Organização que há 110 anos tem-se dedicado ao reflorestamento da Terra de Israel, o Keren Kayemet LeIsrael conseguiu assegurar que o país fosse a única nação no mundo a terminar o século 20 com mais árvores do que quando este século se iniciou, apesar da aridez da região, escassez de água e conflitos com os vizinhos.

Durante os dois mil anos de dispersão, o Povo Judeu sonhou com sua volta à Terra de Israel, sua Pátria ancestral. Em 1897, Theodor Herzl começou um processo histórico que terminou com a criação do Estado Judaico: o Estado de Israel. Nesse ano foi realizado o 1o Congresso Sionista, na Basiléia, Suíça.

Mas nosso relato começa quatro anos mais tarde, em fins de  ezembro de 1901, no Cassino da Cidade da Basiléia. Dentro
da sala principal, participando do 5o Congresso Sionista, centenas de representantes de comunidades judaicas de toda a Europa discutiam acaloradamente sobre o futuro da Organização Sionista.

No plenário, apresentaram uma proposta que já fora idealizada no 1o Congresso por um professor de matemática da Universidade de Heidelberg, Tzvi Herman Shapira: a criação de um Fundo Nacional destinado à compra de terras na então Palestina, onde se criariam colônias judaicas que formariam a base estratégica de um futuro Estado Nacional. Infelizmente, o Prof. Shapira faleceu em 1898 sem ver cristalizar-se sua ideia. Muitos ainda se opunham à proposta. Liderados pelo jurista Max Budenheimer, exigiam postergar a decisão até que o Estatuto do Fundo Nacional fosse elaborado de acordo com as necessidades legais imperantes. E, na votação, a criação do Fundo Nacional Judaico foi postergada até o Congresso seguinte.

Herzl, que nesse momento discutia assuntos políticos fora da sala de sessões, ficou surpreso com o resultado e voltou ao plenário de imediato. Subiu no estrado e, com um discurso vibrante, conseguiu convencer os delegados: “Não devemos retornar às nossas comunidades sem decidir a respeito do Fundo Nacional! Em suas mãos está a decisão de começar de imediato a atividade do Fundo! Ou talvez vocês prefiram postergá-la para quando o Messias chegar?”, bradou. Da sala de sessões ouviu-se uma forte aclamação: “Não!”

Herzl, tinha canalizado, até então, toda a sua energia à obtenção de uma permissão especial do Sultão turco para a criação de um Lar Nacional para o Povo Judeu na Palestina. Mas finalmente se convenceu de que a ação política não podia deixar de lado as tarefas práticas: criar e colonizar. Impulsionado pelos ventos favoráveis obtidos junto aos delegados, Herzl pôs em votação apenas a criação de um Fundo Nacional Judaico. Portanto, a elaboração final do Estatuto teria que esperar alguns meses mais.

No dia 29 de dezembro de 1901, 19 de Tevet, uma nova votação aprovou a proposta. Assim foi criado o Fundo Nacional Judaico, que receberia o nome de Keren Kayemet LeIsrael, muito conhecido em sua forma abreviada, KKL. Poucos minutos depois da votação, Iona Kremenitzky, que havia convencido Herzl a voltar ao plenário, fez a primeira doação de 10 Libras Esterlinas. Imediatamente, Herzl fez também uma doação pessoal. Foi então que um grupo de delegados – dentre os quais os que anteriormente se opuseram por razões jurídicas – anunciaram doações próprias e em nome de suas comunidades.

Os nomes dos primeiros doadores encheram as páginas do Livro de Ouro do KKL. Seria o primeiro de uma longa série de Livros de Ouro nos quais até hoje são feitas as inscrições de doadores do mundo inteiro, imbuídos da importância da tarefa realizada pelo Keren Kayemet. Esses livros estão disponíveis para visitação e consulta na sede do KKL, em Jerusalém.

Kremenitzky, primeiro Diretor Geral do Keren Kayemet, instalou os Escritórios Centrais em Viena e iniciou uma campanha de arrecadação em paralelo à outra, de caráter educacional. Foram idealizados e produzidos cofrinhos de lata pintados de azul e branco, distribuídos em milhões de lares judeus. No período entre as duas Guerras Mundiais, cerca de um milhão de latinhas azul e branco eram encontradas nos lares judaicos, em todo o mundo. Com o passar dos anos, as moedas assim coletadas tornaram-se a base da popularização do ideal nacional.

