A festa de Chanucá celebra um triunfo militar do povo judeu sobre as forças sírio-gregas que ocupavam a terra de Israel. Aparentemente, o conflito entre as duas nações era desnecessário.

Judeus e gregos tinham muito em comum: deveriam ter sido aliados, não adversários. Ambas as nações eram abençoadas com grandes pensadores e fizeram contribuições duradouras à humanidade. Diferentemente da maioria dos inimigos do Povo Judeu, os gregos eram universalistas. Eram abertos a novas ideias, independentemente de suas origens. Apreciavam a sabedoria e disseminaram o conhecimento em todo o Mediterrâneo.

O Povo Judeu sempre buscou o conhecimento e a sabedoria. Somos conhecidos como o “Povo do Livro”. E nós, também, absorvemos as contribuições de muitas culturas com as quais tivemos contato. Talvez a cultura da qual mais o fizemos foi a Grécia Antiga. O Talmud ensina que o único idioma ao qual a Torá podia ser elegantemente traduzida era o grego, devido à sua beleza. Nossos Sábios ensinaram que entre todos os povos do mundo, os gregos eram os que tinham as ideias mais próximas às nossas. Eles enalteciam muitos os filósofos gregos. Maimônides escreveu que Aristóteles era meio profeta e o Seder HaDorot, um livro clássico de História Judaica, sugere que Aristóteles era judeu.

E mesmo assim, há um ensinamento altamente significativo no Midrash: “E a escuridão – isso é o exílio grego” (Bereshit Rabá, 2:4). Comparado a outros, o exílio grego foi leve, apesar de terem sido cometidas atrocidades e promulgados decretos atrozes. No entanto, eles nada foram em comparação com a violência e a destruição provocadas por Roma. Diferentemente de Haman – o vilão da história de Purim – os gregos nunca planejaram dizimar o Povo Judeu. Por que, então, a associação com a escuridão? Por que as luzes de Chanucá celebram o triunfo da luz sobre a escuridão?

A resposta, sobre a qual iremos elaborar, é que a guerra entre judeus e gregos definiu o curso da humanidade. Se os gregos tivessem vencido e os judeus, perdido, o mundo seria muito diferente, hoje. Os macabeus eram uma minoria entre os judeus e os judeus sempre foram uma minoria entre as nações do mundo, mas seu sacrifício beneficiou toda a humanidade. A frase famosa do Primeiro Ministro Winston Churchill, “Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos”, certamente se aplica aos macabeus.

Eles eram um grupo pequeno de judeus valentes, que se levantaram contra a superpotência militar da época. Lutaram sós – profeta algum lhes garantira que D’us lutaria a seu lado –, mas lutaram em nome de muitos. Caso não tivessem vencido, o judaísmo ter-se-ia perdido, e o cristianismo e o islamismo talvez jamais tivessem existido. O monoteísmo teria sido varrido do mundo e a humanidade teria retrocedido a eras anteriores a nosso patriarca Avraham, quando a idolatria prevalecia e o homem vivia segundo as leis da selva – instituídas pelo mais forte e para ele – e negligenciando os mais fracos – um modelo onde não há leis morais e éticas absolutas e imutáveis.

A Torá: Vontade e Sabedoria Divinas

Os sírio-gregos iniciaram a guerra contra o judaísmo de maneira sutil e astuta. Antes de recorrer à violência e à promulgação de decretos malignos e obscenos, eles tentaram derrotar o judaísmo utilizando “métodos civilizados”. Primeiro, se acercaram aos judeus como lobo em pele de cordeiro. Quando isso não funcionou, vieram como lobo em pele de lobo. Eles, que eram amantes da sabedoria e do conhecimento, disseram aos judeus que não objetavam ao estudo da Torá e ao cumprimento de seus mandamentos. Até, mesmo, alegaram admirar a Torá: viam-na como uma grande obra de sabedoria, contendo, em sua maior parte, mandamentos sensatos. Concordavam com um código de leis que proibisse o assassinato. Podiam mesmo entender os feriados judaicos, que celebram os grandes momentos históricos de nosso povo.

No entanto, tinham um problema com a inequívoca afirmação judaica de que a Torá é uma obra Divina, escrita por D’us. Os sírio-gregos permitiam que os judeus estudassem a Torá e cumprissem seus mandamentos com a condição de que sua relação com a Torá fosse como com um livro de sabedoria humana, de autoria de seres humanos. Mas isso, o Povo Judeu não podia fazer.

