“Nós lutaremos. Cada judeu na terra natal lutará. O D’us de Israel, D’us dos Exércitos, virá em nosso auxílio. Não haverá nenhuma retirada. Liberdade ou morte!” (Menachem Begin, 1o de fevereiro de 1944) 

Menachem Begin, sexto primeiro-ministro do Estado de Israel, comandante do Irgun Zvai Leumi, pai da direita israelense, foi um homem de convicções e coragem que carregava consigo o sofrimento de seu povo. Em várias ocasiões arriscou a vida e reputação para proteger o Povo Judeu. Ele acreditava que os judeus tinham direito a um lar nacional e que este deveria
ser construído na terra bíblica de seus antepassados. Esse lugar era Sion. Desde jovem, enfrentou de peito aberto o antissemitismo, imbuído da crença de que a luta contra esse mal justificava a criação de um Estado Judaico – onde os judeus viveriam em segurança, e o Estado seria defendido por quaisquer meios que se fizessem necessários.

Begin era homem de muitos talentos e de grande paixões. Guerreiro e político, foi o mais popular primeiro-ministro de toda a história de Israel. Foi também escritor e o melhor orador da nação – suas palavras incendiavam as plateias. Nenhum outro israelense desempenhou tantos papéis, tão diferentes e, algumas vezes, até conflitantes, como ele. Homem de linha dura, um
“falcão” no meio político israelense, a despeito disso, foi ele que, em 1979, como sexto primeiro-ministro de Israel assinou um acordo de paz com o Egito, o primeiro entre Israel e um país muçulmano. E nenhuma outra figura política inspirava reações tão radicalmente opostas. Era amado por seus seguidores, mas menosprezado pelos críticos, que o acusavam de ser um “visionário fanático”. No entanto, não há como negar que seu impacto na história do Estado de Israel foi profundo, superado apenas pelo de David Ben-Gurion, seu arqui-inimigo político.
 
Os primeiros anos de vida

Menachem Begin nasceu em Brest-Litovsk, então Brisk, na Lituânia, em 16 de agosto de 1913. Filho de Zeev-Dov e Hassia Begin, nasceu no Shabbat NahamuShabat do ConsoloShabat após as três semanas de luto que marcam a destruição dos dois Templos e que terminam no dia 9 de Av. Por esse motivo, foi chamado de Menachem, o consolador.

O futuro primeiro-ministro do Estado de Israel nasceu em uma família de judeus ortodoxos. Ao longo de toda a sua vida, Begin procurou manter os preceitos religiosos, observar o Shabat e estudar a Torá. Apesar da grande falta de recursos, seus pais proporcionaram aos filhos um lar cheio de aconchego e amor. Seu pai, secretário da comunidade judaica de Brisk, havia sido um dos primeiros sionistas da cidade, e ensinou aos três filhos – Menachem e os irmãos Rachel e Herzl – desde os primeiros anos de vida sobre o sionismo e o sonho de Theodor Herzl.

Quando Menachem completou um ano, eclodiu a 1ª Guerra Mundial e a região tornou-se palco de intensos e sangrentos combates entre os exércitos alemão e russo. Para escapar das lutas, a família Begin abandonou Brisk e vagou durante três anos pelos povoados e florestas da Polônia oriental, retornando à cidade ao fim do conflito. Nessa mesma época, o pai de Menachem o matriculou na escola. Ele frequentou o cheder, em seguida, a ieshivá e, depois, a Escola Judaica Tachkemoni, pertencente ao movimento Mizrachi. Menachem era uma criança inteligente, sempre disposta a aprender. Cursou o ensino médio no Ginásio Polonês. Apesar das pressões dos professores, recusava-se a escrever no Shabat. Certa vez, recebeu uma nota baixa em sua disciplina favorita, o latim, por ter se recusado a prestar um exame no Shabat.