Outra forma de arrecadação foi a venda de selos do KKL, usados em documentos oficiais do movimento sionista e em cartas pessoais, além de serem colecionados. Os primeiros foram emitidos em 1902 e exibiam a Estrela de David e a palavra “Tzion”.
 
Em poucos anos, os Livros de Ouro, as latas azul e branco e os selos conseguiram conquistar seu espaço nas comunidades judaicas da Europa, chegando aos Estados Unidos  e ao norte da África e permitindo transformar ideias em fatos palpáveis. Mas não apenas dinheiro em espécie foi doado ao KKL. Já no seu primeiro ano de existência, em 1901, foi registrada a doação de 200 dunams (20 hectares) de terra nos arredores da cidade de Hedera, doados por Yitzhak Leib Goldberg, membro do grupo “Chovevei Tzion” (Amantes de Tzion) da região de Galícia (região histórica situada no oeste da atual Ucrânia e no sul da Polônia). Anos mais tarde ele fez outra doação que permitiu a aquisição das terras onde foi construída a Universidade Hebraica de Jerusalém. Em 1904, o KKL fez sua primeira compra formal de terras em Kfar Hitim, na Galileia, ampliando de forma notória sua atividade.

Quando chegaram os pioneiros que vieram colonizar a Terra, depararam-se com uma terra inóspita e infestada pela malária. Para recuperar aquelas terras compradas com o dinheiro arrecadado pelas caixinhas azul e branco, a nova palavra de ordem foi plantar árvores nas montanhas rochosas e nos pântanos e na imensidão arenosa.

Até a Independência de Israel

Desde o final do Império Otomano, em 1922, até 1948 – período em que a Terra de Israel ficou sob Mandato Britânico – intensificou-se a aquisição de terras, a maioria delas latifúndios cujos proprietários viviam em Beirute ou em Damasco. Nelas formaram-se paulatinamente os kibutzim, aldeias agrícolas coletivistas, e os moshavim, aldeias organizadas de forma cooperativista.

Os novos pioneiros – os chalutzim – que dedicaram sua vida à redenção da Terra de Israel, foram íntimos parceiros do KKL e influenciaram profundamente os aspectos culturais da vida do povo que voltava para fincar raízes em sua terra ancestral.

A comemoração dos aspectos agrícolas das festividades judaicas e sua integração ao calendário tradicional consolidaram a união do trabalho no campo com os costumes e tradições religiosas que constituem parte integrante da identidade judaica.  Entre outras, Tu Bishvat (o Ano Novo das Árvores), Pessach (que coincide com a chegada da Primavera), Shavuot (coincidente com a festa da entrega das primícias, Chag HaBikurim), Sucot (Festa das Cabanas).

Paralelamente, foram feitas outras aquisições destinadas à construção de bairros em regiões urbanas, bem como à criação de novas cidades e a investimentos na infraestrutura educacional. Em 1905, foram adquiridos terrenos para a criação da Escola de Arte Betzalel, hoje renomado Instituto em Jerusalém. E, em 1906, o KKL fez um empréstimo de grande montante para a compra das parcelas que ajudaram na construção de Achuzat Bait, o primeiro bairro judeu fora das muralhas de Yaffo, que logo se transformaria na atual cidade de Tel Aviv.

Aos 44 anos de idade, em 1904, faleceu Theodor Herzl. A liderança do KKL decidiu plantar em seu nome um bosque de oliveiras na nova granja agrícola na região de Hulda. Este seria o primeiro bosque plantado pelo KKL, que começou com oliveiras e continuou com pinheiros. Era o ano de 1909.

A partir daí, as terras muito pedregosas, cujo preparo para o cultivo demandaria grandes investimentos, foram destinadas ao plantio de árvores. Assim começou uma extraordinária epopeia que transformou o KKL no guardião do patrimônio da natureza de Eretz Israel.

Pode-se observar desde o começo de suas atividades que o objetivo do Keren Kayemet ia além da simples compra de terrenos. Desde sua criação, o Fundo Nacional Judaico-KKL, dedicou-se ao trabalho prático, lado a lado com suas atividades educativas e de divulgação.

