Amigo de juventude do presidente americano Harry Truman, Eddie Jacobson foi fundamental em convencê-lo a apoiar a criação, na então Palestina, de um lar nacional judaico.

Em inúmeras ocasiões, freqüentemente atendendo pedidos de líderes judeus americanos que sabiam de sua amizade com o presidente, Eddie Jacobson interveio junto a Truman para pedir seu apoio à causa judaica.

Edward Jacobson nasceu em 1891, na cidade de Nova York. Quando Eddie tinha 14 anos, os Jacobsons se estabeleceram em Kansas City, no Missouri, onde o jovem conhece Harry Truman . A amizade, iniciada na juventude, se fortalece quando os dois se reencontram durante a 1ª Guerra Mundial. Serviram o exército americano juntos, na artilharia, chegando a dirigir a cantina do exército enquanto estavam estacionados no Campo Doniphan, em Oklahoma.

Ao retornar da Europa, após o armistício, Jacobson e Truman decidiram abrir, em sociedade, uma camisaria, em Kansas City. Inaugurada em novembro de 1919, a "Truman & Jacobson" acabou fechando três anos mais tarde, levando-os a procurar cada um o seu caminho.

Nas duas décadas seguintes, Jacobson trabalhou como caixeiro-viajante até que conseguiu abrir uma loja própria em Kansas City, em 1945. De sua parte, Truman trilhou o caminho da política: foi eleito deputado, depois senador e, finalmente, vice-presidente. Após a morte de Franklin D. Roosevelt, assumiu a presidência dos Estados Unidos. No entanto, apesar dos destinos diferentes, a amizade entre eles se manteve. Era um relacionamento sincero e desinteressado. Eddie jamais tentou obter qualquer vantagem ou favor pessoal mesmo quando o amigo se tornou presidente dos Estados Unidos da América.

Como tantos outros judeus americanos, Eddie não era praticante e tampouco participava ativamente de organizações comunitárias judaicas. Mas, ao final da 2a Guerra Mundial, o destino fez com se tornasse instrumental para a criação do Estado de Israel. Tudo teve início em junho de 1947, quando A.J. Granoff, advogado judeu de Kansas City recebeu um telefonema de Washington. Na linha estavam Maurice Bisgyer e Frank Goldberg, então presidente nacional da B'nai B'rith, que lhe perguntaram se conhecia um tal de Jacobson, de Kansas City, amigo do presidente Truman. Granoff respondeu que não só conhecia como era amigo de Eddie. E marcou o encontro que lhe pediram.

Ao se encontrar com Frank Goldberg, Jacobson lhe disse que nunca pedira um favor pessoal para Truman, mas estaria mais do que disposto a falar com ele sobre "o sofrimento de nosso povo, na Europa". O principal problema, Goldberg diz a Eddie Jacobson, era encontrar uma forma de facilitar a entrada, na então Palestina, de judeus refugiados. Eddie lhe responde que tinha certeza de que Truman faria o correto, uma vez estando a par dos fatos. Mas, Eddie disse a Goldberg, "Não sou sionista. Então primeiro me ponha a par da situação". A primeira de suas várias visitas à Casa Branca ocorreu em 26 de junho de 1946. Na ocasião, Eddie pediu a ajuda de Truman para o problema dos refugiados judeus.

O papel do presidente Truman

Não cabe dúvida de que a posição pessoal do presidente Truman foi fundamental para a criação do Estado de Israel. Ao assumir a presidência, distanciara-se da linha política de seu antecessor, o presidente Franklin D. Roosevelt, em relação à Palestina. Já em seu mandato como senador, antes da 2a Guerra Mundial, Truman se manifestara contra a decisão da Grã-Bretanha de restringir a imigração judaica à Palestina. E, após o término da guerra, Truman, já empossado presidente, pressiona a Inglaterra para admitir o maior número possível de judeus na Palestina. Nos meses que antecederam a criação do Estado de Israel, Truman foi intensamente pressionado por líderes sionistas americanos e, ao mesmo tempo, por chefes do mundo árabe. Todos sabiam que a criação de um Estado judeu dependeria em grande parte de Washington. No seio do próprio governo americano não havia consenso a respeito. Os Departamentos de Estado e de Defesa e o próprio Secretário de Estado, George Marshall, acreditavam que o apoio americano a um Estado judeu prejudicaria as relações dos Estados Unidos com os países do Oriente Médio. Entre os partidários do Estado judeu estavam homens como David K. Niles, assistente especial de Truman, e Clark Gifford, assessor do presidente, que acreditava ser obrigação moral dos Estados Unidos apoiar a criação de um Estado judeu na então Palestina.

As lideranças sionistas começam a trabalhar arduamente para sedimentar o apoio do governo americano. A maioria dos judeus americanos se sentiam culpados pelo Holocausto - acreditavam que poderiam e deveriam ter feito mais para salvar seus irmãos na Europa. Determinados a não repetir o mesmo erro, envolveram-se profundamente na luta dos sobreviventes do nazismo que tentavam imigrar para a Terra de Israel.

Em várias ocasiões, acompanhado por seu amigo Granoff, Eddie Jacobson encontrou-se com Truman, antes e após a aprovação da Partilha da Palestina pelas Nações Unidas. Após a aprovação, os dois foram a Washington agradecer o apoio de Truman. Mas, apesar da amizade entre Jacobson e o presidente, obter o apoio americano não foi tarefa fácil. As relações entre Truman e os líderes da comunidade judaica americana se haviam deteriorado, em parte devido à insistência e pressão dos líderes sionistas. Quando o presidente decidiu que não mais queria receber líderes judeus na Casa Branca, esses, preocupados com a mudança de posição do governo americano quanto à criação de um Estado judeu, recorreram mais uma vez a Eddie Jacobson.

