O ministro da Educação de Israel, Naftali Bennett, esteve em São Paulo em março deste ano, 2016 , tendo visitado escolas, sinagogas e entidades judaicas. Nessa ocasião, o ministro concedeu uma entrevista exclusiva para Morashá, na qual fala sobre os seus objetivos e metas.

Com uma taxa de alfabetização extremamente alta entre os países desenvolvidos, Israel pretende, nos próximos anos, aprimorar seu sistema educacional, para que todas as crianças do país tenham as mesmas oportunidades, diminuindo, assim, as diferenças entre os vários segmentos da população.

REVISTA MORASHÁ: Qual sua missão primordial como Ministro de Educação do Estado de Israel? Quais são os principais objetivos que pretende alcançar neste cargo?

Naftali Bennett: Estabeleci quatro objetivos para o sistema educacional de Israel. Primeiro, os valores. Nossas escolas desempenham um papel primordial em formar os valores dos alunos. Os adolescentes que completam a educação escolar precisam estar conectados com nosso país, nossa sociedade e nossa terra. Eles precisam amar Israel, estar dispostos a ajudar os menos afortunados e fazer o que for necessário. Em segundo lugar, precisamos aumentar o número de crianças que estudam Matemática Avançada, não apenas visando a sua instrução, mas como objetivo estratégico para manter a superioridade de Israel. A terceira coisa que temos que fazer é começar a diminuir as diferenças entre os vários setores em Israel. Meu sonho é oferecer às crianças de Bnei Brak, Rahat, Ofakim e Herzliya oportunidades iguais na vida. 

Por último, nosso quarto objetivo é virar a pirâmide educacional de cabeça para baixo e investir mais nos estágios educacionais iniciais, ao invés de tentar remediar os problemas em fases posteriores da vida. Com isto em mente, reduzimos o número de alunos por turma nos anos iniciais e acrescentamos um auxiliar em cada pré-escola.

M: Como o Sr. avalia a qualidade da educação fornecida nas escolas públicas em Israel? Em sua opinião, é melhor do que a instrução fornecida nas escolas públicas nos Estados Unidos, Europa e Ásia?

NB: Israel fornece a seus cidadãos educação pública da mais alta qualidade, desde a pré-escola até a universidade. Deve-se a nosso sistema de educação pública o fato de Israel ter um taxa de alfabetização extremamente alta (cerca de 98%), e também o fato de nossas universidades públicas serem líderes mundiais em muitas áreas.

Contudo, para que nossos jovens tenham a melhor instrução possível, devemos prezar certos valores e sempre tentar melhorar. Por este motivo, lancei nossa iniciativa  central de aumentar o número de alunos que estudam Matemática Avançada, bem como outros projetos. Por isso, também, estamos investindo tempo e recursos para começar a reduzir as distâncias entre os diferentes grupos da sociedade israelense – para assegurar que toda criança israelense tenha as ferramentas e a oportunidade de realizar seu potencial.

M:Qual o papel da religião no sistema educacional israelense?

NB: O sistema escolar público permite que os pais escolham o papel que desejam para a religião  na educação de seus filhos.  Há escolas sem orientação religiosa ao lado de outras muito religiosas e, naturalmente, escolas de religiões minoritárias – como as do Islã e do Cristianismo – que ensinam seu credo.

M: O Sr. é o líder do Partido HaBait HaYehudi – Lar Judaico – conhecido por ser um partido ortodoxo moderno, de direita. Sua ideologia pessoal e a de seu partido ajudam a moldar o currículo das escolas israelenses?   

NB: O sistema escolar público  não pertence a um partido ou a  uma ideologia. Serve a todos os cidadãos israelenses, independentemente de sua fé ou tendência política. Acredito que seja importante que os alunos recebam as informações e as ferramentas para tomarem decisões abalizadas também acerca de sua identidade. É por isso que precisamos ensinar História Judaica e de Israel, assegurando que os alunos conheçam os costumes judaicos e nossas tradições, e garantindo que estudem acerca dos diferentes grupos culturais que vivem em Israel.

M: Não há dúvida de que Israel é famoso no mundo todo por ser uma potência tecnológica. Israel é um dos países líderes no campo das Ciências e da Tecnologia. Quanto disso pode ser atribuído ao sistema educacional do país? 

NB: Ser uma “Start-Up Nation”, isto é, uma nação embrionária, não depende apenas da educação, mas, por outro lado, não poderia acontecer sem o sistema educacional. O estudo da Matemática e das Ciências em alto nível na escola alimentará nossas universidades, bem como as unidades tecnológicas das Forças de Defesa de Israel - IDF, com uma geração de alunos prontos não apenas para seguir em frente, mas para desenvolver a posição de Israel como líder mundial nessas áreas.

