nosso arrependimento, podemos pedir o Seu perdão.

Mas esse perdão não faz sentido se a pessoa continua a cometer erros. Portanto, a admissão de que os comete e o desejo de melhorar são pré-requisitos para a absolvição Divina.
É importante observar que nesta bênção rogamos pelo perdão Divino por pecados cometidos contra D’us. Como ensina o Talmud, se cometermos pecados contra outro ser humano, precisamos buscar o seu perdão, pois somente o ofendido – e não D’us – pode nos perdoar. Mesmo Yom Kipur não tem o poder de expiar pelos pecados que cometemos contra nossos semelhantes.

Gueulá – Redenção

Esta bênção de Redenção não se refere à redenção do exílio, mas é uma oração de libertação dos problemas e aflições que nos podem atribular em nosso cotidiano.

Após suplicarmos pelo perdão, podemos pedir que D’us nos redima das atribulações que podem afligir-nos em decorrência de nossos erros. Às vezes, a pessoa pode sofrer devido às más ações cometidas, ainda que nem sempre. E quando somos perdoados por nossos pecados, poderemos pedir para que o Todo Poderoso nos livre de nossos problemas e aflições.

Refuá – Saúde e cura

Oramos por saúde e cura, pois, como sabemos, nenhum médico, tratamento ou medicamento pode assegurar a cura. Ainda que D’us tenha criado as leis da natureza e que tenhamos que viver em consonância com as mesmas, sem depender de milagres, em última instância, é D’us quem decidirá quem será e quem não será curado. A oração não é um substituto para o tratamento médico, mas é fundamental para a cura e o bem-estar.

Esta bênção é recitada não apenas pelos que estão enfermos e necessitam ser curados, mas também como uma súplica para que sejamos abençoados com uma saúde plena.

A bênção de Refuá não se refere apenas à saúde do corpo, mas à da mente e da alma. Muitos têm corpos sadios, mas sofrem psicológica, emocional e espiritualmente. Esta oração, portanto, abrange todas as curas.

No Talmud Yerushalmi, nossos Sábios explicam por que a benção de Refuá segue a de Gueulá: de que adianta ter boa saúde se a pessoa é perseguida por seus inimigos, que destroem sua paz de espírito e a afligem? A Gueulá é, portanto, um pré-requisito para uma Refuá plena.

Bircat Hashanim – anos de prosperidade

Esta é uma bênção para que nossas atividades comerciais sejam abençoadas e para que desfrutemos de prosperidade. Aqueles que trabalham na agricultura e na área comercial sabem que a competência e o afinco não garantem o sucesso. Todo empenho exige “um algo mais” para se chegar ao sucesso. Alguns o chamam de sorte; nós o chamamos de bênção Divina. Pedimos que D’us abençoe nossas empreitadas para que possamos ter sucesso e prosperidade e para que possamos desfrutar os frutos de nosso labor. É interessante observar que a bênção da saúde precede a da riqueza. Isto porque a pessoa não pode desfrutar da riqueza pessoal se sofre de algum mal físico, psicológico, emocional ou espiritual. Somente pessoas saudáveis podem desfrutar suas posses plenamente.

Ao pedir a D’us que abençoe nossas empreitadas, subjugamo-nos e admitimos ser destituídos de poder sem Sua ajuda. Mas se pedirmos Sua bênção, devemos trabalhar de acordo com Sua Vontade. E quando somos abençoados com riqueza, não devemos perder nossa humildade nem nossa dependência Dele: devemos sempre recordar quem é a verdadeira Fonte de nossa riqueza, e devemos usar essa generosidade Divina segundo a Sua Vontade – ou seja, para bons propósitos, realizando atos de bondade, generosidade, e disseminando a santidade no mundo.

Kibutz Galuiot – Reunião dos Exílios

Esta é a primeira bênção do Shemonê Esrê que se refere ao Povo Judeu não individualmente, mas como Nação. Nela, pedimos a D’us que reúna todos os judeus que estão exilados pelo mundo afora e os traga de volta ao seu Lar – Eretz Israel. A reunião dos exílios é o início da Redenção Messiânica, um processo que será um benefício não apenas para o nosso povo, mas para toda a humanidade.

Há três diferenças básicas entre este pedido de Redenção e o anterior (a bênção de Gueulá). Primeiro, a bênção anterior se refere à ajuda Divina em todo tipo de problema e sofrimento, enquanto que esta se refere à Redenção futura do Povo Judeu de seu exílio. Segundo, a primeira bênção trata da salvação física, enquanto que esta é uma súplica pela libertação espiritual de nosso povo. Terceiro, esta não é apenas uma súplica para nos libertar da opressão, mas um pedido para que D’us traga a Era Messiânica, que se iniciará com a reunião de todos os exílios judeus em Eretz Israel.

