No coração de Jerusalém, entre a modernidade e a antiguidade, foi inaugurado em 2015 um museu para homenagear não judeus que ao longo das décadas não só salvaram nossos irmãos, mas também tiveram participação importante na criação de um Lar Nacional Judaico em Eretz Israel.

Diz um provérbio judaico que quem salva uma vida, é como se tivesse salvado o mundo inteiro. Localizado no coração de Jerusalém, há um local especial que conta histórias do heroísmo de cristãos que arriscaram sua vida para ajudar judeus ao longo dos últimos dois séculos. Inaugurado em 2015, o Museu Amigos de Sion (Friends of Zion Museum - FOZ) é visita obrigatória para quem vai à cidade. Utilizando as mais avançadas tecnologias audiovisuais e de interatividade, leva os visitantes a uma viagem através do tempo que começa quando D’us disse a Abraham “Lech Lechá” – “Lech (vá) Lechá (ao seu interior) e lá você encontrará forças para superar (sair): Meartsechá (da tua terra - do que lhe é familiar), Mimoladtechá (do local onde nasceste – dos hábitos adquiridos em teu ambiente), Umibeit Avicha (da casa de teu pai – da educação que recebeste em casa)”.

Durante séculos as profecias bíblicas apontavam para o retorno dos judeus à sua terra, mas parecia ser um sonho distante, mas um sonho que era lembrado ano após ano quando repetíamos “No próximo ano, em Jerusalém”. Há mais de dois séculos os judeus podem contar com o apoio e a coragem dos chamados cristãos sionistas – cristãos que acreditavam no direito judaico a Eretz Israel –, as vezes com o sacrifício de sua vida. Em Israel há uma consciência cada vez maior desse apoio histórico; no entanto, muitos desses personagens ainda são desconhecidos.

Assim, ao lado de nomes internacionalmente conhecidos por sua coragem e determinação, como Yrena Sendler e Oskar Schindler – que durante o período da Shoá correram sério perigo para ajudar judeus a escapar da máquina mortífera de Hitler –, surgem outras vozes. É esta história também que o Museu FOZ se propõe a contar. Tecnologias em 3D, recursos criativos de iluminação e trilha sonora especialmente desenvolvidos envolvem os visitantes durante o roteiro guiado de 60 minutos.

Ao começar o passeio, os visitantes são recebidos por um vídeo com uma mensagem gravada pelo então presidente Shimon Peres, fundador do Museu, com o apoio internacional que ajudou a realizar o sonho preconizado por Theodor Herzl: “Se quiseres, não será uma lenda. O sonho de hoje um dia poderá tornar-se realidade”.

Organização sem fins lucrativos, o Museu FOZ tem-se caracterizado, também, como plataforma para combate do BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), uma campanha global que preconiza a prática de boicote econômico, acadêmico, cultural e político ao Estado de Israel. O Museu também se propõe a combater o antissemitismo, no mundo todo, pela divulgação contínua de informações corretas sobre o Sionismo e o Estado de Israel. Até sua morte, em 2016, Shimon Peres foi o presidente do Museu, de cujo Conselho fazem parte nomes como o ex-ministro Yossi Peled, o ex-chefe do Estado Maior Dan Halutz, o professor e ex-ministro Yaakov Neeman e o major general Danny Yatom, entre outras inúmeras personalidades israelenses, o que demonstra o total apoio do governo ao projeto.

As exposições que contam a história do chamado Sionismo Cristão são permanentes e seguem um roteiro assim determinado: A Terra da Promessa, que inclui a apresentação de Shimon Peres; O Teatro dos Fundadores, um audiovisual que narra a trajetória de Abraham e outras figuras bíblicas, mostrando a história da antiga Israel em uma tela de 24 metros de comprimento; Os Sonhadores, com a história daqueles que levantaram sua voz no início do século 19 em apoio ao direitos dos judeus de retornar à Terra de Israel; Os Visionários, um amplo mural digital com a trajetória daqueles que ajudaram no avanço da concretização do sonho sionista, no final do século 19 e início do 20; Luzes na Escuridão, ala dedicada aos Justos Entre as Nações, pessoas que arriscaram sua vida durante o Holocausto para ajudar judeus; Os Corajosos – Caminhos para a Soberania, destacando aqueles que lutaram ao lado do povo judeu para criar o Estado de Israel; e o Grande Final, uma panorâmica do conteúdo do Museu, em 3D, culminando com a Declaração da Independência de Israel.

