A trágica morte de Edmond Safra, na véspera de Chanucá de 5760, abalou o mundo inteiro, deixando em estado de choque os judeus de todos os países e de todos os continentes. Muitos conheciam pessoalmente o magnata da área bancária internacional do século XX, outros tinham escutado falar do gênio financeiro, outros só ficaram sabendo que era o judeu mais rico do mundo e o maior filantropo deste século no momento de sua morte. Mas, quem foi verdadeiramente Edmond Safra?

Edmond Safra nasceu em Beirute, no Líbano, a seis de agosto de 1931, terceiro de uma família de oito filhos, quatro homens e quatro mulheres. Seu pai, Jacob, era conhecido como " Ya"ub, o Safra ", um banqueiro de origem síria, que emprestava dinheiro aos membros da comunidade. O nome Safra, em árabe, significa amarelo e faz alusão ao ouro e às transações que seu avô realizava no tempo dos otomanos, transportando ouro através do deserto em caravanas de camelos. Sua mãe, Esther, conhecida como Tera, cuidava de sua família para criá-la segundo as tradições judaicas.

Edmond, como a maioria das crianças de nossa comunidade, estudava no colégio hebraico sionista "Alliance Israelite Universelle". Era um menino irrequieto, seus professores não conseguiam contê-lo e, por isso, previam que o jovem aluno não conseguiria nada em sua vida. O que eles não sabiam era que sua inquietude devia-se a uma grande inteligência, uma visão que superava sua idade bem como as simples preocupações de seus colegas e até mesmo dos próprios professores.

O primeiro banco da família foi o Banque de Crédit National, no Líbano. Aos quinze anos Edmond larga a escola e envolve-se nos negócios familiares. Viaja para a Itália e inicia sua carreira no mercado de metais e moedas entre Milão, Zurique, Amsterdã e Genebra. Este jovem foi um dos primeiros a dar-se conta de que o ouro, na Índia, era mais caro do que na Europa e, desde então, foi comprovando sua grande capacidade, fazendo crescer o patrimônio familiar. Em 1956, Edmond funda a SUDAFIN, uma sociedade financeira e comercial em Genebra. E, em 1959, este jovem irrequieto converte este negócio em seu primeiro banco, o Trade Development Bank. Em menos de uma década de trabalho, Edmond já era reconhecido como um dos banqueiros mais bem sucedidos do mundo. Pouco tempo antes tinha-se mudado para o Brasil, seguido por toda a sua família, país em que iniciou uma série de transações financeiras e comerciais em sociedade com seus irmãos Joseph e Moisés, dirigentes do Banco Safra, hoje considerado o quinto banco do Brasil.

Em 1966, abre a primeira filial do Republic National Bank of New York com um capital de 11 milhões de dólares. Dois anos depois, o Republic é reconhecido internacionalmente como o primeiro banco dos Estados Unidos em transações de ouro e metais preciosos. Pouco mais tarde, Edmond estabelece uma filial do Republic em Londres. O Republic International Bank é incluído nas bolsas de valores americana e européia. Em 1994, expande suas operações à Austrália. Em 1997, ao completar 50 anos de carreira, Edmond tinha conseguido que seu banco, o Republic National Bank, se tornasse o terceiro maior banco de Nova York, com oitenta e oito agências locais, operando também nos cinco continentes.

Poucos dias antes de morrer, Edmond Safra havia completado a transação de venda do Republic ao Hong Kong Shangai Bank, HSBC.

Edmond Safra foi respeitado, amado e admirado por todos os que o conheceram, fossem estes judeus, cristãos ou muçulmanos. Sua mera presença irradiava dignidade, nobreza e liderança. Suas atividades permitiam-lhe pouco tempo para si mesmo, mas, nas festas religiosas, sempre encontrava uma forma de reunir toda a família, sua e de seus irmãos, fosse no Brasil, Nova York ou Genebra. O que Edmond desejava era sagrado para seus irmãos; eles atendiam seu chamado e, poucas vezes, tomavam decisões importantes pessoais sem consultá-lo.