Din – Restauração dos Juízes

A restauração dos juízes é o segundo passo – após a reunião dos exílios na Terra de Israel – a caminho da realização da Era Messiânica. Há uma opinião entre vários de nossos Sábios, entre eles Maimônides (o Rambam), de que antes da chegada do Mashiach, o Sanhedrin – a Corte Suprema Judaica – será restabelecida. Há uma tradição que diz que caberá a Eliahu HaNavi, que anunciará a chegada do Mashiach, recompor esta mais alta corte judaica.

Um segundo tema desta bênção é o desejo de que D’us ajude todos os juízes judeus a julgar com sapiência e justiça.

Bircat Haminim – Contra a heresia

Esta bênção não era parte das dezoito originais que compunham o Shemonê Esrê. Foi incorporada durante o mandato de Raban Gamliel II como Nasi (líder espiritual) de Israel algum tempo depois da destruição do Segundo Templo de Jerusalém.

Foi composta em resposta às ameaças de seitas judias heréticas que tentavam afastar os judeus da Torá. Tais seitas constituíam uma ameaça ao judaísmo autêntico e usavam seu poder político para oprimir os judeus seguidores da Lei e difamá-los perante o governo romano antissemita, que desejava varrer o judaísmo da face da Terra. O propósito desta bênção era pedir a ajuda Divina na luta contra esses heréticos difamadores, bem como alertar o Povo Judeu contra esse perigo, espiritual e físico, representado pelos inimigos do judaísmo.

Apesar do desaparecimento em Israel dessas seitas contra quem a bênção era dirigida, a mesma continua relevante, pois, através da História, temos visto muitos povos e nações travarem guerras físicas e espirituais contra o Povo Judeu, esperando que nós fôssemos abandonar a Torá e, consequentemente, nos assimilar.

TzadikimOs Justos

Os verdadeiramente justos e devotos, os anciãos e os eruditos, são os líderes da nação judaica. Através da História, os judeus tiveram líderes políticos e comunitários, mas em momentos decisivos de nossa vida, como indivíduos e como nação, voltamo-nos aos Tzadikim – homens dotados de poderes espirituais, que podem ver o futuro e guiar-nos no caminho do Bem. Como nosso povo precisa desses homens, os Sábios instituíram uma oração especial por seu bem-estar.

Um Tzadik diferencia-se por seu relacionamento especial e íntimo com D’us. Nesta bênção, pedimos que o Todo Poderoso nos abençoe pelo mérito dos justos e proclamamos nossa confiança em Sua bondade.

Nossos Profetas e Sábios ensinaram que D’us honra a confiança daqueles que verdadeiramente confiam Nele. Ao proclamar que confiamos apenas em D’us, atraímos Suas bênçãos e Sua proteção.

Binyan Yerushalaim – A Construção de Jerusalém

O exílio do Povo Judeu e todo o seu sofrimento posterior são sinônimos da destruição de Jerusalém e da queda do Templo Sagrado. Todos os judeus podem retornar à Terra de Israel, nossos Juízes podem ser restaurados, mas o exílio não será concluído enquanto Jerusalém não tiver sua glória restaurada, com a construção do Terceiro Templo Sagrado.
Portanto, após ter pedido pelas bênçãos Divinas, materiais e espirituais, individuais e coletivas, rogamos por Sua bênção pela Cidade Santa. De fato, nenhuma bênção é completa até que o Trono da Santidade, Jerusalém, seja reconstruída em toda a sua grandeza.

Malchut Beit David – o Reino de David

O profeta Zecharia (6:12) ensina que um dos nomes do Mashiach será Tzemach, que significa literalmente o brotar ou florescer de uma planta. Isso significa que a Redenção é um processo lento, como o crescimento de uma planta, e mal percebido. Com efeito, o Talmud Yerushalmi ensina que a alma do Mashiach nasceu no dia em que o Segundo Templo foi destruído – há mais de 2.000 anos – e que está guardada no Jardim de Éden, até o dia em que será enviada a nosso mundo para trazer a era da Paz Universal.

O Mashiach deve ser descendente do Rei David. Nesta bênção, afirmamos que a salvação final do Povo Judeu não depende apenas da reunião dos exílios e da reconstrução de Jerusalém, mas também da vinda do Mashiach.

Kabalat Tefilá – A aceitação da oração

Esta bênção conclui a parte intermediária do Shemonê Esrê, na qual pedimos que D’us nos conceda nossas necessidades.

