Assessor mais influente de Binyamin Netanyahu, Ron Dermer ocupa desde o ano passado o posto de Embaixador de Israel em Washington. Jovem, carismático e articulado, seu rosto tem aparecido cada vez com mais frequência nas emissoras de televisão, pois ele tem combatido incansavelmente as críticas contra Israel na mídia e defendido seu país no Capitólio.

Economista formado pela Wharton e político teórico formado em Oxford com extraordinários instintos políticos, Ron é o principal estrategista do primeiro ministro Binyamin “Bibi” Netanyahu. Conhecido como “Bibi’s Brain’’, o cérebro de Bibi, observadores políticos têm dito que, em várias ocasiões, quando Bibi Netanyahu discursa, o mundo vê o rosto do primeiro-ministro, mas muitas das palavras que se ouve são de Dermer.

Usando uma pequena kipá de crochê, shomer Shabat, Ron que se autodenomina ortodoxo moderno, é o melhor porta-voz no combate ao ataque contra o Estado e o Povo Judeu. Desde os seus dias em Oxford, ele vem demolindo seus oponentes nos debates, com um domínio incomparável dos fatos e uma apresentação eletrizante. Ainda em Oxford, ele conseguiu persuadir alguns de seus mais brilhantes alunos com o ponto de vista de Israel sobre o conflito árabe-israelense. Desde então, suas aptidões só fizeram aumentar.

Ao longo dos anos, Dermer tem mostrado não ter receio algum de denunciar o tratamento injusto de Israel na mídia. Para ele, não devemos permanecer em silêncio diante da tendenciosidade da mídia e das visões distorcidas sobre o conflito.

Sua vida

O caçula de Jay e Yaffa Dermer, Ron nasceu em Miami Beach, em 1971. Jay Dermer, advogado nova-iorquino de tribunal, mudara-se para a Flórida e, em 1967, foi eleito prefeito de Miami Beach, derrotando Elliot Roosevelt, um dos filhos do ex-presidente Franklin D. Roosevelt.

Sua mãe, Yaffa Rosenthal, que nascera na então Palestina sob Mandato Britânico, mudara-se com toda a família para os EUA alguns anos após a independência do Estado de Israel. Os Dermer iam frequentemente a Israel, principalmente após a morte de Joseph, o avô de Ron, quando ele ainda era um bebê, e sua avó, Rivka, decidiu retornar a Israel. Em 1984, duas semanas antes de seu Bar-mitzvá, seu pai morreu, aos 54 anos, vítima de um ataque cardíaco.

Ron sempre foi um ótimo aluno, superdotado, e excelente atleta, pois amava esportes. Extremamente competitivo, enquanto cursava o Ensino Médio ganhou o prêmio de melhor jogador de basquete e também o Prêmio American Legion por seu desempenho acadêmico e nos esportes.

Após completar o Ensino Médio, entrou para a Wharton School of Business, na Pennsylvania. Assim que ingressou na faculdade, ajudou a fundar o Jewish Heritage Program, uma organização cujo objetivo era fortalecer a identidade judaica dos estudantes universitários. Também começou um pequeno negócio, vendendo “reforço para exames”, uma forma de auxiliar alunos a se prepararem para os exames, com as provas de anos anteriores e suas respostas.

Em Wharton, teve aulas com Frank Luntz1, pesquisador de opinião pública e consultor político. Luntz sempre o considerou o aluno mais talentoso e brilhante que já tivera. Nessa época, Dermer já possuía um verdadeiro dom para o debate. Jeffrey Pollock, importante pesquisador democrata, seu colega de classe, costumava dizer: “É melhor não entrar em discussão com ele, porque com certeza vai sair perdendo...”.

O relacionamento com Luntz foi crucial para a vida de Dermer, pois o professor o aproximou do Partido Republicano e o introduziu na política israelense. Embora seu pai tivesse sido democrata e seu irmão ter seguido seus passos, Ron se alinhou com a Direita.

Assim que se formou em Wharton, em 1993, foi para Washinton e se tornou assistente de Luntz. No ano seguinte, 1994, Luntz arquitetou a campanha para a Câmara, “Contract with America”2, para Newt Gingrich.

Foi Luntz quem convenceu Dermer a continuar seus estudos em Oxford, onde ele obteria o mestrado em filosofia, política e economia. Assim que chegou à Oxford, pendurou na parede uma bandeira de Israel que seu pai ganhara de uma Miss Israel, durante um concurso de beleza, em Miami Beach. Ele era um americano cujo coração estava em Israel. A bandeira provocou calorosos debates.

