Em 1876, a escritora inglesa Mary Anne Evans, que se assinava George Eliot, publicou o romance “Daniel Deronda” no qual defendeu o ressurgimento de uma nação judaica na terra de Israel, ou seja, 19 anos antes de Theodor Herzl lançar o “Estado Judeu”. O historiador Nahum Sokolov assinalou, no início do século passado: “o livro Daniel Deronda pavimentou o caminho do sionismo”.

A rigor, a primeira conclamação de caráter sionista data de mais de dois mil anos, quando os judeus começaram a repetir em suas preces: “No próximo ano, em Jerusalém”. Entretanto, a Jerusalém das orações não correspondia a uma ação concreta ou à intenção da posse de um território. O idealizado retorno a Jerusalém era uma manifestação de fé, da vinda do Messias, de devoção a D’us e de um sagrado renascimento espiritual que reafirmava – e continua reafirmando – a unidade do Povo Judeu e a esperança aliada à certeza de sua continuidade através dos tempos.

Apesar da intensidade e da infalível constância daquela reza, a ideia do retorno à Terra Santa, em geral, e a Jerusalém, em particular, ficou adormecida durante séculos e só foi acordada em meados do século 19, quando fervores nacionalistas assomaram em diversos países da Europa Ocidental com a criação de nações-estados. Os judeus não ficaram alheios a esse processo, acrescentando aos postulados nacionalistas uma profunda ideia messiânica. Em 1840, os rabinos Alkalai e Kalisher, entre outros, escreveram que 50 anos depois da aceitação dos judeus pela Revolução Francesa, o nacionalismo judaico deveria engajar-se naquela turbulência de renovação europeia e, assim agindo, estaria contribuindo de forma eficaz para abreviar a chegada do Messias. Em seus escritos, os dois rabinos acentuaram o princípio da unidade do Povo Judeu e sugeriram que o empenho pela emancipação, impregnado de conteúdo nacionalista, poderia inclusive proporcionar um vasto encaminhamento dos judeus rumo à Palestina. De todos os precursores do sionismo, um dos mais consistentes, embora sujeito a controvérsias por seu ardor socialista, foi o filósofo judeu de origem alemã, Moses Hess (1812-1875).

Antes dele, porém, dois livros de ficção dedicados a assuntos judaicos foram editados na Inglaterra, de autoria de Benjamin Disraeli (1804-1881). Estadista judeu sefaradi de origem italiana, ele aderiu ao protestantismo pela ambição de subir na vida pública. Bem sucedido em seu propósito, durante seis anos foi um dos primeiros-ministros da rainha Vitória, tendo recebido da Câmara dos Lordes o título de conde, Earl of Beaconsfield.

Em 1833, Disraeli escreveu David Alroy, o Romance. Trata-se de uma obra baseada em fatos verdadeiros, que conta a história de David Alroy, um falso Messias nascido no Iraque em 1160. Alroy liderou uma revolta contra o sultão Muktafi e convocou os judeus oprimidos pelos otomanos a marcharem ao seu lado até Jerusalém, onde ele se tornaria rei e os libertaria. Nessa aventura, primeiro tomariam de assalto a cidade de Amadia, onde Alroy nasceu, com a finalidade de ali estabelecer um centro de estudos do Talmud. A partir daí, lenda e realidade se confundem na trajetória de Alroy e a hipótese mais provável é que ele tenha sido derrotado e morto na própria Amadia. Em seu livro, Disraeli revela sua admiração pela capacidade dos judeus de promover uma revolta. Sua segunda ficção com envolvimento judaico tem o título de Tancredo ou a Nova Cruzada, datado de 1847.

O personagem principal chama-se Tancredo, ou Lord Montcaute, que empreende uma viagem à Terra Santa, onde pretende pesquisar as raízes do cristianismo. Ali conhece uma bela mulher chamada Eva, filha de um rico financista judeu. Ela lhe descreve as glórias do judaísmo, “ao qual o cristianismo tanto deve”. Tancredo conclui que Eva tem razão e até pretende casar-se com ela, mas desiste por imposição de sua aristocrática família britânica. Foi depois da leitura de Tancredo que a soberana Vitória um dia perguntou a Disraeli: “Afinal, ministro, qual é a sua religião?” Ele respondeu: “Majestade, eu sou uma página em branco entre o Novo e o Velho Testamentos”.