Aos 13 anos, Menachem já definira seus objetivos para a vida adulta. Na redação que a escola lhe pedira para escrever sobre o tema “O que você quer ser quando crescer?” afirmou que desejava tornar-se advogado a fim de ajudar os carentes e oprimidos. Em 1931, ingressou na Universidade de Varsóvia e cursou Direito, formando-se em 1935.

Desde jovem, Begin sentiu na própria pele o que significava ser judeu em um país como a Polônia, onde o antissemitismo era não só endêmico, como também profundamente enraizado. Em mais de uma ocasião, ele e seus amigos judeus foram humilhados, verbalmente atacados e espancados, mas jamais tiveram medo de revidar e tampouco de lutar contra os agressores. Na condição de universitário, Begin foi um dos primeiros a organizar os estudantes judeus incentivando-os a se defender contra provocações e humilhações.

Às vésperas da 2ª Guerra, o antissemitismo na Polônia era tão forte que unia oposição e governo, e a direita defendia a expulsão em massa da população judaica.

Movimentos juvenis

Sionista fervoroso, até os 13 anos Menachem foi membro do Hashomer Hatzair, movimento juvenil sionista fundado na Polônia em 1912. Aos 16 anos, filiou-se ao Betar (Brit Trumpeldor), ala jovem do Movimento Sionista Revisionista liderada por Ze’ev Jabotinsky. No ano seguinte, teve a oportunidade de ouvir Jabotinsky pela primeira vez e essa experiência marcou-o profundamente.

Begin ascendeu rapidamente na liderança do movimento, e tornou-se um de seus líderes na Polônia. Passou a viajar por todo o país representando o Betar e a escrever inúmeros artigos para a imprensa sionista revisionista. Em 1936 foi enviado para a então Tchecoslováquia a fim de assumir a liderança do Betar. Ao retornar à Polônia, no ano seguinte, voltou a desempenhar importante papel na liderança do movimento. Na época, Begin já estava envolvido na organização de grupos de judeus dispostos a ir a Eretz Israel tentar furar o bloqueio inglês e entrar “clandestinamente” na então Palestina.

Em protesto à política de imigração judaica adotada por Londres, naquela região, Begin organizou uma demonstração em frente à Embaixada da Grã-Bretanha em Varsóvia. Os participantes do protesto pleiteavam um aumento no número de vistos de entrada concedido aos judeus pelos britânicos, número esse que havia sido drasticamente reduzido por Londres após a onda de terror árabe na região. As autoridades polonesas o prenderam, e Begin ficou encarcerado durante seis semanas. Pela primeira vez era feito prisioneiro e entrava abertamente em conflito com os ingleses. Ao ser alertado de que seria enviado para um campo de trabalho forçados, se continuasse com os protestos, respondeu: “Nossos jovens estão dispostos a enfrentar castigos ainda mais duros e a fazer sacrifícios ainda maiores pela Terra de Israel”.

Em 29 de maio de 1939, Begin casou-se com Aliza. Conheceram-se na casa do pai dela, Zvi Arnold, líder do Partido Revisionista em Drohiczyn, onde Begin passara alguns meses estudando a fim de se preparar para os exames de conclusão do curso de Direito. Foi amor à primeira vista, e ele costumava dizer: “Eu decidi imediatamente que ela seria minha esposa”. O próprio Jabotinsky viajara até Drohiczyn para estar ao lado de Begin sob a chupá. Com ele foram centenas de amigos do Betar. Menachem e Aliza tiveram três filhos – Binyamin, Leah e Hassia.

Naquele mesmo ano de 1939, Jabotinsky o indicou para liderar o Betar na Polônia, na época com cerca de 70 mil membros. A agenda de atividades do movimento juvenil incluía treinamento com armas para a defesa dos judeus poloneses, para o preparo e transporte dos imigrantes “ilegais” para a então Palestina, além de treinamento na agricultura e em comunicações. Mas a aspiração máxima de Begin era deixar a Polônia, embarcar para a Terra de Israel e lá continuar o trabalhar no Betar. Os líderes do movimento, no entanto, pediram-lhe que adiasse seus planos. Queriam que ele permanecesse na Polônia, onde sua presença era mais necessária. Com a eclosão da 2ª Guerra Mundial, em 1939, seu sonho foi adiado por mais quatro anos.

