Famosa pelas suas qualidades como tintura natural para cabelos e presente em nove entre dez toucadores de salões de beleza em todo o mundo, a henna não é apenas um produto cosmético para os judeus do Iêmen, do Iraque e do Norte da África.

A henna é a protagonista de uma cerimônia pré-nupcial mantida há milhares de anos por comunidades judaicas de origem sefaradita, sejam elas estritamente religiosas ou não.

Tradicionalmente, a cerimônia de henna era restrita apenas às mulheres, cujo objetivo era homenagear a noiva e desejar-lhe saúde e riqueza enquanto se preparava para deixar a casa de seus pais e começar uma nova vida ao lado de seu marido. Atualmente, em algumas comunidades, o ritual modificou-se e tanto o noivo quanto a noiva participam dos eventos.

No passado, a cerimônia da henna deveria ser sempre realizada na noite anterior ao casamento. No Iraque, por exemplo, acreditava-se que algo ruim poderia acontecer ao casal se dormisse na noite que antecedia suas núpcias. Por isso, as pessoas cantavam e dançavam a noite inteira. Atualmente, a cerimônia é feita vários dias antes do casamento.

No Marrocos, o banho ritual da noiva é uma parte importante da cerimônia da henna, quando, em sua primeira visita à mikve, ela é escoltada pelas convidadas que cantam e dançam ao seu redor. Nas diferentes comunidades, costuma ser realizado em dias diferentes da semana, porém sempre próximo à data do casamento.

Independente do dia no qual é realizada, a cerimônia do banho e da henna é sempre uma ocasião de muita alegria para a noiva, por ela estar se purificando e se preparando para seu casamento. Além do banho propriamente dito, o ritual envolve ainda arrumar o cabelo e cortar as unhas. O noivo, por sua vez, também participa com seus amigos, em outro local, de atividades que têm por objetivo cuidar de sua purificação para o casamento.

Durante a cerimônia da henna - ou a Festa da Henna - o pó da planta é colocado nas mãos da noiva e, algumas vezes, em seus pés, como proteção contra os maus espíritos. Em algumas comunidades marroquinas, o noivo também está presente, porém em outro aposento da casa, participando de jogos com seus amigos, sempre dentro do mesmo espírito de alegria e bons augúrios.

Em Tânger, na noite anterior ao casamento, conhecida como a Noite da Noiva, ela também é homenageada com uma festa preparada por mulheres. É uma ocasião de muita alegria, na qual a noiva usa um traje especial e, durante a parte inicial da cerimônia, o rabino e dois edim - ou testemunhas religiosas - entram carregando velas e cantando. Eles escoltam a noiva para um trono ladeado com três cadeiras. A henna é então colocada na mão direita de todos os presentes, como símbolo de alegria e bênção à noiva.

Um conceito importante expresso pela cerimônia da henna é que, nessa noite anterior ao casamento, D’us, mostrando sua generosidade, perdoaria a noiva de todos os seus pecados, para que ela possa começar sua vida como casada totalmente purificada.

Atualmente, em algumas comunidades judaicas do Norte da África, o casal de noivos é escoltado até o local onde será realizado o ritual da henna, vestido com os trajes tradicionais, ricos em bordados com enfeites dourados e prateados.

O vestido da noiva é de veludo, em cores fortes e vivas, para evitar o mau-olhado. Pedras e lantejoulas douradas e prateadas simbolizam a felicidade. O noivo veste a tradicional "djalabia", também com enfeites brilhantes que representam a luz que iluminará suas vidas. Na cabeça, usa um turbante vermelho. Sua nova casa é então enfeitada com veludo e com os tradicionais vasos e jarras de cobre marroquinos.

Aqui os perseguidos no Reino continuaram perseguidos. Na melhor das hipóteses, esquecidos, até a chegada de um Visitador ou de um novo Bispo quando era acionada a maquina de fabricar diferenças, ressentimentos e repressão. O fato da Inquisição portuguesa, ao contrário da espanhola, ter sido mais centralizadora monopolizando na metrópole a prisão, processos e execuções das sentenças não atenua a dimensão da repressão religiosa no Brasil. A inexistência de cadafalsos não elimina a presença do terror.

