A par do extraordinário triunfo do movimento sionista, a fundação do Estado de Israel, 60 anos atrás, contém intrigantes elementos que inclusive podem ser apontados como sobrenaturais. Do ponto de vista político, jamais uma nação foi criada por votos de outros países. Sob a ótica histórica, a jornada percorrida pelo povo judeu corresponde a uma sucessão de milagres. Depois de dois mil anos de injustiças, perseguições, massacres e assassinatos em massa, este povo sobrevive forte, vibrante e, há seis décadas, soberano em sua pátria.

Em 1948, na mesma hora em que os judeus declararam sua independência, foram atacados por exércitos inimigos. Venceram uma guerra feroz, combatida em três frentes. Na verdade, faz sentido o que Ben Gurion gostava de repetir: "só é realista o judeu que acredita em milagres". O ano de 1948, no poente da primeira metade do século vinte, começou com um acontecimento traumático: o assassinato de Gandhi, na Índia, no dia 30 de janeiro. No cenário econômico, foi o ano da implementação do Plano Marshall destinado à recuperação da Europa destruída pela guerra. Na literatura, destacava-se nos Estados Unidos o judeu Norman Mailer com seu romance, "Os Nus e os Mortos", enquanto o Prêmio Nobel nessa modalidade cabia ao poeta anti-semita T.S. Eliot. Na França, Sartre lançava "As Mãos Sujas" e o "Oscar" de melhor filme pertencia ao diretor e também protagonista, Laurence Olivier, com "Hamlet". A Inglaterra, livre da dor de cabeça da Palestina, era sede dos primeiros Jogos Olímpicos do pós-guerra e já havia pressionado, até a exaustão, o Presidente Truman para que os Estados Unidos não apoiassem e nem reconhecessem a existência de uma pátria para os judeus. Entretanto, de todos os fatos grandes e pequenos daquele ano de 1948, o mais significativo, o mais abrangente, o mais revolucionário e o de maior repercussão internacional foi a criação do Estado de Israel, no dia 14 de maio.

Não foi uma data marcada com antecedência e surpreendeu judeus e não-judeus em todo o mundo. No dia 12 de maio, três dias antes do término do mandato britânico, Ben Gurion convocou o Conselho Nacional, formado por treze pessoas, para uma reunião na sede da Agência Judaica em Tel Aviv. As primeiras notícias eram terríveis. A Legião Árabe começara a invasão do território demarcado pela partilha com colunas de tanques e mil e quinhentos homens, forçando a rendição do assentamento judeu de Kfar Etzion e assassinando a sangue-frio dezenas de prisioneiros.

Apesar do pessimismo reinante, Ben Gurion era o único que procurava conservar a calma, embora sua fisionomia se mantivesse sombria como nunca. Coube a Golda Meyerson (depois Meir) fazer o relato do segundo encontro que mantivera na véspera com o Rei Abdullah da Transjordânia. Em uma reunião anterior, o monarca chegara a admitir a criação de um estado judeu, mas, desta vez, sua posição era irredutível: se houvesse independência, haveria guerra. Contudo, para os membros do Conselho, mais do que o receio do conflito, permeava o medo de que a ação sionista não viesse a ser apoiada pelos Estados Unidos, posição que tornaria inviável a independência.

Enquanto isso, na Casa Branca, o Presidente Truman e seus principais assessores discutiam os passos que deveriam ser tomados caso os judeus insistissem em declarar sua independência no dia 15, último dia da presença britânica no território da Palestina. Um dos participantes da reunião era um jovem chamado Clark Clifford, assessor do presidente para assuntos domésticos. Por iniciativa própria, ele havia preparado uma declaração oficial de apoio às pretensões judaicas na Palestina. Foi o juiz da Suprema Corte americana, o judeu Felix Frankfuter, quem havia aconselhado Eliahu Epstein (depois Elat), diretor da Agência Judaica em Washington, a manter contato com Clifford, cujo suporte à causa sionista era conhecido do magistrado. Naquela reunião, Clifford mantinha a esperança da concordância de Truman com seus pontos de vista, embora as fronteiras de um possível e futuro estado judaico não estivessem definidas e nem seu nome oficial estivesse escolhido. George Marshall, Secretário de Estado e vitorioso general na Segunda Guerra Mundial, era um dos homens mais admirados do país e se opunha com firmeza ao reconhecimento de um estado judeu. O Secretário de Defesa, James Forrestal, argumentou que os Estados Unidos não deveriam antagonizar os países árabes. Clifford rebateu, dizendo que o estabelecimento de uma nova nação no Oriente Médio, guiada por princípios democráticos, concorreria para estabilizar aquela região além de servir ao Partido Democrata no tocante à influência judaica com vistas às eleições presidenciais, que aconteceriam em novembro. Marshall explodiu: "Senhor Presidente, eu pensei que esta reunião fosse para resolver um intrincado problema de política internacional e nem sei o que o Clifford está fazendo aqui!" Truman respondeu fleumático: "Ele está aqui porque eu o convoquei". Anos mais tarde, Marshall escreveu em suas memórias: "Eu disse ao presidente que as sugestões de Clifford estavam equivocadas e que, caso acatadas, teriam um efeito contrário ao desejado e seria afetada a dignidade da Casa Branca. Acrescentei que se o presidente concordasse com Clifford, eu talvez nem viesse a votar nele nas próximas eleições".

