Um país cada vez mais moderno e consolidado no cenário internacional, Israel mostra, aos 65 anos, que as novas gerações, imbuídas dos mesmos ideais dos pioneiros que construíram a nação, estão transformando suas adversidade e experiência em criatividade, consagrando-se como geradoras das mais importantes inovações de alta tecnologia.

Jonathan Medved, empreendedor israelense internacionalmente reconhecido como o “rei das startups” e um dos principais investidores em fundos de capital de risco do setor de tecnologia de Israel, esteve em São Paulo para participar da Semana Global do Empreendedorismo, evento realizado em mais de 120 países.

A convite da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria, Medved participou de extensa agenda de encontros com empresários, investidores e empreendedores, falando sobre a importância da inovação tecnológica no desenvolvimento econômico de Israel.

O Estado de Israel chega aos 65 anos como um país moderno e consolidado no Oriente Médio e no cenário internacional. Aproxima-se de quase sete décadas de existência e mostra ao mundo uma nova face de sua população. Novas gerações que, imbuídas dos mesmos ideais dos chalutzim (pioneiros), que drenaram pântanos, combateram a malária, construíram a nação e tinham nas laranjas um dos principais produtos de sua pauta de exportação, hoje se consagram como geradoras das mais importantes inovações na área da alta tecnologia de ponta. Dos centros de pesquisa de indústrias e instituições acadêmicas de Israel saem equipamentos e ferramentas de última geração, que, além de divulgarem outra faceta da nação, estão presentes no dia-a-dia da população mundial.

Pesquisas recentes realizadas por institutos do exterior colocam o país como o segundo maior centro mundial criador de start-ups companies (empresas embrionárias), ficando atrás apenas do Vale do Silício, nos Estados Unidos. As últimas estatísticas indicam que o país possui mais de cinco mil empresas com este perfil. Segundo o ranking Startup Genome, organizado a cada dois anos e publicado em novembro de 2012, em Israel, Tel Aviv ocupa o primeiro lugar como celeiro das start-ups. Comparada a outras cidades, está à frente de Nova York, Seattle e Londres.

Considerado um dos melhores embaixadores de negócios de Israel, Jonathan Medved é presença constante em fóruns internacionais sobre fundos de capital de risco e desenvolvimento de alta tecnologia. Durante sua visita, Medved procurou explicar o espírito empreendedor da sociedade e o  que há por trás do sucesso de Israel.

Um dos mais ferrenhos defensores do alto nível e das virtudes da indústria de ponta de seu país, costuma destacar as contribuições da tecnologia de Israel para os EUA e o mundo, e o importante papel das Forças de Defesa de Israel (FDI) na formação do espírito empreendedor e da cultura de risco da população israelense. Nada abala a confiança e tranquilidade deste empreendedor que, em 1990, trocou a Califórnia por Jerusalém. O recente conflito com o Hamas, a constante ameaça do Irã e de outros países árabes são, segundo Medved, parte da realidade desde a criação do Estado.

“Israel é um lugar incrível para se criar os filhos. Não são excessivamente protegidos, andam de ônibus, apesar dos riscos de explosão, e não têm medo. Passeiam pelos parques, vão e voltam a pé da escola e de outras atividades até altas horas da noite, e os pais não se preocupam. Esta liberdade e segurança são percebidas pelos que visitam Israel – jovens, adultos e idosos. É um grande país, apesar do conturbado contexto regional.

Conseguimos enfrentar e superar todas as crises que abalaram a economia mundial nos últimos quatro anos, registrando índices de crescimento do Produto Interno Bruto superiores aos EUA e aos países membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), da qual Israel faz parte desde 2010, reduzindo, ainda, a taxa de desemprego e mantendo o nível de investimentos externos. A magia de Israel atrai visitantes dos quatro cantos do mundo durante o ano inteiro. Milhares de turistas invadem as praias no verão, as estações de esqui no inverno, os sítios históricos, os restaurantes e shoppings. Dados do Ministério de Turismo informam que, em 2012, o país recebeu 3,5 milhões de turistas, 4% a mais do que em 2011. Este é o retrato de um país que vive sob a ameaça de guerras ou que está diante de uma eminente destruição?”

A resposta, segundo ele mesmo, é “não”. Para Medved, Israel, aos 65 anos, é um país em permanente processo de construção. Dinâmico, produtivo e com uma população extremamente criativa, preparada para enfrentar os mais diversos e imprevisíveis riscos - características decorrentes de sua própria história. Israel não foi erguido sobre as riquezas do passado, mas é uma nação que, a partir de sua herança espiritual, cultural e intelectual, soube transformar as adversidades regionais em vantagens competitivas para a formação de uma sociedade e de uma indústria tecnologicamente avançadas e voltadas para o mundo.