Para os judeus, a Torá não é meramente um livro de histórias e leis. É uma obra sagrada que contém uma Luz Divina que transcende tudo o que conhecemos. E como a Torá é Divina, não pode ser comparada com as obras da sabedoria humana. Por serem Divinas, as leis da Torá não podem ser igualadas com as leis criadas pelos seres humanos. Por mais sábios que fossem os gregos, não eram mais sábios do que D’us. A sabedoria judaica e a sabedoria grega não se podem comparar – não por serem os judeus mais sábios do que os gregos, mas por causa das diferentes origens do cabedal de conhecimentos de cada nação. Nossa sabedoria se origina de D’us; a dos gregos, dos homens. Eles, que eram politeístas, e que acreditavam que o homem estava no centro da Criação, ficavam profundamente perturbados com o fato de os judeus acreditarem que D’us e Sua Torá estão no centro da Criação. Os gregos não aceitavam a crença judaica de que há uma fonte de Sabedoria mais elevada do que a sabedoria humana. Eles não toleravam um povo que vivia de acordo a um conjunto de leis não porque fizessem sentido, mas simples e exclusivamente por ser a Vontade de D’us. Para os gregos, o fato de que os judeus estudavam a Torá, não por sua sabedoria, mas como uma forma de comungar com D’us, era absurdo.

Essa diferença de opinião situava-se na raiz do conflito entre os sírio-gregos e os judeus. A causa desse conflito parece ser trivial; justificava que entrassem em guerra por isso? Não poderiam concordar em discordar? Não. A escuridão não pode permanecer indiferente à luz, porque onde há luz não há escuridão. Ao mesmo tempo, se a luz sucumbir à escuridão, perderá sua razão de ser.

A guerra entre os sírio-gregos e os judeus não era motivada pela filosofia; era sobre o futuro do mundo, o futuro da humanidade. Era uma guerra da luz contra a escuridão, do monoteísmo contra a idolatria, da moralidade contra o relativismo moral. Os judeus entraram em guerra apesar de saberem que as chances estavam contra eles. Entraram em guerra porque não tinham outra saída. Se não tivessem lutado e vencido, o judaísmo teria sido extirpado da Terra.

Três categorias de mandamentos

Para o Povo Judeu, a Torá é a Sabedoria Divina e seus mandamentos estão enraizados na Vontade Divina. Seguimos os mandamentos façam eles sentido ou não; quer os entendamos ou não; isso porque sabemos que constituem a Vontade de D’us. Se a Torá tivesse sido escrita por um ser humano que alegasse tê-la recebido de D’us ou de um anjo, teríamos razão de questionar seus mandamentos. Mas a Torá foi entregue na sequência da Revelação Divina no Sinai, perante milhões de pessoas – homens, mulheres e crianças. Do momento em que aceitamos a veracidade histórica da Revelação do Sinai – do momento em que reconhecemos que a Torá é um livro de autoria Divina, que transmite a Vontade de D’us a nós – nós a seguimos como servos que seguem as ordens do Rei dos reis.

Nós nos aprofundamos na Torá – de fato, um dos mandamentos mais importantes do judaísmo é o seu estudo – e empregamos a lógica humana e nossa capacidade analítica e intelectual para entendê-la, mas nunca devemos esquecer-nos que se trata de obra escrita pelo Infinito, cuja Sabedoria, por conseguinte, também é Infinita. D’us pode ter vestido muitos dos mandamentos da Torá com roupagens “racionais”, mas mesmo essas são, em essência, um produto da Infinita Sabedoria e Vontade, e, portanto, em essência, são suprarracionais. Como D’us diz a Seu profeta, “Meus caminhos não são seus caminhos, e Meus pensamentos não são seus pensamentos” (Isaías 55:8). Como a mente humana finita não pode entender plenamente a Sabedoria Infinita, temos que entender que por mais que estudemos e compreendamos a Torá, jamais chegaremos a seu âmago. Os verdadeiros motivos que se encontram por trás dos mandamentos da Torá estão muito além de nossa compreensão. E isso é válido para até o mais sensato e racional dos mandamentos.

Os 613 mandamentos da Torá são divididos em três categorias. As leis judiciais, Mishpatim, são os mandamentos destinados a proteger e preservar uma sociedade moral e justa. Os Mishpatim abrangem as leis punitivas relativas aos tribunais e as proibições contra a idolatria, adultério, assassinato, roubo e blasfêmia. São leis que parecem sensatas e necessárias para uma sociedade saudável e funcional. São considerados os mandamentos “racionais” no sentido de que sua necessidade e propósito podem ser facilmente compreendidos.