Na reunião, em Tel Aviv, Moshe Shertok (depois Sharret) comunicou ao Conselho que a França e a Inglaterra haviam proposto um armistício. Aceitá-lo significaria abrir mão da criação de um estado soberano. Não aceitar seus termos poderia eqüivaler a um suicídio. Dois assessores do Conselho, Igal Yadin e Israel Galili, foram convocados para apresentar um panorama da situação militar judaica, que era mais do que frágil. Ben Gurion foi enfático: "A catástrofe de Etzion não me abala. Eu já esperava derrotas e receio que teremos que enfrentar dificuldades ainda maiores. Tudo será decidido quando conseguirmos derrotar a maior parte da Legião Árabe. É pelas armas que resolveremos este problema". Parecia um absurdo, mas a determinação de Ben Gurion empolgou o Conselho.

A proposta de armistício foi colocada em votação: seis contra, quatro a favor e três abstenções. A pátria judaica seria criada por uma diferença de apenas dois votos. Após um breve intervalo, sucedeu-se uma série de cruciais indagações. Como proclamar a soberania? Que nome dar ao novo país? Como seria redigida a declaração de independência? Alguns propuseram Estado Judeu, outros simplesmente Sion. Finalmente, um consenso: o nome seria Israel. Seguiu-se, então, outro ruidoso debate sobre a questão das fronteiras. Como inseri-las na declaração? Mais uma vez prevaleceram as palavras de Ben Gurion: "Leiam a declaração de independência dos Estados Unidos que não contém qualquer alusão a fronteiras territoriais. Não somos obrigados a precisar com exatidão os limites do estado. Os árabes estão-nos atacando. Se conseguirmos derrotá-los, a Galiléia ocidental e os dois lados da estrada para Jerusalém serão parte de nosso país". Nova votação, agora sobre a definição das fronteiras: cinco votos contra, quatro a favor e quatro abstenções. A reunião terminou de madrugada, ficando decidido que um pequeno grupo, presidido por Sharret, se encarregaria do texto da declaração de independência.

Ben Gurion passou a manhã do dia 13 de maio reunido com o Estado Maior. A cidade de Safed tinha-se rendido à Haganá. Depois de Kfar Etzion, outras localidades judaicas estavam sob severo ataque. No sul havia uma forte ofensiva do exército egípcio. Na sede das Nações Unidas, em Lake Success, a confusão era total. Em Washington, o líder Chaim Weizmann enviou uma carta ao presidente Truman solicitando o reconhecimento do Estado de Israel, embora sua independência nem tivesse sido proclamada.

Na Casa Branca, depois da reunião com Marshall, o presidente agradeceu a Clifford por suas sugestões e nada mais disse. O jovem assessor retornou ao seu gabinete convencido de que havia sido derrotado. Entretanto, sem que ele soubesse, acabara de ganhar um precioso aliado, Robert Lovett, Sub-Secretário de Estado, que antes era contra a causa sionista, mas que se deixara convencer pela argumentação de Clifford. Na mesma manhã em que Ben Gurion se inteirava da débil situação militar, Lovett convocou sua equipe. Todos estavam a favor do reconhecimento de um estado judeu. Isto fez com que Marshall voltasse atrás, inclusive impressionado pela carta de Weizmann, na qual ele dizia esperar que "a mais antiga democracia" se colocasse ao lado "da mais nova democracia". Truman pediu que Marshall e Lovett fizessem contato com Chaim Weizmann, mas o Departamento de Estado objetou, argumentando que Weizmann não detinha um cargo oficial na Agência Judaica e era cidadão britânico. Como conseqüência, Eliahu Epstein assumiu a posição de representante do novo país junto à Casa Branca e Clifford recebeu autorização para contatá-lo em caráter formal.