Em 21 de fevereiro de 1948, Jacobson escreveu uma carta ao presidente, pedindo que recebesse novamente o líder sionista Chaim Weizmann. Mas, ao apelo de Eddie - "Harry, meu povo precisa de socorro e eu apelo a você que o ajude" - Truman respondeu: "Eu sei o que você quer e a resposta é não".

No início de março, Clark Clifford apresentara ao presidente um memorando intitulado, "A Política dos Estados Unidos com Relação à Palestina", onde afirmava que o apoio à partilha estava em plena conformidade com a política externa dos Estados Unidos. Mas, Loy Henderon, Secretário Assistente de Estado, e seus aliados estavam empenhados a impedir o apoio dos Estados Unidos à criação de um Estado judeu. Diziam a Truman que se ele apoiasse a fundação do Estado de Israel, o mundo árabe se voltaria contra os americanos e, conseqüentemente, o fornecimento de petróleo ao país ia ser prejudicado. Acreditavam já ter convencido Truman.

O presidente americano, que anteriormente, em outubro de 1946, chegara a afirmar que o governo dos Estados Unidos apoiaria um "Estado judeu viável em uma área adequada da Palestina", agora dava sinais de ter mudado de opinião. Declarou que os sionistas americanos eram muito críticos à sua administração e fez declarações duras contra os judeus, chamando-os de egoístas e falando que eles "não têm senso de proporções" e "não sabem analisar as questões mundiais". Pressionado pelo alto escalão de seu governo, Truman se afastava cada vez mais de sua posição inicial, dando instruções de que não mais aceitaria ser abordado por qualquer porta-voz da causa judaica.

Coube então a Eddie Jacobson convencer Truman a voltar a apoiar a causa judaica. Após receber a resposta à sua carta, não se deu por vencido; e, sem solicitar audiência, no dia 13 de março de 1948 Jacobson irrompe no escritório de Truman. Mas o presidente lhe diz: "Eu sei por que você está aqui e a resposta ainda é não. Não quero discutir nem a Palestina, nem os judeus".

Diante destas palavras, Jacobson disse estar chocado, temendo que seu amigo "estivesse tão próximo de ser tão anti-semita quanto é possível a um ser humano". Mas Jacobson estava determinado a convencer o presidente. Sua inspiração veio de uma estátua que Truman mantinha sobre sua mesa. Era de Andrew Jackson, sétimo presidente dos Estados Unidos, que Truman considerava um herói. Jacobson disse para o presidente: "Harry, você tem um herói; eu também tenho - um dos maiores judeus de todos os tempos - o Dr. Chaim Weizmann. Ele é um homem muito doente... mesmo assim, viajou milhares de quilômetros apenas para vê-lo. Agora, você se recusa a encontrá-lo porque se sente insultado por alguns líderes judeus".

As palavras de Jacobson surtiram efeito e, finalmente, em 18 de março de 1948, o Dr. Weizmann foi recebido por Truman no Salão Oval da Casa Branca. Ninguém sabe ao certo o que foi discutido por ambos, mas o líder sionista saiu do encontro com a promessa de Truman de que os Estados Unidos apoiariam a partilha da Palestina e a fundação do Estado de Israel quando este fosse declarado. Truman teria pedido sigilo a Weizmman devido às conhecidas posições do Departamento de Estado e de George Marshall.

Entre os assessores próximos ao presidente, foi Clifford, o defensor inabalável da causa judaica, quem pressionava Truman a reconhecer o jovem Estado judeu. Finalmente, no dia 13 de maio, Clifford informou a Lovett que Marshall não iria apoiar, mas também não iria se opor, à decisão de Truman. No dia seguinte, 14 de maio de 1948, David Ben Gurion proclama a independência do Estado judeu, a ser chamado de Israel, a partir da meia-noite daquele dia, que correspondia às 6 da tarde em Washington. Onze minutos mais tarde, a Casa Branca divulga a seguinte declaração: "Este governo foi informado que um Estado judeu acaba de ser proclamado na Palestina. Os Estados Unidos reconhecem o governo provisório e a autoridade de facto do Estado de Israel".

Mantendo a promessa feita a Weizmann, o governo de Truman reconhece o Estado de Israel poucos minutos após sua criação. No momento em que o embaixador americano nas Nações Unidas apresentava a proposta de uma solução administrativa para a Palestina, recebeu uma mensagem de Truman dizendo que, contrariando todos os chefes de equipes do governo, os Estados Unidos reconheciam o Estado judeu.

Escolhido para ser o primeiro presidente de Israel, Weizmann convidou Eddie Jacobson para um encontro em Nova York. Quando sua limusine se aproximou do Hotel Waldorf Astoria, onde se hospedava o líder sionista, Jacobson notou uma multidão parada que observava a bandeira de Israel hasteada tremular ao lado da dos Estados Unidos. O hotel mantém a tradição de hastear a bandeira dos países cujos chefes de estado são seus hóspedes. Mais tarde, Jacobson escreveu sobre o que sentiu naquele dia: "Eu parei na calçada e chorei, chorei, chorei".

Edward Jacobson - um herói do povo judeu, pouco conhecido, mas de importância fundamental na história de nosso povo - veio a falecer em 25 de outubro de 1955, em Kansas City, cidade onde passou a maior parte de sua vida.

Bibliografia:

Edward Jacobson Papers, 1913-74, http://www.trumanlibrary.org/

A. J. Granoff Papers, 1940-87, http://www.trumanlibrary.org/