Em 1862, 14 anos, portanto, antes de Daniel Deronda, e 33 anos antes de Herzl, Moses Hess formulou uma tese intitulada Roma e Jerusalém: A Última Questão Nacional, que não alcançou grande repercussão e sequer estimulou debates ou qualquer atividade política. (Roma, no caso, nada tem a ver com a Roma italiana, mas ao conjunto dos impérios que dominavam a Europa).

Em sua obra, Hess expôs que o nacionalismo europeu decerto daria origem a exacerbações de caráter antissemita e, influenciado por Karl Marx, de quem era amigo, postulou que a única solução para o problema judaico seria o estabelecimento de um lar próprio e socialista na Palestina, governado por um proletariado de judeus. Escrito à feição de 12 cartas endereçadas a uma mulher judia enlutada, Hess afirmou que os judeus sempre seriam considerados estrangeiros pelas sociedades europeias que até poderiam tolerá-los por motivos humanitários, mas nunca os respeitariam. Assim, enfatizou que a única solução para a questão judaica seria o retorno do povo de D’us à Terra de Israel. Apesar da lógica profética de seus enunciados, as lideranças judaicas não os absorveram e, somente no século 20, a visão de Moses Hess veio a se tornar a motivação do trabalhismo sionista-socialista.

De todas as nações europeias, a Inglaterra sempre foi a que mais se ocupou, e mais se preocupou, com a questão judaica. Já no século 17, o parlamentar britânico Sir Henry Finch escreveu um livro intitulado A Maior Restauração do Mundo, no qual encoraja os judeus a exercerem seus direitos sobre a Terra Santa. Em 1808 foi fundada, em Londres, uma instituição devotada à causa da conversão dos judeus ao cristianismo, mas arguindo que, primeiro, um retorno dos judeus à Palestina seria necessário para que as conversões se concretizassem.

Em 1825, um cidadão inglês chamado John Nelson Darby estabeleceu a seita religiosa Plymouth Brethren, em cujo ideário constava a reconstrução do reino de Israel. Os antissemitas, por sua vez, também eram favoráveis à ideia do retorno para Sion “porque assim ficaremos livres para sempre dos judeus”.

Tudo isto foi acontecendo em função das sucessivas traduções da Bíblia para o idioma inglês e a consequente assimilação do Velho Testamento pela população de religião anglicana, estendendo-se aos mais importantes e destacados círculos do império. Em 1847, Lorde Lindsay escreveu: “O solo da Palestina ainda festeja seus sábados e apenas espera o retorno de seus filhos que dali foram banidos”. Outro cidadão inglês, Charles Henry Churchill, que residia em Damasco, escreveu em 1841 uma carta ao célebre filantropo judeu, Sir Moses Montefiore, na qual diz que o regresso dos judeus à Terra Santa é um objetivo atingível “desde que seja uma decisão unânime e que conte com o apoio das potências ocidentais”. Anthony Ashley Cooper, elevado a Conde de Shaftesbury, foi um destacado lobista pelo retorno judaico à Palestina, tendo pedido ao primeiro-ministro Palmerstone que desse inteira proteção e livrasse de qualquer opressão os judeus lá radicados. Anos depois, Shaftesbury anotou em seu diário: “Pode existir um país sem uma nação, mas, agora, D’us, em sua sabedoria e piedade, nos direciona a uma nação sem um país”. Este pensamento acabou refletido num dos principais lemas do sionismo: “Uma terra sem um povo para um povo sem terra”.

Por todos esses fatos e circunstâncias, é importante reconhecer que a histórica declaração do chanceler Lorde Balfour, em 1917, segundo a qual “o governo de Sua Majestade via com bons olhos o estabelecimento de um Lar Nacional Judaico” não correspondeu a um gesto impulsivo ou condescendente. Foi o resultado de um processo que há quase um século vinha sendo amadurecido nos mais altos escalões do poderoso Império Britânico.