A 2ª Guerra Mundial

Em 1º de setembro de 1939, a Wehrmacht, as Forças Armadas alemãs invadiram a Polônia, dando início à 2ª Guerra Mundial. O avanço alemão foi rápido e, no oitavo dia, Varsóvia, a capital, foi cercada.
A União Soviética, que firmara com Hitler um acordo secreto para dividir a Polônia, também invadiu o país. Menos de um mês depois, a Polônia foi derrotada e ocupada por forças alemãs e russas.

Begin e sua esposa conseguiram deixar Varsóvia dois dias antes do inicio do cerco alemão à cidade e se dirigiram à Vilna, na Lituânia. Assim como eles, milhares de refugiados judeus de todo o território polonês haviam procurado abrigo na cidade, entre eles, muitos membros do Betar. Ao chegar a Vilna, Begin os ajudou a se organizar e deu continuidade às suas atividades sionistas.

A Shoá deixou marcas dolorosas e profundas em Begin; toda sua família foi dizimada e apenas sua irmã Rachel sobreviveu. Seus pais ficaram entre as primeiras vitimas da fúria nazista. Sua família ainda vivia em Brisk, quando a Alemanha invadiu a Polônia. A cidade caiu nas mãos do exército alemão antes de Varsóvia. Seu pai, ao ver os judeus serem presos e levados dali foi, com grande determinação e coragem, até o governador nazista para protestar contra a prisão dos correligionários e pedir sua libertação. Foi seu último gesto em defesa da população judaica da cidade.

Begin soube dos últimos momentos de vida de seus pais por relatos de testemunhas. Ele contava que “os alemães arrancaram minha mãe do hospital e a mataram. Afogaram meu pai em um rio com 500 outros judeus. Meu pai enfrentou a morte com a cabeça erguida e, ao chegar ao rio, começou a cantar Ani Maamin bevi’at hamashiakh (“Eu acredito na vinda do Mashiach”) e Hatikvá, e todos os outros 500 judeus o imitaram. Logo em seguida, os alemães os jogaram no rio, onde morreram”.

Em julho de 1940, a Lituânia se tornou república soviética. Sabendo que os soviéticos queriam prendê-lo, Begin se escondeu com a esposa em um subúrbio de Vilna, na casa de uma família católica que concordou em lhes alugar dois quartos. Mas, em 20 de setembro, a polícia secreta soviética – NKVD – (antecessora da KGB) o aprisionou. Com muita calma, Begin engraxou os sapatos, vestiu um terno limpo e seguiu os homens da NKVD levando consigo uma Torá. Ironicamente a acusação era de ter servido ao imperialismo britânico. Ele foi condenado a oito anos de prisão e enviado a um campo de trabalhos forçados na Sibéria.

Foi libertado no ano seguinte, após a invasão alemã na União Soviética, em 1941, com outros poloneses, segundo os termos do acordo entre Stalin e Sikorski, primeiro-ministro do governo polonês no exílio. O intuito era que poloneses e russos se unissem para lutar contra os alemães. Begin voltou da Sibéria doente e exausto, mas conseguiu integrar-se ao Exército para Libertação da Polônia.

Em 1942, com as forças polonesas, chegou à então Palestina. Muitos judeus desertaram assim que chegaram, mas Begin se recusou a fazê-lo e serviu no exército polonês por quase um ano e meio como cabo, atuando como intérprete no quartel no qual estava servindo em Jerusalém. A partir de meados de 1942, atuou também como Netziv Betar, (lit. comissário), líder do Betar juvenil na então Palestina e manteve vínculos estreitos com o Irgun Zvai Leumi também chamado deIrgun1 em hebraico “organização”.