Em 1995, Natan Sharansky tentava lançar um partido de imigrantes que viria a se chamar Yisrael B’Aliyah – Israel para a Imigração. Luntz apresentou Ron a Sharansky. Conta Dermer sobre esse encontro: “Eu não o conhecia, mas lera seu livro e meu primeiro instinto me dizia para não trabalhar com ele. Então eu o conheci e mudei de ideia em menos de 10 minutos”. Naquele mesmo ano, ainda estudando em Oxford, Dermer ajudou Sharanksy a se preparar para as eleições de 1996 para o Knesset. No dia da votação, Dermer fazia um exame final em Oxford.

Logo depois, Ron vai para Israel. Não queria voltar para os Estados Unidos, queria morar no Estado Judeu e, em 1997, começou o processo para se tornar cidadão israelense. Ron chegou a Israel após a assinatura dos Acordos de Oslo e do assassinato de Yitzhak Rabin. Ele encontrou um país dividido. Não apenas entre direita e esquerda, mas entre judeus seculares e religiosos, asquenazitas e sefaraditas, entre sabras e imigrantes recém-chegados da ex-União Soviética. “Quando cheguei em Israel”, lembra ele, “estava empolgado porque sabia que as futuras decisões tomada por meu país seriam importantes para o futuro do Estado Judeu e o do meu Povo”.

Em agosto de 1998, Dermer se casou com Adi Blumberg, uma artista que crescera na Cidade Velha de Jerusalém e cujo pai era o presidente do Banco de Jerusalém. O casamento de Adi e Ron foi celebrado por um dos maiores eruditos da atualidade, o Rabino Adin Steinsaltz. Mas a felicidade do casal foi muito breve, pois sua esposa faleceu dois anos mais tarde, em fevereiro de 2000. Adi tinha apenas 29 anos.

No final daquele mesmo ano, após três anos no poder, o governo de Netanyahu entra em colapso. Com uma coligação desfeita, o primeiro-ministro de Israel pede a antecipação das eleições previstas para o ano 2000. Sharansky ofereceu a expertise de Dermer para a campanha de Bibi. O jovem já era conhecido como o principal especialista do país sobre o voto russo. Ao lembrar o encontro entre Ron e Netanyahu, Sharansky diz que Bibi não gostou das duras constatações sobre a campanha expostas por Dermer. “Bibi me chamou e disse, ‘este sujeito (Dermer) realmente me odeia’. Mas da próxima vez que se encontraram, apaixonaram-se”, relata Sharanky.

Netanyahu e Dermer se encontraram novamente no início do verão israelense daquele ano de 2000. Ambos haviam sofrido grandes perdas: Bibi fora arrasadoramente derrotado por Ehud Barak nas eleições, além de perder a liderança do Likud para Ariel Sharon, e Dermer enviuvara. Mas estavam determinados a ir em frente. Era o início de um grande relacionamento. Netanyahu e Dermer compartilhavam, e compartilham, as mesmas visões políticas em termos de segurança do Estado de Israel, diplomacia e economia, entre outras.

Com a eclosão da Segunda Intifada, em outubro daquele mesmo ano, Barak renuncia ao cargo de primeiro-ministro e mais uma vez tiveram que ser antecipadas as eleições. Houve uma polarização entre Barak e Sharon, e este último acabou tornando-se primeiro-ministro. Desta vez, porém, Netanyahu não estava no páreo.  Enquanto isso, Dermer passou a escrever uma coluna semanal no The Jerusalem Post, denominada “The Numbers Game”, que estreou em janeiro de 2001. Ele escrevia sobre política e suas preocupações sobre o futuro de Israel.

Ron conheceu sua atual esposa e mãe de seus filhos, Rhoda Pagano, em um jantar, em Jerusalém, oferecido pelo chefe de Rhoda, Aharon Barak, então presidente da Suprema Corte de Israel. Rhoda, formada em Direito pela Universidade de Yale, retornou pouco depois a Nova York para trabalhar em um escritório de advocacia. Ela resistiu aos pedidos de Ron para que mudasse para Israel, pois dizia estar receosa com os ataques terroristas. Mas, o atentado ao World Trade Center, em 11 de setembro de 2001, a fez mudar de opinião. Rhoda foi para Jerusalém e se casou com Dermer. A mãe de Dermer deu de presente ao casal coletes à prova de balas! O casal tem cinco filhos.

Após o fatídico 11 de setembro, Dermer retornou aos EUA por um breve período para ajudar seu irmão David que concorria às eleições para a prefeitura de Miami Beach. David Dermer venceu a disputa, numa vitória de último minuto, com a ajuda do ex-governador da Flórida, Jed Bush, irmão do presidente George W. Bush. Embora seu pai e seu irmão fossem democratas, a família Dermer tinha fortes vínculos com a família Bush, especialmente com Jed Bush.

