Considerado uma das sete maravilhas naturais do mundo e um dos principais atrativos turísticos de Israel, recebendo milhares de turistas por ano, a importância do Mar Morto, em hebraico, Yam Hamelach, literalmente Mar de Sal, remonta à Antiguidade bíblica. Relatos na Torá, nas obras de Flávio Josefo e de outros, assim como as ruínas arqueológicas em seu entorno, revelam a importância da região desde tempos remotos.

Cercado pelas montanhas da Judeia, a oeste, e pelas montanhas de Moab, a leste; pelo Vale do Jordão e pelo Kineret, ao norte; pelo deserto do Neguev e pelo Mar Vermelho, ao sul, avista-se o Mar Morto. Localizado a 400 metros abaixo do nível do mar, possui a maior densidade salina - suas águas contêm 33% de sal -, quantidade 10 vezes superior à encontrada no Mar Mediterrâneo, e não permite nenhum tipo de vida entre suas águas. É justamente esta densidade que não permite que objetos ou pessoas afundem em suas águas.

O nome Mar Morto somente surgiu após o advento do Cristianismo. Foi atribuído pelos monges cristãos, pelo espanto causado pela aparente ausência de qualquer forma de vida em suas águas.

Na Antiguidade, foi também chamado de Hayam Hacadmoni, o Antigo Mar; Yamá shel Sdom, Mar de Sodoma; e, ainda, Yam Ha’aravá, Mar do vale do Aravá. Em suas obras, o já citado Flávio Josefo localiza o Mar Morto nas proximidades da antiga cidade bíblica de Sodoma, mas refere-se às suas águas por seu nome grego: Asfaltite.

História e relato bíblico

Há mais de 4 mil anos, existiram um dia, ao sul do Mar Morto, as cidades de Sodoma e Gomorra, destruídas, de acordo com o relato bíblico, por D’us, por sua perversão e decadência moral.

As referências bíblicas à Sodoma (Sdom, em hebraico) encontram-se, principalmente, no livro Gênesis e sua destruição é relatada nos capítulos 18-19. Mas, é também citada em Deuteronômio, no Livro de Jó e no Talmud, assim como por nossos profetas.

De acordo com o texto bíblico, após ter ouvido o “clamor” das vítimas das iniquidades cometidas pelos habitantes de Sodoma e Gomorra, D’us determina a destruição dessas cidades. Nosso patriarca Abraão tenta intervir e D’us lhe promete que, se houvesse dez Justos, salvaria Sodoma. Mas na cidade não havia um Justo sequer e seu destino é selado. Apenas Lot, sobrinho de Abraão, e sua família, serão poupados, pois ele ainda guardava em si o espírito da hospitalidade que aprendera com nosso patriarca.

Os anjos enviados por D’us para destruir Sodoma ordenaram que Lot, juntamente com toda a sua família, deixasse a cidade imediatamente, alertando: “Sequer olhem para trás”. Assim que eles partem, D’us faz chover enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra. Não obedecendo às ordens dos anjos, a mulher de Lot se vira para olhar e é transformada em estátua de sal. De acordo com o Talmud, este sal chama-se Melach Sedomit, sal sodômico. Josefo, em sua obra, afirma que durante a sua vida, o pilar de sal ainda podia ser visto.

Uma chuva de sal completa a catástrofe (Deut. 29:22). Na planície queimada por enxofre e sal, a terra tornara-se estéril, sendo que lá “nada podia ser plantado e nenhuma vida brotaria” (Deut. 29:22). Quando a devastação se completou, surge um enorme lago de sal e betume, que se espalha a leste do deserto de Judá, e é conhecido em hebraico como Yam Hamelach, o mar de sal.

A exploração econômica da região já se iniciara desde o tempo dos nabateus. Outros habitantes da região também descobriram o valor das matérias-primas naturais que subiam à superfície, principalmente glóbulos de betume ou asfalto1 que eram então recolhidos em cestos. Os nabateus vendiam betume aos egípcios, que o utilizavam para embalsamar seus mortos. Este comércio se estendeu até a era romana. Os romanos chamavam a região de “Palus Asphaltites” (Lago de Asfalto).

Durante séculos o Mar Morto foi uma importante rota de comércio marítimo para navios que transportavam sal, asfalto e produtos agrícolas. São vários os portos em suas duas margens, incluindo-se os povoados de Ein Gedi, Khirbet Mazin (onde estão as ruínas da época dos hasmoneus), Numeira e Massada.

Na margem ocidental do Mar Morto, Herodes, o Grande, que governou a Judeia de 37 A.E.C. a 4 A.E.C., além de reconstruir o Segundo Templo em Jerusalém, construiu ou reconstruiu inúmeras fortalezas e palácios, sendo Massada a mais famosa. Massada foi erguida para ser uma fortaleza inexpugnável, pois em seu lado oriental a rocha desce, em queda absoluta, por 450 metros até o Mar Morto. A fortaleza estava desde 66 E.C. nas mãos dos zelotas, uma seita judaica que se opunha de forma acirrada à dominação romana. Em 70 tornou-se refúgio de outro grupo de zelotas e suas famílias. Liderados por Eleazar Ben-Yair, eles haviam sobrevivido à destruição de Jerusalém e do Segundo Templo pelos exércitos romanos. Trancados em Massada, os judeus passaram a atacar os romanos e conseguiram fazer frente ao inimigo até que, em 73, o governador romano Flavius Silva marchou sobre Massada com a 10ª Legião. Quando os romanos conseguiram tomar a fortaleza, encontraram seus 960 habitantes mortos – os judeus tinham optado pelo suicídio à rendição.