O Irgun foi uma organização paramilitar criada em 1931, como resultado de uma cisão na Haganá, principal organização paramilitar sionista que atuou no território daquele que era, então, o Mandato Britânico da Palestina, entre 1920 e 1948. O Irgun, que operou até 1948, diferia dessa organização por realizar operações de represália e atentados contra militares britânicos.

À frente do Irgun

Begin teve baixa no exército polonês em 1943 e logo depois assumiu o comando do Irgun. Ele hesitara muito antes de aceitar esse posto.

No dia 1o de fevereiro de 1944, o Irgun liderado por Begin publicou sua primeira declaração contra o governo britânico, intitulada “Proclamação da Revolta”. Nele acusava a Grã-Bretanha de tentar destruir o último vestígio de esperança de um estado sionista e de trair o Povo Judeu. Consequentemente, não seria mais possível evitar o conflito, que seria levado até as últimas consequências. “Nós lutaremos. Cada judeu na terra natal lutará. O D’us de Israel, D’us dos Exércitos, virá em nosso auxílio. Não haverá nenhuma retirada. Liberdade ou morte!”.

As operações do movimento começaram em seguida e foram adquirindo proporções maiores a partir do término da 2ª Guerra Mundial, até o ano de 1947. O “exército”, liderado por Begin, que teria de enfrentar os ingleses, não somava em fevereiro de 1944 mais do que poucos milhares de pessoas e, desse total, apenas 200 eram combatentes nas linhas de frente. Em 1947, o Irgun contava com quase 5 mil membros. Uma das grandes preocupações de Begin eram a segurança e o bem-estar dos combatentes; ele sofria imensamente quando um de seus homens caía em combate, era preso, deportado ou enforcado pelos ingleses.

Durante os quatro anos em que Begin esteve no comando, o Irgun foi responsável por aproximadamente 300 ações paramilitares. Ele ordenou muitas das principais operações do IZL, incluindo o ataque à prisão em Acco, para libertar os prisioneiros do Irgun e do Lehi, e ao Hotel King David, em Jerusalém, sede da administração britânica. Nessa operação realizada em 22 de julho de 1946 com o beneplácito da Haganá morreram 91 pessoas – judeus, árabes e britânicos. O Irgun alertou os britânicos sobre a operação meia hora antes da explosão das bombas e pediu a evacuação do Hotel King David, mas, infelizmente, seu alerta foi ignorado. De acordo com depoimentos de testemunhas que estavam no hotel no momento da explosão, um oficial inglês, ao receber o aviso disse: “Não estamos aqui para receber ordens dos judeus. Nós é que damos as ordens.”

As autoridades britânicas colocaram a cabeça de Begin a prêmio e ofereceram uma recompensa de 10 mil libras por qualquer informação que levasse à sua prisão.

Em 1947 Begin reuniu-se secretamente não só com vários membros do Comitê das Nações Unidas para a Palestina, como também com jornalistas internacionais para explicar ao mundo as motivações e os objetivos do Irgun. Após a Declaração de Independência do Estado de Israel, em 1948, ele ordenou o desmantelamento do movimento integrando suas unidades às Forças de Defesa de Israel. O discurso por ele proferido na ocasião revela seu grande amor pelo povo e pela Terra de Israel. (trechos do discurso estão reproduzidos no final do artigo).

Vida política

Quando Israel se tornou realidade, Begin iniciou sua trajetória para participar legalmente da vida política do país com o qual tanto sonhara. Com um grupo de amigos, fundou o Partido Herut, e encabeçou a lista de candidatos do partido para o Knesset (Parlamento). Tornou-se membro da Casa desde as primeiras eleições.
De 1948 a 1977, foi um dos principais líderes da oposição.