Assim, às onze da manhã do dia 14 de maio, Epstein recebeu um telefonema de Clifford. Ele queria saber como estava a situação em Tel Aviv e se a independência seria proclamada naquele dia, conforme a imprensa estava publicando. Epstein ainda não tinha recebido nenhuma notícia (o texto da declaração só lhe chegou no dia seguinte), mas assegurou a Clifford que haveria a proclamação e era até possível que já tivesse ocorrido, porque em função do fuso horário eram cinco da tarde em Tel Aviv e a cerimônia havia sido marcada para as quatro.

Doze horas antes, fervilhavam em Tel Aviv os preparativos para o histórico dia. O museu da cidade foi escolhido para o lugar da cerimônia porque, embora o auditório do teatro Habimah fosse maior, sua localização proporcionava pouco sigilo e segurança. Havia pressa naquela sexta-feira em função do Shabat que começaria com o pôr-do-sol. Os convites para a cerimônia, endereçados a diretores e representantes de entidades e não a pessoas, foram entregues por mensageiros na própria manhã do dia 14 e diziam o seguinte:

"Temos a honra de convidá-lo para assistir à cerimônia da Declaração de Independência que será realizada no dia 5 de Iyar de 5708 (14 de maio de 1948), às 16 horas, no salão do Museu de Tel Aviv, Boulevard Rothschild, número 16. Pedimos-lhe que mantenha em sigilo o conteúdo deste convite quanto à hora e ao local. Os convidados deverão estar no Museu às três e meia da tarde. Atenciosamente, o Secretariado. Este convite é pessoal. Traje: social escuro". O dito secretariado era Zeev Sharef, diretor administrativo da Agência Judaica. Em condições normais, o convite deveria ser assinado por Ben Gurion, mas Sharef assumiu a responsabilidade por não querer perturbá-lo e porque ele estava ocupado com a revisão do texto da declaração da independência. Ben Gurion não gostou do rascunho que lhe foi entregue pelo grupo de Sharret. Achou que o texto continha um excesso de rendas diplomáticas e ele preferia uma redação mais concisa e mais objetiva. Fez as correções que julgou necessárias e enviou o texto para Sharef, incumbido de tirar um certo número de cópias. Entretanto, nada há mais difícil do que guardar um segredo entre judeus. Os jornais matutinos publicaram no dia 14 que a rádio oficial Kol Israel transmitiria a cerimônia de independência a partir das quatro da tarde. Além disso, a polícia começara a isolar a área em torno do Museu às 15 horas, o que atraiu a curiosidade da população. Os detalhes estavam a cargo do competente Abraham Rifkind, membro da equipe do Keren Hayesod, que havia desempenhado igual função em 1946, por ocasião da realização do 22o Congresso Sionista Mundial, na Basiléia.

Rifkind revelou, anos depois, que a sua intenção era no sentido de que a declaração fosse escrita num rolo, como na Torá, e para isso chamou um escriba da comunidade ortodoxa de B'nei Berak. Este disse que não poderia completar a tarefa a tempo, porque cada vez que escrevesse o nome de D'us, teria que parar e cumprir o ritual de lavar as mãos. Rifkind convocou, em seguida, o artista plástico Otto Walisch, deu-lhe uma verba quase irrisória e pediu-lhe que providenciasse os ornamentos condizentes com a ocasião para o salão do Museu.

Recomendou que não comprasse tudo numa só loja para não levantar suspeitas. De fato, a segurança para a cerimônia estava sendo tão impositiva que os próprios funcionários do Museu só sabiam que teriam que estar a postos naquela tarde, mas desconheciam o motivo. Walisch recrutou três ajudantes: um carpinteiro, um pintor também decorador e uma faxineira que devia polir o assoalho e as cadeiras. Sua tarefa imediata foi cobrir com bandeiras brancas, listras horizontais azuis e a estrela de David no meio, alguns quadros e esculturas que exibiam nus artísticos, inapropriados para o salão onde teria lugar a cerimônia.