“O mais interessante é que a maioria das pessoas que se beneficiam da tecnologia israelense sequer sabe disso, pois as inovações já estão totalmente integradas na engenharia dos produtos, o que faz com que percam até sua identidade. Quando ligamos os computadores, enviamos mensagens instantâneas, utilizamos o telefone celular ou o correio de voz estamos usufruindo do know-how israelense sem o saber. Não há uma única grande empresa multinacional que não tenha atualmente, de uma maneira ou de outra, integrado alguma inovação israelense ao seu portfólio. A maioria, inclusive, como a Intel, Microsoft, Cisco, IBM e outras, mantêm centros de Pesquisa e Desenvolvimento no país, além de fábricas. Assim, quando se fala em boicotar os produtos de Israel, como forma de fazer pressão política, é algo praticamente impossível. Se isto acontecesse de fato, o mundo voltaria à Idade da Pedra”, brinca Medved. Não são apenas as empresas norte-americanas que voltaram seus olhos para Israel. Companhias asiáticas, como a coreana Samsung, enviaram profissionais para prospectar o mercado de start-ups israelenses em busca de oportunidades de negócios e de novas tecnologias. Em 2011, mais de 500 novas companhias do país receberam investimentos de fundos de venture capital estrangeiros.

Sionista desde a juventude

Medved, ativista sionista desde a época em que estudava na Universidade de Califórnia, em Berkeley, emigrou para Israel em 1990. Tem quatro filhos. Sua trajetória de sucesso – que o levou a ser considerado pelo The New York Times um dos 10 norte-americanos (ele tem dupla cidadania) mais influentes do país – começou na garagem de sua casa, onde, em 1995, fundou o Israel Seed Partners (ISP), um fundo de capital de risco (em inglês, Venture CapitalVC).
Em dez anos, conseguiu elevar o capital inicial de US$ 2 milhões para US$ 260 milhões. Sob sua gestão foram feitos investimentos em mais de 60 start-ups israelenses, das quais 12 chegaram a valorizações superiores a US$ 100 milhões. Em 2006, deixou o ISP para assumir a presidência da Vringo – empresa fundada por ele, responsável pelo desenvolvimento de uma ferramenta para envio de vídeos através de telefones celulares. Atualmente, está à frente da Ourcrowd, empresa que busca investidores para mais de 50 start-ups israelenses.

Quando lhe perguntam o que procura nas empresas em que investe, sua resposta é rápida e objetiva: “Procuro pessoas muito inteligentes, que conheçam a fundo o negócio em que estão. Indivíduos que tenham vontade e energia imensas, dispostos a trabalhar duro e rápido 24 horas por dia. Independentemente de ter recursos suficientes ou não, o simples fato de que alguém começou algo e teve progresso já é um grande atrativo. Outro item importante é a ambição. Start-ups que têm como limite o crescimento em seus mercados locais podem interessar a outros investidores, mas não a mim. Procuro empresas que pensem em ser globais desde o início. Se é para sonhar, que seja grande. Este é o perfil formado em Israel.

A busca pela expansão internacional é característica da cultura de empreendedorismo do país. Por ter um mercado interno relativamente pequeno, com uma população de cerca de 8 milhões de pessoas, as companhias são obrigadas a atuar em outros países para crescer – por causa dos desafios específicos que enfrentamos em Israel. Uma empresa francesa vende primeiramente para o mercado interno, depois para a Europa e depois para os demais países. As empresas israelenses têm de pensar globalmente desde o seu primeiro dia”.

Israel, uma Start-up Nation

Uma análise detalhada sobre o papel das empresas embrionárias no êxito da indústria israelense no campo da alta tecnologia e do perfil dos novos empreendedores foi publicada em livro, há dois anos, por dois jornalistas: Saul Singer, israelense, e Dan Senor, norte-americano. Sob o título “Nação Embrionária:

A História do Milagre Econômico de Israel”, Singer e Senor analisam o que está por trás do perfil inovador israelense. Singer esteve no Brasil em 2011 para o lançamento da edição brasileira da obra. Segundo os autores, como sustentáculo do potencial de inovação estão o forte investimento em Pesquisa & Desenvolvimento - P&D (4,8% do PIB) e em educação (quase 11%),  o papel das FDI e a imigração. Apesar das Forças Armadas terem um papel central nas empresas embrionárias de Israel, por meio do P&D militar e de várias unidades de high-tech das FDI, a principal influência é cultural, afirmam. Os israelenses que passam pelo exército aprendem técnicas de liderança, a trabalhar em equipe, a improvisar e a se sacrificar em prol de um objetivo maior. Nada disso se aprende na escola nem no trabalho. Sobre este ponto, mencionado por Singer e Senor, também diz Medved:

“Não se trata apenas da tecnologia criada e desenvolvida, mas principalmente pelas oportunidades que a vivência nas FDI oferece. Fazendo uma comparação: enquanto os jovens de todo o mundo se preparam para entrar nas melhores universidades, os nossos competem para serem aceitos nas melhores unidades do exército. Ali terão todas as chances para aprender as ferramentas mais avançadas para construir a tecnologia que determinará o destino do nosso país, para salvar vidas. Ao deixar o exército, depois de participar desses programas especiais, estão prontos para entrar no mercado civil de alta tecnologia, pois acumularam experiências no desenvolvimento de produtos, senso de liderança em equipe, aprenderam a trabalhar com orçamentos pré-determinados, dentro de prazos e, principalmente, a tomar decisões e correr riscos. Somos conhecidos por nossa capacidade de improvisação”.

