Enquanto na liderança do Likud ainda prevalecem nomes como Ariel Sharon e Binyamin Netanyhau, bastante conhecidos do público fora de Israel, o Partido Trabalhista, desde o fim do governo Ehud Barak, oferece em sua galeria novos líderes com biografias pouco divulgadas pela mídia internacional.

Nessa lista, destaca-se Binyamin Ben-Eliezer, presidente do partido, ministro da Defesa e atualmente, ao lado de Shimon Peres, a estrela maior do trabalhismo israelense.

Ben-Eliezer, nascido em 1936 no Iraque e o primeiro não ashkenazi a dirigir o

Partido Trabalhista, vai lentamente consolidando sua liderança em nível nacional e até internacional. Logo depois de Ehud Barak ser derrotado por Ariel Sharon nas eleições de fevereiro de 2001, analistas israelenses enxergaram em Ben-Eliezer o papel de “político-tampão”, ou seja, caberia a ele manter um espaço na cúpula partidária para permitir uma eventual volta do ex-premiê, de quem seria o principal confidente político. A teoria não se confirmou e Ben-Eliezer ganhou espaço próprio no universo do poder israelense.

Em julho passado, numa turbulenta reunião partidária, o sucessor de Barak confirmou sua liderança, ao enfrentar o desafio de Haim Ramon, ex-ministro do Interior e ex-presidente da Histadrut, a central sindical israelense. Ben-Eliezer manteve o comando do partido, conquistado em dezembro de 2001, após disputa renhida com Avraham Burg. Logo após essa vitória, declarou Haim Ramon: “Você tem que admirar uma pessoa que começa uma corrida na qual ele quase não tem chances de vencer e acaba como presidente do partido”.

A determinação desponta como uma das principais características de Ben-Eliezer, muitas vezes descrito, também por conta de sua compleição física, como um “bulldozer”. Construiu uma carreira destacada nas Forças de Defesa de Israel: foi comandante na Guerra dos Seis Dias (1967) e na de Yom Kipur (1973). Ganhou experiência internacional ao integrar a missão militar israelense em Cingapura, de 1970 a 1973.

Em 1977, Ben-Eliezer foi nomeado comandante das tropas no sul do Líbano, onde serviu de interlocutor para as forças cristãs libanesas. Ocupou o posto de governador militar da Judéia e Samária entre 1978 e 1981. Três anos depois, elegeu-se deputado e então a carreira política decolava, para um personagem que gosta de se descrever com a seguinte frase, destacando como ele é chamado em árabe: “Sou Fouad, que imigrou sozinho, aos 13 anos de idade e a pé, para a Terra de Israel”.

Os degraus da ascensão política levaram “Fouad” a chefiar duas vezes o ministério da Construção e da Habitação. Foi também ministro das Comunicações e vice-primeiro-ministro, entre julho de 1999 e março de 2001. Tornou-se então o ministro da Defesa no governo de união nacional e defensor da presença do Partido Trabalhista no gabinete liderado pelo Likud. Seria “irresponsável abandonar a coalizão num momento de crise nacional”, sustenta Ben-Eliezer.

O ex-general, com uma carreira militar bem-sucedida, personifica os setores chamados de “mais duros” do Partido Trabalhista. “Não haverá um ataque terrorista palestino sem uma resposta israelense”, afirma, resoluto, Ben-Eliezer. Mas ele não rompe com a tradição trabalhista de também acreditar na via das negociações. “Embora tenha servido no Exército por 30 anos e seja agora ministro da Defesa, eu poderia surpreendê-lo ao afirmar que apenas por meio de ferramentas militares você não pode resolver nada”, afirmou ao diário “The Washington Post”.

À TV israelense, Ben-Eliezer declarou: “Sou um ativista incansável nos campos da segurança de Israel e de seus cidadãos. Mas sou também um dos maiores negociadores, desde que eu saiba que o conflito será definitivamente superado e desde que eu saiba que estou lidando com um rival que poderá se transformar num amigo”. Sobre Yasser Arafat, o líder trabalhista certa ocasião disse o seguinte: “Duvido que ele realmente queira estabelecer um Estado palestino. Creio que está mais preocupado sobre como ele será lembrado na história de sua nação, como o líder de uma revolução”.

No plano doméstico, Ben-Eliezer se esforça para manter unidos os trabalhistas, que atravessam um dos momentos mais difíceis de sua história, devido a enfraquecimento eleitoral e a divisões internas. “Seremos uma família e um partido”, disse logo após a eleição para liderar o trabalhismo. A tarefa de manter a unidade partidária é árdua, pois setores de oposição dentro do partido criticam a opção do ministro da Defesa de defender a participação no governo de união nacional. Mas Ben-Eliezer parece se notabilizar exatamente como um político atraído por tarefas árduas.