Em paralelo ao êxito obtido no setor de tecnologia das ciências exatas, Israel destaca-se, também, no campo das biomédicas, investindo em pesquisas e atraindo o interesse da iniciativa privada. Transformar projetos de laboratório em produtos industrializados é um dos próximos desafios da sociedade israelense.

Na área tecnológica e científica, vem ganhando destaque nos últimos anos o campo da biotecnologia, cujas descobertas iniciadas em universidades e centros de pesquisas acabam por se transformar, a médio e longo prazo, também em êxitos comerciais, através de parcerias com a indústria farmacêutica, em Israel e no exterior.

Israel está entre os países líderes no campo dessas inovações, ao lado dos EUA, Alemanha, Inglaterra, França e Itália. O grande desafio para os que atuam no segmento é transformar a propriedade intelectual em produtos e, depois, como industrializá-los. Por melhor que seja, se o produto não for aprovado pela legislação competente nos vários países, jamais chegará ao mercado. Portanto, o melhor caminho é, simultaneamente às pesquisas, familiarizar-se e adequar-se aos requisitos da legislação.

Histórias de sucesso

Quando Eli Hurvitz, então diretor-geral da empresa israelense Teva Pharmaceuticals, analisou um experimento em andamento no Instituto Weizmann de Ciências com polímeros e aminoácidos e sua possível aplicação no tratamento da esclerose múltipla, percebeu que estava diante de algo grandioso. Dali poderia surgir um novo medicamento para combater esta doença do sistema nervoso. Hurvitz chegou a esta conclusão calcado em sua larga experiência à frente de uma das maiores fabricantes de genéricos do mundo e a mais importante de Israel. Os pesquisadores da instituição de Rehovot já trabalhavam com esta hipótese desde 1971, mas foi somente em 1986, depois de inúmeros testes comprobatórios, que a empresa endossou o projeto e iniciou o processo para lançar a descoberta no mercado com o nome de Copaxone.

Somente nove anos mais tarde a empresa Teva conseguiu a aprovação do FDA, começando, então, a comercializar o produto nos Estados Unidos. A venda nesse mercado abriu as portas da Europa para o Copaxone.

Já em 1997 era considerado como um dos melhores medicamentos para a esclerose múltipla em seus estágios iniciais. Segundo Irit Pinchasi, vice-presidente de Pesquisa e Desenvolvimento da Teva, uma das principais vantagens do Copaxone na fase inicial da doença é que, a médio e longo prazo, o quadro do paciente tende a se estabilizar, com a diminuição dos tremores, por exemplo. "Os pacientes passam, então, a ter a sensação de que poderão continuar a ter uma vida normal, apesar da moléstia", ressaltou.

O Copaxone é apenas um exemplo em uma longa de lista de sucessos israelenses na indústria médica. Outro tratamento para a esclerose múltipla também nasceu nos laboratórios do Instituto Weizmann - um medicamento à base de interferon, gene humano que atua como uma espécie de defesa natural do organismo humano contra os vírus. As pesquisas com esta substância foram feitas por Michel Revel, desde 1968. Especialista em física molecular, emigrou da França para Israel, passando então a trabalhar no Weizmann. No entanto, foi somente dez anos mais tarde que ele descobriu que o interferon atuava também sobre todo o sistema imunológico.

Em 1979, a multinacional farmacêutica Ares-Serono abriu uma filial em Rehovot, a Interpharm, e passou a investir na pesquisa de Revel, levando ao isolamento do beta-interferon. Em 1981 foi produzido, então, o gene Beta que, em combinação com o interferon, culminou na fabricação de um medicamento para a esclerose múltipla, comercializado com o nome de Rebif. O faturamento mundial do produto já soma perto de US$ 700 milhões, desde o início de sua comercialização, em 1989.

