A sinagoga de Córdoba e um passeio pelas ruas da Judería permitem vislumbrar a glória de um tempo conhecido como a 'Idade de Ouro' do judaísmo espanhol.

Córdoba e sua arquitetura revelam a influência dos vários povos que a dominaram. As diferentes culturas que, ao longo dos séculos, se encontraram nessa cidade contribuíram para enriquecê-la e deixar uma marca definida. Os romanos e muçulmanos a elegeram como sua capital. As amplas muralhas que a isolavam eram romanas, assim como a ponte, única entrada para a cidade. O legado arquitetônico muçulmano é espetacular, combinando suas fachadas simples com interiores riquíssimos. As catedrais são uma marca do profundo catolicismo que reina na Espanha desde a Reconquista, no século XV.

A comunidade judaica também deixou sua marca na cidade. Em 1984, a Unesco considerou Patrimônio da Humanidade seu centro histórico, que inclui a Judería, área onde viviam os judeus, na Idade Média. Neste antigo bairro judaico, que só pode ser visitado a pé, as casas são alinhadas, lado a lado, e as ruas são de pedras arredondadas e simétricas.

Antes da chegada dos muçulmanos, os judeus somente podiam residir num bairro localizado ao sudoeste da cidade, área mais próxima aos muros. Ao longo do século X, sob o domínio omíada, o bairro se expandiu, acolhendo judeus vindos de outras partes da Europa e do Oriente Médio. Durante a Idade de Ouro, nos séculos X e XI, apesar de a população judaica estar mais concentrada em algumas áreas da cidade, não havia um bairro específico para os judeus. De modo geral, no entanto, apesar de livres para morar onde quisessem, eles preferiam viver em vizinhanças muradas, protegidos por seus portões. Suas residências, próximas ao portão norte, eram tão numerosas que os historiadores árabes da Idade Média denominaram a área de Bab-el-Yahud, ou "Portão dos Judeus". A maior "Judería" de Córdoba foi recentemente restaurada, tendo sido abertas pequenas lojas e atraentes cafés para os visitantes.

Um dos grandes monumentos do judaísmo, em Córdoba, é a sinagoga, construída em 1315 e única que resistiu ao tempo, dentre as inúmeras outras que existiram na cidade. Esta verdadeira caixa de jóias da arquitetura medieval era a que Maimônides costumava freqüentar e, juntamente com outras duas, em outros locais do país, constituem as únicas que restaram na Espanha depois da expulsão dos judeus, em 1492. Apesar de pequena, não deixa de ser um dos mais belos exemplos da arte andaluz mudejar, símbolo do brilho e da prosperidade reinante na cidade durante o domínio mouro. Localiza-se na Rua dos Judíos, próxima à Praça Tiberíades, onde foi erguido um monumento em homenagem a Maimônides.

Depois da expulsão dos judeus da Espanha, a sinagoga foi inicialmente transformada em um hospital, com o nome de Santa Quitéria. Em 1588, tornou-se sede da associação dos fabricantes de calçados, sob a proteção de São Crisprim e São Crispiniano, sendo utilizada para suas assembléias e também como local de devoção a esses santos católicos.

No século XIX, um padre que trabalhava no local, tentando consertar o telhado que se desfazia, descobriu, por trás do forro do teto, a madeira original da sinagoga e, por baixo do reboco que recobria as paredes, belos murais decorados ao estilo da época. Em 1885, o local foi declarado patrimônio histórico nacional e iniciada a sua restauração.

A sinagoga de Córdoba não possui entrada direto da rua, fato comum aos demais templos judaicos. Entre a sala de orações e o portão, há um pequeno pátio, à direita do qual está localizada a porta principal. A construção possui duas salas: um pequeno átrio e o local de orações, propriamente dito. A galeria das mulheres fica no andar superior e, alguns degraus acima, é possível ter-se uma visão geral do recinto sagrado. Apesar do passar dos séculos, ainda é possível admirar os rebuscados trabalhos que ornam as paredes e murais decorativos, sinal inegável da influência islâmica na arte judaica da época. Há também inscrições do livro dos Salmos, em hebraico, em vermelho sobre fundo azul.

Os ornamentos de toda a construção são basicamente compostos por atauriques, que são arabescos em formato de vegetação, esculpidos em alto relevo, muito comuns na arte islâmica e al-andalus, que se multiplicam compondo estrelas de várias pontas. A parede ocidental, na direção de Jerusalém, fica à direita da porta principal que dá acesso à sala de orações. No centro desta há um vão de quase 3 metros de largura, onde ficava a Arca Sagrada, com os rolos da Torá. Em uma parede próxima, há uma inscrição referente ao fundador da sinagoga, que diz: "Santuário Provisório e local do Testemunho feito por Isaac Moheb, filho de Efrain Waddawa, no ano 75. Oh, D'us, atende-nos e apressa-te em reconstruir Jerusalém". A parede norte, situada em frente à porta que conduz à sala de orações, também está decorada com os mesmos arabescos em gesso, em estilo mourisco, e possui cinco arcos romanos por onde penetra a luz na sinagoga.

Em 1999, mais uma vez a sinagoga de Córdoba reviveu seus dias de glória, com a realização de um serviço religioso de Shabat, em hebraico, pela primeira vez em cinco séculos.