Mary Anne Evans, que ficou inscrita na história da literatura britânica sob o pseudônimo de George Eliot, nasceu na Inglaterra, em Warwickshire, no dia 22 de novembro de 1819. Educada na religião anglicana, o Novo e o Velho Testamento e a história judaica foram desde cedo suas leituras mais atentas, com especial preferência para a História dos Judeus, de Flavius Josephus.

Após perder a mãe, aos 16 anos, mudou-se com o pai para Londres, em 1850, onde lhe foi possível ampliar os interesses e conhecimentos literários. Dois anos antes, começou a traduzir e a escrever um longo ensaio sobre Spinoza para o qual não encontrou uma editora. Em Londres, ficou particularmente impressionada pela leitura de Indagação Sobre a Origem do Cristianismo, livro de Charles C. Hennel, no qual há a seguinte passagem: “Os judeus têm noções mais racionais do que qualquer outro povo da antiguidade no que diz respeito à divindade”. E, mais adiante: “Jacob será restaurado como parte de uma grande nação e uma nova raça (sic) de judeus há de se levantar para se tornar um povo firme e florescente”.

Em 1851, Mary Anne se apaixonou pelo filósofo, dramaturgo e crítico literário Henry Lewes. Ele era casado, mas abandonou a mulher para viver com Mary Anne, encorajando-a a se dedicar a escrever obras de ficção. Sua primeira produção, A Triste Sorte do Reverendo Amos Barton, foi publicada com sucesso, em forma de folhetim, na revista Blackwood. Até morrer, em 1880, ela escreveu mais de uma dezena delivros, com destaque para Silas Marner, tendo sido Daniel Deronda, de 1876,seu último trabalho. O romance consta de duas histórias distintas, porém paralelas, ambas sob o mesmo título, também publicado em folhetins.

Este livro foi, em boa parte, uma consequência da amizade de Mary Anne, no ano anterior ao início da publicação dos folhetins, com um judeu chamado Emanuel Deutsch, assistente do diretor da biblioteca do Museu Britânico. Nascido na Silésia e educado em Berlim, Deutsch havia-se radicado em Londres em 1855, com 26 anos. Dono de notável erudição, ele costumava dizer que em sua estante de livros de adolescente, Virgílio e Homero estavam ao lado da Mishná (tradição oral das escrituras sagradas) e do Midrash (estudo e interpretação dos textos judaicos). Deutsch mandou para Mary Anne a cópia de um artigo de sua autoria sobre o Talmud. Ela julgou aquele texto “glorioso”, conforme escreveu numa carta a uma amiga. Deutsch tornou-se uma celebridade na Inglaterra, inclusive tendo sido convidado para jantar com Disraeli quando este era primeiro-ministro.

A obra Daniel Deronda é um daqueles robustos romances ingleses do século 19 no qual proliferam, com adornos de rendas, amores e desamores, lealdades e traições, mentiras e verdades, herdeiros legítimos e ilegítimos, hipocrisias e sinceridades e tudo o mais de transparente ou sombrio que a alma humana é capaz de engendrar.

O personagem principal que dá título ao livro assim é descrito: “Dizer que Deronda era romântico, seria interpretá-lo mal. Sob sua aparência calma e autocontrolada havia um fervor que fazia com que ele encontrasse poesia e romance nas pequenas coisas da vida”.

É impossível aqui resumir as quase 700 páginas do romance. Contudo, no que toca ao aspecto judaico do livro, é essencial a paixão de Daniel por uma judia chamada Mirah: “Ele ficou acordado a metade da noite, revivendo os momentos desde quando viu Mirah pela primeira vez, às margens do rio, com a nitidez da memória emotiva”. Depois de intrincadas idas e vindas com relação a Mirah, o protagonista da obra é levado à seguinte reflexão: “Deronda, mesmo com toda sua instrução masculina, foi instigado a perceber pela aparição de Mirah que sabia muito pouco sobre o judaísmo moderno ou sobre sua história passada”. Logo adiante: “Deronda, assim como seus vizinhos, viam o judaísmo como um tipo de forma excêntrica e fossilizada que um homem culto podia dispensar e deixar para os especialistas”.