O KKL assumiu funções semelhantes às de um Ministério de Educação informal na fase pré-estatal, produzindo material educativo que ajudou a conectar as remotas comunidades judaicas com a Pátria distante.

No início da década de 1920, a população judaica mundial somava cerca de 15 milhões de pessoas, espalhados por 76 países, que eram alcançadas pelo trabalho do KKL, independentemente de seu tamanho ou distância. Era necessário fazer com que todo judeu – homem, mulher ou criança – se tornasse parceiro desse trabalho, apegando-se à Terra de Israel de alguma forma. Esta é a missão que o KKL continua cumprindo ainda hoje: aprofundar nossas raízes ao nosso solo ancestral. A caixinha azul e branca do KKL permanece viva em centenas de milhares de lares judeus, escolas, sinagogas, edifícios públicos e empresas.

Pouco tempo antes da 2ª Guerra Mundial, o Governo de Sua Majestade Britânica impôs grandes limitações à atuação sionista. Em 1939, a Inglaterra publicou o Livro Branco, que determinava o número de judeus que poderiam ingressar legalmente na então Palestina. Em 1940, foram impostas grandes restrições à compra de terras por judeus em 90% do território sob Mandato. Isso provocou a mobilização do Keren Kayemet para adquirir com urgência terras na desértica região do Neguev. Não foram feitos cálculos de produtividade: seria preciso comprar cada vez mais território para que quando fosse encontrada alguma “saída política” (como o foi o Plano de Partilha das Nações Unidas), as terras que estivessem em mãos do KKL pudessem fixar os limites do futuro Estado Judeu. E assim foi. A visão foi correta e a missão cumprida. O mapa do Plano de Partilha outorgou ao Estado Judeu a maior parte do Neguev.

Ao fim do Mandato Britânico e com a Declaração da Independência de Israel, em 1948, o Keren Kayemet já tinha comprado um milhão de dunams nos quais se instalaram centenas de kibutzim e moshavim, e onde foram plantadas mais de cinco milhões de árvores. Em grande medida, as terras compradas e recuperadas pelo KKL ao longo dos anos demarcaram as fronteiras do jovem Estado de Israel.

Após o nascimento do Estado, o FNJ-KKL dedicou-se a recuperar e reflorestar o território devastado, estimulando a expansão agrícola e fornecendo emprego para milhares de novos imigrantes.  Este “trabalho humanitário” ofereceu aos imigrantes a subsistência inicial e formou a base para a construção das comunidades no Corredor de Jerusalém, na Galileia e nas regiões de Taanach e Adulam.

Exemplo disso é o Bosque Brasil, na região de Modiín, onde se podem ver as árvores que a comunidade brasileira plantou há 60 anos.  A última fileira de árvores desse bosque marca a fronteira entre o território israelense e a Autoridade Palestina.

63 anos de independência nacional

Com a criação do Estado de Israel, mudaram radicalmente as prioridades nacionais e, com elas, as do KKL. Durante a década de 1950, a instituição transformou-se no maior empregador de mão-de-obra não profissional, oferecendo trabalho a milhares de imigrantes que passaram seus primeiros meses no novo país plantando mudas no Galil e na região de Jerusalém. Paralelamente, foram desenvolvidos projetos gigantescos, como a secagem dos Pântanos do Hula, que foram transformados em terra apta para a agricultura, e o saneamento do Vale anteriormente infestado pelos mosquitos transmissores da malária.

David Ben Gurion, que fora Premiê nesses primeiros anos, exigiu que o Keren Kayemet assumisse funções mais amplas do que adquirir terras. Também para os líderes do KKL era claro que a meta mais importante do sionismo – estabelecer um Estado judeu independente – já tinha sido alcançada. Agora, era necessário “aprofundar mais ainda as raízes”.