O propósito desta oração vai além de o homem se dirigir ao Criador, mas visa que suas palavras causem uma mudança no mundo. Assim sendo, concluímos esta parte pedindo ao Senhor do Universo que atenda nossas súplicas: que seja piedoso e aceite com compaixão e graça os nossos pedidos.

Alguns desses pedidos podem ser atendidos de imediato. Mas outros, especialmente os que concernem o fim do exílio e a chegada da Era Messiânica, incluindo a ressuscitação dos mortos, podem levar séculos ou até milênios para serem atendidos. Esta demora na resposta Divina não significa que nossas preces estejam sendo ignoradas. Significa que é necessário que milhões de pessoas recitem suas preces através dos séculos para que milagres desta magnitude possam ocorrer. Cada vez que um judeu reza o Shemonê Esrê, está contribuindo para esse objetivo: está acelerando o processo que resultará na criação de um novo mundo – livre da morte e de todas as formas de sofrimento e discórdia.
 
Avodá – o Serviço do Templo

Esta bênção inicia a parte final do Shemonê Esrê. Como um servo é grato pelo privilégio de ter a oportunidade de se expressar perante seu mestre, nós agradecemos ao Infinito por estar atento às nossas preces.

Ao concluirmos as orações, que são nosso substituto para o serviço no Templo, rogamos a D’us para que o Beit HaMikdash seja reconstruído e que o verdadeiro serviço seja restaurado em toda a sua glória.

Pedimos que Ele aceite com amor e graça as orações e as “labaredas das oferendas” de Israel. Como o Templo não existe, esta expressão é usada metaforicamente. Refere-se às almas e feitos dos Justos e às orações do Povo Judeu, que são tão agradáveis a D’us quanto as oferendas sacrificiais. Alude, também, ao fogo do altar e às futuras oferendas da Era Messiânica.

Hoda’á - Agradecimento

Esta bênção não é uma súplica, mas uma ação de graças. Reconhecemos que cada sopro de vida e pulsar do coração é resultado direto da Misericórdia Divina. Proclamamos confiar nossa vida a D’us e que sempre que adormecemos, a Ele entregamos nossa alma, que deixa nosso corpo e que será devolvida a nós quando acordarmos.

Nesta bênção, reconhecemos a constante Providência Divina e que tudo o que existe, inclusive os eventos que parecem ser mundanos, são, de fato, produto do envolvimento Divino e intervenção em Sua Criação. Agradecemos a D’us por Suas maravilhas – as coisas familiares que não vemos como milagres porque a elas nos acostumamos, tais como a respiração, a chuva e o sol – e por Seus milagres, que ocorrem quando as leis da natureza são claramente quebradas, fazendo-nos lembrar que Ele, que criou o mundo e instituiu suas leis, pode quebrá-las quando e da forma que Ele julgar por bem.

Shalom – Paz

A bênção final do Shemonê Esrê contém alusões à Bênção Sacerdotal (Bircat Cohanim), e as seis formas de santidade nela contidas – paz, bondade, bênção, graça, gentileza e compaixão – aludem às seis bênçãos da Bircat Cohanim.

Nossos Sábios ensinam que não há bênção maior do que a Paz. De fato, a palavra Shalom é derivada de Shalem – completo, em hebraico – para ensinar que o homem que tem paz, tem tudo; enquanto que quem não a tem, nada tem.

Orações finais

Concluímos o Shemonê Esrê com um breve pedido de que as palavras de nossa boca e a meditação de nosso coração encontre favor diante de D’us. As obras da Cabalá atribuem grande santidade a esse verso e enfatizam que o mesmo deve ser recitado lenta e fervorosamente. Ele deve ser recitado antes e depois das rezas finais (Elokei Netsor), que são súplicas recitadas na conclusão do Shemonê Esrê. Entre essas há um pedido para que D’us nos proteja de situações que nos tentem a falar mal de alguém. Pedimos também que sejamos capazes de cultivar o atributo da humildade e que possamos ignorar os insultos, e oramos para que D’us abra nosso coração à Sua Torá, para que possamos estudá-la com propriedade e cumprir seus mandamentos.

É apropriado concluir o Shemonê Esrê, que serve como substituto para o serviço do Templo, com a súplica de que D’us reconstrua o Templo Sagrado para que possamos voltar a realizar o serviço Divino, que ocorria diariamente no Beit HaMikdash. Pedimos também que D’us nos dê nossa porção em Sua Torá, isto é, que Ele permita que cada um de nós descubra que assuntos da Torá estão mais ligados à nossa alma, para que possamos estudá-la com afinco, profundidade e entusiasmo.

Bibliografia:
Siddur for Weekdays with an Interlinear Translation - The Schottenstein Editon - Artscroll Mesorah
Talmud Yerushalmi, Berachot