Ron Dermer foi coautor com Sharansky do livro “The Case for Democracy: The Power of Freedom to Overcome Tyranny and Terror”, publicado em 2004. O livro aborda a disputa entre a liderança israelense e palestina como uma frente na luta global entre sociedades livres e tirânicas. Traça uma distinção entre sociedades livres e sociedades tirânicas, ou “sociedades aterrorizadas”, como são chamadas no livro – expressão que Sharansky credita a Dermer. No final, há uma lista de dissidentes árabes que merecem o apoio do Ocidente em seus esforços para levar seus países ao caminho da liberdade.

George W. Bush ficou entusiasmado com o livro e convidou os autores ao Salão Oval alguns dias após sua reeleição. O livro se tornou uma pedra fundamental do que é atualmente conhecido como a “Doutrina Bush”.

Dermer e Bibi Netanyahu

Ron Dermer assumiu seu primeiro cargo governamental em 2005. Netanyahu, que então era ministro das Finanças na gestão de Ariel Sharon, indicara-o para ocupar o posto de Ministro da Economia na Embaixada de Israel em Washington, D.C. Para assumir o cargo, Ron teve que desistir de sua cidadania americana.

Na campanha de Netanyahu para primeiro ministro, Dermer foi o principal estrategista. Durante os três anos que passou em Washington, observou com grande interesse a estratégia adotada pela equipe de Obama para lidar com milhões de eleitores insatisfeitos – novos, ou já existentes, e lhes transmitir uma mensagem de mudança. Esta estratégia Ron replicou na campanha de Bibi, chegando mesmo a contratar dois assessores para comunicação com a mídia que tinham atuado na campanha de Obama.

Após ser eleito primeiro-ministro de Israel, Netanyahu fez de Dermer seu principal assessor, cargo que ele ocupou até 2013, quando se tornou embaixador em Washington. Durante esse período, ele trabalhou no círculo mais íntimo de Bibi. Seu cargo abrangia virtualmente tudo o que dizia respeito ao primeiro ministro. Ele se tornou o principal redator dos discursos, pesquisador de opinião pública, principal conselheiro em política externa e estrategista – requisitado frequentemente e a qualquer hora para consultas.

Ele atuou, também, como ligação com a Casa Branca e foi uma presença constante nas reuniões em Washington ao lado do primeiro-ministro. Além de Netanyahu, Dermer tem feito mais para moldar o relacionamento entre Israel e os EUA, seus vizinhos árabes e com os palestinos nos últimos anos do que qualquer outro homem do governo. Algumas de suas posições políticas chegam a ser ainda mais conservadoras do que as de Bibi. Em várias ocasiões expressou seu ceticismo sobre a real vontade dos palestinos de ter seu próprio estado e sobre a viabilidade de serem um parceiro para a paz.

Embaixador em Washington

Ron Dermer substituiu o embaixador israelense em Washington, Michael Oren, em 2013. Entre as tarefas hercúleas que ele tem diante de si, ele terá que apresentar as reservas de Israel a negociação que está sendo discutida com o Irã, algo que tem preocupado Israel, e tentar influenciar o governo americano.

Sobre ele, disse Sharansky ao jornal The Times of Israel, “Ron tem um senso extremamente profundo das bases da ligação entre Israel e a América. Ele estudou, escreveu e viveu essa ligação e os valores que as duas nações compartilham. Ron será extremamente importante para Washington e para a Casa Branca porque eles sabem que ele é muito próximo do primeiro-ministro e que falar com ele é como falar diretamente com Netanyahu: isto é algo muito raro”. Muitas pessoas próximas a Obama confirmam as palavras de Sharansky, pois quaisquer suspeitas sobre as tendências políticas de Dermer são superadas pelo benefício de ter um embaixador que faça parte do círculo íntimo de Bibi.

Embora tenha vínculos fortes com os republicanos e tenha apoiado Mitt Romney em 2012, Ron tem boa penetração também entre os democratas. Neste ano, o secretário de Estado John Kerry participou do Seder de Pessach na residência de Dermer.

Dermer e a Operação Margem Protetora

Enquanto o papel da maioria dos embaixadores é influenciar a política dos países onde atuam em relação a seu próprio país, os de Israel têm mais um papel: procurar influenciar a opinião pública e os meios de comunicação nesses países. Embora Israel seja a única democracia que floresce no Oriente Médio, o país continua a perder a batalha da opinião pública, a guerra na mídia, passo a passo. A opinião pública certamente não é a “frente de batalha” mais importante que Israel precisa vencer quando é atacado por seus inimigos, mas é, sem dúvida, de grande importância.