Em 1950, esteve à frente de um movimento contra a aceitação das indenizações alemãs para as vítimas do Holocausto. Com uma retórica contundente e discursos apaixonados ele se pronunciou radicalmente contra qualquer tipo de reparação, pois acreditava que não havia dinheiro que pudesse “pagar” o sangue judeu derramado pelos alemães. Sua postura acirrara os ânimos e criara sérios conflitos no Knesset. Posteriormente, Begin admitiu ter errado em sua atitude, mas acrescentou: “Teria sido uma humilhação imensurável para o Povo Judeu se nenhuma voz entre nós não houvesse se levantado para se opor ao acordo que, como alertamos, acabou por se tornar um acordo de reabilitação e apaziguamento do povo alemão, a nação que assassinou 6 milhões de judeus”.

Em 1965, para aumentar as chances de eleição, o Herut fundiu-se com o Partido Liberal dando origem ao Gahal, que mais tarde serviu como alicerce para a fundação do Partido Likud. Com o aumento da tensão regional e a expectativa de um conflito com os países vizinhos, foi formado, em 1967, o Governo de União Nacional, fato que finalmente levou Begin e outros líderes do Gahal ao poder.

Em agosto de 1970, Begin se retirou do Governo de União Nacional e voltou a liderar a oposição, pois Israel começou a analisar uma proposta feita pelos Estados Unidos que implicaria a retirada dos territórios ocupados em troca de tratados de paz. Begin insistia que Israel devia exigir que o então presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, estendesse o cessar-fogo por todo o Canal do Suez e assinasse um tratado de paz que reconhecesse o Estado de Israel.

Desde 1948, durante quase 30 anos, Begin liderou a oposição de direita no Knesset, enfrentando a hegemonia do Partido Trabalhista. Em 1973 fundou o Likud (União, em hebraico) uma coligação liderada pelo Partido Herut – que congrega a direita conservadora. Finalmente, em 1977, ele revolucionou o cenário politico israelense, levando a direita ao poder, pela primeira vez na história do país. Dois fatores contribuíram para isso: a decepção popular com a política trabalhista e o fato de as comunidades orientais em Israel, ignoradas por sucessivos governos liderados por israelenses de origem europeia, terem encontrado em Begin uma voz para expressar suas aspirações.

A reviravolta da política interna em Israel surpreendeu os cidadãos israelenses e o mundo. Incialmente, o primeiro-ministro era retratado na mídia internacional como “um terrorista”, “um fanático linha dura” e um “zelote intransigente”. Os britânicos estavam particularmente aborrecidos com os resultados das eleições e mostravam-se relutantes em perdoar Begin por sua contribuição para a derrota que haviam sofrido.

Begin como primeiro-ministro

Begin, então líder do Partido Likud, assumiu o cargo de primeiro-ministro em 20 de junho de 1977, e nele se manteve até renunciar em 1983. Sua vitória nas eleições representou uma mudança tanto de estilo de gestão quanto de política. Na área social, seu governo priorizou o desenvolvimento das regiões mais pobres do país e procurou liberalizar a economia. Em termos políticos, horas após vencer o pleito, visitou os assentamentos israelenses nos territórios ocupados na Cisjordânia, controlados por Israel desde 1967, declarando-os áreas “libertadas”. Os governos trabalhistas haviam evitado esse tipo de declaração, mas para Begin, a Cisjordânia era a bíblica terra da Judeia e Samaria e, sob seu governo, passou a ser maciçamente habitada por israelenses. 

Com a coragem que sempre demostrara quando estava em jogo a segurança de seu povo, em 1981 ordenou o bombardeio da usina nuclear Osirak, no Iraque, afirmando que o país vizinho estava desenvolvendo um programa nuclear com objetivos bélicos. Embora, na época, Israel tenha sido veementemente criticado pela comunidade internacional por essa operação, a Guerra do Golfo, de 1991, mostrou que o ataque fora mais do que oportuno e retardara a corrida de Bagdá rumo a seu programa de armamento nuclear.

