Michael Steinhardt, 58 anos, foi durante décadas um dos maiores operadores de fundo de hedge no mercado de capitais dos Estados Unidos. Próximo de personalidades como Alan Greenspan, presidente do Fed (Banco Central americano), é, também, um dos principais filantropos da comunidade judaica dos Estados Unidos.

Ao anunciar seu afastamento do mercado financeiro, em 1995, Steinhardt surpreendeu os círculos econômicos. A surpresa, no entanto, aumentou quando anunciou qual seria a nova atividade à qual passaria a dedicar seu tempo e suas energias: o reflorescimento do judaísmo norte-americano.

Conhecido no mundo financeiro por sua objetividade na maneira de lidar com os negócios, Steinhardt revelou em uma entrevista exclusiva à revista Morashá, o seu profundo sentimento judaico e uma grande identificação com o Estado de Israel. Durante o bate-papo, falou sobre sua infância no Brooklyn, Nova York, e abordou sua relação com o Estado de Israel e os desafios enfrentados pelos judeus que vivem em sociedades democráticas no sentido de preservar sua identidade.

Lembrou que, em 1967, pouco após abrir sua empresa, eclodiu a Guerra dos Seis Dias, e que só não viajou a Israel por não ter conseguido passagem, pois o que realmente desejava era estar lá, mostrando sua solidariedade. Falou, ainda, sobre quais são, em sua opinião, os caminhos para garantir o futuro do judaísmo na diáspora. Porém, a nenhum momento perdeu a famosa objetividade que lhe garantiu o sucesso em de sua vida profissional.

Quando questionado sobre as razões que o levaram a se afastar dos negócios, para se dedicar ao que pode ser denominado de “ideal de vida”, sua resposta é direta: “Já ganhei dinheiro suficiente não apenas para mim, mas também para as futuras gerações de minha família. Desde jovem, eu sabia que me dedicar a ganhar dinheiro jamais seria suficiente para mim. Sabia que, se chegasse a um ponto de estabilidade financeira que considerasse adequado às minhas expectativas, teria por dever dedicar-me a algo mais nobre. Este momento chegou, há três anos”.

Teoria e prática

O envolvimento de Steinhardt na luta contra a assimilação, no entanto, não é algo recente e é um princípio que o acompanha há anos. Fazer doações, porém, não é o único caminho que encontrou para mostrar a importância que o judaísmo e o Estado de Israel têm em sua vida. Em 1978, tomou a decisão de afastar-se dos negócios por um ano e, durante este período, foi várias vezes a Israel, acompanhado por sua esposa e seus três filhos. Porém, mesmo como turista, não deixou de lado o seu instinto empreendedor e acabou envolvendo-se em negócios.

“Durante a viagem, pensei que sendo um investidor de sucesso nos Estados Unidos, poderia ter o mesmo desempenho em Israel. Na verdade, eu queria dar um novo rumo ao relacionamento entre os judeus da diáspora e os do Estado de Israel, transformando a filantropia tradicional em investimentos. Acreditava que seria mais saudável e benéfico para os dois lados, além de mais duradouro”.

O tempo provou que Steinhardt estava certo. Além de investir em diversos setores em desenvolvimento, tornou-se um dos maiores investidores do país e membro do consórcio que comprou o Banco Hapoalim, o maior do Estado, e o Banco Marítimo, além de criar a Fundação Steinhardt para Famílias, encabeçada por Shula Navon, que atende crianças carentes. Por trás desse comportamento revela-se sempre um sentimento: o compromisso com a vida judaica em Israel e na diáspora.

“No momento em que o Holocausto corre o risco de se tornar apenas uma lembrança na memória das novas gerações e Israel se transforma em um símbolo cada vez mais ambígüo, os judeus americanos estão perdendo as principais razões para se identificar como tal. É preciso, então, encontrar alternativas inovadoras que os estimulem a manter a sua identidade e a sua cultura”, ressalta. E acrescenta:

“Minha geração enfrentou um grande desafio, formado, por um lado, pelo judaísmo religioso da Europa oriental; pelo outro, pela liberdade secular da América. Este desafio levou a grandes realizações em todos os campos: acadêmico, científico, econômico, intelectual. Essa geração, no entanto, caracterizou-se, também, por grande espírito filantrópico, o que não ocorre com os mais jovens. Eles não têm o mesmo compromisso com as causas e os valores judaicos e é justamente este sentimento que deve ser despertado”.