A segunda categoria de mandamentos é composta pelos testemunhos, Edut. Trata-se dos mandamentos que prestam “testemunho” às maravilhas realizadas por D’us. Entre os Edut estão a celebração do Shabat e das festividades judaicas. Cumprimos os preceitos e guardamos o Shabat, que atesta a Criação do mundo por D’us. Celebramos Pessach, que atesta o Êxodo do Egito. Comemoramos Sucot, que atesta a milagrosa proteção que D’us proporcionou aos Filhos de Israel enquanto viajavam pelo Deserto de Sinai. Celebramos Shavuot, que atesta a entrega da Torá no Sinai. Há vários outros mandamentos que também são considerados Edut, tais como o mandamento de pôr Tefilin e a colocação da Mezuzá. Essa categoria de mandamentos não é tão óbvia quanto os Mishpatim. No entanto, seu significado é compreensível.

A terceira categoria de mandamentos é conhecida como estatutos, Chukim. São os mandamentos da Torá que não apenas carecem de qualquer razão ou significado aparente, mas são um enigma para a maioria das pessoas. Entre esses incluem-se as proibições contra usar-se Shaatnez (roupas que misturam lã e linho), a proibição de comer produtos de carne e leite juntos, o ritual da vaca vermelha,etc. Sobre essa categoria de mandamentos, a Torá afirma, em Levítico 18:4: “Os Meus decretos cumprireis.......; Eu sou o Eterno, vosso D’us!”. O Talmud e seus comentaristas explicam esse versículo: “Estes são Meus estatutos, e vocês não têm o direito de ponderar sobre os mesmos” (Yomá 67a, Rambam, Hilchot Me’ilá, 8:8, Moré Nevuchim; Ramban, Deuteronômio 6:20). A despeito das diferentes categorias dos mandamentos, cada uma das leis da Torá, seja ela da categoria de Mishpatim, Edut ou Chukim, é uma expressão da Vontade Divina.

D’us deseja que não matemos nem roubemos; que guardemos o Shabat e que nos abstenhamos de comer comida não casher – com igual intensidade. Falando-se praticamente, obviamente há diferenças entre os mandamentos: comer comida não casher obviamente não é tão sério quanto matar alguém. Mas filosoficamente falando, todos os mandamentos têm o mesmo peso no sentido de que todos emanam da mesma Origem: todos expressam os desejos do Rei: os mandamentos positivos que Ele nos ordenou desempenhar; os mandamentos negativos que Ele nos ordenou de abster-nos de cometer. A diferença entre as categorias de mandamentos é que D’us deseja que os Mishpatim e os Edut possuam uma certa “lógica” que possa ser entendida pela mente humana. Mas isso, de forma alguma, muda o fato de que a principal razão para cumprir esses mandamentos é porque D’us assim o quer – não porque entendemos as razões para fazê-lo.

Na realidade, os Edut e mesmo os Mishpatim são tão impenetráveis como os Chukim. Os seres humanos podem considerar-se sábios e inteligentes, mas mesmo a melhor mente humana não pode, de maneira alguma, entender a Infinitiva Sabedoria Divina. Como Rabi Shneur Zalman de Liadi, o Ba’al HaTanya, eloquentemente explica: “As razões para os mandamentos não foram reveladas e estão além da lógica e da compreensão humanas. E mesmo nas raras instâncias em que uma razão aparentemente inteligível nos foi revelada e explicada, tal razão por si só, que nos é compreensível, não é a razão definitiva e completa...” (Igueret HaKodesh: Capít.19:128a). Apenas uma razão genérica é fornecida para um mandamento “sensato”, enquanto os detalhes continuam inexplicáveis. Por exemplo, consta na Torá a razão genérica para o mandamento dos Tefilin – para que seja “como um sinal sobre tua mão..., pois com mão forte te tirou o Eterno do Egito” (Êxodo 13:9) – no entanto, não há nenhuma explicação para a miríade de detalhes relativos a esse mandamento, tais como por que os Tefilin têm que ser alinhados; por que os quatro pergaminhos do Tefilin da cabeça têm que ser alojados em quatro compartimentos separados, ao passo que as passagens bíblicas do Tefilin da mão devem ser inscritas juntas em um pergaminho; por que as tiras do Tefilin devem ser pretas, etc.

Por que os judeus foram à guerra

Já vimos que para os antigos gregos, o homem estava no centro da Criação. Para os judeus, D’us é a Realidade suprema e única. Para os gregos, a razão humana dominava; para os judeus, precisava ser conduzida pela Sabedoria e Vontade Divinas, que estão revestidas pela Torá. A mente grega se horrorizava com a subserviência do Povo Judeu a algo mais elevado do que o próprio intelecto do homem. Para os gregos, nada era mais elevado do que a mente humana e não se tolerava quem quer que discordasse disso.