Do ponto de vista literário, é de rara beleza uma narrativa na qual Deronda assiste a um culto numa sinagoga: “A liturgia hebraica, como tantas outras, tem suas transições de súplica, proclamação, afirmação categórica e bênçãos. O canto do chazan (cantor da sinagoga) ou a voz variada do leitor, com suas passagens da monotonia para gritos repentinos, o explodir de doces vozes infantis do pequeno coro, o balançar devotado dos corpos dos homens, a própria simplicidade do lugar e da cena, onde uma fé nacional, que penetrara no pensamento da metade do mundo e forjara as formas daquela religião universal, encontrava um remoto e obscuro eco – tudo se misturava para ele como a única expressão de uma história unificadora, mágica e gloriosa”.

O aspecto sionista no livro de Mary Anne tem como personagem central um judeu de barba branca, alto e esguio, chamado Mordecai, que Daniel vem a conhecer numa livraria e que passa a exercer uma influência definitiva em sua vida. A autora assim o define: “A mente de Mordecai elaborava imagens com tamanha efervescência que seus pensamentos se pareciam com os sonhos cheios de significados atribuídos, por pessoas acordadas, a pessoas adormecidas em seus momentos de maior inventividade. Melhor ainda, pareciam sonhos verdadeiros no sentido de romperem a passagem do conhecido para o desconhecido”. Na página 445 na tradução para o português de Daniel Deronda, há um monólogo de Mordecai sobre o fundamento espiritual do judaísmo que raramente se encontra em quaisquer outras obras, mesmo nos livros escritos por autores judeus: “Acredito num crescimento, numa passagem e num novo desdobramento da vida em que a semente é mais perfeita, mais carregada com os elementos que estão cheios da forma mais divina. A vida de um povo cresce, é bem tecida e mesmo assim se expande, na alegria e na tristeza, no pensamento e na ação. Absorve o pensamento de outras nações em suas próprias formas e devolve o pensamento com uma nova riqueza para o mundo. É um poder e um órgão no grande corpo das nações. Mas pode haver um impedimento, uma parada. As lembranças podem ser sufocadas e o amor se enfraquece por falta delas. Ou então as lembranças se concentram como relíquias secas – a alma de um povo com a consciência de ser uno pode parecer morrer pela falta de ação.”

Na linha seguinte, a conclamação para um novo despertar: “Mas, quem dirá que a fonte da sua vida está seca e ela não será mais uma nação? Quem dirá isso? Sua própria alma é uma resistência, é como uma semente de fogo que pode incendiar as almas de multidões e abrir novo caminho para os acontecimentos”.

Trata-se de um texto profético. Quando Theodor Herzl lançou em 1895 as bases do sionismo político em O Estado Judeu, aconteceu de fato uma semente de fogo, ou um rastilho de pólvora, que incendiou as massas judaicas na Europa e se propagou pelo mundo inteiro. O mais importante nas palavras do personagem Mordecai é que ele não vê os judeus como uma raça, conforme foi tão erroneamente repetido através dos séculos, nem como uma etnia, nem como o aglomerado de um povo, mas como uma nação. Foi este princípio da existência de uma nação que, de fato, convergiu para a criação do movimento sionista. Páginas adiante, a ênfase de Mordecai é ainda mais intensa: “Deixe a unidade de Israel, que forjou o crescimento e a forma de sua religião, ser uma realidade externa procurando uma terra e uma política. Deixe que nosso povo disperso, em todos os confins do mundo, possa compartilhar da dignidade de uma vida nacional que tem uma voz entre os povos do Leste e do Oeste. A herança de Israel bate nos pulsos de milhões. Vive em suas veias como um poder incompreendido, como a exultação matinal dos rebanhos. Deixe que a tocha da comunidade visível se acenda. Deixe que a mente de Israel se desabroche num ato externo e que haja outra grande migração, uma outra escolha de Israel em ser uma nação cujos membros possam se espalhar para os confins do mundo. Nossa vida nacional é uma luz que se propaga. Deixe que o fogo central seja reacendido e a luz se propague. Digo que o mais forte princípio do crescimento está na escolha humana. Os filhos de Judá têm de escolher que D’us os escolha novamente. Vamos contradizer a blasfêmia e ajudar a construir nosso próprio futuro e um futuro melhor para todo o mundo e não renunciar ao nosso maior dom e dizer: Vamos escolher nossa herança plena, reivindicar a fraternidade de nossa nação e conduzi-la a uma nova irmandade. A visão está lá; ela será realizada”. Esta última frase remete à famosa frase de Herzl, que mobilizou o mundo judaico: “Se quiserem, não será uma lenda”.