Por medida de segurança, também cobriu as janelas com panos pretos, pois havia a ameaça de bombardeio pela força aérea do Egito. Ao mesmo tempo, precisava encontrar uma fotografia de Theodor Herzl, tarefa das mais difíceis àquela altura. Acabou encontrando apenas uma em bom estado, de tamanho médio, que envolveu em larga moldura de modo a dar-lhe maior dimensão. Em seguida, era imprescindível adquirir um pergaminho para o texto da declaração que, naquele momento, ainda estava sendo revisada.

Nada encontrou em Tel Aviv e lhe disseram que talvez o encontrasse numa loja no subúrbio de Abukebir, onde já ocorriam tiroteios, tornando-o inacessível. Na loja Bar Levy, na rua Allenby, encontrou um papel sintético, tipo pergaminho, que dava a impressão de genuíno. Preocupado, ainda encontrou tempo para ir ao Instituto de Padrões, na rua Dizengoff, onde solicitou um teste de laboratório que lhe garantisse que tal pergaminho duraria pelo menos dois mil anos.

Mas, onde estava a declaração? Zeev Sharef, acompanhado da mulher Dorit, tinha o texto em seu poder, na sede do Keren Kaiemet, de onde providenciou táxis para os líderes sionistas que deveriam estar presentes à cerimônia. Só se esqueceu dele mesmo e da mulher. Em meio a tanta tensão, o casal viu-se isolado e sem chance de obter uma condução para o Museu. Desesperado, procurou um policial e pediu-lhe para parar um táxi. O motorista acionado disse que sentia muito, mas tinha que correr para estar em casa às quatro horas para ouvir no rádio a declaração de independência. Sharef exclamou: "Pois se você não me levar ao Museu, nunca há de ouvir a declaração de independência porque ela está aqui na minha mão". O taxista partiu em disparada e foi o que bastou para que um policial o detivesse para aplicar uma multa. Sharef interveio, argumentando que o poder mandatário britânico não mais existia e, portanto, o policial estava impedido de aplicar qualquer multa. Pouco antes das 16 horas, uma frota de limusines americanas alugadas começou a chegar ao Museu, trazendo os futuros signatários da declaração.

Eles seriam os integrantes do gabinete do novo país e seu corpo legislativo até a eleição do primeiro Knesset (parlamento), composto por 108 homens, incluindo 3 representantes árabes, e 12 mulheres. O último a chegar foi Ben Gurion, 62 anos, acompanhado da mulher, Paula. As pessoas aglomeradas na entrada do Museu cobriram-no de aplausos e agitaram bandeiras. Por causa do sol forte e dos flashes dos fotógrafos, Paula tropeçou no primeiro degrau da escadaria, caiu e machucou a vista direita, sendo amparada pelo marido. Ficou todo o tempo da cerimônia com uma compressa feita com o lenço sobre o olho, molhando-a num copo de água gelada. Mesmo assim, foi traduzindo o texto da declaração do hebraico para o inglês para o jornalista Quentin Reynolds, que estava sentado ao seu lado.

Exatamente às 15 horas e 59 minutos, Zeev Sharef entregou a Ben Gurion o texto da declaração, a "certidão de nascimento" do Estado de Israel. A leitura começou, conforme previsto, às 16 horas: "A terra de Israel é o berço de origem do povo judeu..." Foram 17 minutos no decorrer dos quais foram lidas 979 palavras no idioma hebraico. Em seguida, Ben Gurion chamou o venerável rabino Yehuda Leib Ha-Cohen Fishman, trazido especialmente de avião de Jerusalém. O rabino, de 74 anos, recitou com a voz trêmula a prece Shehecheianu: "Bendito seja D'us, Rei do Universo, que nos manteve, nos conduziu e nos trouxe até este dia". Após a oração, Ben Gurion anunciou o primeiro decreto do recém-nascido Estado de Israel: estava anulado o White Paper, documento britânico que impedia a entrada de judeus na Terra Santa. Um dos signatários, Chaim Shapira, recordou anos depois: "Quando completei a minha assinatura, tive a nítida sensação de que estava acontecendo um milagre". E Sharret lembrou: "Na hora da assinatura fiquei ao mesmo tempo excitado e com a sensação de alguém que está à beira de um penhasco, pronto para saltar". Naquela mesma noite, Ben Gurion anotou em seu diário: "O povo está feliz e eu estou tomado por presságios". E depois de receber um relatório sobre a precária situação militar que Israel enfrentava, disse a Paula: "Sinto-me um consternado entre os exultantes".