Em 1982, após uma série de atos de terror coordenados pela Organização da Libertação da Palestina, Israel lançou a Operação Paz para a Galileia. O objetivo desta consistia em erradicar a ameaça terrorista ao norte de Israel a partir da fronteira com o Líbano. Sob a coordenação do então ministro da Defesa, Ariel Sharon, foi lançada uma ofensiva que visava a impedir os guerrilheiros palestinos de continuar o ataque ao território israelense, mas acabou se ampliando e levando as Forças de Defesa de Israel às proximidades de Beirute. Essa operação terminou por envolver Israel na luta entre as várias facções que atuavam no Líbano e resultou em uma ocupação de alto custo politico e indefinição militar. Inicialmente justificada pela maioria da população israelense devido aos anos de ataques às fronteiras, a Operação Paz para a Galileia perdeu esse apoio quando as tropas se aproximaram de Beirute e bombardearam a capital libanesa por dez semanas.

Sob a gestão de Begin, Israel incentivou a imigração dos judeus etíopes, que culminou com a chamada Operação Moisés, que levou ao país milhares de pessoas no início da década de 1980. Ainda durante seu governo, o Knesset aprovou a anexação das Colinas do Golã – conquistadas durante a Guerra de 1967. A medida despertou críticas dos EUA e de outros países, mas Begin manteve-se firme em sua posição. Quando o presidente norte-americano Ronald Reagan suspendeu a cooperação entre os dois países e impôs sanções econômicas por causa do Golã, Begin reagiu asseverando que Israel estava sendo tratado como um “estado vassalo”.
 
Paz com o Egito

Como sexto primeiro-ministro de Israel, Begin será lembrado, acima de tudo, pelo acordo de paz entre Israel e Egito, o primeiro assinado entre o Estado Judeu e um país árabe. O presidente egípcio Anwar al-Sadat, frustrado com a intransigência dos vizinhos árabes nas negociações com Israel, afirmou estar preparado para ir sozinho em busca da paz e acrescentou que, terminaria por viajar a Jerusalém para atingir seu objetivo.

No dia 9 de novembro de 1977, ele declarou: “Desejo ir até eles, à sua casa, para o Knesset e com eles discutir”. Tal declaração não poderia ficar sem resposta, e Begin respondeu com um convite a Sadat para que fosse a Jerusalém. No dia 19 de novembro de 1977, seis meses depois de Begin assumir o governo, recebeu Sadat no Aeroporto Internacional Ben-Gurion. Após várias conversas particulares, nasceram uma amizade e um consenso entre os dois líderes: “Não haveria mais guerras”.

Em 16 de março de 1979, o tratado de paz egípcio-israelense foi assinado nos jardins da Casa Branca, em Washington. Begin ordenou a evacuação das forças israelenses do Sinai e devolveu toda a península ao Egito, em três estágios, de 1979 a 1982. As colônias judaicas na região foram desmanteladas, apesar dos protestos dos habitantes. Begin deu continuidade a todos os termos do acordo, mesmo após o assassinato de Sadat, em outubro de 1981, por extremistas muçulmanos.

Com sua morte, as relações entre os dois países mudaram. Hosni Mubarak, sucessor de Sadat, parecia mais determinado a reduzir as hostilidades dos países árabes inconformados com o acordo de paz do que a solidificar o relacionamento com Israel. As relações entre os dois países esfriaram, principalmente após a Operação Paz para a Galileia, no Líbano, em 1982.

Prêmio Nobel da Paz

Em dezembro de 1978, antes mesmo que o acordo de paz com o Egito fosse ratificado e assinado, Begin obteve reconhecimento internacional ao ser laureado com o Prêmio Nobel da Paz em conjunto com Sadat. O prêmio lhes foi concedido por sua contribuição ao processo de paz no Oriente Médio e pela assinatura do acordo entre Israel e Egito, em Camp David, em 17 de setembro de 1978.