No fim do romance, depois de encontrar caminhos através de inúmeros labirintos, Daniel acaba tomando conhecimento de sua própria origem judaica. O que mais o intrigava em Mirah era o fato de ela sentir orgulho por ser judia e ele vem a compartilhar igual sentimento. Casa-se, então, com ela, sob o olhar adocicado do sábio Mordecai.

Theodor Herzl não leu Daniel Deronda, mas, em junho de 1895, dois anos antes da publicação de O Estado Judeu, anotou em seu diário: “Preciso ler um romance inglês chamado Daniel Deronda. Parece que este livro contém ideias semelhantes às minhas”. A partir daí, os cinco volumes editados do diário não fazem qualquer outra menção à obra de George Eliot. Em novembro daquele mesmo ano, Herzl viajou a Londres onde manteve um encontro com o rabino-chefe da comunidade judaica britânica. O rabino lhe disse: “Suas ideias são iguais às que já foram expostas no livro Daniel Deronda”. Alguns historiadores dizem que a afirmação do rabino foi um elogio, enquanto outros a interpretam como uma requintada ironia”.

A par da possível ironia do rabino, Nahum Sokolov, historiador, líder sionista e pioneiro do jornalismo no idioma hebraico, assim exaltou as virtudes do livro de Mary Anne: “Esta obra literária pavimentou o caminho do sionismo que veio a ser legitimado na declaração de Lorde Balfour. Trata-se de uma obra-prima que afirma a identidade nacional judaica e sensibilizou profundamente tanto judeus como não-judeus. O romance mostrou um novo caminho para os judeus, mostrou uma sólida razão para que retornassem à sua terra ancestral e a certeza da necessidade de iniciarem uma ação que veio a ser concretizada no movimento sionista”.

Em 1897, ano em que promoveu o primeiro Congresso Mundial Sionista, na Basiléia, Herzl sugeriu a seu amigo, Leon Kellner, editor do jornal Die Welt, em Viena, que publicasse uma série de artigos sobre os precursores do sionismo, aludindo, entre outros, a Moses Hess, Moses Lilienblum, Disraeli, George Eliot e Leon Pinsker, tendo declarado a respeito deste último: “Se eu tivesse lido a Autoemancipação de Pinsker, talvez não chegasse a escrever O Estado Judeu”.

Ainda no que diz respeito ao romance de Eliot, é importante ressaltar que a intenção do escrito de Mary Anne foi mais abrangente do que se insurgir contra o antissemitismo ou pretender que os fiéis de outras religiões, sobretudo os cristãos, passassem a ver os judeus com bons olhos e mais amigáveis. Sua maior preocupação voltou-se para os próprios judeus, cuja sobrevivência no exílio ela considerava um dos capítulos mais excepcionais da história da humanidade e, por isso mesmo, competia ao Povo Judeu a obrigação de retomar a glória de seu passado de liberdade.

Ao pé da Estátua da Liberdade, localizada no porto de entrada de Nova York, há uma placa que contém um famoso poema da autoria da judia Emma Lazarus, em cujo excerto lê-se: “Dêem-me os cansados, os pobres, suas massas apinhadas que anseiam por respirar em liberdade. Envia a mim esses desabrigados assolados pelas tempestades”. A poetisa declarou que seus versos tiveram como inspiração a leitura de Daniel Deronda.

Bibiografia:
Elliot,George, Daniel Deronda, tradução de Marisis Aranha Camargo, Editora Paz e Terra, Brasil, 1997.
Disraeli, Benjamin, Tancred, editora CreateSpace Independent Publishing Platform, EUA, 2013.
Himmelfarb, Gertrude The Jewish Odissey of George Eliot, editora Encounter Books, EUA, 2009.      

Zevi Ghivelder é escritor e jornalista