Naquele momento, a Casa Branca havia recebido uma carta de Eliahu Epstein, antes submetida à aprovação de Clifford, com cópia para George Marshall, que dizia: "Caro Senhor Presidente. Tenho a honra de notificá-lo de que o Estado de Israel foi proclamado como república independente, dentro das fronteiras aprovadas pelas Nações Unidas em sua resolução de 29 de novembro de 1947, e que foi formado um governo provisório incumbido de assumir direitos e deveres para preservar a lei e a ordem dentro das fronteiras de Israel e com a missão de defender o país contra agressões externas. O Ato de Independência se tornará efetivo um minuto depois das dezoito horas do dia 14 de maio de 1948, hora de Washington. Com pleno conhecimento dos profundos laços de simpatia que sempre existiram, nos últimos trinta anos, entre o governo dos Estados Unidos e o povo judeu da Palestina, estou autorizado pelo governo provisório do novo estado a estender-lhe esta mensagem na esperança de que sua administração reconheça e receba Israel na comunidade das nações. Respeitosamente, Eliahu Epstein, Representante do Governo Provisório de Israel".

Logo em seguida veio uma resposta: "Tenho a honra de acusar o recebimento de sua carta datada de 14 de maio, às 6 horas e 11 minutos, hora de Washington, e de lhe transmitir que o presidente dos Estados Unidos emitiu a seguinte declaração: Este governo foi informado de que um Estado Judeu foi proclamado na Palestina e que seu governo provisório solicitou o devido reconhecimento. Os Estados Unidos reconhecem o governo provisório como a autoridade de facto do novo Estado de Israel. Assinado: G.C. Marshall, Secretário de Estado".

A partir daquele instante a soberania e a continuidade do povo judeu na pátria de seus ancestrais tornavam-se irreversíveis.

Bibliografia:

Bar-Zoha, Michael, Ben Gurion, o Profeta Armado, editora Senzala.

Kurzman, Dan, Ben Gurion, Prophet of Fire, editora Simon and Schuster.

Postal, Bernard e Levy, Henry W, And the Hills Shouted for Joy, editora David McKay Company.

Nasce o Estado de Israel

Esta foi a manchete do jornal Palestine Post (depois Jerusalem Post) no dia 16 de maio de 1948. O jornal não havia circulado no dia 15 por causa do Shabat. O parágrafo inicial dizia: "O primeiro estado judaico em dezenove séculos foi criado em Tel Aviv, assim que o mandato britânico na Palestina terminou à meia-noite da sexta-feira, e foi imediatamente submetido a um teste de fogo. Enquanto o Estado de Israel nascia, rugia a batalha em Jerusalém, com a maior parte da cidade em poder dos judeus. Ao mesmo tempo, o presidente Truman anunciava que os Estados Unidos reconheceriam o novo país. Horas depois, a Palestina foi invadida por exércitos muçulmanos ao sul, ao leste e ao norte e Tel Aviv foi bombardeada pelo ar. Ontem, a batalha na estrada Tel Aviv-Jerusalém prosseguia e dois vilarejos árabes foram tomados. Ao norte, foi capturada a cidade de Acre e o exército judeu consolidou suas posições na Galiléia ocidental".

Declaração de Independência do Estado de Israel

Lida por David Ben Gurion no dia 14 de maio de 1948

A terra de Israel é o berço de origem do povo judeu. Aqui a sua identidade espiritual, política e religiosa foi moldada. Aqui os judeus formaram uma nação, criaram valores culturais de significado nacional e universal e deram ao mundo o eterno Livro dos Livros.

Depois de forçosamente exilado de sua terra, este povo conservou sua fé durante a dispersão e nunca deixou de sonhar e rezar com o retorno para a sua pátria e, nela, com a restauração de sua liberdade política. Impelidos por sua ligação histórica e tradicional, os judeus lutaram geração após geração para se estabelecer em sua antiga terra natal.

Nas décadas recentes, para cá voltaram em massa pioneiros e defensores que fizeram desertos florescerem, reavivaram o idioma hebraico, construíram vilas e cidades, criaram uma próspera comunidade que controla a sua própria economia e cultura, cultivando a paz mas sabendo como se defender, trazendo os benefícios do progresso para todos os habitantes do país e aspirando por sua independência nacional.