Por isso foi preciso fixar de forma clara os limites da ação do KKL perante o governo de Israel. Em 1960, promulgou-se no Knesset, o Parlamento, uma lei que ordenava a questão da propriedade das terras. Foi criada a Administração Nacional de Terras, cuja função seria administrar as terras de propriedade do Estado e as que são propriedade do Keren Kayemet, em nome de todo o Povo Judeu. Nessa oportunidade, os representantes do KKL conseguiram convencer os membros do governo de que o sistema de propriedade deveria basear-se no arrendamento e não na propriedade total. Porque, como está indicado nos preceitos bíblicos (Vaikrá: 25,23) e nos estatutos do KKL, “A Terra jamais será vendida”. Este princípio rege até hoje a questão das terras do KKL.

A partir desse momento, o KKL, que já era proprietário de 2,5 milhões de dunams (13% das terras do país), nos quais já existiam mais de 600 povoados judeus, começou a atuar em áreas diferentes, todas elas destinadas à melhoria da qualidade de vida da população israelense.

Sendo uma parte vital da história sionista, o Fundo Nacional Judaico atingiu seu objetivo de adquirir o território que se tornaria o futuro Estado de Israel, ajudando a fazer dessas terras uma nação florescente.

Desde a sua fundação, em 1901, até os dias de hoje, o KKL plantou mais de 240 milhões de árvores em todo o território do Estado de Israel, construindo mais de 200 represas e reservatórios, desenvolvendo mais de 1.000 km de terra e criando mais de 1.000 parques, que formam verdejantes cinturões em toda a extensão do país.  As florestas do Fundo Nacional Judaico criam verdadeiros pulmões verdes em torno das cidades e vilarejos, fornecendo espaços para recreação a todos os israelenses.

Bibliografia:
“História das Décadas do KKL” – site KKL – Jerusalém.
“A Mishná do Keren Kayemet” – Rabino Yerahmiel Barylka – Jerusalém.
“Momentos Memoráveis” – Publicação do KKL – Jerusalém.
“A Construção do Estado de Israel, o Keren Kayemet e a Questão Ecológica” – Franklin Goldgrub – Cadernos CONIB – Nov./2010.
“O Poema da Realização” – Publicação do KKL – Jerusalém.
http://www.jnf.org/work-we-do/our-projects/forestry-ecology/

O KKL no Brasil

O KKL foi fundado no Brasil em 1961. Há pouco mais de três anos uma nova diretoria, formada por jovens, deu novo ímpeto e dinamismo as atividades da instituição. Há um ano, o atual Presidente Mundial do KKL, Dr. Efi Stenzler, durante uma visita que fez a São Paulo, ficou impressionado com a energia com que atuam os voluntários da equipe do KKL no Brasil.  Dr. Stenzler esteve novamente em São Paulo, neste último mês de agosto, para o evento de transmissão de cargo, durante o qual Semy  Dayan, que ficou na presidência da KKL por três anos, passou o posto para Eduardo El Kobbi.

O incênid no Carmel

No dia 2 de dezembro de 2010,  ouve um incêndio de proporções inéditas no Carmel que servia de pulmão e lugar de recreio para a população do Norte do país. Além de dezenas de vidas humanas, mais de cinco milhões de árvores foram queimadas nessa tragédia que consumiu a vida animal e vegetal. Isso aconteceu porque durante mais de nove meses não caiu nenhuma gota de chuva na região. Em condições de seca tão intensa, qualquer chama pode-se transformar em um desastre de enormes proporções.

Israel, apesar de ter sido “pintado de verde” pelo Keren Kayemet, ainda sofre com as longas estiagens. Geralmente as últimas chuvas caem no mês de março.  Durante os meses do verão, a partir de julho, as equipes do KKL entram em alerta constante. A calma volta apenas depois das primeiras chuvas, geralmente em outubro.

Apesar de as equipes do KKL serem bem treinadas para a luta contra os incêndios, a necessidade de caminhões-pipa e equipes para combater o fogo é cada vez maior, pois quanto mais rápido se chega ao foco do fogo, mais probabilidades há de extingui-lo. Um dos projetos para 2011 consiste em reequipar a frota de caminhões destinados a combater o fogo na Região Sul do país de forma eficiente e, sobretudo, imediata.

O reflorestamento do Carmel será paulatino. Em primeiro lugar, está acontecendo um longo processo de limpeza e renovação natural. Somente depois de dois anos, o KKL recomeçará as tarefas de reflorestamento maciço. Calcula-se que apenas dentro de 40 anos a paisagem do Carmel voltará a ser o que era antes do incêndio.