Por causa dos recentes combates entre Israel e o Hamas, em Gaza, Dermer tem combatido as críticas a Israel pela invasão de Gaza e pelas vítimas civis. Participou em mais de 55 entrevistas de televisão, rádio e mídia impressa.  Tem ido às emissoras de televisão e debatido com seus âncoras, apresentando os fatos de forma objetiva, esclarecendo o público e denunciando a tendenciosidade ou a desinformação da mídia na cobertura do conflito. Tem, também, defendido Israel no Capitólio, participado de reuniões com membros da Administração americana, conferências e outros eventos.

Tem atuado, também, na busca de mais recursos para a segurança de Israel, em especial para o sistema antimíssil Domo de Ferro, e para revogar a proibição da FAA americana de voos para Israel. Foi também ele quem orquestrou o encontro do ex-Prefeito de Nova York, Bloomberg, com Bibi.

Dermer é articulado, rápido e dono de uma fluência política difícil de enfrentar. Ele pode se confrontar com qualquer repórter e provar o ponto de vista de Israel. Suas entrevistas estão em todas as mídias sociais e ele se tornou a voz da razão em meio a uma campanha de desinformação.

Dermer tentou traduzir a situação real de Israel em termos com os quais o público americano pudesse se relacionar. O diplomata procura demostrar aos americanos que o único desejo dos israelenses é se defender, algo que os Estados Unidos não titubeariam um segundo em fazer. Foi lançada uma campanha de mídia nos EUA com a pergunta: “O que você faria se Nova York e Washington estivessem sendo atacadas por mísseis?”, e a afirmação “O Hamas não é em nada diferente da al-Qaeda”.

Em uma entrevista à CNN, Dermer pediu aos telespectadores que imaginassem uma situação em que ouvissem sirenes em Nova York e em Washington e a necessidade das pessoas terem que correr para bunkers. “Isto é o que acontece hoje em Israel”.

Ao falar em um encontro no Capitólio, ele fez a mesma abordagem, ressaltando que, atualmente, em termos proporcionais, a população israelense que está na mira dos mísseis e foguetes seria equivalente a 200 milhões de americanos. “Como alguém que nasceu e cresceu neste país (EUA), não me é difícil imaginar o que o povo americano esperaria de seu governo se 200 milhões de pessoas tivessem que ir para os bunkers”, ressalta.

Essa explicação procura desmistificar o principal desafio das relações públicas de Israel – a acusação de ação desproporcional. “As pessoas precisam entender que não se trata de contar corpos de cada lado”, explica Dermer. E ele faz outra analogia através da qual o povo americano pode entender a situação na qual se encontra Israel. Durante a 2ª Guerra Mundial, o número de vítimas alemãs foi 20 vezes maior do que as americanas, no entanto “este fato não torna a ação dos nazistas aceitável”.

Ele ainda afirma: “O Hamas está usando escudos humanos, não apenas por causa da natureza do seu regime, mas porque é uma estratégia que parece funcionar. O Hamas confia em que as fotos (dos civis mortos em Gaza) levem à pressão contra Israel”.

Durante uma recente palestra ele disse: “Israel merece mais do que o apoio da comunidade internacional; merece a sua admiração. Não houve, na História, forças armadas que tenham sido mais cuidadosas do que as FDI na proteção de inocentes do lado oposto (...) Israel não precisava ter enviado seus soldados a muitos dos lugares onde eles hoje lutam (...). Estamos, hoje, enviando nossos soldados a esse vespeiro de terror palestino, todo armado com minas e explosivos e permeado de túneis. Israel tem demonstrado uma auto-contenção que ainda não foi vista (...). E eu não posso aceitar críticas ao meu país numa hora em que os soldados israelenses estão morrendo para que os palestinos inocentes possam viver”.

Quaisquer que sejam as opiniões sobre a linha política de Dermer, é fato que ele traz inegáveis habilidades retóricas à qualquer mesa de discussão. Nos círculos políticos israelenses, ele é conhecido por seu vasto conhecimento, seu humor afiado, espírito argumentativo e por observações espertas e curtas que defendem Israel. Numa hora em que a reputação de Israel está sofrendo terrivelmente em todo o mundo, Ron Dermer é o melhor porta-voz para combater o ataque maldoso ao Estado Judeu.

1 Frank I. Luntz é um consultor político americano, pesquisador e “guru de opinião pública”, mais conhecido por desenvolver temas de debate e outras mensagens para várias causas republicanas.

2 “Contract with America” foi um documento distribuído pelo Partido Republicano durante a campanha para o Congresso  de 1994, detalhando as ações que os republicanos prometiam realizar se obtivessem a maioria na Câmara pela primeira vez, em 40 anos.