Elevador de Tempo

Ao sair da galeria A Terra da Promessa, o visitante entra em um elevador do tempo que, por meio de um jogo de sons e luzes, leva-o ao ponto mais alto do museu e a uma viagem 4 mil anos atrás. Sentado no chamado Teatro dos Fundadores, diante de uma tela de 24 metros de largura – a maior em espaços internos em um museu israelense – encontra-se com a história do Povo Judeu desde a Aliança entre D’us e o Povo de Israel. Acompanha a escolha de Abram, seu nome na época, como mensageiro do D’us Único para o mundo e para ser o fundador de “uma grande nação”, passando a ser chamado de Abraham pelo Todo Poderoso.

A trajetória dos Patriarcas, o exílio e a escravidão no Egito, o êxodo, a conquista da Terra Prometida, o domínio romano, a destruição do Segundo Grande Templo de Jerusalém e o início da Diáspora não afastaram o Povo de Israel de sua fé em um D’us Único. Apesar das tragédias e dificuldades, o sonho do retorno nunca morreu em seu coração e mente, como foi previsto pelas palavras de muitos de nossos profetas.

Sonhadores e Visionários

O Hall dos Sonhadores apresenta quatro histórias de indivíduos cuja atuação ajudou no renascimento do Estado Judeu: professor George Bush – ancestral distante dos presidentes americanos George Bush e George W. Bush – , que escreveu: “Os dispersos e abatidos sobreviventes devem, um após o outro, voltar sua face para Sion ... encontrar seu caminho para a terra de seus pais ... Isto beneficiará não apenas os judeus, mas toda a Humanidade, formando um elo de comunicação entre a Humanidade e D’us”. Ele fez esta afirmação muito antes de Herzl e do surgimento do movimento sionista.

O prof. Bush começou sua carreira como ministro presbiteriano e, depois, tornou-se professor de Hebraico e Literatura Oriental na Universidade de Nova York. Sua formação bíblica fez com que acreditasse profundamente nas profecias que anunciavam o retorno do povo de Israel à sua terra. Em 1844 publicou suas opiniões em um livro intitulado “The Valley of Vision; or, The Dry Bones of Israel Revived”, baseado nas profecias de Ezequiel. A obra vendeu mais de um milhão de cópias e fez dele uma voz nos Estados Unidos da restauração do Povo Judeu na terra de seus ancestrais, um pensamento radical para a América daqueles dias.

O suíço Henry Dunant (1828-1910), homem de fortes ideais humanitários, foi co-fundador da Cruz Vermelha Internacional em 1863 e inspirou os parâmetros das regras de guerra para a Primeira Convenção de Genebra menos de um ano depois. Calvinista protestante, foi escolhido como co-laureado do primeiro Nobel da Paz em 1901. Figura chave do chamado Sionismo Cristão, lutou pela implantação do Lar Nacional Judaico durante o Império Otomano na então Palestina. Foi chamado pelo próprio Herzl de sionista cristão durante o Primeiro Congresso Sionista, realizado na Basileia no final de agosto de 1897. Fez seu primeiro discurso em defesa da restauração de um lar judaico em Eretz Israel em Paris, em 1863.

Três anos depois, escreveu um panfleto apelando pela fundação da Sociedade Internacional para a Renovação do Oriente, que poderia levar à criação de uma florescente Palestina judaica sob domínio francês. Em 1867 fundou a Sociedade Internacional para a Palestina, utilizando seus contatos para pressionar o sultão a permitir o reassentamento dos judeus na região. Seu nome foi dado a uma área da Floresta de Jerusalém, como forma de preservar sua memória e seu legado.

Outra personalidade presente na mesma ala é William Blackstone, nascido em 1841. Horrorizado pela perseguição dos judeus na Rússia decidiu dedicar-se à restauração de um Lar Judaico na então Palestina otomana. Empresário e membro ativo da comunidade americana Evangélica em Chicago, visitou a região em 1889 e, em 1890, promoveu uma ampla conferência em Chicago intitulada “Passado, presente e futuro de Israel”, da qual participaram centenas de pessoas, inclusive rabinos americanos.

Um dos resultados desse encontro foi a Petição Blackstone, entregue ao presidente Benjamin Harrison em março de 1891. Com mais de 400 assinaturas de importantes industriais, políticos, religiosos, juízes, magnatas da imprensa, entre outros, visava persuadir o presidente a usar sua influência junto às nações europeias, ao Império Otomano e à Rússia para facilitar a libertação dos judeus russos para que pudessem estabelecer-se, novamente, na Terra de Israel.