Como resposta aos desafios do judaísmo, Steinhardt sugere a criação de novos paradigmas e de modelos que levem à identificação com o judaísmo, sem perder a essência de seus valores. É justamente nesta busca que, segundo ele, os filantropos têm um papel fundamental a cumprir. Para justificar suas idéias, faz uma comparação entre os empreendedores do mundo dos negócios e os que se dedicam à filantropia. Os primeiros não investem apenas em negócios seguros. Pelo contrário, o risco faz parte de suas atividades e os estimula a buscar novas alternativas e modelos para atingir seus objetivos.

Para Steinhardt, este mesmo princípio deve guiar os filantropos. A tzedaká, o ato de doar, deve ser considerado como um empreendimento de risco onde o que está em jogo é o resultado final. O filantropo deve ser o principal suporte das iniciativas renovadoras, para que elas aconteçam. Ele corre o risco de falhar, mas utiliza justamente a sua experiência, o seu dinheiro e envolve-se com os projetos para que não falhem.

O fortalecimento do judaísmo americano é, para ele, um grande projeto para o qual não devem ser medidos recursos. Acredita que o melhor caminho para atingir tal objetivo é a transmissão do conhecimento através da educação formal e informal. Para comprovar suas idéias, cita o sonho de Yitz Greenberg, segundo o qual todos os judeus, mesmo os que não seguem a Halachá devem conhecer a Torá. Para atingir este objetivos, devem ser utilizados todos os recursos oferecidos pelas tecnologias mais avançadas.

Educação para Steinhardt é um conceito amplo, que passa pela criação de centros culturais e sociais para jovens de 20 a 30 anos, como o fundado por ele em Nova York. Inclui, ainda, o financiamento de pré-escolas judaicas, investimentos para a melhoria do ensino das escolas judaicas, tornando-as tão competitivas quanto as demais instituições privadas. Além disso, Steinhardt ressalta a importância dos movimentos juvenis, os programas para educação de adultos e o trabalho que vem sendo desenvolvido pela Fundação Hillel, que promove atividades dentro das universidades americanas.

Filantropia

A história de Steinhardt comprova que ele não é apenas um homem de palavras, mas sim de iniciativas concretas. Steinhardt faz parte do seleto núcleo denominado Study Group, integrado por alguns dos mais importantes executivos americanos, que destinam anualmente grandes somas à filantropia judaica. No ano passado, seis membros do grupo, além de Steinhardt, destinaram US$ 1.5 milhão cada para lançar o projeto Partnership for Jewish Education, uma fundação destinada a fornecer recursos para as escolas judaicas. O custo total do projeto é de US$ 18 milhões.

Ele está envolvido também em outra iniciativa, denominada Birthright Project, que visa financiar viagens de jovens judeus de 13 a 19 anos para Israel, independentemente de seu país de origem. Steinhardt analisou este projeto com o então ministro das Finanças de Israel, Yaacov Neeman, durante sua viagem ao país, em 1998.

“Os judeus estão em melhor situação econômica e são politicamente mais influentes do que nunca na história americana passada. No entanto, nossa religião está em declínio. Será que acreditamos que o judaísmo e a identidade judaica só se fortalecem quando somos perseguidos e sofremos? Devemos lutar para que o povo judeu se identifique com o judaísmo não somente nos momentos de dificuldades, mas estimulado pela perspectiva de que ser judeu e se assumir como tal é viver melhor. O lugar para começar este trabalho é aqui. Citando a famosa frase de Hillel, Steinhardt afirma: "Se não sou por mim, quem será por mim? Se sou só por mim, quem sou eu? Se não agora, quando?", afirma Steinhardt, adaptando a famosa frase de Hillel.