Outro marco importante na região é a fortaleza de Macários, originalmente construída pelo rei hasmoneu Alexander Jannaeus, em meados do ano 90 A. E.C.

Várias seitas de judeus estabeleceram-se no alto das margens do Mar Morto, sendo a mais conhecida a dos essênios de Qumran, a cerca de 2 km da margem noroeste do Mar Morto (atual Samaria). No final da década de 1940 e início de 1950, lá foram encontrados centenas de documentos e fragmentos de textos datados do período entre 150 A.E.C. e 70 da Era Comum que se tornaram conhecidos como os Pergaminhos do Mar Morto.

A cidade de Ein Gedi, mencionada inúmeras vezes na oração de Minchá, era rica na produção de caquis que eram usados para fabricar as fragrâncias utilizadas no serviço do Templo Sagrado de Jerusalém, usando uma receita secreta.

No século 19, o Rio Jordão e o Mar Morto foram explorados por várias expedições marítimas, tendo sido a primeira realizada em 1835 por Christopher Costigan, seguida pela de Thomas Howard Molyneux, em 1847, William Francis Lynch, em 1848, e John MacGregor, em 1869. Charles Leonard Irby e James Mangles viajaram ao longo das margens do Mar Morto em 1817 e 1818, mas não navegaram em suas águas.

A diversidade mineral da região e seu clima começaram a atrair cientistas e pesquisadores a partir de 1971.

Indústria e turismo

A riqueza mineral das águas e areias, aliadas a seu clima – são cerca de 330 dias de sol por ano – fazem da região do Mar Morto um local atraente para turistas o ano inteiro, principalmente europeus, durante o inverno. É considerado atualmente um dos principais atrativos turísticos de Israel, recebendo milhares de visitantes por ano. Hotéis de lazer proliferam na área, explorando não apenas as opções do chamado “turismo-saúde”, mas também as belezas naturais do deserto da Judeia, ideais para passeios de buggies e camelos, além de caminhadas em trilhas. Inicialmente construídos nas proximidades de Arad, os complexos hoteleiros – são mais de 20 hotéis de padrão internacional – concentram-se atualmente na área denominada Ein Bokek.

Além de muito sal, o Mar Morto possui também 21 tipos de minerais, entre os quais magnésio, cálcio e potássio – dos quais 12 não são encontrados em outras águas do mundo. A composição singular do mar já gerou inúmeros estudos científicos que comprovam que suas substâncias ativam o sistema circulatório, aliviam o reumatismo e atenuam a psoríase. Em seu redor, espalham-se montanhas de sal naturalmente esculpidas em forma de chaminés e cavernas. Entre estas, pode-se distinguir perfeitamente uma escultura em forma de cogumelo, que, segundo antigas tradições, seria a estátua da mulher de Lot.

A lama negra, composta por minerais do mar, também possui efeitos benéficos cientificamente comprovados para a saúde, que levaram ao desenvolvimento de uma próspera indústria cosmética cuja matéria-prima básica é extraída do mar e das areias. Para melhor conhecer seus segredos, foi fundado em 1992 o Centro de Pesquisa Médica do Mar Morto, que atua em parceria com hospitais e instituições acadêmicas de Israel.

O potencial mineral do Mar Morto, considerado por especialistas um depósito natural de potássio e bromo, entre outros, levou ao desenvolvimento de uma indústria química altamente lucrativa. Desde a instalação da Palestinian Potash Company, em 1929, primeira fábrica na margem norte do Mar, muitas outras surgiram. Em 1952 foi fundada a The Dead Sea Works, então estatal e remanescente da empresa de 1929. Em 1995, essa empresa foi privatizada e pertence atualmente à Israel Chemicals. A região produz milhões de toneladas de potássio, milhares de toneladas de bromo, soda cáustica e metal de magnésio, além de cloreto de sódio. As indústrias geram cerca de US$ 4 bilhões anuais pela venda de minerais extraídos do Mar Morto, principalmente potássio e bromo.

Mar ameaçado

Mas o Mar Morto está desaparecendo, segundo especialistas, em decorrência das altas temperaturas (média de 30o durante o inverno e 40o no verão) e do baixo índice de umidade, tornando o ar extremamente seco, além das atividades extrativistas. Imagens áreas feitas recentemente comprovam a evaporação do mar. Para tentar reverter este processo, a margem sul está sendo alimentada por um canal construído e mantido pela The Dead Sea Works.

Em uma conferência regional em 2009, especialistas e ambientalistas expressaram sua preocupação com a diminuição do nível da água, sugerindo até que as atividades ao redor do Mar Morto fossem reduzidas, incluindo a atividade agrícola. Em dezembro de 2013, Israel, Jordânia e Autoridade Palestina assinaram um acordo para implantar um aqueduto ligando o Mar Vermelho ao Mar Morto, com 180 km de comprimento e previsão de inauguração em cinco anos, o que acabou não acontecendo.

Em janeiro deste ano (2019), porém, o Ministério de Cooperação Regional de Israel anunciou a disposição do país em retomar o projeto que levaria água do Mar Vermelho para uma central de dessalinização, no Porto de Áqaba, na Jordânia, onde será tratada e, então transportada para o Mar Morto por um aqueduto de 200 km ao Norte. O projeto está sendo novamente analisado pelas autoridades dos países envolvidos.