Baseado nas anotações que fez durante sua viagem da Espanha à Terra Santa, no período de 1159 ou 1163 até 1173 – não há informações exatas sobre a data – o trabalho foi escrito originalmente em hebraico e, posteriormente, traduzido ao latim.

Com o surgimento das máquinas de impressão, transformou-se em uma das obras mais populares da literatura judaica, sendo traduzido para vários idiomas.

Segundo historiadores da vida do rabino Benjamim, o famoso viajante do século XII partiu de Tudela, cidade espanhola na qual vivia, rumo à Terra Santa, com um objetivo bem definido: fazer uma peregrinação aos locais sagrados do judaísmo. E o que deveria ser uma rápida viagem de alguns meses, acabou transformando-se em uma aventura que durou mais de dez anos, com longas escalas durante as quais o rabino Benjamim procurou visitar comunidades judaicas e não judaicas, informando-se sobre seu estilo de vida, os governos vigentes, suas tradições e cultura, sua economia e, acima de tudo, suas populações.

Com os olhos e ouvidos sempre atentos, o viajante mantinha seu espírito aberto para registrar nomes, números, localizações geográficas, distâncias, velhos e novos monumentos. O resultado de sua epopéia pela Europa e pela Terra Santa foi descrito em uma narrativa marcada pela admiração diante de tudo que seus olhos viam e que se transformou em uma espécie de guia para aqueles que se propuseram a seguir seus passos e aproveitar de sua experiência.

A leitura do Livro de Viagem do rabino Benjamim ofereceu aos leitores de então uma maior compreensão do mundo, ampliando seus horizontes e dando-lhes a oportunidade de imaginar como era a vida além dos muros que cercavam suas províncias e cidades. Entre as contribuições práticas da obra, destaca-se o fato de se tornar uma espécie de “Guia de endereços úteis” para os peregrinos judeus durante a Idade Média, informando-lhes, por exemplo, sobre as cidades que ofereciam hospitalidade aos viajantes, entre as quais mencionou Montpellier, Gênova e Constantinopla. Ele descreveu as condições econômicas dos mercadores de Barcelona, Montpellier e Alexandria, falou sobre as atividades dos judeus, como os tintureiros de Brindisi, os tecedores de seda de Tebes, os curtidores de couro de Constantinopla e os vidraceiros de Alepo e do Tigre.

O livro contém, também, informações demográficas sobre as comunidades judaicas de algumas cidades da época: 20 judeus em Pisa, 40 em Lucca, 200 em Roma, 300 em Cápua, 500 em Nápoles, 600 em Salerno, 20 em Amalfi, entre outras. O Rabino Benjamim incluiu em seu diário de viagem também os nomes das principais lideranças comunitárias das regiões por onde passou; das cidades que possuíam boas escolas para estudos judaicos, como Montpellier, ou como Lunet, onde a comunidade subsidiava a educação dos jovens. Mencionou, também, a existência de uma escola de medicina cristã em Salerno e o fato de os acadêmicos de Constantinopla conhecerem profundamente a literatura grega.

Durante sua viagem, o Rabino Benjamim, levado pela curiosidade e sede de saber, visitou igrejas e mesquitas. Descreveu Roma como “a capital do cristianismo, governada pelo papa, seu líder espiritual”. Constantinopla, em suas palavras, “sedia o trono dos patriarcas gregos, pois estes não obedecem o papa”. Em suas andanças descobriu, ainda, que as cidades de Trani e Messina eram os principais pontos de partida dos peregrinos cristãos à Terra Santa.

Seus relatos da vida intelectual na Provença e em Bagdá são de extrema importância, assim como os da organização da vida na sinagoga, no Egito. Interessou-se não apenas pelas seitas dos samaritanos da Palestina, mas também pelas dos caraítas de Constantinopla, além da seita herética de Chipre, cujas leis se assemelhavam às dos judeus durante o Shabat.

Para os estudiosos, são informações como essas que fizeram do Livro de Viagens do Rabino Benjamim de Tudela um guia turístico, de comércio internacional, das comunidades judaicas espalhadas pelo mundo na Idade Média e também uma obra para estudantes. Tudo em um único documento cujo mérito maior talvez tenha sido a capacidade do autor de narrar o que via não apenas através dos olhos, mas principalmente através dos sentimentos.

O roteiro de Tudela

O ponto de partida do Rabino Benjamin foi a cidade de Tudela, ao norte da Espanha, rumo a Barcelona, Provença e Marselha, de onde foi, de navio, até Gênova. Depois foi a Pisa e Roma, cidades nas quais, por causa das descrições detalhadas sobre os monumentos e antigüidades, deduz-se que ele tenha permanecido um tempo maior. Escreveu, também, sobre a comunidade judaica e suas relações um tanto dúbias com o papa Alexandre III.

De Roma, o Rabino Benjamin se dirigiu ao sul da Itália e descreveu as condições em Salerno, Amalfi, Melfi, Benevento e Brindisi. Navegou de Corfu até Arta, visitou vários locais na Grécia onde observou os tecedores de seda judeus e a colônia agrícola de Crissa, no monte Parnasos. Sua descrição de Constantinopla, tanto das condições judaicas quanto as não-judaicas, é melhor do que qualquer outra feita no século XII.

Navegou, também, pelo arquipélago de Agiam até Chipre, antes de chegar à terra firme. Seguiu, então, por Antióquia, Sidon, Tiro e Acre, na Terra Santa, a qual ainda estava sob o domínio dos cruzados. Viajou por vários locais descrevendo os lugares sagrados, os quais ainda chamava pelos nomes em francês. Assim sendo, Hebron é São Abrão de Bron. Em geral, suas descrições são muito mais objetivas do que aquelas dos viajantes cristãos da época. Sua narrativa dá uma visão clara de Jerusalém e da comunidade judaica de então.

De Tiberíades, Benjamim viajou para o norte até Damasco, chegando até perto de Bagdá. Ele desenhou a corte dos califas e as instituições de caridade da cidade. Descreveu também a organização das academias talmúdicas ainda existentes. O relato que fez sobre os drusos foi o primeiro em língua não-árabe. Segundo os historiadores, as anotações e descrições feitas após a passagem por Bagdá não são muito consistentes e, embora tenha realmente viajado até a Pérsia, suas descrições das condições locais aproximam-se mais das lendas do que de observações objetivas. Detalhes fantásticos surgem também durante suas impressões sobre a China, Cochin e Ceilão.

O realismo volta a permear sua narrativa quando menciona sua visita ao Egito em geral e, principalmente, a vida judaica no Cairo e em Alexandria, de onde iniciou a viagem de volta.

Nesta etapa, sua obra apresenta descrições ricas sobre a Sicília e sobre Palermo, de onde provavelmente voltou à Espanha de navio. Entrou em seu país de origem através da região de Castela.


Bibliografia:
“Benjamin of Tudela’s Fantastic 12th Century Book, Jewish Digest
(maio 1963). Turning back the clock: a look into history.