M: Como Ministro da Educação, o Sr. se empenhará em promover o ensino de matérias seculares nas escolas ultra ortodoxas?

NB: Trabalho lado a lado com a comunidade ultra ortodoxa para estimulá-los a ensinar Inglês e Matemática. Acredito que somente mediante cooperação e debate poderemos alcançar uma mudança positiva nesse campo.

M:O Sr. visitou recentemente o Brasil e proferiu várias palestras, inclusive na Escola Beit Yaacov, em São Paulo. Quais suas impressões sobre a comunidade judaica do Brasil? 

NB: Vocês podem estar orgulhosos. As pessoas que conheci, as escolas e projetos que vi no Brasil e na Argentina foram muito impressionantes. Todos os que conheci foram muito calorosos, recebendo-me muito bem e foi um prazer falar com eles. Foi fácil ver como a comunidade cuida de seus membros e como todos, jovens e mais velhos, orgulham-se de ser parte da Kehilá. Os educadores e líderes comunitários que conheci são totalmente dedicados a instilar na próxima geração o amor ao judaísmo e a Israel. Fica muito claro que a comunidade investe empenho e recursos na identidade judaica e na educação judaica – e eu cumprimento efusivamente a todos os envolvidos.

M: Qual a sua impressão sobre as escolas que visitou em sua viagem ao Brasil? Teria alguma sugestão sobre o que deve ser feito para promover ainda mais o Judaísmo e o Sionismo nas escolas judaicas do Brasil?

NB: Não é simples construir um estilo de vida judaico-sionista  – e instilar esses valores na próxima geração é um grande desafio. Por mais maravilhoso que um programa ou uma escola sejam, há sempre por onde melhorar, e ser um bom educador significa querer estudar sempre e se adaptar. É importante continuar a encontrar oportunidades para os judeus brasileiros se envolverem com  Israel e os israelenses em nível pessoal, ajudando-os a desenvolver uma conexão emocional com nossa herança judaica comum.  Há muitas ideias e iniciativas sensacionais e cada escola deve procurar aquela que melhor lhe serve – mas todas devem também buscar maneiras de permitir que todas as crianças judias, adolescentes e adultos, vivenciem a vibrante vida e cultura judaica que Israel tem a lhes oferecer – venham visitar-nos!

M: O Sr. teria algum conselho para combater a assimilação, na Diáspora, além do estímulo à Aliá?

NB: Quando alguém se assimila, significa que perde sua identidade única. A assimilação não é um termo técnico, mas uma palavra que reflete uma mudança de identidade por parte daquele que procura misturar-se e apagar quaisquer características específicas. Portanto, a única maneira de ser um judeu orgulhoso e assim permanecer é quando se sente um vínculo inquebrável com nosso povo, nossa terra e nossa herança. Assim sendo, a melhor maneira de combater a assimilação é ensinar nossa herança comum e educar as pessoas a ostentarem sua identidade judaica com orgulho.

M: O que pode ser feito, nas escolas israelenses e judaicas na Diáspora, para fortalecer os laços entre os judeus de Israel e os que vivem na Diáspora? 

NB: Os judeus israelenses e os da Diáspora precisam conversar, e as escolas podem facilitar isto. Imaginem uma turma de alunos de Bar ou Bat Mitzvá que recebe aulas idênticas no Brasil, na França e em Israel – e depois trabalham todos em um projeto conjunto via Skype ou e-mail. Também há outras ideias, obviamente. Uma delas são os fóruns abertos no Facebook, onde adolescentes judeus do mundo todo podem conversar com seus pares israelenses; outra seria levar jovens judeus brasileiros de 15-16 anos para passar um programa de verão visitando Israel. Precisamos construir o máximo de pontes possível, para que meus filhos possam conhecer os seus, e as crianças judias do mundo todo encontrem um meio de se conhecerem.

M: Em sua opinião, o que mais a comunidade judaica brasileira poderia fazer para apoiar Israel?

NB: A comunidade judaica do Brasil apoiava Israel antes mesmo de nascer o Estado, com atividades sionistas que existem há quase 100 anos. Fazer a defesa de Israel, atuar politicamente, educar e arrecadar fundos – os judeus brasileiros sabem como apoiar Israel de todas estas formas. Esta comunidade faz um trabalho formidável, portanto só posso pedir a vocês que continuem fazendo este ótimo trabalho!