Para Medved, o alto índice de empreendedores em Israel se deve ao fato da população conviver com riscos em seu dia-a-dia, em função do contexto regional. “O medo de começar uma empresa e não dar certo se torna relativo diante do medo constante de uma bomba atingir sua casa. Falhar é parte do jogo. Nenhum time de futebol vence todas as partidas e no universo dos negócios também funciona assim”, afirma Singer.

Empreendedores cada vez mais jovens ganham espaço na realidade de Israel. Em 1999, uma pequena empresa israelense ganhou as manchetes de jornais quando foi comprada pela gigante AOL por pouco mais de US$ 400 milhões. Fundada por quatro jovens de Tel Aviv Arik Vardi, Yair Goldfinger, Sefi Vigiser e Amnon Amir e financiada pelo pai de um deles, o investidor Yossi Vardi, – a Mirabilis desenvolveu e lançou o ICQ, primeiro software para comunicação instantânea via internet. Desde então, a história tem-se repetido.

Quase diariamente novas start-ups entram no mercado israelense e são rapidamente adquiridas ou passam por processos de fusão com companhias internacionais. Geralmente, por trás destas iniciativas estão empreendedores cada vez mais jovens. Gal Harth, 16 anos, lançou recentemente o Doweet, uma ferramenta para redes sociais e está em busca de investidores; Daniel Gross, 21 anos, conseguiu US$ 4 milhões do VC Sequoia para sua empresa, Greplin, que desenvolveu uma ferramenta de busca; e Shai Magzimof, 21, que obteve US$ 1 milhão da OurCrowd e outros investidores, para sua Nextpeer, desenvolvedora de uma plataforma para jogos para internet.

De Israel para o mundo

Nehemias (Chemi) Peres é outro exemplo do espírito empreendedor israelense. Filho do presidente Shimon Peres, criou, há pouco mais de dez anos, o Pitango, o maior fundo israelense de capital com escritórios também no Vale do Silício (Califórnia). Seu foco são as empresas de alta tecnologia. Gestor de um fundo de mais de US$ 1,5 bilhão e uma carteira crescente de empresas inovadoras, já investiu em mais de 120 empreendimentos tecnológicos, ajudando-os a transformar suas ideias em empresas viáveis e líderes de mercado. Ele esteve em São Paulo no final de 2012 a convite da Câmara Brasil-Israel de Comércio e Indústria para divulgar as atividades do Pitango.

Como Medved, Singer e Senor, Chemi Peres acredita que o contexto regional e a possibilidade sempre real da eclosão de um conflito não são obstáculos à normalidade do país, nem atrapalham os negócios. “Desde que o Estado de Israel foi criado, em 1948, passamos por muitas guerras, inclusive duas Intifadas. Nos piores momentos, a indústria de alta tecnologia não foi afetada. Os negócios continuam, mesmo em tempos de guerra. Às vezes, alguns trabalhadores são recrutados como reservistas, porém isso faz parte de nossa vida.

Sabemos como lidar com isso”, afirma. Antes de se enveredar pelo mundo dos negócios, Peres serviu como piloto na Força Aérea por dez anos.  “As mais importantes fontes de inovação em Israel vêm da nossa Força de Defesa. Nossos investidores sabem que grande parte dos fundadores das empresas israelenses passaram pelo serviço militar. Quando eram muito jovens, tiveram de desenvolver projetos avançados e complexos envolvendo tecnologias que não tinham chegado ainda ao mercado comercial. Por isso, eles têm hoje essa alta habilidade tecnológica”, diz.

Como mais um sinal da visão de mercado dos novos empreendedores israelenses, o Pitango ousou em 2011 com a criação de um fundo de investimento privado cujo alvo é a comunidade árabe-israelense,  que hoje representa 23% da população do país, e no potencial de abertura trazido pela Primavera Árabe. Chamado Al-Bawader, “broto verde”, o novo fundo busca impulsionar negócios para ampliar o acesso da comunidade árabe à rede, oferecendo serviços nesse idioma. Servirá para estimular empreendedores árabes e criará oportunidades a jovens profissionais, além de ampliar o comércio de alta tecnologia entre Israel e os países da região.

“Vamos aproximar a sociedade árabe da nação das start-ups e isso vai ajudar-nos a abrir um mercado regional. Hoje, cerca de 350 milhões de pessoas falam árabe somente no Oriente Médio, dentre as quais 90 milhões estão conectadas à internet, e este número está crescendo, principalmente por meio de dispositivos móveis. Há muitos empreendedores e engenheiros árabes brilhantes.

Para eles, trabalhar com israelenses experientes no mercado internacional pode ser uma grande oportunidade. Em contrapartida, eles  nos podem dar o que a comunidade judaica não conseguiria sozinha: abrir para nós o mercado regional. Outro fator importante: ao criar oportunidades que melhorarão a qualidade de vida das populações árabes, estamos, também, ajudando a trilhar o caminho que poderá levar à paz”, completa.