No discurso de apresentação proferido em Oslo, por ocasião da atribuição do Prêmio Nobel da paz de 1978, Aase Lionaes, presidente do Comitê Nobel norueguês, afirmou: “Nunca antes o Nobel da Paz expressou uma esperança maior ou mais audaciosa – uma esperança de paz para o povo do Egito, o povo de Israel e os povos envolvidos no conflito e na guerra que envolve o Oriente Médio. A concessão do prêmio ao presidente do Egito, Anwar al-Sadat, e ao primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, é, acima de tudo, histórica no sentido mais amplo, vista apenas em um acordo anterior entre Egito e Israel. Este, como informaram acadêmicos israelenses, ocorreu há cerca de 3 mil anos.
Foi a paz feita entre o filho do Rei David, o sábio Rei Salomão, e o faraó egípcio”.

A saída do cenário politico

A saúde de Menachem Begin deteriorava-se gradativamente. Já havia sofrido três infartos e, em novembro de 1982, Aliza, sua amada esposa, companheira de toda a sua vida, faleceu enquanto ele estava nos EUA. A partir desse acontecimento, ele perdeu a motivação para a vida política, reduzindo sua participação nos debates no Knesset, falando cada vez menos e limitando suas aparições públicas. No dia 28 de agosto de 1983, anunciou sua intenção de deixar o cargo de primeiro-ministro e, no dia 15 de setembro, renunciou a ele.

Begin saiu literalmente da cena política israelense. Passou a viver com a filha Leah em um apartamento próximo à residência do filho Binyamin, em Jerusalém. Na época, além de membro do Knesset, seu filho ocupava a liderança do Partido Likud. Raramente visto em público, Begin saía de casa apenas para idas ao hospital, participação em cerimônias em memória de sua esposa ou casamento de seus netos. Também recebia visitas apenas de um restrito círculo de amigos. Escreveu dois livros – White Nights, a história de um prisioneiro na Rússia, um livro de memórias, e The Revolt: the Story of the Irgun, traduzido para vários idiomas, além de inúmeros artigos.

Begin faleceu no dia 9 de março de 1992, sendo enterrado em uma cerimônia simples, sem honras de estado, como ele pedira, no cemitério no Monte das Oliveiras, em Jerusalém.

Nasce o Estado de Israel

Trechos do discurso proferido por Begin, na madrugada do dia 15 de maio de 1948, horas após David Ben-Gurion ler, no salão do Museu de Tel Aviv, o texto da declaração, a “certidão de nascimento” do Estado de Israel.

“Cidadãos do Lar Nacional Judaico, soldados de Israel, jovens israelenses, irmãs e irmãos em Sion. Depois de muitos anos de luta clandestina (...) aqueles que enfrentaram os opressores se apresentam a vocês, com uma bênção de agradecimento e, no coração, uma prece. (…)

A Revolta Hebraica de 1944-1948 foi coroada de êxito, tendo sido a primeira desde a insurreição hasmoneia a ter esse final vitorioso. (…)

Assim, conquanto nosso sofrimento ainda não tenha findado, é nosso dever e nossa obrigação oferecer nossa gratidão à Rocha de Israel e a Seu Redentor por todos os milagres operados neste dia, assim como em todos os tempos. Assim, podemos dizer, com o coração e a alma plenos de emoção, no primeiro dia de nossa libertação da opressão britânica – 'Abençoado é Aquele que nos deu vida, nos manteve e nos fez chegar a este dia.'

O Estado de Israel ergueu-se. “Apenas assim” ergueu-se em meio a sangue e fogo, com uma mão estendida e com braço forte, com sofrimentos e sacrifícios. E não poderia ser de outra maneira. E, no entanto, antes mesmo de nosso país ter condições de criar suas instituições governamentais, vê-se obrigado a lutar, ou melhor, a continuar a luta. (...)