No ano de 5657 (1897), no Primeiro Congresso Sionista, o pai espiritual do Estado Judeu, Theodor Herzl, delineou e proclamou o direito do povo judeu de fazer renascer o seu próprio país. Este direito foi reconhecido pela Declaração Balfour de 2 de novembro de 1917 e reafirmado pelo mandato da Liga das Nações que, em particular, deu sanção internacional à conexão histórica entre o povo judeu e Eretz Israel e o direito deste povo de reconstruir o seu Lar Nacional.

A catástrofe que recentemente se abateu sobre o povo judeu, o massacre de milhões de judeus na Europa, foi outra clara demonstração da urgência de ser resolvido o problema dos sem-pátria, com o restabelecimento de um Estado Judeu em Eretz Israel, abrindo suas portas para todos os judeus e conferindo-lhes a condição de membros integrantes da comunidade das nações.

Sobreviventes do holocausto perpetrado pelos nazistas na Europa, assim como os judeus do resto do mundo, continuaram a emigrar para Eretz Israel. Apesar das dificuldades, restrições e perigos, nunca deixaram de assegurar seu direito a uma vida com dignidade, liberdade e trabalho honesto em seu Lar Nacional.

Na Segunda Guerra Mundial, a comunidade judaica deste país contribuiu por completo com as nações que amam a paz e a liberdade contra as forças da tirania nazista; e, com o sangue de seus combatentes e esforços de guerra, ganhou o direito de ser reconhecida entre os povos que fundaram as Nações Unidas.

No dia 29 de novembro de 1947, a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a resolução de um Estado Judeu em Eretz Israel. A Assembléia Geral instou seus habitantes a tomarem as medidas necessárias para a implementação dessa resolução. É irrevogável o reconhecimento das Nações Unidas pelo direito do povo judeu de estabelecer o seu Estado.

Este direito é o direito natural do povo judeu de ser o senhor de seu destino, em seu Estado soberano, a exemplo das demais nações.

Conseqüentemente, os membros do Conselho do Povo, representantes da comunidade judaica de Eretz Israel e do movimento sionista, aqui reunidos no dia do término do mandato britânico sobre Eretz Israel, em virtude de nosso histórico e natural direito e por força da resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas, por esta proclamação declaram o estabelecimento de um Estado Judeu em Eretz Israel, a ser conhecido como Estado de Israel.

Declaramos que a partir do término do mandato britânico esta noite, véspera do Shabat, no sexto dia do mês de Iyar de 5708, até o regular estabelecimento das autoridades do país, através de eleições não posteriores ao dia 1º de outubro de 1948, o Conselho do Povo atuará como o Conselho Provisório do Estado e seu órgão executivo será o governo provisório do Estado Judeu, designado como Israel.

O Estado de Israel estará aberto para a imigração judaica e para a reunião dos exilados; incrementará o desenvolvimento do país em benefício de todos os seus habitantes; será baseado na liberdade, na justiça e na paz conforme apregoado pelos profetas de Israel; vai assegurar a todos os seus habitantes igualdade e direitos sociais e políticos, independentemente de sua religião, raça ou sexo; garantirá a liberdade de religião, pensamento, idioma, educação e cultura; guardará os lugares sagrados de todas as religiões e será fiel aos princípios da Carta das Nações Unidas.

O Estado de Israel está pronto para cooperar com todas as agências e representantes das Nações Unidas para a implementação da resolução da Assembléia Geral de 29 de novembro de 1947 e tomará medidas para a integração econômica de toda Eretz Israel.

Nós apelamos às Nações Unidas para que ajudem o povo judeu na construção de seu Estado e que recebam o Estado de Israel na comunidade das nações.

Nós apelamos, mesmo em meio aos ataques contra nós desferidos, aos habitantes árabes do Estado de Israel que preservem a paz e participem da construção do país com base em plena e igual cidadania e na sua representação em todas as instituições provisórias e permanentes. Estendemos nossas mãos a todos os países que nos cercam em um oferecimento de paz e boa vizinhança e que estabeleçam laços de cooperação e ajuda mútua com o povo judaico, soberano em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para participar de um esforço comum pelo desenvolvimento de todo o Oriente Médio.

Apelamos aos judeus da Diáspora para cerrarem fileiras com os judeus de Eretz Israel nas tarefas de imigração e de soerguimento e os apoiem na luta pela realização de nosso antigo sonho, a redenção de Israel.

Asseverando nossa confiança na Rocha de Israel, apomos nossas assinaturas na presente proclamação, nesta sessão do Conselho Provisório do Estado, no solo de nossa pátria na cidade de Tel Avi