A questão de se a Torá é Divina ou não jaz no próprio cerne do judaísmo e, de fato, do próprio monoteísmo. Se a Torá é Divina, então é a Palavra absoluta e imutável de D’us. Se fosse de autoria humana, então, como tudo o que é humano, seria imperfeita e cambiável. A origem Divina da Torá é o que a diferencia de todos os demais códigos de lei jamais escritos. Se um rei, presidente, legislador ou juiz promulga uma lei, esta sempre poderá ser revogada ou modificada. O mesmo não é verdade de um Ser Perfeito, atemporal e imutável.

Nós, judeus, julgamos que não são apenas os Chukim e os Edut da Torá que são a Vontade e a Sabedoria de D’us, mas também os Mishpatim. De certa maneira, é até mais importante insistir que os Mishpatim estão arraigados na Vontade Divina e que suas razões supremas estão além da lógica humana. Por que razão? Porque as decisões cruciais que os seres humanos tomam geralmente envolvem questões dos Mishpatim. Não há ameaça maior à sociedade do que a crença de que cabe ao homem decidir o que é certo e o que é errado, o que é moral e o que é imoral. Se o homem não mata nem rouba, não por se tratarem de proibições Divinas, mas por serem a lei de seu país, o que ele fará caso se encontre acima da lei? Como agirá se a sociedade se desestruturar e a lei não mais puder ser aplicada? Como agirá se as leis forem mudadas, como na Alemanha Nazista, e, de uma hora para outra, for permitido, e até estimulado, roubar e matar membros de um segmento da sociedade?

Durante milhares de anos, filósofos moralistas tentaram propor um código absoluto de moral e ética – e fracassaram. Mesmo a democracia não é garantia de liberdade e moralidade: Hitler foi eleito democraticamente, como também o foi o Hamas. Ademais, quem quer que tenha estudado Filosofia sabe que o que um filósofo moralista argumenta, o outro derruba. Quando se trata de questões de moralidade, nós, seres humanos, discordamos sobre até mesmo coisas fundamentais: o que uma pessoa ou sociedade pode julgar moral e permissível, a outra pode considerar imoral e totalmente proibido. As leis da moral e da ética, do justo e do injusto, do certo e do errado, devem vir, portanto, de uma fonte que seja sobre-humana. Somente um Ser perfeito e atemporal, não dado a erros, decisões injustas e preconceituosas, pode decidir sobre a Verdade e a Moralidade absolutas.

Poder-se-ia argumentar que uma sociedade não precisa de D’us e da Torá para lhe ensinar que matar é errado. De fato, houve nações que proibiram o assassinato antes de ser entregue a Torá. Mas como se define assassinato? A guerra constitui assassinato? A pena capital e a eutanásia são formas de assassinato? Há quem acredite que a pena capital é justificada; outros a julgam um ato de assassinato patrocinado pelo Estado. Alguns países, como o Brasil, não usam a pena capital, enquanto nos Estados Unidos, alguns estados, sim, e outros, não. Quem está certo? Os que a apoiam ou os que se opõem à mesma? Os que são a favor deveriam pensar na possibilidade de executar uma pessoa inocente, injustamente. Aqueles que se opõem, deveriam pensar se são contrários em todos os casos – mesmo no caso de Hitler. A eutanásia é outra questão polêmica: algumas pessoas consideram-na um ato de profunda misericórdia; outras, um assassinato.

O assassinato é um dos Mishpatim básicos da Torá, e, contudo, vimos que sua própria definição é polêmica. Se isso é válido para o assassinato, o que dizer, então, dos demais Mishpatim – as leis do roubo e as muitas leis que regem como um indivíduo deve viver e como a sociedade deve funcionar?

Os judeus e os gregos foram à guerra porque, por querer separar o judaísmo de sua origem Divina, os gregos substituiriam a Torá pelo relativismo moral. O relativismo moral, que é a antítese da Torá, significa que não há padrão absoluto do certo e do errado – pois já que indivíduos, sociedades e países inteiros discordam sobre o que é certo e o que é errado, nunca podemos ter certeza de nada.

Se o relativismo moral fosse limitado à teoria – a discussões filosóficas – não haveria dano. Mas essa linha se torna onipresente na ausência da Verdade e Moralidade Absolutas. Como indivíduos e sociedades, temos que tomar decisões morais todos os dias. Todos os seres humanos precisam viver segundo certas leis; falta decidir se viver de acordo às leis de D’us ou às leis do homem. Se não tivermos um código Divino, absoluto, de leis, estaremos sujeito a leis elaboradas pelo homem, falíveis e, em geral, injustas e cruéis. A combinação do intelecto humano com o relativismo moral pode levar ao nazismo e stalinismo. Quando não há um conjunto absoluto de leis morais, os seres humanos podem racionalizar e justificar qualquer coisa para alcançar o que querem.