Foi difícil criar nosso Estado. Mas será ainda mais difícil fazer com que perdure. Estamos rodeados de inimigos que anseiam por nossa destruição. (…)

Nosso Exército Judaico é – e precisa ser – um dos mais bem treinados e equipados entre as forças militares do mundo. Hoje, na guerra, não são os números que importam, mas a inteligência e o espírito são os fatores determinantes. Todos os nossos jovens provaram que possuem esse espírito – os da Haganá, do Irgun, do Lehi,
jovens que nenhuma outra nação mereceu. (…)

Não há limites para os sacrifícios que uma nação em luta está preparada a fazer a fim de conseguir seu lar nacional e de garantir seu futuro. Estamos neste momento em meio a uma guerra pela sobrevivência, e nosso amanhã e o dos jovens depende da rápida concentração dos exilados de nossa nação.

E, em nosso lar nacional, a justiça deverá ser a regra suprema, prevalecendo sobre todas as demais. (…) Não haverá nenhum homem em nosso país – cidadão ou estrangeiro – que passará fome, não terá moradia ou direito à educação básica.

O Irgun Zvai Leumi está saindo da clandestinidade dentro das fronteiras do Estado Judeu independente. (...)

 Cidadãos do Estado Hebraico, soldados de Israel, encontramo-nos no fragor da batalha. Dias difíceis esperam por nós. Muito sangue será derramado. Fortaleçam-se. Fortaleçam seu espírito. Não há alternativa. Não podemos comprar a paz de nossos inimigos com apaziguamento. Há apenas uma ‘paz’ que pode ser comprada – a paz do cemitério, a paz de Treblinka. (...) Encham-se de força espiritual e preparem-se para mais provações. Nós as suportaremos. O D’us dos Exércitos nos auxiliará. Ele sustentará a bravura da juventude judaica, das mães judias que, como Hannah, oferecem seus filhos ao altar de D’us. Essa coragem suprema nos salvará de nossos inimigos e nos levará da escravidão à liberdade, da ameaça de aniquilação à segurança. (...)

E vocês, membros da família que luta (do Irgun), lembram-se de como começamos? Com o que começamos? Estavam sós e foram perseguidos, rejeitados, desprezados e atormentados (...) Mas seguiram lutando movidos por profunda fé, e não retrocederam. Foram mandados para a forca, mas a ela se dirigiram cantando. Deixaram na história uma marca gloriosa. (…)

Mas, por enquanto, devemos pensar na batalha cujo resultado decidirá nosso destino e nosso futuro. Devemos
seguir para a luta inspirados pelo espírito de nossos heroicos ancestrais, dos conquistadores de Canaã aos Rebeldes de Judá. Devemos caminhar inspirados pelo espírito daqueles que fizeram reviver nossa nação – Zeev Benjamin Herzl, Max Nordau, Joseph Trumpeldor e o pai do heroísmo judaico ressuscitado, Ze'ev Jabotinsky. (…)

Seremos acompanhados na batalha pelo espírito dos heróis que morreram na forca, que triunfaram sobre a morte. E seremos acompanhados pelo espírito de milhões de nossos mártires, de nossos antepassados torturados e queimados em nome de sua fé. Pelo espírito de nossos pais assassinados e de nossas mães massacradas, de nossos irmãos mortos e de nossos filhos estrangulados. E, nessa batalha, quebrantaremos o inimigo e salvaremos nosso povo, temperado pela perseguição, sequioso apenas de liberdade, de retidão e de justiça.

Eterno, D’us de Israel, proteja Seus soldados. Abençoa a espada que renova a Aliança selada entre Seu Povo Escolhido e Sua Terra Escolhida. Ascenda, ó Leão de Judá, em prol de nosso povo e nossa terra. Avante para a batalha! Avante para a vitória!”