Um total de sete mil cartões de Rosh Hashaná e mensagens de boas festas ilustram a mais recente obra dos israelenses Yuval Danieli, Muky Tsur e Atara Eitan, intitulada Bashaná Haba'á: Shanot Tovot Min Hakibutz - 'no Próximo ano: cartões de boas festas dos kibutzim'. Como o próprio nome diz, é uma coletânea de cartões criados pelos moradores dos kibutzim para lembrar a passagem das grandes festas.

Lançado em conjunto pelos museus Ya'ari, de Givat Haviva, e Tabenkin, em parceria com o Centro de Herança da Universidade Ben-Gurion, o livro tem como objetivo divulgar uma faceta não muito conhecida da arte kibutziana que, segundo Danieli - coordenador do Departamento de Arte dos Arquivos do HaShomer HaTzair - mais do que transmitir votos de feliz Ano Novo, revela em suas imagens e mensagens muito da ideologia dos kibutzim e de sua maneira de ver o mundo. "Um trabalho de catalogação e arquivo não tem apenas o objetivo de preservar informações, mas principalmente de torná-las acessíveis ao público de uma maneira organizada. E isto é exatamente o que pretendemos com o lançamento dessa obra inédita, em Israel".

Mas quando começou a tradição judaica de se mandar cartões de Rosh Hashaná? Segundo Shalom Sabar, diretor do Programa de Folclore Judaico Comparado da Universidade Hebraica de Jerusalém, sua origem remonta ao século XIV, na Alemanha. Sabar afirma também que os judeus de Jerusalém vêm mantendo o costume há vários séculos. Ele não tem dúvida, no entanto, de que esta tradição tornou-se mais popular a partir de meados de 1870, com a introdução dos cartões postais como meio de comunicação barato na Europa, Estados Unidos e Israel.

Uma rápida olhada nos cartões produzidos pelos kibutzim revela que não há uma temática comum e, com exceção dos mais religiosos, poucos têm como mensagem central temas tradicionais judaicos. Em sua maioria, os cartões trazem novas interpretações do sionismo secular. Cerimônias coletivas comemorativas das festividades reforçam o conceito de vida comunal, um dos preceitos básicos da ideologia socialista que permeou o surgimento dos kibutzim desde os anos que antecederam a criação do Estado de Israel, em 1948. "Na verdade, as ilustrações e mensagens mostram quais as aspirações do kibutz e do que seus habitantes se orgulham. De fato, os cartões podem ser considerados um relatório anual que um kibutz envia a outro. É muito comum, por exemplo, ver todos que foram recebidos expostos em um mural no centro comunitário", explica Danieli.

Sem manter uma homogeneidade, esses cartões mantêm, porém, alguns pontos em comum. Por exemplo, o uso expressivo das cores azul e verde, imagens de piscinas, jardins e campos cultivados, em meio à paisagem do deserto, como símbolo da vitória obtida por Israel na luta contra a aridez do clima e do solo, tão característica da região. Não há imagens de residências individuais, mas geralmente das instalações onde são realizadas atividades em grupo, refletindo mais uma vez a sobreposição dos valores coletivos aos individuais.

Em sua pesquisa, Danieli concluiu que os cartões também se tornaram uma forma de autopromoção. Como mencionou anteriormente, os desenhos não estão diretamente relacionados com as datas festivas, mostrando também as principais instalações e realizações das instituições, como, por exemplo, o centro de visitantes do Kibutz Hanita ou sua atividade econômica. O uso dos cartões como propaganda tornou-se mais comum a partir de 1980. Segundo Tsur, a mudança é decorrente da perda do encanto e atração que este modelo possuía e também a mudança nas prioridades dos kibutzim. A agricultura como principal atividade econômica começou a ser substituída pela indústria e o individual passou a ocupar cada vez mais o espaço do coletivo. Atualmente cada família escolhe e manda seus próprios cartões, em substituição ao comunal e poucas instituições ainda produzem cartões de festas.

Outra razão foi apontada por Danieli também para a queda na popularidade dos tradicionais cartões impressos: o surgimento de avançadas tecnologias de comunicação. Para se adaptar aos tempos modernos, ele já começou a colecionar os e-mails de Rosh Hashaná que tem recebido dos kibutzim e dos kibutznikim.