Até o final da década de 1990 não existia exame específico para identificar a Síndrome de Crohn. Os pacientes eram submetidos a radiografia com contraste e colonoscopia, que eram os meios usados para o exame do aparelho digestivo.Uma das soluções mais avançadas para diagnosticar a doença, com precisão e de forma indolor, surgiu em 2001, também pelas mãos de técnicos israelenses: a cápsula endoscópica. Trata-se de uma cápsula de vídeo do tamanho de uma pílula, como um endoscópio, com câmera e fonte de iluminação próprias. Ingerida a cápsula, enquanto percorre o aparelho digestivo, vão sendo enviadas imagens para um gravador colocado na cintura do paciente. Depois, as imagens são analisadas por um médico, em um monitor de vídeo. A cápsula endoscópica permite o exame das três porções do intestino delgado, locais de difícil visualização através dos exames convencionais.

Desenvolvida pelo engenheiro Gavriel Iddan, está sendo comercializada pela empresa israelense Given Imaging, especializada em tecnologia de imagem na medicina, especialmente, do sistema gastrintestinal. Iddan construiu grande parte de sua carreira na indústria militar Rafael, onde se especializou em tecnologias de ponta para mísseis teleguiados. A pílula endoscópica surgiu quando, ao passar um ano em Boston, um amigo gastrenterologista lhe fez um desafio: criar um endoscópio que fosse capaz de atravessar o sistema digestivo. Foram necessários quase vinte anos até a produção do protótipo, em 1997. Atualmente, mais de 65 mil pacientes já fizeram o exame com o produto da Given Imaging e grande parte dos convênios médicos dos Estados Unidos já reembolsam seus usuários por este exame.

Atuação diversificada

Israel também tem contribuído para os avanços em cardiologia. Rafael Beyar, cardiologista, engenheiro bioquímico, professor do Instituto Tecnológico Technion, de Haifa, e ex-reitor da Faculdade de Medicina da instituição, foi o precursor das pesquisas que levaram ao desenvolvimento do stent de metal, dispositivo utilizado para dilatar artérias obstruídas. Posteriormente denominado B-Stent, o B significa balão dilatador. Em 1989, juntamente com seu irmão Motti, engenheiro mecânico, fez o protótipo de um stent cardíaco, inspirado nos dispositivos utilizados pelos urologistas.

Para industrializar o produto, os dois irmãos criaram uma start-up - empresa embrionária, financiada por investidores de risco, a Instent, obtendo a aprovação definitiva para sua comercialização em 1995. Pouco depois, a empresa uniu-se à norte-americana Medtronics, que passou a distribuir o produto para o mercado internacional.

A exemplo do que acontece no campo científico mundial, a pesquisa para um maior entendimento do mecanismo das células cancerosas e a busca da cura do câncer também ocupam um grande espaço na agenda acadêmica de Israel. Os estudos sobre o tema, por exemplo, começaram no Instituto Weizmann em meados da década de 1950. Uma das primeiras descobertas foi a diferenciação entre as células cancerosas e as sadias, feita pelos professores Isaac Birnbaum e Leo Sachs. Permitiu aos cientistas entenderem o processo de transformação de uma célula normal em cancerosa.

Segundo o professor Benny Geiger, reitor da Faculdade de Biologia do Instituto Weizmann, a descoberta feita por Sachs e Birnbaum levou a outras informações novas sobre as células cancerosas, em especial sobre as propriedades, atividade e biologia da P53, uma proteína central na doença, que pôde, então, ter suas características definidas e ser clonada. Os acadêmicos descobriram que a P53 passa por um processo de mutação em grande parte das diferentes formas de câncer, agindo como uma espécie de guardiã que ordena às células que deixem de se reproduzir e morram. Entre outras, as pesquisas sobre a P53 possibilitaram a identificação de um mecanismo de reparo do DNA, que poderá permitir que as células cancerosas se transformem em sadias a partir de um gene doente.

 

Bibliografia:

"A l'assault de grandes maladies", artigo de Jessica Steinberg, publicado no jornal The Jerusalem Post, de 2 de março de 2004

http://yeda.weizmann.ac.il

http://www.mfa.gov.il