Se os judeus não se tivessem levantado contra os sírio-gregos, eles teriam que renunciar ao princípio fundamental do judaísmo – de que sua origem é Divina. Se os judeus se submetessem à imposição sírio-grega de que a Torá não era nada além do que sabedoria humana, cedo ou tarde, essas leis seriam modificadas ou repelidas. E se isso ocorresse, a humanidade ficaria privada de sua única fonte de um conjunto absoluto de leis e valores morais. O judaísmo teria desaparecido. O cristianismo e o islamismo nunca teriam nascido. O conhecimento Divino teria sido substituído por conjeturas filosóficas e a moralidade teria sido substituída pelo relativismo moral.

Ao vencer os sírio-gregos, os macabeus libertaram não apenas aquela geração de judeus da opressão e da tirania, mas também as futuras gerações de judeus e não judeus. Foi o Povo Judeu, por meio da Torá, que ensinou à Humanidade que o mundo tem um Criador, que criou o homem à Sua imagem, e que nos deu um conjunto de leis que contém não apenas obrigações, mas também direitos. A Torá, que os judeus e cristãos consideram a Palavra absoluta de D’us, é a base do princípio fundamental da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América: “Consideramos estas verdades como autoevidentes, que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis”.

O triunfo da luz sobre a escuridão

À luz do que explicamos acima, podemos entender por que o Midrash intitula o exílio grego de “escuridão”. Os intelectos destituídos de moral – isto é, o relativismo moral – podem facilmente regredir para a escuridão e a maldade. O homem pode usar seus grandes poderes intelectuais para promover muito o bem, mas também grandes maldades. Muitos daqueles que arquitetaram o Holocausto eram Doutores – homens de cultura que apreciavam a arte e a música clássica. O conhecimento por si só, não é garantia de que o homem não vá agir como monstro.

O Povo Judeu não é um povo que se vangloria da guerra, mas a guerra contra os sírio-gregos foi necessária. Renunciar à crença de que a Torá é Divina significaria não só a morte do judaísmo, mas a perda do único livro que contém as Leis Divinas – as únicas jamais criadas e promulgadas em toda a História Humana que são absolutas, infalíveis e imutáveis.

John Adams, segundo presidente dos Estados Unidos, escreveu: “Insisto em que os judeus contribuíram mais para civilizar os homens do que qualquer outra nação. Se eu fosse ateu e acreditasse num destino cego e eterno, ainda assim acreditaria que o destino ordenara aos judeus que fossem o instrumento mais essencial para civilizar os povos... Eles são a nação mais gloriosa que já habitou esta Terra. Os romanos e seu império foram apenas uma bolha se comparados aos judeus. Eles deram uma religião a três quartos do globo e influenciaram os negócios da humanidade com muito mais propriedade do que qualquer outro povo, antigo ou moderno”.

Essa grande contribuição do Povo Judeu ao mundo se tornou possível em virtude dos macabeus. É isso o que celebramos em Chanucá: não apenas uma vitória militar para o Povo Judeu, não apenas o milagre do óleo que indicou que D’us realizou milagres para que nós triunfássemos, mas também a eternidade da Torá como livro da Vontade e Sabedoria Divinas.

Não surpreende que entre todas as festividades judaicas, Chanucá seja aquela que é mais apreciada pelos não judeus. As luzes de Chanucá são acesas em todo o mundo, em locais públicos, e pelas mais altas autoridades de governo – aqui no Brasil, na Casa Branca e até mesmo no Kremlin. As luzes de Chanucá transmitem não apenas uma mensagem judaica, mas universal – a de que para que o homem seja verdadeiramente livre e para que o mundo se torne um lugar melhor e mais seguro, os seres humanos precisam governar suas vidas, individual e coletivamente, de acordo à Verdade Absoluta e ao código moral Divino, que é imutável e infalível.

Bibliografia:
Rabi Schneerson, Menachem Mendel, Tanu Rabanan Mitzvat Ner Chanukah 
Rabi Schochet, Jacob Immanuel, Judaism Discourse: Questions and Answers - www.youtube.com
Rabi Schneerson, Menachem Mendel, Translation and annotation by Rabbi Yosef Marcus, Victory of Light – A Chasidic discourse by the Lubavitcher Rebbe