Como se sabe, o primeiro Comissário, D. Antônio Barreiros, não se empenhou a fundo nas novas atribuições como Comissário do Santo Oficio. Há documentos comprovando sua inapetência para punir os cristãos novos que continuaram vivendo com relativa liberdade.

- "Não esquecerei o que fizeste por mim!"

Afinal, passados alguns anos, já velho, morreu o tzadic. O ritual de sua morte foi fielmente obedecido pelo campônio, conforme orientação escrita deixada pelo rabi Itzac, inclusive proferindo o Shemá. Após o falecimento do tzadic, o campônio ficou triste e desamparado. Analfabeto, sem saber o que fazer da vida, foi arrumar a volumosa quantidade de escritos deixada pelo Rabino. Para surpresa sua, os pacotes estavam amarrados em pequenos volumes separados e em cada um deles havia um bilhete endereçado a um determinado Rabi, entre os que moravam na cidade. Havia ainda um segundo bilhete endereçado ao camponês, onde com letras grandes estava escrito "Tu me ajudaste muito, devo-te a vida. Mas eu te ajudarei depois de morto. Faze o que digo: Entrega cada envelope destes, muito espaçadamente, deixando passar muito tempo entre cada entrega. Isto deve levar anos. Não dês uma palavra sobre eles. Obedece-me e serás feliz para sempre. Não fale!! Não fale!!" E trazia a assinatura do Rabi Itzaac Kragemberg.

Diante do estado de penúria em que se encontrava, quase sem ter o que comer e sem rumo na vida, o camponês lembrou-se então de fazer a entrega ao destinatário de um desses envelopes endereçados, conforme o sábio falecido havia recomendado. Como na sua estreita visão entendia que seria perda de tempo ir à cidade para procurar um religioso (os camponeses de sua aldeia não gostavam dos religiosos), pois geralmente estes não têm dinheiro, são estudiosos, não se preocupam com os bens terrenos, o homem demorou-se a ir à cidade para cumprir as ordens do falecido.

Mas, vendo que nada havia conseguido, percebeu que essa era sua única chance de sobreviver. Tomou então a decisão e com o resto do dinheiro que havia sobrado, resolveu ir procurar o Rabi cujo nome constava em um dos envelopes.

Ao chegar à casa do Rabi, foi por este atendido por comiseração, tal o seu aspecto. Mal vestido, de cor pálida, cabelos amarelos esbranquiçados, postura de fraqueza e humildade, olhos mal levantando-se do chão, ombros arqueados e pequenos, mais parecia um personagem de ficção.

Diante de tal quadro, o Rabi disse-lhe: "Entra, vejo que estás cansado, come e bebe alguma coisa." Sem dizer uma palavra, o homem comeu pão, tomou vinho e, por fim, entregou ao Rabi um envelope onde só constava o nome Rabi Eliezer Abramov. Enquanto o Rabi, curioso, procurava o remetente, o camponês permaneceu mudo. Ao ser inquirido, disse: "Estou cansado!" O Rabi então, ávido, abriu o envelope e começou a ler sobre a interpretação do Zohar.

À proporção que lia, o Rabi se transformava, sua fisionomia ficou séria, seus olhos corriam pelas páginas com um interesse e uma velocidade jamais vistos. Seu rosto se iluminava, suas mãos seguravam as páginas, como que para impedir que fugissem e foi quase que inconscientemente sentando-se. A cada linha, sua cabeça meneava para a frente como sinal de concordância com o que lia. Ainda assim, num gesto ameno, olhou para o homem como se olha para alguma coisa impossível. Gentil e carinhosamente, disse-lhe:

- "Senhor, gostei muito do que está escrito nestas páginas. Desejava ter um tempo maior para examiná-las. Fica comigo, sê meu hóspede, terei muita honra em tê-lo em minha casa. Por favor, façei esta mitzvá, não precisa dizer-me nada. Você será meu hóspede de honra. Por favor, aceite! Já vi que não gosta de conversa, só fale comigo quando quiser!" O camponês, que mal sabia falar, lembrou-se do conselho do chacham e simplesmente acenou com a cabeça, embora ainda não tendo entendido as ordens do Rabi, seu antigo patrão.

Deste modo, instalado confortavelmente, com boa alimentação, ficou hospedado na casa de Rabi Eliezer. Este, estava fascinado pela sabedoria dos escritos que lia.