“Por que não deveriam os poderes que, sob o Tratado de Berlim em 1879, concederam a Bulgária para os búlgaros, e a Sérvia para os sérvios, devolver a Palestina para os judeus? Essas províncias, como Romênia, Montenegro e Grécia, foram tiradas dos turcos e dadas aos seus proprietários naturais. A Palestina não pertenceria por direito aos judeus? ”, afirmava a Petição.

No Hall dos Visionários, o visitante defronta-se com um mural gigantesco que, com recursos tecnológicos, mescla citações bíblicas e outros textos que mencionam o retorno dos judeus à sua terra natal. Neste local, aparecem sucessivamente 11 personalidades que apoiaram convictamente essas profecias no final do século 19 e início do 20. Entre estes, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill, a rainha Vitória, o secretário britânico de Relações Exteriores Arthur James Balfour, o presidente americano Woodrow Wilson, o chamado pai da geografia bíblica Edward Robinson e Walter Clay Lowdermilk, o perito americano que desenvolveu o projeto hídrico usado nos primeiros anos do Estado de Israel. No mesmo espaço, uma série de audiovisuais mostra imagens em preto e branco dos primeiros assentamentos implantados antes da criação do Estado de Israel.

Luzes na Escuridão

Luzes na Escuridão é a ala dedicada aos Justos entre as Nações, aqueles cuja consciência levou-os a salvar judeus de todas as idades durante o Holocausto na Europa. O visitante vê passar diante de seus olhos o rosto desses personagens, alguns conhecidos, outros não. O alemão Oskar Schindler; a enfermeira polonesa Yrena Sendler;   Chiune Sugihara, cônsul japonês na Lituânia que trabalhou dia e noite emitindo vistos para judeus desesperados que tentavam fugir dos nazistas e seus colaboradores; os holandeses Casper, Betsie e Corrie ten Boom que esconderam judeus em suas casas; Miep e Jan Gies, que deram guarida e sustentaram a família Frank em Amsterdã e, posteriormente, resgataram o famoso Diário de Anne Frank; Raoul Wallenberg, diplomata sueco que salvou milhares de vidas judias na Hungria. Todos eles cristãos cujos valores não lhes permitiram simplesmente observar os judeus serem sacrificados no altar da desumanidade.

Hall dos Bravos

No Hall dos Bravos, mais uma vez com avançados recursos tecnológicos, é possível ver e ouvir personalidades falando sobre sua trajetória e as razões pelas quais apoiaram a luta dos judeus por um Lar Nacional. Com a participação de atores, o visitante pode conhecer o coronel britânico John Patterson, comandante da Legião Judaica, que lutou com as forças inglesas durante a 2ª Guerra Mundial; o general francês Marie-Pierre Koenig, comandante das forças francesas livres no Norte da África, que reconhecia o valor dos soldados judeus vindos da Terra Santa; o presidente americano Harry Truman, que contrariando orientação do Departamento de Estado, decidiu que os Estados Unidos iriam votar a favor da Partilha da Palestina em dois estados – um árabe e um judeu. A estes personagens somam-se, ainda, o major britânico Orde Wingate, que treinou combatentes judeus durante a Guerra pela Independência de Israel. O maior instituto de educação física de Israel leva o seu nome.

Na mesma ala, é possível ouvir uma gravação da votação da Partilha da Palestina na Assembleia das Nações Unidas, em 29 de novembro de 1947, quando a criação do Estado de Israel foi aprovada pela comunidade internacional. Na gravação, ouvem-se um a um os votos de cada país enquanto sua identificação é feita em um grande mapa eletrônico ali exposto. Próximo a este Hall, em um espaço anexo, um vídeo mostra os depoimentos de judeus em Israel que foram salvos pelos cristãos.

Ao término do tour guiado, uma mensagem em vídeo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu: “A Promessa de Israel não é apenas uma história antiga ... é a realização de uma nação moderna construída sobre fundamentos bíblicos. Eu não creio que o Estado Judeu teria sido possível sem o Sionismo Cristão. Ao logo dos anos muitos cristãos não apenas acreditaram nesta Promessa, mas desejaram dar sua vida por ela. Seu sacrifício contribuiu para quem e para o quê nós somos hoje como nação”.